Por Memória Globo

Memória Globo

O interesse de Gerson Camarotti pelo jornalismo começou cedo, no Recife, escrevendo para a revista do colégio. Já estudante de jornalismo, passou a fazer freelance para diversos veículos como a revista Veja Recife e o Jornal do Brasil. Começou a carreira como produtor da Globo Nordeste, participou da fundação da rádio CBN na capital de seu estado e trabalhou no Diário de Pernambuco, antes de mudar-se para Brasília como repórter da Veja. Em 2003, foi para o jornal O Globo como repórter especial de política e, em 2007, para a GloboNews. Além de atuar como comentarista no Em cima da Hora, participou da criação do Em Pauta e apresentou o Jornal das Dez.

Eu vejo como uma missão a busca pela verdade, pela informação, por revelar. É fundamental na democracia e me complementa.
Entrevista exclusiva do jornalista Gerson Camarotti ao Memória Globo, sobre sua vocação para o jornalismo e sua formação.

Entrevista exclusiva do jornalista Gerson Camarotti ao Memória Globo, sobre sua vocação para o jornalismo e sua formação.

Início da carreira

Ointeresse de Gerson Camarotti pelo jornalismo começou cedo, no Recife, escrevendo para a revista do colégio. Mais tarde, na dúvida entre fazer Direito ou Jornalismo, o futuro comentarista de política da GloboNews escolheu a segunda opção. Influência de sua professora que achava o jornalismo ‘muito bonito e essencial para a democracia’. Camarotti tinha 14 anos.

Trabalhando de dia e estudando à noite, o aluno de Comunicação Social da Universidade Católica de Pernambuco passou a fazer freelance para diversos veículos como a revista Veja Recife e o Jornal do Brasil. Começou a carreira como produtor da Globo Nordeste. Depois, participou da fundação da rádio CBN na capital de seu estado. Trabalhou também no Diário de Pernambuco. Entrevistou personalidades como Dom Hélder Câmara, então Arcebispo de Olinda e Recife e o escritor João Cabral de Melo Neto, autor de “Morte e Vida Severina” para o Correio Brasiliense.

Com Ariano Suassuna, morador do Recife, Camarotti desenvolveu uma grande e saudosa amizade. Ao lembrar do criador do Movimento Armorial e autor de obras como O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, morto no dia 23 de julho de 2014, o jornalista se emociona: “era um escritor generoso e com o pé no Brasil”. Assim como o próprio jornalista que acredita que, ao cobrir política, nunca se deve deixar de enxergar o país real.

A decisão de sair de Pernambuco e ir para Brasília foi um caminho natural para o pernambucano Gerson Camarotti Gomes, nascido no Recife em 30 de dezembro de 1973, período em que o país vivia sob o regime militar. “Peguei o finalzinho da ditadura, a redemocratização e ao optar por Jornalismo, veio a vontade de cobrir política. Entender o que é bastidor, compreender as articulações”. Experiência que começou a desenvolver ao trabalhar no jornal O Globo e nas revistas Época e Veja, onde fez uma reportagem sobre a tragédia da hemodiálise em Caruaru, Pernambuco, que lhe rendeu o Prêmio Abril de Jornalismo.

Formado em 1995, Gerson Camarotti foi contratado pela Veja e se mudou para Brasília no ano seguinte, realizando o antigo desejo de cobrir política. “Quem nasceu nos anos 70, vendo as Diretas Já, a morte do Tancredo, as primeiras eleições, tudo aquilo marcava a cabeça de um jovem adolescente.”

No entanto, a primeira reportagem marcante nesse início de carreira, que virou capa da Veja, foi o massacre de Eldorado dos Carajás, onde morreram 19 pessoas: “Eu tinha ido para o Pará para cobrir uma grilagem de terra, um latifúndio que correspondia a 10% do território do Pará, uma picaretagem. Conversando com o presidente do Instituto de Terras, soubemos do massacre. Chegamos a Marabá de madrugada e, tirando a equipe de lá, eu e a Ana Araújo, que era repórter fotográfica, fomos os primeiros a chegar”.

Em 2003, Gerson Camarotti foi para o jornal O Globo como repórter especial de política. Faro apurado, típico dos repórteres investigativos, começou a perceber uma mudança de comportamento entre os políticos. Chamou a atenção do jornalista o alinhamento de partidos oposicionistas com o PT. “Comecei a desconfiar que tinha um “mensalinho” aí. Fiz uma reportagem que mapeava os cargos do PTB e o orçamento desses cargos. O título era ‘Todos os homens de Roberto Jefferson’. No domingo que saiu a matéria, ele deu uma entrevista para a Renata Lo Prete [atual âncora do Jornal da Globo] falando que tinha uma armação do Palácio do Planalto contra ele”. A capital da república estremeceu. Vinha à tona o Mensalão. O relacionamento dos jornalistas com as fontes ficou comprometido porque muitas estavam envolvidas no escândalo.”

