Por Memória Globo

Editora Globo

Alfredo de Freitas Dias Gomes escreveu seu primeiro conto aos 10 anos. Em 1937, aos 15 anos, escreveu sua primeira peça, premiada num concurso promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). No teatro profissional, estreou em 1942 e, na rádio, dois anos depois. Dias Gomes começou a trabalhar na Globo em 1969, já com uma carreira consagrada de dramaturgo, porém, uma trajetória marcada por perseguições políticas. Colecionava demissões e problemas com a censura e, por isso, escrevia sob pseudônimo. Foi apenas na segunda novela que escreveu para a emissora, 'Verão Vermelho' (1969), que assinou seu próprio nome. Casado com a também autora Janete Clair, Dias Gomes notabilizou-se por dar o tom contemporâneo às novelas da Globo, aproximando-as da vida real.

Dias Gomes escreveu a primeira novela a cores do Brasil, 'O Bem-Amado' (1973), e também a primeira a ser vendida para o exterior. Sua peça 'O Pagador de Promessas' é considerada uma das obras-primas do teatro realista moderno. Além das inúmeras montagens no Brasil, incluindo uma versão em minissérie em 1988, também foi encenada nos Estados Unidos e na Polônia, entre outros países, e traduzida para dez idiomas. Sua versão cinematográfica, que foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, também ganhou prêmios nos festivais de São Francisco (EUA), Cartagena (Colômbia), Acapulco (México) e Edimburgo (Escócia).

Dias Gomes — Foto: Acervo Globo

Início da trajetória

Filho do engenheiro Plínio Alves Dias Gomes e de Alice Ribeiro de Freitas Gomes, o dramaturgo Alfredo de Freitas Dias Gomes escreveu seu primeiro conto, 'As Aventuras de Rompe-Rasga', aos 10 anos. Em seguida, três anos depois, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro.

Em 1937, aos 15 anos, escreveu sua primeira peça, 'A Comédia dos Moralistas', premiada num concurso promovido pelo Serviço Nacional de Teatro e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). A peça foi publicada dois anos depois por seu tio, pela Fênix Gráfica da Bahia. Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Dias Gomes escreveu o drama 'Amanhã Será Outro Dia', abordando o nazismo, a invasão da França pelos alemães, o exílio dos perseguidos políticos nos países da América, a Gestapo e o torpedeamento de navios brasileiros.

Teatro e rádio

Dias Gomes fez sua estreia no teatro profissional em 1942, com a comédia 'Pé de Cabra', encenada no Rio de Janeiro e, depois, em São Paulo, por Procópio Ferreira. Antes disso, porém, a peça foi proibida e teve dez páginas do texto cortadas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o órgão de censura do governo Vargas. A parceria com Procópio Ferreira, no entanto, foi extremamente frutífera, rendendo a Dias Gomes um contrato de exclusividade para escrever quatro peças por ano. Esse contrato o fez escrever 'Zeca Diabo', 'Doutor Ninguém', 'Um Pobre Gênio', 'Sinhazinha', 'Eu Acuso o Céu' e 'João Cambão', todas durante o ano de 1943. Ainda naquele ano, Dias Gomes ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, a qual abandonaria dois anos depois.

Em 1944, Dias Gomes aceitou um convite de Oduvaldo Vianna para trabalhar em São Paulo na recém-inaugurada Rádio Panamericana, onde escreveu adaptações de peças, de romances e de contos para o programa Grande Teatro Panamericano. No ano seguinte, transferiu-se para a Rádio Tupi-Difusora, em São Paulo, onde participou do programa 'A Vida das Palavras'. Nessa mesma época, ingressou no Partido Comunista, no qual permaneceu até 1971.

Em 1948, por motivos políticos, Dias Gomes foi demitido da Rádio Tupi-Difusora, transferindo-se para a Rádio América. Logo em seguida, foi para a Rádio Bandeirantes, onde assumiu a direção artística e escreveu diversos programas, entre os quais 'Aventura Musical' e 'Sonho e Fantasia'. Durante todo esse período, teve vários romances publicados: 'Duas Sombras Apenas' (1945); 'Um Amor e Sete Pecados' (1946); 'A Dama da Noite' (1947) e 'Quando é Amanhã' (1948).

