Por Memória Globo

Acervo/Globo

“Alô, Terezinha!” “Quem não se comunica se trumbica”. Bordões hilários, figurino extravagante e a buzina estridente inconfundível contribuíram para tornar Chacrinha um dos maiores comunicadores da televisão brasileira. O “Velho Guerreiro”, como também era conhecido, exerceu seu talento único para entreter os mais diversos públicos ao longo da carreira. José Abelardo Barbosa de Medeiros mudou-se com a família para Caruaru com seis meses de vida. Após cinco anos, a família foi para Campina Grande, na Paraíba, e, aos 15, Abelardo foi estudar no Colégio Marista, no Recife. Em 1936, entrou para a Faculdade de Medicina. Aos 20 anos, ele passou a ser locutor na Rádio Club de Pernambuco e se tornou baterista do Bando Acadêmico do Recife.

Após perder um ano de faculdade de Medicina, por conta de uma cirurgia do apêndice, o jovem José Abelardo Barbosa de Medeiros aceitou o convite para tocar em um navio com destino à Europa. De volta ao Brasil, ele desembarcou aos 22 anos no Rio de Janeiro. Trabalhou em várias emissoras de rádio e começou a carreira como locutor na Rádio Tupi. Em 1943, lançou, na Rádio Clube Niterói, o programa de marchinhas de carnaval 'Rei Momo na Chacrinha'. Com o fim do carnaval de 1944, Abelardo criou o 'Cassino do Chacrinha', que o acompanhou em várias emissoras de rádio. Fez tanto sucesso que passou a ser conhecido como Abelardo “Chacrinha” Barbosa. Pouco depois, assumiu o apelido como nome artístico. Foi já como Chacrinha, astro consolidado, que entrou na Globo em 1967.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

O apresentador Chacrinha (Abelardo Barbosa), o assistente de palco Russo e os bordões “Roda e avisa” e “Quem vai querer?”

O apresentador Chacrinha (Abelardo Barbosa), o assistente de palco Russo e os bordões “Roda e avisa” e “Quem vai querer?”

Clipe editado pelo Memória Globo com as principais expressões usadas por Chacrinha (Abelardo Barbosa).

Clipe editado pelo Memória Globo com as principais expressões usadas por Chacrinha (Abelardo Barbosa).

Década de ouro

A partir de 1945, trabalhou em várias emissoras de rádio apresentando o programa 'Cassino do Chacrinha', no qual lançou sucessos como Celly Campello com 'Estúpido Cúpido'. Mesmo depois de se tornar sucesso na TV, Chacrinha nunca abandonou o trabalho em rádio.

A estreia na televisão aconteceu em 1956, na TV Tupi, com quatro programas: 'Festa no Arraial', 'Musical Selo de Ouro', 'Sucessos Mocambo' e 'Clube da Camaradagem'. Em seguida, estreou o infantil 'Rancho Alegre', paródia aos filmes de faroeste, no qual interpretava o xerife. Também começou a apresentar a 'Discoteca do Chacrinha', na mesma emissora. No início dos anos 1960, levou sua 'Discoteca' para a TV Paulista, a TV Rio e a TV Excelsior, sempre com grande sucesso.

Chacrinha e chacretes no Cassino do Chacrinha — Foto: Acervo/Globo

'Discoteca do Chacrinha'

Chacrinha foi contratado pela Globo em 1967 para apresentar dois programas: a 'Discoteca do Chacrinha', às quartas-feiras, e 'A Hora da Buzina', rebatizado em 1970 como 'Buzina do Chacrinha', aos domingos.

Apesar da boa repercussão, em dezembro de 1972, voltou para a TV Tupi. Em seguida, foi para a Record e retornou para a TV Tupi. E, em 1978, mudou-se para a TV Bandeirantes. Só voltou à Globo em março de 1982, dessa vez para apresentar, nas tardes de sábado, seu maior sucesso, o 'Cassino do Chacrinha'. Mistura de programa de auditório com atrações musicais e show de calouros, o 'Cassino' tinha a direção de José Aurélio “Leleco” Barbosa, filho do apresentador, e de Helmar Sérgio, e permaneceu na grade de programação da Globo até a morte do apresentador, em 1988.

