O menino Edson Francisco nunca havia sequer pisado em um teatro. Na verdade, sonhava ser jogador de futebol. Mas seu pai acabou arrendando uma cantina na escola onde os filhos estudavam e, para chegar até lá, era preciso passar por dentro de um pequeno teatro, porque a lanchonete ocupava justamente o espaço de uma das coxias. Anos mais tarde, o menino que se escondia iria brilhar nos palcos, na telinha e no cinema como Edson Celulari. Apontado como um dos galãs mais bonitos da televisão brasileira, Edson Celulari é presença certa na programação da Globo ou em cartaz em algum teatro do Rio de Janeiro, de São Paulo ou excursionando pelo país.
Início da carreira
O menino Edson Francisco nunca havia sequer pisado em um teatro. Na verdade, sonhava ser jogador de futebol. Mas seu pai acabou arrendando uma cantina na escola onde os filhos estudavam e, para chegar até lá, era preciso passar por dentro de um pequeno teatro, porque a lanchonete ocupava justamente o espaço de uma das coxias.
“Nesse trajeto que eu sempre fazia, às vezes eu parava no palco e começava a imitar os cantores, sem que ninguém me olhasse. Quando percebia alguém, me escondia de vergonha. Se posso dizer que tive um momento, um start, ali me despertei para o teatro”. Anos mais tarde, brilharia nos palcos, na telinha e no cinema como Edson Celulari.
Esse romantismo pela arte de representar, Edson nunca perdeu. Atuar é, para ele, como uma magia, na qual se realiza plenamente. Seja no palco, na televisão ou no cinema, o ator está sempre, emendando um sucesso atrás do outro. Apontado como um dos galãs mais bonitos da televisão brasileira, Edson Celulari é presença certa na programação da Globo ou em cartaz em algum teatro do Rio de Janeiro, de São Paulo ou excursionando pelo país. Ele não para.
O pai de Edson Celulari trabalhava numa colônia penal, por isso a família morou na área rural da cidade até o menino completar 14 anos. Foi na cantina arrendada pelo pai, para complementar a renda familiar, que ele descobriu o teatro. Acabou procurando um grupo de teatro amador, mas o fazia escondido.
“Meu pai era um homem muito simples, ele trabalhava muito para ver os filhos com um diploma importante nas mãos. E teatro não fazia parte desse grupo. Então, eu fazia meio escondido. Na época do vestibular, tive que escolher. Mas eu tinha uma relação de respeito enorme pelo meu pai: se ele dissesse não, eu não faria teatro. Então, escrevi um texto, dirigi e atuei. Um monólogo; e apelei, porque era um mendigo num dia de Natal, faminto, tendo delírios. E convidei meu pai. Comecei a fazer o espetáculo, de olho na plateia, de olho no meu pai. Até que, no final, eu estava muito tenso, e ele veio falar comigo: ‘Meu filho, você tem jeito para isso. Tem faculdade disso?’ Passei na USP, fiz teatro, e ele curtiu muito a minha opção”, conta.
O primeiro trabalho profissional de Edson Celulari aconteceu na TV Tupi, quando participou, em 1978, da novela 'Salário Mínimo', de Chico de Assis. Ele lembra até hoje de seu primeiro contato com o diretor da novela, Antônio Abujamra, quando foi pedir uma oportunidade: depois de esperar um bom tempo pelo diretor, Abujamra chegou perguntando se Edson tinha bons dentes e se podia mostrá-los. Revoltado, o jovem ator disse que não era “um cavalo” e se retirou, indignado. Mas o diretor foi pegá-lo no corredor, dizendo que era brincadeira. E Edson estreou na televisão. “Trabalhamos juntos em 'Que Rei Sou Eu?', e eu o perturbava, lembrando essa história. Ele dizia que isso não tinha acontecido”, lembra.
Entrada na Globo
O ator trabalhou na TV Tupi até o final de 1979, quando foi convidado pelo diretor Herval Rossano para ir para a Globo. Sua primeira novela na nova casa foi 'Marina', de Wilson Aguiar Filho.