GloboNews

No final de 2007 e início de 2008, Camarotti foi chamado por Alice-Maria, no Rio, e Silvia Faria, em Brasília, para ser comentarista no telejornal Em Cima da Hora. Depois, no programa Fatos e Versões. Em 2010, participou da criação do Em Pauta: “A ideia original era fazer um programa para o horário eleitoral. Tinha que ter uma “janela” em Brasília, uma em São Paulo e outra em Nova Iorque. O Sérgio Aguiar apresentava do Rio. O programa deu tão certo que foi ficando, até novembro, dezembro, até ficar definitivo”. No mesmo período, o jornalista também atuava como comentarista no Estúdio I.

Em 2012, Camarotti foi para o Jornal das Dez, convidado por Eugênia Moreyra. A então diretora do canal apostava na inovação da linguagem do telejornal, aproximando-o mais da crônica. O repórter passou a fazer matérias sobre as principais movimentações políticas do dia. Começou a gravar com celular, uma novidade na época. A reação foi imediata e o publicou aprovou. “As conversas de dentro do elevador, entrando no gabinete com alguma autoridade, no Palácio do Planalto, no Superior Tribunal Eleitoral. Era uma linguagem um pouco mais “suja”, mas com forte potencial de bastidor. Colegas de outras emissoras resistiam muito, me olhavam feio quando eu chegava com o celular na mão, fazendo tudo sozinho, eles achavam que isso ia acabar com o emprego de todo mundo.”

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Mesa redonda

“Conversa política virou uma espécie de mesa redonda de futebol”, comenta o repórter ao se referir a participação dele no Jornal das Dez, exibido de Brasília. Ao lado do apresentador Heraldo Pereira, Camarotti comenta as notícias mais importantes da política brasileira na companhia dos jornalistas Cristiana Lôbo, Merval Pereira, Natuza Nery, Valdo Cruz e Andréia Sadi. “Minha rotina? Eu não desligo nunca. Em época de crise,a notícia estoura às seis da manhã, o presidente da Câmara vai preso, o governador do Rio vai preso… às vezes, não dá tempo nem de tomar banho. De uns tempos pra cá, entrei no ar até de dentro do avião”.

A rotina do jornalista também inclui um blog no portal de notícias G1 desde 2012. Convidado por Luiz Cláudio Latgé e pela diretora Márcia Menezes, ele expõe ali opiniões e informações de bastidores dos acontecimentos políticos: “Divulgamos, em primeira mão, a nomeação do Lula para ministro da Casa Civil, em 2016. Antes de a notícia ser confirmada, a própria GloboNews e a Globo deram o crédito ao blog”.
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Entrevista com o papa

Política e religião não são assuntos antagônicos para Gerson Camarotti. Desde os tempos do Recife, nas conversas com Dom Hélder Câmara, temas ligados à igreja católica despertam o interesse do jornalista. Quando o Papa Bento XVI surpreendeu o mundo, alegando não ter mais disposição para exercer o cargo, o jornalista retomou o contato com fontes e fez uma série de entrevistas com cardeais brasileiros, inclusive com alguns que participariam da escolha do novo pontífice.

Pela GloboNews, Camarotti foi, então, enviado a Roma para cobrir o conclave, sendo um dos primeiros repórteres a afirmar que o argentino Mario Jorge Bergoglio estava entre os mais cotados. “Quando dei a informação no Jornal das Dez, todo mundo: ‘Ah, um argentino, um argentino’. O brasileiro tinha perdido força e o argentino estava ali pontuando todo mundo… E quando eu olhei no outro dia, não tinha um jornal italiano dando Bergoglio como um papável. Eu falei: ‘Ou eu dei um grande furo ou uma grande barriga’. Quando saiu a fumaça branca, o cardeal anunciou: ‘Jorgeum, Marium Bergoglio, habemus papam’! Começamos a gritar, comemorar e ninguém entendia. ‘Quem é, quem é’? ‘Papa argentino’! Ninguém entendia nada porque era absolutamente desconhecido”.

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Furo de reportagem

Um trabalho de formiguinha. Camarotti sabia que a primeira viagem internacional do novo pontífice ia ser ao Brasil: Rio de Janeiro e Aparecida. Uma ideia que lhe veio à cabeça: entrevistar o Papa Francisco. Mas como chegar tão perto? Para ganhar a confiança do chefe da igreja católica, escreveu, em um mês, o livro “Segredos do Conclave”. Foi uma espécie de cartão de visitas. Mas novamente uma pergunta: será que o Papa vai receber o livro? “Eu consegui botar o livro na mesa de cabeceira dele, no Sumaré, Rio de Janeiro. E eu soube que ele se interessou. Quando veio o pedido de entrevista, ele sabia quem eu era”.

