A paixão pela escrita levou Fabio Watson à busca pela precisão no texto jornalístico. Editor por mais de 30 anos na Globo, ele atuou nos bastidores da notícia em quase todos os telejornais da emissora, especializando-se em Economia e Política Internacional. Na GloboNews, o jornalista carioca se destacou por ter sido um dos criadores da edição das 18h do 'Jornal GloboNews' e também por ter comandado o 'Estúdio i' durante seis anos. Para Fabio Watson, ser editor no canal fechado de notícias da Globo foi um dos grandes desafios da carreira: 24 horas no ar, o desafio assumido pelos profissionais da GloboNews é dar a informação correta, com agilidade, acompanhando os acontecimentos em tempo real.
Fabio Watson Oliveira e Silva é filho de Walter Ferreira da Silva, advogado, e Maria Aparecida de Oliveira e Silva, enfermeira. O rapaz sempre gostou de escrever: sabia desde cedo que seu futuro era o jornalismo. Por isso, assim que ingressou no curso da Universidade Federal Fluminense, procurou um estágio na área. O primeiro foi como redator na Rádio Roquette Pinto, onde permaneceu por poucos meses. Optou por uma outra vaga, desta vez no pequeno jornal Repórter, focado em crítica social. Quando se tornou trainee da Globo, em 1981, também já contava com uma passagem como estagiário na TVE, atual TV Brasil.
O curso de trainee o levou a sua primeira conquista na Globo: o jornalista recém-formado tornou-se editor-assistente no 'Jornal Hoje'. Fabio Watson começou como auxiliar de Ricardo Arnt na editoria de Internacional. Seu trabalho consistia em produzir, editar e reescrever textos de reportagens que seriam exibidas no 'JH'. O tempo era o maior inimigo, tanto o de produção do material, quanto os minutos dedicados às matérias. Editor de texto precisa ser sintético: é proibido desperdiçar palavras.
Fabio Watson lembra que a primeira vez que sentiu na pele o desafio de fazer televisão foi em outubro de 1981, quando o presidente egípcio Anwar Sadat foi assassinado por fundamentalistas islâmicos durante uma parada militar, no Cairo.
“Tudo foi filmado. As imagens chegavam das agências e tinha sangue para todo lado, pessoas gritando… Ao mesmo tempo em que as coisas aconteciam, tínhamos que escrever as matérias. Foi forte, minha prova de fogo na televisão.”
Dois anos depois, Fabio foi convidado para ser subeditor do 'Bom Dia Rio', que estava estreando. Ali, participou de coberturas, como o movimento das Diretas Já e o desabamento de terra no morro do Pavãozinho, na Zona Sul do Rio, em 1987. Ele se lembra da edição das matérias da tragédia: “as imagens eram dramáticas – pessoas sendo resgatadas da lama. Fiz uma edição chocante, com sobe som, mostrando as pessoas sendo retiradas, gritando, imagens bem fortes”.
De carnaval em carnaval
Em 1984, tornou-se editor no 'RJTV – 2ª Edição'. Uma de suas primeiras coberturas foi a inauguração do sambódromo do Rio de Janeiro. Muita disposição e jogo de cintura durante uma década cobrindo carnaval!
Começava ali uma era de trabalho em ritmo de samba. Fabio Watson lembra que a primeira experiência foi exaustiva. Ainda não existia a regra de cronometrar o tempo das escolas e, de atraso em atraso, a festa se estendia ao longo do dia seguinte, debaixo de sol forte. “Ali é tudo de concreto, chão branco. As pessoas derretiam de calor, tinham insolação. O turno dos repórteres mudava, mas os editores continuavam”.
No 'RJTV', também cobriu o Rock in Rio, em 1985. Meses depois, foi chamado para ser o editor do Rio para o 'Jornal Nacional' e 'Jornal da Globo', paralelamente ao trabalho no noticiário local. Por isso, participou da cobertura da morte de Tancredo Neves: “Foi longo o plantão na emissora. O material sobre ele tinha que ser renovado diariamente, porque cada dia acontecia uma coisa diferente”, lembra.
