Por Memória Globo

Fabrício Mota/Memória Globo

O paulistano Eduardo Schaeffer foi um menino apaixonado por tecnologia que conseguiu fazer desse interesse juvenil a base de sua trajetória profissional. Foi pioneiro na criação de negócios digitais. A estratégia comercial que desenvolveu à frente do Zap, plataforma de imóveis pertencente ao Grupo Globo até novembro de 2020, que se tornou líder de mercado e referência para outros setores de atuação no mercado digital lhe rendeu convite para entrar no grupo como diretor de Marketing e Projetos Digitais, em 2017. Em pouco tempo, Schaeffer assumiu o importante papel de apoiar o programa Uma Só Globo, que reuniu Globo, Globosat, Globo.com, Globoplay, DGCorp – área corporativa do grupo – e Som Livre em uma única empresa, na criação de uma nova visão comercial que integrasse seus diferentes negócios e setores. Fortemente calcado na integração entre conteúdo e tecnologia, especialmente no digital, o modelo conduziria a Globo a ser uma mediatech. Com esse desafio, o executivo, tornou-se, em 2019, diretor de Negócios Integrados, cargo que exerceu até o final de março de 2021, quando saiu da empresa para se dedicar a novos desafios.

“O que acontece na televisão gera ondas imensas no digital".

Eduardo Schaeffer em depoimento ao Memória Globo, 2019 — Foto: Fabrício Mota/Memória Globo

Eduardo Gama Schaeffer nasceu em 27 de agosto de 1970, na cidade de São Paulo, e cedo mostrou paixão por tecnologia. Filho da socióloga Vera Amaral Gama e do engenheiro Mário Schaeffer, chegou a ajudar seu pai a escrever um livro sobre pequenos programas de jogos infantis, com apenas 12 anos. Com 14 anos, em 1984, ele já ganhava “um dinheirinho” com programação para computadores, quando a possibilidade de popularização dos micros era ainda uma realidade distante.

Mais tarde, formou-se em Engenharia na Universidade Mackenzie, fez pós-graduação na Fundação Getulio Vargas (FGV) e, já com 24 anos, em 1994, tornou-se sócio da Webra, uma pequena empresa que instalava placas de modem em computadores para permitir o acesso a uma internet ainda desconhecida da maioria dos brasileiros. Em pouco tempo, a empresa passou a criar websites.

O primeiro site produzido pela Webra foi para a Viação Cometa, de São Paulo. Depois vieram clientes maiores, como a TAM, para a qual Eduardo Schaeffer criou um sistema premiado. Com o tempo, sua empresa foi conquistando espaço e chegou a atender 70% das 100 maiores companhias do Brasil. Em 1999, contabilizava 150 funcionários. O sucesso da empreitada despertou o interesse do incipiente mercado de internet. A Webra foi comprada pela Promon, e Eduardo que continuou a atuar no negócio, como diretor, até 2003.

CRIAÇÃO DO ZAP

Com a saída da Promon, durante três anos, entre 2003 e 2006, Eduardo Schaeffer trabalhou como consultor para apoiar a informatização de companhias. Um de seus clientes à época foi o site Planeta Imóvel, que deu origem a uma empresa que teria como sócios o Grupo Globo e o Estadão: o ZAP, um site de venda e aluguel de imóveis. “Entrei lá como consultor e fiquei seis meses. Quando acabou esse período, o Roberto Nascimento [CEO da empresa] me convidou e eu assumi a área de Produto, como diretor. O ZAP já não era mais um negócio só de imóveis, era um negócio de carros, de empregos, queria competir com todo mundo.”, conta.

No ano seguinte, Nascimento deixou o comando da empresa, e Eduardo assumiu – primeiro, interinamente, até tornar-se oficialmente o CEO, em 2011. Nesse período, o Zap experimentava um crescimento expressivo e ganhava reconhecimento do mercado. Em 2014, o Grupo Globo adquiriu a parte do Estadão na sociedade. O site já havia se estabelecido como o maior player do mercado imobiliário. Para chegar a essa posição, Eduardo Schaeffer encomendou campanhas publicitárias que ajudaram a tornar a marca uma referência para o consumidor. O próprio Eduardo chegou a ter um programa diário na rádio CBN, em 2017, para falar do setor.

Inteligência de dados

A participação do ZAP no mercado era tão expressiva que a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas São Paulo (FIPE) procurou a empresa, em 2010, para criar um índice que registrasse as variações dos valores dos imóveis, em venda e locação. “A gente desenvolveu o FipeZAP junto com a academia – porque na Fipe está o pessoal da USP (Universidade de São Paulo). O processo de validação foi feito com a equipe econômica do Banco Central, em Brasília. A gente levava, uma vez por semana, as análises, os cálculos, e eles validavam, davam sugestões, porque queriam usar o índice nas reuniões do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central]”, detalha. Outra iniciativa que envolveu estudos, neste caso apenas internos, foi o DataZAP. O objetivo era produzir conhecimento estratégico a partir do repositório de dados reunido pelo site. Ao ser perguntado por uma funcionária sobre o descarte de 36 milhões de fotos tiradas pelos clientes de seus imóveis, que ocupavam espaço nos servidores da empresa, Eduardo Schaeffer mandou descarregá-las no Google Fotos, porque possivelmente teriam utilidade no futuro. E tiveram. Quando as características de determinados produtos foram cruzadas com as informações dos imóveis, com base nas imagens, descobriram-se nichos para os quais seria possível vender uma geladeira, por exemplo. O que se mostrou útil em ações comerciais para fabricantes de linha branca de eletrodomésticos. Começava, aí, a construção de uma inteligência de dados capaz de atrair não apenas os clientes de imóveis, mas o mercado publicitário.