Dias Gomes e Janete Clair se casaram em 13 de março de 1950. Logo após, os dois se mudaram para o Rio de Janeiro, onde o dramaturgo conseguira um emprego primeiro na Rádio Tupi (dos Diários Associados) e, em seguida, na Rádio Tamoio e na Rádio Clube. Em abril de 1953, porém, Dias Gomes foi demitido novamente, desta vez após viajar com uma delegação de escritores à União Soviética para as comemorações do Primeiro de Maio.

Em virtude da perseguição política de que era alvo, passou a escrever utilizando pseudônimos – o que duraria até 1956, quando ingressou na Rádio Nacional e passou a participar dos programas 'Todos Cantam sua Terra', 'Grande Teatro' e 'Brasil, Espaço 2'. Dias permaneceu na Rádio Nacional até 1964.

Desde o período Vargas até o Regime Militar, Dias Gomes sofreu por diversas vezes com a censura e a perseguição política.

'O Pagador de Promessas' e outros sucessos

Em 1959, escreveu a peça 'O Pagador de Promessas', adaptada para o cinema sob a direção de Anselmo Duarte e ganhador da Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 1962. Trata-se da história de Zé do Burro – interpretado na versão cinematográfica pelo ator Leonardo Villar –, um camponês que prometeu carregar uma cruz do interior do sertão baiano à Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, caso seu burro doente se recuperasse.

'O Pagador de Promessas' é considerada uma das obras-primas do teatro realista moderno. Além das inúmeras montagens no Brasil, também foi encenada nos Estados Unidos e na Polônia, entre outros países, e traduzida para dez idiomas. Sua versão cinematográfica, que foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, também ganhou prêmios nos festivais de São Francisco (EUA), Cartagena (Colômbia), Acapulco (México) e Edimburgo (Escócia).

Em 1988, a peça 'O Pagador de Promessas' foi adaptada para a televisão, em uma versão minissérie, na Globo. Outra obra de Dias Gomes, 'O Marginal', foi adaptada para o cinema por Carlos Manga, com Tarcísio Meira, em 1974. Em 1985, Fábio Barreto filmou 'O Rei do Rio' e, em 1988, o diretor cubano Pastor Vera levou às telas o texto 'Amor em Campo Minado', originalmente escrito para teatro.

De 1960 a 1964, Dias Gomes escreveu as peças 'A Invasão', 'O Berço do Herói' e 'O Santo Inquérito', outro grande marco de sua trajetória. Cassado pelo golpe militar de 1964, foi acolhido por Ênio Silveira na Editora Civilização Brasileira, um dos poucos focos de resistência. Atuou como diretor de relações públicas da editora e, ao lado do poeta Moacyr Félix, lançou a 'Revista Civilização Brasileira', que circulou de 1965 a 1968. Os tempos tornaram-se ainda mais difíceis quando sua peça 'O Berço do Herói', dirigida por Antônio Abujamra, foi proibida pela censura na noite de estreia. Em 1966, sua casa foi invadida e vasculhada por oficiais militares. No ano seguinte, mesmo premiado internacionalmente, o filme 'O Pagador de Promessas' teve a sua exibição proibida em todo o território nacional, permanecendo assim até 1972. Sua peça 'A Invasão' também foi censurada, e a interdição durou até 1978.

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Webdoc sobre Dias Gomes e a censura

Webdoc sobre Dias Gomes e a censura

Entrada na Globo

Dias Gomes começou a trabalhar na Globo em 1969. A primeira telenovela que escreveu na emissora, e que assinou sob o pseudônimo de Stela Calderón, foi uma adaptação do romance 'A Ponte dos Suspiros', de Michel Zevaco. Ambientada na Veneza do século XIV, a trama era estrelada pelo casal de atores Yoná Magalhães e Carlos Alberto, sob a direção de Marlos Andreucci.

