Por Memória Globo

Cícero Rodrigues/Memória Globo

Nascida em uma família de comunicadores, o destino natural de Eugenia Moreyra deveria ser o jornalismo. Mas, no início, ela resistiu à ideia. Filha de Sandro Moreyra, um dos maiores jornalistas de esporte do país, irmã da jornalista Sandra Moreyra e neta de Roquete Pinto, o criador da primeira rádio do Brasil, Eugenia Álvaro Moreyra nasceu no dia 26 de abril de 1951, no Rio de Janeiro: “Por causa dessa família de jornalistas, eu não queria fazer jornalismo de jeito nenhum. Fui estudar história. Eu queria trabalhar com história oral e pesquisa. Fiz um trabalho grande, nessa época, no Nordeste”.

Em paralelo à atividade de pesquisadora, Eugenia também “flertou” com a carreira artística. Foi atriz no Grupo Oficina e percorreu o país com três peças de repertório: “A experiência do Oficina foi muita intensa. A gente fazia teatro de rua, dormia embaixo de viaduto. Eu cheguei a fazer um filme dirigido pelo Domingos Oliveira, “A Culpa”, que de vez em quando passa no Canal Brasil. Morro de vergonha.” Embora tenha sido como pesquisadora que entrou na Globo, em 1978, acabou mergulhando no jornalismo e chegou a diretora-geral da GloboNews.

Na GloboNews, nosso foco era a notícia. Foi onde a gente botou nosso coração para dar certo. A notícia tem que ir ao ar de qualquer maneira, privilegia agilidade.

Eugenia Moreyra em entrevista ao Memória Globo, 2017 — Foto: Cícero Rodrigues/Memória Globo

Início da carreira

Formada em história, Eugenia Moreyra foi avisada por uma amiga que a Globo estava selecionando candidatos para trabalhar no Centro de Documentação, o Cedoc, atual Acervo. Fez a prova e ingressou na emissora em 1978, aos 26 anos de idade: “A Edna Palatinik foi minha chefe, uma pessoa que eu adoro. Ela é a minha mentora, uma mulher extraordinária, com uma cultura incrível. Eu aprendi muito com ela”. A televisão, nessa época, passava por transformações. Substituía o filme pelo videotape: “O Cedoc foi um aprendizado para mim porque lá você acaba vendo tudo.”

Depois de um período fora da emissora para o nascimento de sua segunda filha, Eugenia retorna à Globo, em 1982, e vai trabalhar no Departamento de Esporte. Lá, conhece um outro parceiro de trabalho que seria fundamental na sua evolução profissional: o jornalista Hedyl Vale Júnior: “O Hedyl é o cara que fez a minha cabeça. Mostrou o que é ser jornalista de televisão, todas as possibilidades que isso tinha, me fez ficar completamente encantada e fascinada.” Ela considera que o Esporte foi a sua escola e a sua turma. Lembra outros colegas que marcaram a sua trajetória como Fernando Guimarães, José Trajano e Luiz Nascimento, com quem acabaria se casando. Entre tantas matérias que fez, recorda de uma, em especial, na Toca da Raposa, em Belo Horizonte. A seleção brasileira se preparava para a Copa de 1986: ” Tinha uma obra ao lado da concentração e, todos os dias, os operários paravam e ficavam narrando o treino. A gente fez um Globo Esporte ao vivo com eles fazendo a narração. Por eu não ser uma pessoa de Esporte, então foi uma descoberta. E eu acho que a descoberta é mais interessante do que a experiência. Eu gosto desse olhar novo e diferente para as coisas.”

Outra lembrança marcante foi uma série sobre os clubes pequenos do Rio de Janeiro, uma ideia do José Trajano, então chefe de reportagem: “A gente fez quase um documentário sobre a história dos clubes. O sócio mais antigo, os jogadores. A gente ia buscando os personagens e resolvemos costurar a narrativa pela linha do trem, as paradas nas estações. Ficou muito bonito.”Eugenia diz que era um privilégio trabalhar no Esporte nessa época: “A base da minha criatividade veio daí, de pessoas como o Luizinho, o Fernandinho, o Trajano, o Hedyl. Brincando e produzindo coisas novas. Eu me sinto feliz de ter trabalhado com essas pessoas sensacionais.”

Em meados dos anos 1980, Eugenia foi uma das profissionais convocadas pela emissora para um projeto ambicioso: a instalação da Telemontecarlo: “Foi uma aventura porque a Telemontecarlo não era nada. Ficava em Mônaco, mas o sinal vinha da Itália. Foi um trabalho difícil que acabou dando certo. A gente vibrava muito porque era uma conquista.”

