Por Memória Globo, Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Eduardo Império Grillo cresceu acompanhando, e aproveitando, um interessante hábito dos pais: comentar as principais notícias dos jornais. “Meu pai, Ferdinando Grillo, é advogado e minha mãe, Iara Império Grillo, é poliglota e nunca trabalhou. Eles não têm nada a ver com jornalismo, mas o engraçado é que, quando eu acordava, o jornal já estava inteiramente comentado. Tinha uma matéria sobre algo que aconteceu, e lá estavam escritos com caneta, uma observação do meu pai, um comentário da minha mãe. Eu pegava a edição comentada", conta. Começou na GloboNews participando de testes de vídeo. Ao lado de Maria Beltrão, esteve na bancada do primeiro jornal ao vivo do canal, quando foi lançado em 15 de outubro de 1996: o 'Em Cima da Hora'.

O forte do canal no começo era a pessoa saber que a cada meia hora ia ter um jornal inteiro com as últimas notícias ou os principais assuntos do dia

Eduardo Grillo — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

Eduardo Grillo se formou pela Universidade Mackenzie, em São Paulo. Primeiro em Administração, depois, em Jornalismo. Mas o início da vida profissional aconteceu bem antes. Aos 16 anos de idade, ele havia morado na Austrália e dava aulas de inglês em uma escola de idiomas paulista, voltada para executivos. “Eram executivos de alto padrão que tinham que aperfeiçoar o inglês para reuniões, para contatos, e entrava aquele moleque para dar aula de inglês para eles”. O jornalista também fez traduções de filmes, trabalhou como ator em teatro, atuou em comerciais para TV e apresentou vídeos institucionais para empresas.

Eu comecei a perceber que gostava disso, de pensar em um texto, criar um produto. Comecei a pesquisar onde eu poderia fazer cursos de vídeo. Surgiu o da Alice-Maria, aqui no Rio. Tentei várias vezes, mas dificultava o fato de morar em São Paulo. Até que, quase um ano depois, em 1995, eu consegui vir fazer o curso. E foi um timing muito interessante porque, quando esse curso terminou, a Alice foi chamada para criar a GloboNews, e ela me convidou para fazer teste, piloto, para ver se eu ia funcionar nessa nova proposta que estava aparecendo

Grillo não recusou o convite de Alice-Maria e partiu para a nova empreitada profissional. Começou na GloboNews participando dos testes de vídeo: “A Alice juntou um grupo com profissionais experientes da área e pessoas absolutamente novas que ela achava que, por algum motivo, podiam dar certo fazendo isso. Ficamos meses aprendendo a achar notícia em agência, desenvolvendo texto de acordo com aquela notícia que chegava, e apresentava para ela, para ver estilo de escrita, para adaptar. E aí foram se formando alguns núcleos”.

Nessa época, Eduardo Grillo foi apresentado a sua futura parceira de bancada. Em um cantinho da redação, estava Maria Beltrão. Alice-Maria olhou para os dois e sentenciou: “Vocês vão ser uma das duplas que vai apresentar o jornal”. Grillou lembra que os dois se olharam e a identificação foi imediata. Porém, uma semana antes da inauguração do canal de notícias, as coisas mudaram. “A Alice falou: ‘Vamos trocar. Grillo, você fica com a Renata’, e Maria fica com Márcio Gomes.’ Então, na inauguração do canal, eu estreio ao lado da Renata Vasconcellos no Em Cima da Hora.”

O clima era de tensão no dia 15 de outubro de 1996 para dois jovens jornalistas escalados para apresentar o primeiro jornal do vivo da GloboNews. Na bancada, Renata Vasconcelos e Eduardo Grillo. “Nós estávamos no estúdio, concentrados, e faltavam uns cinco minutos para começar o jornal. Estava todo mundo testando o que ia fazer. Testando a vinheta de abertura, vendo se o TP [teleprompter, aparelho acoplado à câmera que mostra o texto a ser lido pelo apresentador] estava funcionando. Na hora que o jornal vai entrar, fica aquele silêncio no estúdio, e a gente achou que, por algum motivo, o jornal tinha entrado no ar antes.”

Eduardo Grillo e Renata Vasconcellos na estreia da GloboNews, 1996. — Foto: Arley Alves/Memória Globo

Grillo conta que Renata Vasconcelos começou a ler a primeira notícia quando eles perceberam que a câmera não mudava para ele. “Ela leu a segunda manchete, a terceira, a quarta, achando que o jornal estava no ar. Até que entra no estúdio a Alice-Maria [então diretora de Jornalismo] e fala: ‘Calma, gente, calma. Não está no ar ainda. Vai dar tudo certo.’ Então, a gente voltou tudo e três minutos depois começou o primeiro jornal ao vivo da GloboNews.”

Como se não bastasse o nervosismo natural pela inauguração do jornal, Grillo tinha ainda mais um desafio no primeiro texto a ser lido por ele. O apresentador informava que o escritor Jorge Amado seria submetido a uma cineangiocoronariografia. “Primeira manchete da sua vida e você ter que falar cineangiocoronariografia… Eu não sei como saiu, mas saiu, deu certo. Deu tudo certo e as matérias todas entraram direitinho”, lembra.

Pelo mundo

Nos 19 anos em que esteve no canal de notícias, o jornalista apresentou diversos programas. Foi uma oportunidade para exercitar estilos na bancada ou fora dela. “Eu posso dizer, com muita alegria e satisfação, que passei por vários jornais. Eu tinha os da noite, nos quais era titular, mas fiz várias vezes as férias da Maria [Beltrão] no 'Estúdio i', 'Conta Corrente', substituía apresentadores no 'Jornal das Dez'. Eu pude ter várias linguagens de apresentação de jornal, um mais sério, outro muito mais descontraído, outro com mais improviso. Fazia o 'GloboNews em Pauta' também.”