Sua segunda novela, 'Verão Vermelho' (1969), a primeira assinada com o próprio nome, era ambientada na Bahia e já abordava temas polêmicos relacionados ao desquite, à reforma agrária e ao candomblé. Na sequência, Dias Gomes escreveu também 'Assim na Terra como no Céu' (1971), em que mostrava a moda e os costumes da juventude dourada carioca, e 'Bandeira 2' (1972), que apresentava pela primeira vez um bicheiro – o Tucão, vivido por Paulo Gracindo – como protagonista. 'Bandeira 2' deu origem, inclusive, à peça 'O Rei de Ramos', com partitura musical de Chico Buarque e Francis Hime, encenada no Rio de Janeiro em 1979, com o próprio Paulo Gracindo no papel principal.

No mundo das cores

Em 1973, Dias Gomes escreveu a primeira novela a cores no Brasil, 'O Bem-Amado'. Repleta de personagens inesquecíveis vividos por Paulo Gracindo, Lima Duarte, Dirce Migliaccio, Emiliano Queiroz e Ida Gomes, a novela chegou a ser reprisada em forma condensada e deu origem a um seriado que permaneceu no ar durante cinco anos. Foi, ainda, a primeira novela brasileira a ser vendida para o exterior – antes, apenas os textos das novelas eram comercializados. Mesmo obtendo grande sucesso, a trama de 'O Bem-Amado' sofreu interferências da Censura Federal, que impediu o autor, por exemplo, de batizar os personagens Odorico e Zeca Diabo de Coronel e Capitão, respectivamente.

No ano seguinte, Dias Gomes escreveu a novela 'O Espigão', a primeira a abordar temas ambientais, criticando o progresso tecnológico das grandes cidades e a desumanização das relações sociais. Dirigida por Régis Cardoso, a novela foi estrelada por Cláudio Marzo e Débora Duarte, além de Susana Vieira – premiada como atriz-revelação naquele ano – e Ary Fontoura.

Dias Gomes voltou a abordar uma temática ecológica em 1978, ao escrever, em parceria com Walter George Durst, a novela 'Sinal de Alerta', que denunciava crimes ambientais. Última trama a ser produzida para a faixa das 22 horas, foi estrelada por Paulo Gracindo e Yoná Magalhães, além de Vera Fischer, Renata Sorrah e Bete Mendes.

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Webdoc sobre a novela O Bem-amado (1973)

Webdoc sobre a novela O Bem-amado (1973)

Censura em 'Roque Santeiro'

Apesar das bem-sucedidas tramas escritas por Dias Gomes, em 1975, o autor voltou a ter problemas com a Censura, que culminaram no veto de 'Roque Santeiro'. Com 51 capítulos escritos e 20 gravados, a novela foi proibida pela Censura Federal na véspera de estreia. O motivo da proibição, o autor soube dez anos depois, fora uma conversa telefônica com Nelson Werneck Sodré gravada pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), na qual Dias Gomes teria dito que tapeara os censores com uma adaptação de sua peça proibida 'O Berço do Herói'.

Roque Santeiro: versão censurada

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Frustrado com o episódio, Dias Gomes aproveitou parte de seus personagens na novela 'Saramandaia', exibida em 1976, introduzindo na teledramaturgia brasileira o realismo fantástico característico da literatura latino-americana. Através de tipos inusitados que explodiam, ardiam em fogo, criavam asas ou botavam formigas pelo nariz, 'Saramandaia' foi estrelada por Antonio Fagundes, Sônia Braga e Juca de Oliveira, entre outros, sob a direção de Walter Avancini, Roberto Talma e Gonzaga Blota.

Naquele ano, a obra de Dias Gomes alcançou definitiva projeção internacional, levando o autor a participar de um seminário sobre suas peças de teatro na Penn State University, no estado norte-americano da Pensilvânia.