Edson soube agarrar a oportunidade e começou a atuar em uma novela após a outra, tornando-se presença constante na programação da Globo. De 1980 a 1987, por exemplo, atuou em nada menos do que dez novelas. Em 'Plumas & Paetês', também em 1980, teve o primeiro contato com Silvio de Abreu, que substituiu o autor Cassiano Gabus Mendes, que adoecera durante a novela. Era o início de uma parceria que marcou a carreira de Edson Celulari: “Silvio de Abreu me chamou de novo para 'Guerra dos Sexos', em 1983. Era uma grande novela, em que a comédia chegava ao horário das sete. Cassiano trouxe a comédia para esse horário, e Silvio veio para reafirmar isso. O público se identificou. E foi muito divertido, um grande sucesso. Meu personagem já era um pouco melhor, numa novela de grande sucesso, o que faz muita diferença. Já era minha sexta novela, então esse sucesso chegou na hora certa, acho que eu soube administrar isso”.
'Cambalacho', de 1986, é outra novela de Silvio de Abreu que Edson Celulari faz questão de citar. Seu personagem, Thiago, era um homem extremamente delicado, de educação refinada, que fazia dança, e se apaixonava por Ana Machadão, vivida por Débora Bloch, uma mecânica rude.
“Eles se encontraram, se apaixonaram, e era muito divertida essa troca. Foi um grande sucesso. E era difícil para mim, eu não tinha experiência nenhuma de dança. Comecei a fazer aula de sapateado. E o diretor, Jorge Fernando, mandava improvisar – eu só sabia três passinhos. Mas fui improvisando, me divertindo, foi engraçado. Achei legal a segurança do autor que escala um ator como eu, que estava surgindo como um novo galã da Globo, para fazer um personagem desse. Foi uma novela de grande sucesso também”.
Em 1988, Edson saiu da Globo para fazer 'Chapadão do Bugre', baseada no romance de Mário Palmério, uma minissérie exibida pela TV Bandeirantes. Ele diz que aceitou o convite exclusivamente para trabalhar com Walter Avancini, um sonho antigo. Mas logo voltou, para um de seus maiores sucessos na televisão: 'Que Rei Sou Eu?', de Cassiano Gabus Mendes e Luiz Carlos Fusco, onde deu vida a Jean Pierre, líder revolucionário e filho bastardo do rei.
“Fiz uma pesquisa incrível, de todos os filmes de capa e espada, li romances, vi filmes. Figurino, postura, essa coisa toda foi muito importante. Não podia ser um convite melhor para voltar para a Globo, para fazer uma obra tão ousada para a época. Cassiano, um gênio, teve a ideia de fazer uma parodia em homenagem aos 200 anos da Revolução Francesa, uma história de capa e espada, mas que não deixaria de ter humor. E tinha um paralelo com os fatos cotidianos. Foi maravilhosa a ideia e o resultado, estupendo”.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a novela 'Que Rei Sou Eu?' com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Edson voltou a trabalhar com Avancini, desta vez no SBT, em 1990, quando atuou em 'Brasileiros e Brasileiras', de Carlos Alberto Soffredini e do próprio Avancini: “Ele tinha sido convidado pelo SBT para tentar montar um núcleo de dramaturgia em São Paulo. Era bom para todo mundo, para a própria televisão brasileira”.
Mas Edson foi e voltou, para atuar mais uma vez em uma novela de Silvio de Abreu, 'Deus nos Acuda', em 1992. Essa novela está enraizada na história pessoal de Celulari, não apenas pelo sucesso e por sua volta definitiva para a Globo, mas porque contracenou com a atriz Claudia Raia, com quem se casaria em seguida. De verdade! “Lá pelo meio da novela, me envolvi com a Claudia, com a atriz mesmo, e ali começamos uma história que eu não queria que acontecesse durante a novela. Mas no final, aconteceu o casamento e uma história linda, de uma família linda, com dois filhos. Foi justamente em Deus nos Acuda que tive a oportunidade de viver essa história linda. Mais uma parceria com Silvio, que veio a ser o padrinho desse casamento”, conta.
