Por Memória Globo

Acervo/Globo

Bairro do Brás, São Paulo. Francisco Cuoco ainda se recorda do terreno baldio em frente ao sobrado onde morava com os pais, Antonieta e Leoplodo, e a irmã, Grácia. Era ali que, vez por outra, um picadeiro surgia diante dos olhos do menino: “Era um universo que me fascinava”, recorda-se. E bastava o circo partir para Francisco atravessar a rua e fazer daquele quintal o seu palco. “Eu encenava uns diálogos engraçados para os vizinhos, tudo imaginação de criança”, diz. O ingresso era um botão de futebol de mesa. Nascia aí o desejo de ser ator, que atravessou sua juventude. Anos depois, estrelou 'Selva de Pedra' (1972), 'O Semideus' (1973) e 'Pecado Capital' (1975). Francisco Cuoco protagonizou mais de 20 novelas de sucesso, além de atuar em filmes e peças de teatro.

É importante que o ator tenha inteligência cênica: o Francisco não faz determinadas coisas, mas seu personagem faz. Porque, às vezes, se você não tem experiência, faz uma coisa sem alma. É importante que os personagens tenham vida própria. Prefiro que o personagem sufoque o Francisco.

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O ator Francisco Cuoco, em entrevista exclusiva ao Memória Globo em 03/04/2002, fala sobre a censura nos anos de ditadura.

O ator Francisco Cuoco, em entrevista exclusiva ao Memória Globo em 03/04/2002, fala sobre a censura nos anos de ditadura.

Entrevista exclusiva da ator Francisco Cuoco ao Memória Globo, em 03/04/2002, sobre a construção de seus personagens.

Entrevista exclusiva da ator Francisco Cuoco ao Memória Globo, em 03/04/2002, sobre a construção de seus personagens.

Início da carreira

Bairro do Brás, São Paulo. Francisco Cuoco ainda se recorda do terreno baldio em frente ao sobrado onde morava com os pais, Antonieta e Leopoldo, e a irmã, Grácia. Era ali que, vez por outra, um picadeiro surgia diante dos olhos do menino: “Era um universo que me fascinava”.

E bastava o circo partir para Francisco atravessar a rua e fazer daquele quintal o seu palco. “Eu encenava uns diálogos engraçados para os vizinhos, tudo imaginação de criança”. O ingresso era um botão de futebol de mesa. Nascia aí o desejo de ser ator, que atravessou sua juventude. Anos depois, quando estrelou 'Selva de Pedra' (1972), 'O Semideus' (1973) e 'Pecado Capital' (1975), Cuoco já era ator conhecido, um galã nacional. “Eu acho que o fato de ter feito o Teatro Brasileiro de Comédia, eu aprendi que você tem que ter humildade. Você não precisa ser o protagonista, basta ter um papel e que tente transformá-lo em uma coisa. Eu concordo com aquela frase que ‘não existem pequenos papéis, existem pequenos atores’”, comenta.

Aos 20 anos, ao fazer o vestibular, trocou o Direito pela Escola de Arte Dramática de São Paulo. Era o auge dos grandes estúdios de cinema, como a Vera Cruz. E Francisco Cuoco sonhava com aquele mundo para ele. Quatro anos depois estava formado e fazendo parte do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). E em 1959, ingressava no Teatro dos Sete, formado por Gianni Ratto, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Fernando Torres, Sérgio Britto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida.

Paralelamente ao trabalho nos palcos, deu os primeiros passos na televisão, veículo que o tornaria um dos ícones da dramaturgia brasileira, no elenco do 'Grande Teatro Tupi'. “Interpretávamos peças completas. A TV ainda era ao vivo e, lógico, tínhamos que improvisar muito. Foi um aprendizado incrível”, aponta.