Casa de Criação Janete Clair

Em 1983, sua esposa, a novelista Janete Clair, morreu de câncer. Dias Gomes foi chamado, então, para supervisionar a parte final da novela 'Eu Prometo', último trabalho da autora, e orientar a então estreante Gloria Perez, que fora assistente de Janete Clair e ficou responsável por terminar de escrever a trama.

Dois anos depois, Dias Gomes passou a coordenar a recém-fundada Casa de Criação Janete Clair, com o objetivo de renovar a linguagem e a dramaturgia da Globo. Mesmo contando com nomes como Ferreira Gullar, Antônio Mercado e Doc Comparato, entre outros, o audacioso projeto de renovar tanto a temática quanto o formato da teledramaturgia brasileira duraria apenas três anos.

Ainda em 1985, com a liberdade propiciada pela abertura política, 'Roque Santeiro' pôde ir ao ar. A novela atraiu milhões de espectadores interessados em acompanhar a hilariante trajetória de 'Roque Santeiro', Sinhozinho Malta e da Viúva Porcina, vividos respectivamente por José Wilker, Lima Duarte e Regina Duarte, constituindo um marco na história da teledramaturgia brasileira. Autor da versão original, Dias Gomes escreveu apenas os primeiros e os últimos 50 capítulos da nova versão, deixando a trama a cargo de Aguinaldo Silva e Marcílio Moraes.

A partir de então, Dias Gomes deixaria de lado a extenuante tarefa de escrever os mais de 200 capítulos de uma novela e passaria a se dedicar aos argumentos. Foi assim, por exemplo, com a novela 'Mandala' (1987), estrelada por Vera Fischer e Felipe Camargo, da qual escreveu a sinopse e os primeiros 20 capítulos. Além dos argumentos, a atenção do autor voltou-se para minisséries e seriados. Destes, escreveu aproximadamente cem episódios de 'O Bem-Amado' entre 1979 e 1984. Das minisséries, destacam-se a adaptação para a TV de 'O Pagador de Promessas', dirigida por Tizuka Yamazaki, exibida – com inúmeros cortes – em 1988; 'As Noivas de Copacabana' (1991), narrando a história de um psicopata vivido por Miguel Falabella; e 'Decadência' (1995), que denunciava os abusos de algumas seitas religiosas.

Reconhecimento e experimentalismo

Em 1989, quando completou 50 anos de carreira artística, Dias Gomes teve sua obra publicada em sete volumes pela editora Bertrand Brasil e, em 1991, depois de uma eleição bastante disputada com Gilberto Mendonça Teles, passou a ocupar a cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letras.

Fantástico: Dias Gomes (1991 e 1997)

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Ainda naquele ano, junto com Ferreira Gullar e Lauro César Muniz, escreveu a novela 'Araponga', mais uma tentativa de inovar na estrutura das telenovelas, agora incorporando o ritmo das minisséries. Outra tentativa seria feita em 1996, quando Dias Gomes escreveu, também com Ferreira Gullar, 'O Fim do Mundo' – o primeiro investimento da Globo numa micronovela, com 35 capítulos, no horário nobre. Também nesse período, foi o responsável, em parceria com Marcílio Moraes, pela segunda versão da novela 'Irmãos Coragem', de Janete Clair.

Em 1998, escreveu uma autobiografia, 'Apenas um Subversivo', publicada também pela editora Bertrand Brasil. Seu último trabalho para a Globo foi uma adaptação do romance 'Dona Flor e Seus Dois Maridos', de Jorge Amado, em minissérie estrelada por Giulia Gam, Marco Nanini e Edson Celulari, exibida em 1998.

Vida Pessoal

De seu casamento com Janete Clair, que durou mais de 30 anos, teve quatro filhos: os músicos Alfredo, Guilherme Dias Gomes e Denise Emmer – e Marcos Plínio, falecido. Desde 1985, era casado com a atriz Bernadeth Lyzio, com quem teve duas filhas, a escritora Mayra Dias Gomes e a cantora Luana Dias Gomes.

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Dias Gomes morreu no dia 18 de maio de 1999, aos 76 anos, após sofrer um acidente de carro em São Paulo.

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