Outro formato inaugurado pelo apresentador, na GloboNews, foi o do programa 'Pelo Mundo', criado em 1998, pela jornalista Fernanda Esteves: “A ideia da Fernanda era genial porque a gente recebia muitas imagens, que as agências geravam, de acontecimentos que não íam entrar nos jornais, como a inauguração de um hotel de gelo, a festa da uva. Aquilo não era assunto para o jornal hard news. Então, a gente tinha aquela quantidade enorme de material bruto de coisas interessantes de mostrar. Nós começamos a bolar formatos, testar pilotos e ver como ia ser esse programa. Até que chegou-se a um consenso. Eu sempre apresentei o programa, mas acabou tendo uma rotatividade de apresentadoras: eu comecei com a Renata Vasconcellos, depois foi com a Christiane Pelajo, que também ficou bastante tempo, e depois vieram Luciana Ávila, Maria Beltrão, Samantha Mendes, Luiza Zveiter, e outras pessoas que, às vezes, iam para cobrir férias".

Principais coberturas

Na equipe pioneira da GloboNews, Eduardo Grillo participou de um dos primeiros desafios do canal: a cobertura do acidente com o Fokker da TAM, que caiu segundos após a decolagem do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Para Grillo, a cobertura do desastre aéreo inaugurou um estilo de jornalismo que se revelou a vocação do canal, em seu décimo-sexto dia no ar. “Em princípio, a gente estava fazendo um canal com notícias a cada hora. Quando aconteceu o acidente, daquela proporção, a gente entrou ao vivo e fez uma cobertura longa, dando uma grande guinada, fazendo o que ninguém fazia até então. Acho que esse foi o grande diferencial, essa capacidade de ficar em cima de um fato, acompanhando ao vivo o desenrolar da notícia e a chegada de novas informações.”

Foram inúmeras as coberturas que contaram com a participação de Eduardo Grillo. Mas, uma série de programas realizada em Israel, em 2007, sobre os 40 anos da Guerra dos Seis Dias, ficou marcada na memória. “Foi uma série sensacional, com uma preparação muito difícil porque é um tema complexo, até para quem estuda, porque envolve o relacionamento dos povos desde então. Não era uma época de muito wi-fi, de muita facilidade, então eu embarquei com um calhamaço de dados no avião.” Grillo viajou com Isabella Guberman, editora Internacional e idealizadora do programa, e Daniela Kresch, correspondente em Israel. Ele conta que foram feitas entrevistas muito tensas.

Eduardo-Grillo — Foto: Arley Alves/Memória Globo

Para algumas, os jornalistas tiveram que cobrir a cabeça para encontrar o entrevistado em um esconderijo ou para subir uma escada e conversar com alguém importante. “ Teve uma situação na fronteira, em que a gente estava gravando e o portão da fronteira estava vazio. Não tinha ninguém ali, e logo depois havia uns prédios destruídos que tinham sido bombardeados. A gente avançou pelo portão para chegar mais perto desses prédios para tentar fazer uma imagem. Quando a gente olha para trás, vinham cinco hummers, aqueles jipes tipo tanque do exército israelense, voando pelas dunas em direção à fronteira e foram lá perguntar o que a gente estava fazendo ali sem autorização. Eles apreenderam passaporte, apreenderam memória da câmera. Ficamos preso no tanque. Depois de tudo esclarecido, você entende a dimensão da dificuldade que é viver num lugar desse, que a gente não tem noção.”

Várias reportagens sobre a política norte-americana também ficaram a cargo de Eduardo Grillo. Foram eleições presidenciais, discursos e até situações inusitadas que contaram com traduções simultâneas feitas por ele. “Sempre acompanhei e traduzi O State of The Union, que é quando o presidente diz como está o país para os americanos e para o Congresso. Traduzi também o episódio do Bill Clinton com a estagiária. Aquele histórico pronunciamento: ‘Eu não tive relações com essa mulher, Sra. Lewinsky’, eu é que estava traduzindo na hora, e era uma coisa, ao mesmo tempo, histórica e surpreendente, mas também constrangedora. Essa foi marcante por eu estar traduzindo um presidente americano falando sobre esse tema ao vivo, e não podia nem escolher a melhor palavra para usar.”

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

GloboNews - Coberturas (1996-2005)

GloboNews - Coberturas (1996-2005)

GloboNews - Coberturas (2007-2016)

GloboNews - Coberturas (2007-2016)

Contabilizando quase 20 anos na GloboNews, Eduardo Grillo fala com propriedade sobre o canal do qual participou até 2015, quando saiu para se dedicar a projetos pessoais: “Uma característica que se incorporou à GloboNews no decorrer dos anos foi a de ser referência em transmissão. Isso é mérito de uma equipe toda que trabalhou para isso. Hoje, quando acontece alguma coisa, a reação das pessoas é ligar na GloboNews para ver o que está acontecendo. O fato de a gente ter feito várias transmissões longas levou as pessoas a aprender que a GloboNews consegue segurar uma transmissão, ter sempre informação nova, logo chama algum especialista para conversar. Então, criou-se essa referência. Se não está lá é porque não foi nada de importante. A sensação é essa mesmo”.

O jornalista deixou a emissora em 2015.

Fonte

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