Tragédia do Bateau Mouche
Em 1988, Watson foi convidado para ser editor-chefe do 'RJTV – 1ª Edição'. Era um período de experimentação de linguagem nos telejornais locais. Naquele ano, o jornalista foi escalado para o plantão de reveillon. Às 5h da manhã, recebeu um telefonema e correu para a redação: um barco naufragara na praia de Copacabana. Era o Bateau Mouche, que deixou 55 pessoas mortas na virada do ano. “Eu morava muito perto da emissora, no Jardim Botânico. Eu saí correndo e, quando cheguei, já tínhamos as imagens do resgate. Era uma coisa impressionante: corpos, pessoas gritando, parentes indo pra lá, repórteres trazendo informações… E demos flashes na programação de três, quatro, minutos”.
No ano seguinte, abriu uma vaga para editor de economia no 'Jornal da Globo'. Fabio Watson sabia que teria muito trabalho pela frente, mas aceitou o desafio. Começou a se especializar no tema para editar as reportagens com mais segurança. A cobertura do confisco da caderneta de poupança, no governo Collor, movimentou a editoria, que passou a ter espaço privilegiado em todos os telejornais. “Como explicar para as pessoas que só teriam 50 cruzados na conta? Nem os próprios apresentadores sabiam o que estava acontecendo. Realmente foi o caos, muito trabalho: reportagens, comentaristas… Todo mundo tentando explicar o que o plano queria dizer.” O trabalho aumentou quando Watson passou a ser editor de Economia do 'Jornal Nacional', em 1990.
Nova York
De férias em Nova York, Watson encontrou a equipe correndo contra o tempo para botar no ar informações sobre a Guerra do Golfo, que acabara de eclodir, em 1991. Watson interrompeu as férias e colocou a mão na massa. “Os repórteres do escritório entravam ao vivo e tinham blocos no jornal com matérias de Nova York e Washington. Eu fiquei além das minhas férias até quase terminar a guerra”. Ao chegar no Brasil, Fabio Watson deixou a editoria de Economia no 'Jornal Nacional' e passou a responder pela Internacional.
Da redação, ele recebia o material enviado pelos escritórios estrangeiros. “O principal desafio nas coberturas é que não aconteça nenhum tipo de problema técnico. Temos que checar tudo: o funcionamento do satélite, o script, a comunicação entre os editores”.
Em 1992, o jornalista realizou o sonho de morar fora do país. Ingressou no mestrado de Política Internacional na Universidade de Nova York e assumiu os cargos de editor e produtor do escritório da Globo na cidade. Depois, tornou-se chefe de redação. Nessa época, participou de importantes coberturas, como o primeiro atentado ao World Trade Center – no qual uma bomba explodiu na garagem de um dos edifícios; e a visita do então presidente Itamar Franco ao país – quando a equipe foi deslocada para a capital, Washington; a Copa do Mundo de 1994 e a morte de Tom Jobim.
Fabio Watson lembra que a notícia da morte do compositor brasileiro o pegou de surpresa, cedinho, em casa. “Eu recebi um telefonema e foi uma comoção. Grande parte da equipe tinha ido cobrir a Cúpula das Américas, na Flórida, e só tínhamos um repórter, o Hermano Henning. Montamos tudo para o 'Jornal Nacional' e entramos ao vivo da rua, coisa que não era muito comum na época”.
Em Nova York, ele trabalhou com os jornalistas Carlos Dorneles, Jorge Pontual, Sônia Bridi e Paulo Francis. “O nosso escritório tinha um peso grande nos telejornais de rede, tinha que entrar diariamente no 'Jornal Nacional', 'Jornal da Globo', ter uma presença semanal no 'Fantástico'. Trabalhávamos para todos”.
