A vocação para o jornalismo surgiu muito cedo para a repórter Gioconda Brasil. Isso por causa de uma proibição do pai dela. Na infância, o nome Alice-Maria, diretora de telejornais da Globo de 1973 a 1990, já despertava nela certa curiosidade: “Meu pai não gostava que a gente visse muita novela. Então, a gente via notícia, notícia… Eu sabia o nome da Alice-Maria desde os 5 anos de idade. Via aqueles nomes subindo no crédito do 'Jornal Nacional' e pensava: ‘essa moça, Alice-Maria, deve ser danada, porque só tem ela de mulher no meio de tanto homem’. Gioconda foi uma das fundadoras da GloboNews. Era repórter da redação do Rio, de 1996 a 1999, quando se transferiu para Brasília. Na capital federal, se transformou em uma das mais importantes repórteres de política do país.
Gioconda Mercedes Brasil da Silva no dia 11 de maio de 1970, filha de um porteiro e de uma dona de casa. Estudou em escola pública e se formou em jornalismo pela Faculdade Hélio Alonso. Para poder pagar o curso de comunicação, trabalhava como secretária em uma produtora de publicidade. Quando estagiava no jornal da faculdade foi entrevistar uma ex-aluna que trabalhava na Globo, que lhe falou do curso de telejornalismo que a jornalista Alice-Maria dirigia. Passou na prova. Era 1996, o ano em que a emissora preparava o projeto GloboNews, o primeiro canal de notícias 24 horas do Brasil. No curso, Gioconda tinha aulas práticas com Fernanda Esteves, uma das repórteres da emissora. Renata Vasconcelos, que se tornaria apresentadora do 'Jornal Nacional', era na época uma das colegas de turma. Em julho, Gioconda foi chamada para estagiar na Editoria Rio. No mês seguinte, já estava na GloboNews para fazer programa piloto. A emissora entrou no ar em outubro daquele ano.
Nos primórdios do canal que “nunca desliga”, Gioconda Brasil pôde aperfeiçoar aquilo que virou uma das suas maiores qualidades como repórter, as entradas ao vivo: “Na GloboNews você só se salva se for bom de vivo”, comenta a repórter.
Mas ela lembra bem que o começo foi difícil. Vera Iris Paternostro, uma das criadoras da GloboNews, chegou a tirá-la da função do ao vivo. "Ela falou: 'Você vai aprender a fazer, e só depois vai voltar'. Fiquei triste, chorei tanto. Mas eu fui me aprimorar, fui melhorar, fui aprender e fui dominar a técnica, e só depois que eu estava pronta, eu voltei a fazer entrada ao vivo. Então, hoje eu acho que eu sou uma repórter de segurar entradas ao vivo por causa disso."
Nesse período, participou de coberturas históricas como os julgamentos dos assassinos da atriz Daniela Perez e dos responsáveis pelas chacinas da Candelária e Vigário Geral: “No caso das chacinas, na hora da sentença era o mais difícil, dava um medo danado. O juiz começa a dizer: são tantos anos de condenação para o réu. Aí, você está ao vivo e vem os atenuantes. Mas peraí, são 324 anos menos 48 de atenuante. Meu Deus, o que está valendo? Tínhamos que falar: estamos fazendo a conta certinha, vamos daqui a pouco dar a sentença final”.
Transferência para Brasília
Em 1999, Gioconda Brasil se transferiu para a GloboNews Brasília.
"Eu acho que se eu tivesse ido para qualquer outra praça, não sei se eu estaria há 18 anos na TV Globo, talvez. E ter vindo para Brasília foi uma virada de página importante e fundamental para estar aqui conversando hoje com vocês", observa ela.
Ficou lá até 2006, quando virou repórter de rede, fazendo matérias para os principais telejornais da Globo. Depois de 10 anos no canal de notícias, a mudança exigiu uma readaptação: “As pessoas já sabem quem é você, mas você vai construir uma história na rede. O texto da GloboNews é diferente do texto do telejornalismo da Rede, que exige concisão. Então, não deixa de ser um reaprendizado”.
Era uma época de grande ebulição política. Final do primeiro mandato do governo Lula, escândalo do mensalão, CPIs pipocando. Brasília era um caldeirão. Nesse contexto, Gioconda se destacou em coberturas como a da CPI dos Correios, a cassação do Senador Demóstenes Torres e o julgamento do mensalão, em 2012: “Era uma loucura. Entrávamos no 'Jornal Nacional', apurávamos e dávamos a notícia, quase que simultaneamente”.
A repórter lembra, com orgulho, um fato raro: ter entrado ao vivo, duas vezes, em uma mesma edição do 'Jornal Nacional' no final do julgamento do Mensalão.
“Todo material que você faz para o 'Jornal Nacional' tem uma relevância muito grande. Isso marca a vida de um repórter. A gente tem que ficar feliz mesmo”.
Reportagem de Gioconda Brasil sobre a repercussão da reportagem publicada pela revista 'Veja', que relatou o encontro entre Lula e Gilmar Mendes, 'Jornal Nacional', 28/05/2012.
A cobertura de eleições é outro importante na trajetória de Gioconda. Ela chama atenção para o rigor da emissora com o que vai ao ar. "Eu sempre vi uma preocupação enorme com o equilíbrio do tempo que cada candidato vai falar. Isso é uma coisa cobrada. Se um candidato fala oito segundos e dez frames, o outro também vai ter que falar isso, e não pode passar", exemplifica ela.
Ela lembra de um momento em que a cobertura de eleições acabou em segundo plano, por algum tempo, por conta do acidente do avião da Gol, em 2006. Para além da tragédia, houve em seguida toda uma crise do setor aéreo. Foi de Gioconda o furo sobre a paralisação do comando do controle de tráfego aéreo.
Acidente aéreo Gol (2007)
FONTE:
Entrevista de Gioconda Brasil ao Memória Globo em 20/05/2014 |