Em seguida, vieram as novelas. A primeira foi 'Marcados Pelo Amor' (1964), de Walther Negrão e Roberto Freire, na TV Record. Na Excelsior, a carreira se consolidou com 'Redenção' (1966), de Raimundo Lopes, um grande sucesso da época. E ao ser escalado para 'Legião dos Esquecidos' (1968), do mesmo autor, fez o primeiro dos muitos pares românticos com a atriz Regina Duarte.

Início na Globo

Entrou na Globo em 1970, interpretando o padre Vitor de 'Assim na Terra Como no Céu', de Dias Gomes – seu primeiro papel na nova emissora. Naquele ano, um fato inusitado aconteceu: o ator poderia ser visto, no mesmo horário, tanto na Globo quanto na TV Tupi, que comprara da Excelsior os direitos de exibição de 'Sangue do Meu Sangue', novela de Vicente Sesso estrelada pelo ator em 1969.

Ídolo de muitos atores mais jovens, principalmente quando chegou à televisão, Cuoco sempre se preocupou em ajudá-los com a técnica. “É importante que o ator tenha uma percepção que eu chamo de inteligência cênica: o Francisco não faz determinadas coisas na vida real, mas seu personagem faz. Por que, às vezes, se você não tem experiência, faz uma coisa mecânica e sem alma. É importante que os personagens tenham vida própria… Eu prefiro que o personagem sufoque o Francisco”.

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Webdoc sobre a novela 'Assim na Terra Como no Céu', com entrevistas exclusivas.

Webdoc sobre a novela 'Assim na Terra Como no Céu', com entrevistas exclusivas.

'Selva de Pedra'

Sua trajetória também foi marcada pela série de protagonistas que a novelista Janete Clair escreveu especialmente para ele. Um sucesso após o outro: o ambicioso Cristiano Vilhena, de 'Selva de Pedra' (1972), noivo de Simone Marques (Regina Duarte), foi o primeiro deles. Para Cuoco, não existe uma fórmula para compor um personagem. É uma mistura de observação da realidade e criatividade. Isso ocorreu muito na construção da personalidade de Cristiano Vilhena.

“Eu conheço muitos Cristianos. Eu vim do Brás, bairro operário, e lá tinha um footing, em que os homens ficavam parados, e as moças passavam, tinha um namoro no ar. Esse era o clima do Cristiano. E também coloquei, junto com isso, minha intuição, percepção, sensibilidade”.

Após interpretar o jornalista Alex, em 'O Semideus' (1973), e o aviador garanhão Mário Barroso em 'Cuca Legal' (1975), trama de Marcos Rey com direção de Oswaldo Loureiro, Cuoco foi convidado para fazer e o carismático taxista Carlão, em 'Pecado Capital' (1975), de Janete Clair: “O Carlão tinha essa generosidade, essa coisa de olhar para o semelhante e ver o semelhante, não era um estranho para ele, era um igual. Eu acho que ele tinha a mágica do personagem popular”.

Na novela, feita a toque de caixa para substituir a primeira versão de 'Roque Santeiro', censurada pela ditadura militar, ele disputava o amor de Lucinha (Betty Faria) com o empresário Salviano Lisboa (Lima Duarte). Anos depois, no remake de 'Pecado Capital', em 1998, o ator assumiu o papel de Salviano.

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'Pecado Capital - 1ª versão' (1975): A morte de Carlão

'Pecado Capital - 1ª versão' (1975): A morte de Carlão

Herculano Quintanilha, o astro

Outro papel marcante dessa etapa inicial da trajetória de Cuoco na Globo foi o vidente Herculano Quintanilha, da primeira versão de 'O Astro' (1977): “O Herculano Quintanilha era um pilantra total. Mas em alguns momentos, do jeito que a Janete escreveu, às vezes ele sabia de algumas coisas que transcendiam. Ele pegava na mão lá da personagem da Dina [Sfat], e dizia: ‘Você já teve um Frederico na sua vida. Frederico morreu’ – e era verdade. E ele ia envolvendo, envolveu a família Hayala nisso tudo”.