Destaque no horário nobre
'Fera Ferida', de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, que foi ao ar em 1993, deu a Celulari seu primeiro protagonista no horário nobre: “Tinha um peso bastante grande, uma responsabilidade. O meu pai veio a falecer ainda na fase de pré-produção. Comecei muito tocado pela perda do meu pai”. Dois anos depois, o ator estrelou a minissérie Decadência, de Dias Gomes, que considera um dos destaques de sua carreira. “Meu encontro com Dias Gomes foi muito bacana. Nunca fiz um trabalho no qual percebesse tanto o feedback, a troca, a interferência, na realidade, de um país, em uma obra de televisão. Foi muito polêmico, contava a história de um pastor de qualquer igreja, não importa, e havia essa ideia de falar sobre um mau líder espiritual", explica.
'Fera Ferida' (1993): Flamel transforma Linda Inês em ouro
Celulari também gostou muito de viver Vadinho, na minissérie 'Dona Flor e Seus Dois Maridos', baseada na obra de Jorge Amado, em 1998: “Um personagem que acho que todo ator e todo homem gostaria de ser um pouco”. O público parece ter gostado também... “Isso me rendeu uma história muito engraçada. Como eu estava sempre exposto, de bumbum de fora, um dia, andando em Nova York, recebi um beliscão! Levei um susto. E a mulher perguntou, em espanhol, se por acaso eu era o Vadinho. E pediu desculpas, mas disse que não tinha aguentado: ela havia acompanhado a minissérie pelo canal hispânico e queria comprovar”, lembra.
Assédio semelhante ele recebeu ao fazer o Glauco, em 'América', de Gloria Perez, em 2005. Na trama, o personagem que vivia um romance com a personagem de Cléo Pires, 30 anos mais jovem que ele: “Eu era o ‘Tio Glauco’, como ela me chamava. Lurdinha era amiga de minha filha, e estava sempre na nossa casa. Foi um sucesso. Aconteciam coisas engraçadas na rua. Eu passava e ouvia um ‘Oi, tio’. E ao ver, não era uma adolescente, mas uma senhorinha de 70 anos”.
Em 2012, participou do remake da novela 'Guerra dos Sexos', na qual interpretou Felipe, personagem filho adotivo de Charlô (Irene Ravache) que se apaixonava por Roberta (Glória Pires). Dois Anos depois fez 'Alto Astral', de Daniel Ortiz, baseada na sinopse de Andrea Maltarolli. Seu personagem, Marcelo, pe manipulado pela esposa Úrsula (Siilvia Pfeifer) e se entrega a Inês (Christiane Torloni), seu amor de juventude ao longo da trama.
Trabalhou com Gloria Perez em 'A Força do Querer', sucesso da autora exibido em 2017. No ano seguinte foi Dom Sabino na cômica 'O Tempo Não Para', de Mario Teixeira. Patriarca da família Sabino Machado e pai da protagonista Marocas (Juliana Paiva), foi congelado com a a família no século XXI e retornou à civilização somente no século XXI. Em 2023 foi um dos protagonistas de 'Fuzuê', de Gustavo Reiz, em que atuou como Nero, dono da loja que dá nome à novela.
Na Globo, Edson Celulari participou, ainda, de seriados como 'A Comédia da Vida Privada', 'A Grande Família' e 'SOS Emergência', entre outros, quando pôde dar vazão à veia cômica.
'Guerra dos Sexos - 2ª Versão' (2012): Roberta e Felipe ficam presos no frigorífico
Cinema e teatro
Também fez uma bonita carreira no cinema, atuando em nove longas-metragens, entre os quais,' Ópera do Malandro', de Ruy Guerra, em 1985. “O diretor David Lynch viu o filme e chegou até a me chamar para uma produção dele. Mas, infelizmente, o filme acabou não acontecendo”, comenta. Presença constante no teatro, o ator é sempre sucesso de bilheteria, em produções como 'Calígula', em 1990, 'Hair Spray', em 2009 e 2010, e 'Nem Um Dia se Passa sem Notícias Suas,' em 2012.
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