INÍCIO NO GRUPO GLOBO

A experiência exitosa no ZAP, que estava em processo de fusão com a empresa VivaReal, em 2017, fez com que Eduardo Schaeffer recebesse o convite de Jorge Nóbrega – ou a “intimação”, como ele prefere dizer – para um cargo no Grupo Globo: diretor de Marketing e Projetos Digitais. Sua tarefa seria avaliar os ativos digitais das empresas do Grupo, entender o que cada um representava e redesenhá-los, levando em conta TV, G1, GE, GShow, Globoplay, editora e todas as demais áreas.

“A gente começou a ver que na verdade o principal ativo eram os dados dos consumidores. Precisávamos de um time que entendesse de data, de analytics, de performance, de relacionamento com cliente, de pós-venda contínua. A Globo.com já tinha feito um trabalho muito legal; nossa preocupação era muito mais saber usar o dado do que ter o dado”, explica Schaeffer. A partir das informações obtidas nas interações dos telespectadores com programas como o Big Brother Brasil, que gera enorme engajamento do público online, ampliam-se as possibilidades de compreender suas preferências de consumo, seus perfis e hábitos. “O que a gente gera de inventário dentro de um Facebook, de um Twitter, de um Google, tem muito valor. O que acontece na televisão gera ondas imensas no digital”, observa.

Esse conhecimento significa novas oportunidades de negócio, não apenas para as empresas grupo, mas também para anunciantes. Com cerca de 100 milhões de pessoas na TV e no Globoplay, muita gente em todas as plataformas, o grande desafio passou a ser aprender a usar todos os ativos simultaneamente e apresentar ao mercado soluções do ponto de vista publicitário. Foi o caso de Vivi Guedes, personagem da novela A Dona do Pedaço (2019). A digital influencer interpretada por Paolla Oliveira ganhou perfil real nas redes sociais, angariando milhões de seguidores em redes sociais, o que viabilizou a criação de campanhas publicitárias inovadoras como a realizada pela Fiat. Nela, Vivi saía de uma cena da novela direto para o comercial de um de seus carros, em uma continuidade, como se ainda estivesse dentro da trama.

Com o desafio de construir uma nova visão comercial para as empresas do Grupo Globo, em 2018, Eduardo Schaeffer liderou a criação de projeto de inteligência e publicidade digital, com apoio da consultoria Ernst & Young. Começava, então, o processo de transformação Uma Só Globo, que tinha o objetivo reunir Globo, Globosat, Globo.com, Globoplay, DGCorp – área corporativa do grupo – e Som Livre em uma única empresa, mais eficiente e dinâmica. Naquele momento, o executivo estava baseado em São Paulo. Para acompanhar de perto os processos de tomada de decisão rumo ao novo modelo de negócios e apoiar de forma mais próxima a iniciativa, que buscava instaurar uma metodologia contínua, dinâmica e multidisciplinar, capaz de envolver toda a empresa, transferiu-se, junto com sua equipe de 40 pessoas, para o Rio de Janeiro, onde estava a sede do grupo.

Vivi Guedes (Paolla Oliveira) grava seu primeiro comercial

Vivi Guedes (Paolla Oliveira) grava seu primeiro comercial

Em 2019, Schaeffer tornou-se diretor de Negócios Integrados, cargo que exerceu até o final de março de 2021, quando saiu da empresa, movido por novos desafios. Seu papel era criar uma estratégia comercial para uma nova Globo, entendida agora como uma mediatech: “Os aspectos de tecnologia devem nortear como preparo o meu produto – que vai empacotar as mídias, seja no break comercial, seja no próprio conteúdo –, trazendo os elementos de pós-venda contínua, de performance e de compreensão muito mais claros. Quem tem a capacidade de criar o conteúdo, o gol, ganhou. A gente está muito bem posicionado nesse negócio”, avalia. A reformulação da estrutura comercial foi anunciada no início de 2020, quando a fusão das empresas do programa Uma Só Globo foi concretizada. A Globo passou a segmentar o atendimento aos anunciantes, permitindo oferecer soluções personalizadas de acordo com o negócio do cliente, seu público e seus objetivos.

FONTES

Depoimento concedido ao Memória Globo por Eduardo Schaeffer em 05/11/2019; “Zap Imóveis é novo quadro da CBN” in: Meio & Mensagem, 24/03/2017; “Modelo comercial da Globo segue o das gigantes de tecnologia” in: Meio & Mensagem, 31/01/2020; https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2020/11/03/olx-conclui-compra-do-grupo-zap-por-r-29-bilhoes.ghtml.
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