Em 1997, Fabio Watson voltou ao Brasil com a família e aceitou a uma vaga de editor de Internacional no 'Jornal Hoje'. Da redação, coordenou as coberturas da morte da Lady Di em um acidente de carro, em agosto daquele ano; a crise no sudeste asiático, em parceria com a editoria de Economia; e a crise do governo de Bill Clinton, envolvido em um escândalo sexual com a estagiária da Casa Branca, Mônica Lewinski.
GloboNews
Quando a redação do 'Jornal Hoje' foi transferida para São Paulo, em 1999, Fabio Watson aceitou o um convite da então diretora da GloboNews, Alice-Maria, para ser editor de Internacional no canal. Fabio lembra que o ritmo era puxado: ele começou a trabalhar no turno da manhã, quando os escritórios internacionais mandavam grande volume de matérias, por conta do fuso-horário. “Acho que nunca redigi tanto na minha vida, porque de manhã, que não tem tanta notícia no Brasil, e já tinha Europa e Ásia funcionando”.
GloboNews: transmissão ao vivo do sequestro do ônibus 174
Fabio Watson lembra que o sequestro do ônibus 174, no Rio, foi uma das primeiras grandes coberturas ao vivo da GloboNews, que se estendeu ao longo da tarde. Para ele, a dificuldade naquele caso foi a rapidez nas tomadas de decisão, já que se tratava de uma transmissão ininterrupta, que terminou no assassinato da estudante Janaína Lopes.
Em 2001, Watson se tornou editor-executivo, no turno da tarde. Por isso, quando chegou à emissora no dia 11 de setembro, as imagens dos atentados às torres gêmeas já estavam no ar. A cobertura seguiu em tempo real, ao longo do dia, característica que o jornalista acha fundamental na GloboNews: a capacidade de trabalhar a notícia ao vivo, no decorrer do acontecimento. Por essa razão, a GloboNews conta com uma equipe de correspondentes espalhados pelo mundo, que podem entrar ao vivo de qualquer lugar, usando também recursos via internet.
Webdoc jornalismo - Atentados de 11 de Setembro (2001)
Dos Estados Unidos, por exemplo, em 2005, a correspondente Tanira Lebedef acompanhou o pouso forçado de um avião com 146 pessoas no aeroporto de Los Angeles, que apresentava problemas. Naquela noite, Fabio Watson refez completamente o 'Jornal das Dez' que entrava no ar: o avião pousaria em poucos minutos e havia a possibilidade de uma explosão, ao tocar no chão.
“Interrompemos as matérias porque fomos acompanhar o avião que estava para descer e não sabíamos o que ia acontecer. Passávamos as informações ao vivo para o André Trigueiro, que era o apresentador, e sentia aquele frio na barriga, porque se acontecesse qualquer coisa com o avião, tínhamos que transmitir”.
A cobertura ganhou o grande prêmio do Jornalismo da Globo naquele ano.
Jornal GloboNews e Estúdio i
Como editor-executivo da GloboNews no horário da noite, Fabio Watson comandou os testes para a criação de um telejornal, que iria ao ar às 18h. A estreia do 'Jornal GloboNews' foi em 2009, quando Leilane Neurbath deixou o 'RJTV' e se tornou apresentadora ligada ao canal de notícias. “Fizemos vários pilotos. Deixei o jornal todo pronto e passei a ser editor-chefe do 'Estúdio i'.”
À frente do 'Estúdio i', na fase em que este foi apresentado pela jornalista Maria Beltrão, Fabio Watson levou adiante o objetivo de realizar um telejornal descontraído, que se distanciasse do hardnews, mas que mantivesse o compromisso com acontecimentos importantes do Brasil e do mundo.
“É como se fosse uma sala com as pessoas conversando sobre os assuntos que estão acontecendo no dia. Informamos, comentamos, trazemos coisas novas”. As pautas do 'Estúdio i' são previamente discutidas com a equipe, mas, a qualquer momento, a apresentadora e seus convidados podem comentar assuntos ao vivo.
Fabio Watson permaneceu como editor-chefe do programa até 2015, quando deixou a emissora.
FONTE:
Entrevista concedida por Fabio Watson ao Memória Globo, em 18/05/2015. |