Na volta do exterior, Eugenia Moreyra passaria um período fora da Globo, do final de 1986 até 1992. Trabalhou com o cineasta Walter Salles Jr. na produtora Videofilmes. A experiência com o cinema a fez reavaliar antigos conceitos: “Era uma coisa meio besta. Eu achava a televisão menor que o cinema e que o dia que eu fosse fazer cinema, nunca mais faria televisão. E eu fui fazer cinema com o Walter, com o Afonso Beato, só fera, e detestei. Então, eu acho que sou uma pessoa de televisão. Adoro uma coisa que tem em televisão: qualquer pessoa pode dar a melhor ideia. Às vezes, você está com a equipe e o motorista fala um negócio e é a melhor ideia de todas. Acho isso uma delícia. Você pode somar experiências de pessoas diferentes. Cinema já é uma coisa cara e hierarquizada. Não pode errar porque tudo é caro. É muito engessado. Não existe essa liberdade criativa que tem na televisão.”

Globo Repórter e Fantástico

Em 1992, Eugenia voltou à Globo atendendo um convite da editora do Globo Repórter, Silvia Sayão, para fazer a retrospectiva do ano. Ela desenvolveu esse trabalho por quatro períodos consecutivos. Para ela, a passagem pelo Cedoc foi muito importante por envolver pesquisa de texto e imagem: “A gente dividia em temas. Eu pegava o Esporte que é ótimo. É um show de imagens”. Nas retrospectivas, a jornalista descobriu o que considera sua especialidade: “De tudo que eu já fiz, o que eu acho que sou boa mesmo é na edição. Eu acho que eu roteirizo e edito bem na ilha.” No Globo Repórter, entre tantos programas que fez, Eugenia destaca um com o Caco Barcellos sobre pessoas marcadas para morrer: “Foi muito difícil. A gente teve problema com milícia. Fomos ameaçados. O Caco teve que sumir por um tempo”.

Em 1986, tem sua primeira passagem pelo Fantástico, ainda dirigido por José Itamar de Freitas, “um cara com uma intuição inacreditável para o popular”, lembra. Mas é a partir de 1992, já sob a direção de Luiz Nascimento, que se tornaria seu marido, que ela considera que viveu a sua melhor fase no programa.

“Fazíamos coisas diferentes toda semana. Era uma comunhão da equipe. A gente desafiava os formatos, nunca fazia uma coisa banal. O trabalho era tentar avançar na linguagem, na edição, no roteiro e na captação de imagens.”

Em 1997, Eugenia passou três meses envolvida na implantação do Canal Futura, onde ajudou a criar uma grade de programação. Depois de um breve período sabático voltou para fazer o projeto Brasil 500, uma série de reportagens de até três minutos sobre a história do Brasil. A apresentação era da jornalista Monica Waldvogel, contou com a participação do diretor João Falcão e dos atores Wagner Moura, Lázaro Ramos e Bruno Garcia.

Realities

No ano 2000, com os primeiros “reality shows” no exterior, a Globo resolve arriscar no formato. Surge No Limite, um precursor do Big Brother Brasil. Com direção de Boninho, o BBB tinha Eugenia Moreyra como editora-chefe: “O Boninho foi para uma praia deserta no Ceará fazer uma coisa que ele nem sabia o que era. Eu e minha equipe ficamos aqui editando o material.”

Eugênia considera No Limite a maior aventura profissional da sua carreira: “Eu ficava desesperada com o volume de fitas. Quarenta por dia, não sei quantas câmeras e tudo condensado em 50 minutos. Foi uma loucura. Mas o programa foi um sucesso extraordinário. Ninguém acreditava que a Elaine ia ganhar e ela ganhou na raça. É a complexidade humana. Eu fiquei fã de “reality”. É um laboratório com pessoas. Você realmente vive a vida delas.”

Com o sucesso de No Limite, a Globo lança em 2002 o Big Brother Brasil, que chegou a décima quarta edição em 2014. Os dois primeiros “BBBs” foram exibidos com um espaço de três meses. Novamente, a dupla Boninho e Eugenia no comando. Ela credita a longevidade do programa ao diretor e ao apresentador: “Boninho conseguiu que o programa se mantivesse vivo até hoje de outras maneiras e o Bial é brilhante. Parece que nasceu para aquilo”.

Eu chegava no Projac às 11 da manhã e saía às duas, três horas da madrugada. No primeiro BBB eu era muito próxima deles, a minha vida era a vida deles. Os participantes davam a alma para a gente. Isso me emocionava.