Em seus programas, o “Velho Guerreiro” exerceu seu talento único para a comunicação através de uma persona extravagante que o tornou um ícone da televisão brasileira. Até o início dos anos 1960, vestia-se de terno e gravata para apresentar os programas. Depois, passou a se apresentar com figurinos excêntricos – o primeiro deles incluía um boné de disc-jóquei e um enorme disco de telefone para pendurar no pescoço – ou fantasiado das maneiras mais espalhafatosas, como baiana estilizada, telefone gigante, noiva ou mulher-maravilha.

'Alô, Terezinha'

Durante o programa, fazia soar a buzina de mão que usava para desclassificar os calouros nos concursos que promovia. Tinha o hábito de apontar para o próprio nariz quando queria enfatizar uma de suas frases, ao mesmo tempo debochadas e insólitas, que se tornavam bordões instantâneos, como: “Alô, Terezinha!”, “Quem não se comunica se trumbica”, “Na TV nada se cria, tudo se copia” e “Eu vim para confundir e não para explicar”. O apresentador também “distribuía” gêneros alimentícios para a plateia, arremessando bacalhaus, farinha, abacaxis, pepinos, etc. Os programas de Chacrinha contavam ainda com as chacretes – dançarinas que faziam coreografias durante as atrações e tinham nomes exóticos, como Rita Cadillac, Fernanda Terremoto e Fátima Boa Viagem – e o seu corpo de jurados, do qual fizeram parte figuras marcantes, como o produtor musical Carlos Imperial, a cantora Aracy de Almeida, a transformista Rogéria e a atriz Elke Maravilha.

“Eu não vim pra explicar. Vim para confundir”, Chacrinha, apresentador, durante o programa Cassino do Chacrinha.

“Eu não vim pra explicar. Vim para confundir”, Chacrinha, apresentador, durante o programa Cassino do Chacrinha.

Censurado

Por conta de seu comportamento anárquico, Chacrinha teve problemas com setores mais conservadores da sociedade e com a Censura Federal. Foi importunado pelos censores que não permitiam que as câmeras mostrassem os corpos das chacretes e procuravam inibir suas brincadeiras, especialmente as frases de duplo sentido. Numa ocasião, o apresentador se sentiu desrespeitado na maneira de ser abordado nos bastidores do programa e chegou a escrever à Censura Federal, reclamando formalmente dos maus-tratos recebidos pelos censores.

Todos os anos, Chacrinha lançava marchinhas de carnaval que ficaram famosas. Em 1987, foi homenageado pela Escola de Samba carioca Império Serrano, com o enredo “Com a boca no mundo: quem não se comunica se trumbica”. Chacrinha fechou o desfile, no alto de um carro alegórico, cercado de chacretes e acompanhado da jurada Elke Maravilha e do seu assistente de palco, Russo.

Último 'Cassino do Chacrinha'

Em 1988, a saúde de Chacrinha começou a dar sinais de que não ia bem. O humorista João Kléber chegou a apresentar alguns programas em seu lugar. Em junho, o apresentador voltou ao comando do programa, mas, ainda não totalmente restabelecido fisicamente, precisou da ajuda de João Kléber. O último 'Cassino do Chacrinha' foi ao ar no dia 2 de junho de 1988. Chacrinha faleceu naquele ano, em 30 de junho, aos 70 anos, vítima de câncer no pulmão.

Cinema

Chacrinha também fez carreira no cinema, e atuou em vários filmes. Entre eles: 'Três Colegas de Batina' (1962), 'Na Onda do Iê Iê Iê' (1966), 'A Opinião Pública' (1967) e 'Pobre Príncipe Encantado' (1969).

Chacrinha

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Chacrinha
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