Na segunda versão de 'O Astro', exibida em 2011, Francisco Cuoco retorna para uma participação na pele de Ferragus, um ilusionista que, na cadeia, ensina a arte para Herculano Quintanilha, interpretado por Rodrigo Lombardi.

Ainda de Janete Clair, Cuoco esteve em 'Sétimo Sentido' (1982), como Tião Bento, um sujeito metido a Dom Juan que tinha a curiosa mania de guardar os sapatos das mulheres que seduzia. Mais uma vez, ele e Regina Duarte – a paranormal Luana Câmara – foram o casal romântico do folhetim; e 'Eu Prometo' (1983), interpretando o político moralista Lucas Cantomaia.

'O Astro - 1ª versão' (1977): Herculano e Amanda se conhecem

'O Astro - 1ª versão' (1977): Herculano e Amanda se conhecem

Outros protagonistas

Em 'O Outro' (1983), novela de Agnaldo Silva, Francisco Cuoco viveu dois protagonistas: sósias e vizinhos, o milionário Paulo Della Santa e o mecânico Denizard tiveram suas vidas cruzadas um belo dia em Copacabana, no Rio de Janeiro. Neste encontro, Paulo morre em uma explosão e Denizard perde a memória. Resultado: ao voltar a si, Denizard é confundido com Paulo e assume o lugar do empresário nos negócios e na família Della Santa.

Em 1989, o ator deu vida a Severo Branco em 'O Salvador da Pátria'. Tratava-se do ambicioso prefeito de Tangará, que depois se torna como deputado estadual, e finalmente deputado federal, atuando na constituinte. O ator protagonizou, ainda, o seriado 'Obrigado, Doutor' (1981), fez participações em séries como 'Você Decide' (1992-2000) e especiais, como o 'Memórias de um Sargento de Milícias' (1995), medalha de ouro na categoria drama no Festival do Filme de Nova York.

Após um período dedicado ao cinema, Cuoco viveu Olavo da Silva da novela 'Passione' (2010), de Silvio de Abreu. Em 2014, Francisco Cuoco teve participação especial em episódios de 'Doce de Mãe', 'A Grande Família' e na novela 'Boogie Oogie'.

Em 'Sol Nascente' (2016), de Walther Negrão, Suzana Pires e Júlio Fischer interpretou Gaetano De Angeli, fazendo par romântico com Aracy Balabanian. Dois anos depois, em 'Segundo Sol', escrita por João Emanuel Carneiro, deu vida a Nestor Maranhão, pai da vilã Laureta (Adriana Esteves). Cuoco teve ainda participações na novela 'Pega Pega' (2018) e 'Salve-se Quem Puder' (2020), no humorístico 'Tá no Ar: A Tv na Tv' (2019) e no especial 'Juntos a Magia Acontece' (2020).

Aracy Balabanian e Francisco Cuoco em 'Sol Nascente', 2016 — Foto: Estevam Avellar/Globo

Cinema

E aquele rapaz que era fascinado pelos grandes estúdios de cinema? A partir de 1999, Francisco Cuoco reduziu o ritmo das novelas e iniciou um namoro com a sétima arte. Participou de filmes como 'Traição', de José Henrique Fonseca e Arthur Fontes, 'Gêmeas', de Andrucha Waddington, 'Um Anjo Trapalhão', de Alexande Boury e Marcelo Travesso (2000), 'Cafundó' (2005), de Clóvis Bueno e Paulo Betti, e 'A Partilha' (2001), de Daniel Filho.

A volta ao teatro aconteceu em 2005, depois de mais de 20 anos de dedicação praticamente exclusiva à TV. Em 'Três Homens Baixos', dividiu o palco com Gracindo Jr. e Chico Tenreiro. Outra paixão de Francisco Cuoco é a música: gravou o disco romântico 'Solead' (1975) e o CD 'Paz Interior', uma reunião de 16 orações católicas.

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