Na sacristia da Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, São Paulo, Camarotti filmou com o celular um lado mais descontraído do Papa Francisco. Por meio de suas fontes, e em parceria com o repórter Felipe Awi, conseguiu, com exclusividade, uma entrevista com o Bergoglio. A preparação foi rápida, e o desafio era achar o tom das perguntas. Seria a primeira entrevista exclusiva de um Papa para a TV. “A minha estratégia para entrevistar o Papa começou em 2005, então, são meses, anos, de investimento. Muitas vezes, é um investimento que nem a chefia fica sabendo porque você não vai criar uma expectativa do impossível. Você tem que ter muita confiança das fontes, nessa área de igreja mais do que ainda política, porque é uma abordagem sutil, mais sofisticada do que a cobertura política”.

A conversa com o Papa Francisco foi marcada para o Sumaré e durou meia hora. Abordou escândalos, evasão de fiéis, entre outros assuntos, e rodou o mundo. O repórter-cinematográfico foi Fernando Calixto. Na despedida, conta o jornalista, Bergoglio ainda brincou: ‘O Papa é argentino, mas Deus é brasileiro’.
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Lava Jato

A cobertura da operação Lava Jato desestabilizou o país. Teve inúmeros envolvidos, decisões polêmicas, escândalos e prisões. Atuando como comentarista na GloboNews, Camarotti conta como fazia para explicar à população os desdobramentos do caso: “Você tinha muita gente citada no Mensalão. Aquele núcleo do PP estava ali, alguns personagens do PT, o PMDB também aparecia com força. Nosso grande desafio era apresentar esses personagens e acrescentar os novos, os empreiteiros, os operadores, os diretores da Petrobrás. E ao longo desse processo, tudo vai crescendo, a Lava Jato vai se desdobrando e pegando outros partidos, PSDB, Aécio Neves. É uma crise política que cresce durante muitos anos e vira suprapartidária. Era importante mostrar também todos os movimentos realizados para tentar barrar a Lava Jato.”

Uma das reportagens ressaltadas por Camarotti é a que tratou da prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, acusado de lavagem de dinheiro. A equipe da GloboNews mostrou as imagens da família do executivo indo ao escritório dele pegar documentos. O furo de reportagem foi exibido no Jornal das Dez em abril, um mês depois do estouro da Lava Jato. “Não era só um caso de política. Foi durante a sétima fase da operação, conhecida como Juízo Final. Aí, vc começa a pegar os principais empreiteiros, em vários momentos, delações. Então, na verdade, é uma crise política suprapartidária”. Segundo o comentarista, é papel do Jornalismo mostrar os fatos como eles são e não como os políticos querem que sejam.

Impeachment de Dilma Rousseff

Manter as fontes e as conversas de bastidores são um bom começo para o comentarista político. Camarotti sempre manteve diálogos com integrantes do governo Dilma na ocasião do impeachment. Eles mesmos avaliavam que não havia um clima de governabilidade porque o impedimento da ex-presidente era um processo mais político do que jurídico, comenta o jornalista. “Dilma tinha perdido a base aliada. Primeiro, pelo temperamento dela, ela tinha dificuldade de dialogar com o Congresso. Ela eleita, a taxa de juros sobe, o desemprego explode. Isso criou uma impopularidade do dia para a noite”, reflete Camarotti. O jornalista explica que a base, que já não gostava dela, se afastou de vez. “Dilma cai pela ingovernabilidade. Mostramos o jogo de poder por trás do impeachment de Dilma Rousseff.”

Eleições 2018

Na cobertura das Eleições 2018, a GloboNews bateu recorde de audiência com o programa Central das Eleições, um projeto do atual diretor do canal, Miguel Athayde. “Acho que a gente teve um papel muito importante desde o início, que foi criar a Central das Eleições. Foi um projeto muito vitorioso, com o envolvimento de todos, inclusive do Ali Kamel. Demos prioridade máxima. Toda noite, entrevistas com os candidatos, candidatos a vice, os gurus econômicos. Colocamos pesquisadores fazendo análises, diretores do Datafolha, do Ibope, mostrando o passo a passo da campanha. No dia da eleição foi recorde absoluto de audiência”.

Além de se dedicar à cobertura política, Gerson Camarotti escreveu os livros Segredos do Memorial do Escândalo, em parceria com Bernardo la Peña; Segredos do Conclave, que fala dos bastidores da eleição do Papa Francisco e um reunindo entrevistas com Dom Cláudio Hummes, bispo de São Paulo; Dom Raimundo Damasceno, bisco de Aparecida e presidente da CNBB; Dom Orani Tempesta, do Rio de Janeiro; Dom Sérgio da Rocha, de Brasília e Dom Odilo Scherer, também de São Paulo.

Camarotti também dirigiu o documentário Morte e Vida Severina, em parceria com a jornalista Cristina Aragão, refazendo a trajetória de João Cabral de Melo Neto do sertão ao litoral. O filme foi apresentado no Festival do Rio. “O jornalista não pode ficar preso só ao salão verde. De vez em quando, é preciso reciclar e nada melhor do que você voltar ao Brasil real para saber o que está acontecendo de fato com o seu pais. Isso dá mais força e mais argumento para quando você tiver que comentar política oficial, você nunca perder de mente o Brasil real.”

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