Depois de um ano afastada da Globo para cuidar da saúde, Eugenia volta ao Fantástico e chama o médico que a tratou, Dráuzio Varella, para trabalhar no programa: “Eu fiz as séries dele. Tenho muito orgulho de todas elas, em especial, uma sobre transplantes, que fez dobrar o número dessas cirurgias em São Paulo”. Eugenia ajudou ainda na formatação do programa Profissão Repórter, apresentado por Caco Barcellos.

GloboNews

Eugenia Moreyra foi diretora-geral da GloboNews de setembro de 2011 a dezembro de 2017, mas o seu trabalho de reformulação do canal de notícias começou bem antes, em 2008, quando se tornou diretora de marketing do canal. Eugenia foi responsável pela grande mudança de posicionamento do veículo, implementando, com o tempo, o slogan “Nunca Desliga”, que traduzia uma aposta no investimento na informação ao vivo.

“Fiz uma proposta, em 2008, de um estudo profundo do canal. Acho que foi a primeira vez que as Organizações Globo fizeram um trabalho desse tipo com uma empresa de fora. Eles fizeram um mergulho na GloboNews para reposicionar o canal diante de toda essa revolução na mídia. A conclusão foi de que ela deve ser a primeira fonte de informação, não pode esperar a pessoa chegar na frente da TV. Ela tem que ser ágil, rápida. Daí surgiu o slogan “Nunca Desliga”.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

A consolidação da identidade visual mais recente do canal e as inovações que fazem parte da história da GloboNews, com depoimentos exclusivos ao Memória Globo.

A consolidação da identidade visual mais recente do canal e as inovações que fazem parte da história da GloboNews, com depoimentos exclusivos ao Memória Globo.

Eugenia destaca também a mudança no visual do canal e a implantação do Departamento de Programação: “Tenho o maior orgulho desse trabalho. A programação passou a existir no canal, com planejamento, grade, chamada e marketing. Antes, era news e programas. Agora é news, programas e programação”.

A jornalista acha que a televisão tem que estar preparada para os desafios de um mundo hiperconectado: “Estou muito feliz de estar vivendo esse momento da minha profissão. Eu, que comecei dizendo que não queria ser jornalista de jeito nenhum, adorei a chance de abraçar essa profissão. Eu adoro o que faço e acho maravilhoso estar fazendo isso nesse momento onde está tudo em transformação. Uma transformação gigantesca. Tão grande quanto foi a criação da imprensa. Não se sabe onde vai dar, mas é fascinante”.

No fim de 2017, Eugenia Moreyra deixou a direção da GloboNews, sendo substituída pelo jornalista Miguel Athayde.

Fontes

Mais do memoriaglobo
Projeto Resgate

Malhação reestreou em maio de 2001 com uma trama mais dramática que o habitual e investindo mais nas campanhas de responsabilidade social.

'Malhação Múltipla Escolha 2001' estreia no Globoplay  - Foto: (Memoria Globo)
Projeto Resgate do Globoplay

Adaptação de obra homônima de Antonio Callado, 'A Madona de Cedro' relata o drama de um homem religioso que contraria seus valores morais em nome do amor.

O roubo de uma obra de arte movimenta 'A Madona de Cedro' - Foto: (Jorge Baumann/Globo)
Dia de alegria!

A atriz Adriana Esteves nasceu no Rio de Janeiro. Estreou na Globo em um quadro do 'Domingão do Faustão', em 1989. No mesmo ano estreou em sua primeira novela, 'Top Model'.

Parabéns, Adriana Esteves! - Foto: (Ique Esteves/Globo)
O telejornal que acorda com o país

Com uma linguagem leve e informal, o telejornal informa as primeiras notícias do Brasil e do mundo para um público que acorda ainda de madrugada.

'Hora 1' completa 10 anos apostando no dinamismo e credibilidade  - Foto: (Arte/Memória Globo)
Fundador da TV Globo

O jornalista e empresário Roberto Marinho nasceu no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro de 1904. Foi diretor-redator-chefe do jornal O Globo, aos 26 anos. Criou a TV Globo em 1965 e, em 1991, a Globosat, produtora de conteúdo para canais de TV por assinatura. Morreu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Marinho nasceu há 120 anos: relembre a vida do jornalista e empresário - Foto: (Acervo Roberto Marinho)
"Quem cultiva a semente do amor..."

A novela exalta o poder feminino por meio da trajetória de Maria da Paz e traz uma história contemporânea de amor, coragem e esperança.

Relembre Maria da Paz, 'A Dona do Pedaço' - Foto: (João Miguel Júnior/Globo)
Projeto Fragmentos do Globoplay

A novela celebrava o centenário de morte de José de Alencar e se baseava em três obras do autor: A Viuvinha, Til e O Sertanejo.

'Sinhazinha Flô' teve Bete Mendes como protagonista  - Foto: (Nelson Di Rago/Globo)