Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Carioca e descendente de imigrantes russos, Fernando Waisberg formou-se em Engenharia e iniciou sua trajetória na Globo aos 18 anos, ainda como estagiário. Logo tornou-se operador de videoteipe, e depois, editor de imagem – foi um dos primeiros neste cargo, assim que a Globo decidiu criá-lo, dentro da estrutura do Jornalismo. Passou pelo 'Jornal Nacional', esteve na estreia do 'Fantástico' e marcou a história da emissora com as matérias produzidas com Mauro Rychter para o 'Jornal Hoje' de sábado, onde pôde exercitar sua liberdade criativa e promover experimentações memoráveis. Fernando Waisberg também teve passagens pela Abril Vídeo e TV Manchete, antes de criar sua própria empresa.

A Globo sempre procurou alguma coisa nova, um futuro. Sempre procura e acaba achando, porque melhora muito e é um diferencial em relação às outras”

Fernando Waisberg em entrevista ao Memória Globo, 2015 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Início da carreira

Filho de dois imigrantes russos, Moisés Waisberg e Gitla Waisberg, o engenheiro Fernando Waisberg nasceu no Rio de Janeiro, em 2 de julho de 1953. Chegou a iniciar o curso de Comunicação Social, mas se formou em Engenharia Operacional pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, instituição ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro na época. Sua vida profissional começou na Globo, no início dos anos 1970, como estagiário na área de engenharia. Após quatro meses aprendendo, acabou contratado como operador de videoteipe (VT). A tecnologia estava chegando ao Brasil e muitos equipamentos ainda precisavam ser ligados de manhã cedo, para esquentar e funcionar corretamente mais tarde.

Coragem no JN

Logo após a sua contratação, em 1971, Fernando Waisberg foi trabalhar no 'Jornal Nacional'. “Lembro que eu fui escalado porque era corajoso – e precisava ser corajoso para trabalhar no VT do 'Jornal Nacional'. O VT corria, mas não corria muito, porque senão a fita podia arrebentar na hora de frear. E a gente freava com a mão”, explica. Eram tempos românticos e difíceis de imaginar hoje em dia, em que o operador às vezes precisava pedir a Cid Moreira, um dos apresentadores do telejornal no período, para falar mais devagar, de modo que a imagem entrasse no momento certo: “Além disso, os aparelhos de videoteipe da época demoravam oito segundos para estabilizar a imagem. Ou seja, tínhamos de disparar o videoteipe oito segundos antes do começo da matéria. Isso dava, aproximadamente, 2,5 linhas de texto antes de o Cid Moreira acabar de falar. Quando o JN era apresentado pelo Sérgio Chapelin, tínhamos de mudar para duas linhas de texto. O Sérgio falava mais rápido”, conta.

Percebendo a necessidade de integrar jornalismo e tecnologia, o diretor de Jornalismo da emissora na época, Armando Nogueira, criou o cargo de editor de imagem, e Fernando Waisberg esteve entre os três primeiros profissionais a serem promovidos à função. Além do JN, começou a trabalhar para outros programas e novelas. Participou da primeira edição do 'Fantástico', em 1973, sendo orientado diretamente por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor de programação e produção da Globo, durante a exibição do programa. Depois disso, ficou responsável pela edição dos gols da rodada, quadro que se tornou um sucesso.

Fernando Waisberg (ao centro) durante edição de imagens — Foto: Ronald Fonseca/Agência O Globo

Criatividade

Mesmo com a evolução dos equipamentos, a capacidade criativa dos profissionais se manteve determinante por muito tempo. Para fazer a retrospectiva dos anos 1970, Fernando Waisberg e Mauro Rychter, jornalista com quem desenvolveu uma produtiva parceria, fizeram a reconstituição do atentado ao ditador nicaraguense Anastasio Somoza usando uma miniatura de um automóvel Mercedes enviada dos Estados Unidos pelo correspondente Lucas Mendes. Juntos, eles produziram muitas reportagens especiais, sobretudo para o 'Jornal Hoje' de sábado, reconhecido espaço para inovações nos anos 1970 e 1980. “A gente, às vezes, nem falava o que ia fazer. Aí chegava o sábado e ‘olha, temos isso’. Era muito agradável, muito bom. Foi um grande tempo para mim. Tem muitas reportagens que a gente lembra até hoje”, recorda. Juntos, chegaram a criar algumas vinhetas, antes da contratação do designer Hans Donner, e viajaram pelo país para ensinar profissionais de outras praças e de afiliadas a usarem novos equipamentos, como o U-matic (formato de fita de vídeo que veio substituir os filmes em película).

Jornal Hoje: Florilândia (1978)

Jornal Hoje: Florilândia (1978)

Mudanças, experiências e inovações

Em 1982, Fernando Waisberg se mudou com a família para os Estados Unidos para trabalhar no escritório da Globo em Nova York. No ano seguinte, recebeu um convite da Abril Vídeo e voltou ao Brasil, para morar em São Paulo. “Fiquei cinco anos na Abril, dois anos e meio como diretor de Operações, durante a compra de espaço na TV Gazeta para a produção do São Paulo na TV. Quando acabou essa operação, me tornei diretor-geral, e a empresa passou a se chamar Abril Vídeo. Foi a primeira produtora a fazer vídeos para serem distribuídos em VHS. Dirigi alguns deles, como o da atriz Yoná Magalhães fazendo ginástica”, conta.

A volta à Globo aconteceu em 1988 e, no ano seguinte, dirigiu os debates que reuniram os candidatos a presidente na primeira eleição direta realizada desde o golpe militar de 1964. Fernando Waisberg também dirigiu a primeira entrevista de Fernando Collor como presidente, na Casa da Dinda, em Brasília, feita pelos jornalistas Joelmir Beting e Alexandre Garcia. Sabendo que o local tinha muitos mosquitos, tratou de comprar um spray repelente antes da entrevista, para garantir que não seriam interrompidos durante a gravação. Em 1991, foi para a Manchete, a convite de Alice-Maria Reiniger, que havia assumido o cargo de diretora executiva de Jornalismo da emissora.

Fernando Waisberg decide sair da Manchete para criar sua própria empresa, em 1993. Atento à chegada de softwares importantes para a produção gráfica, a Timeline ganhou clientes grandes. Foi responsável pela edição de mais de 1.200 aulas do 'Telecurso Segundo Grau', projeto educativo liderado pela Fundação Roberto Marinho, e, em 2015, desenvolveu as animações de um aplicativo de conteúdos relacionados ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para o G1. Com o tempo, sua empresa se especializou em animação, pós-produção, inserção de closed caption e libras, captura de imagens em alta resolução e animações em 3D. Mantendo-se à frente da empresa, Fernando Waisberg também abriu outro negócio para viabilizar a comercialização do primeiro teleprompter profissional portátil, acoplado à lente da câmera, utilizando um tablet: o Smart TP. O produto foi vendido para o Japão, a Austrália, os Estados Unidos e a Europa. Atualmente, produz e é o criador de um canal de ensino de Ciências da Natureza no Youtube chamado Professor Albert.

FONTE:

Depoimento de Fernando Waisberg ao Memória Globo em 06/10/2015.
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