“Eu sou um sujeito privilegiado. Tive a oportunidade de trabalhar com as pessoas que construíram a televisão”, conta Carlos Amorim de Miranda. Filho único de Antônio Passarini de Miranda, mecânico de máquinas, e da dona de casa Euzira Amorim de Miranda, nasceu em 09 de julho de 1935, no bairro da Penha, no Rio de Janeiro.Em 1957, após ter feito um curso técnico, decidiu bater na porta da TV Tupi. “Uma vez, num programa de Jacy Campos – um dos primeiros diretores da TV brasileira –, eu vi o que acontecia por detrás das câmeras. Aquilo me mordeu, era interessante. Dois dias depois, pedi um emprego na TV Tupi”, relembra. Começou a trabalhar na antiga emissora, como operador de vídeo, quando a televisão ainda era feita ao vivo. “Não existia recurso nenhum. As câmeras eram equipamentos muitos antigos, e as improvisações surgiam conforme as coisas iam ocorrendo. A programação não obedecia a nenhum horário”, relembra. Nessa época de improviso, Amorim trabalhou com grandes nomes do rádio, como os atores Paulo Porto e Ida Gomes. “Vivia-se o apogeu do rádio e do teatro. Os programas de auditório e a televisão surgiram logo depois.”
Início na Globo
Começou a trabalhar na Globo em 1972, como supervisor de videoteipe. Os programas eram ao vivo e as novelas, gravadas em blocos, tinham cortes apenas para as inserções comerciais. Desse período, ele se recorda das dificuldades de conviver com a Censura Federal: “Era uma pressão terrível. Muitas vezes a censura cortava os programas e não dava mais tempo de editarmos no modelo eletrônico, tinha de ser feito o corte físico mesmo. Foi um período brabo.” Amorim viveu um dos momentos mais dramáticos da história da Globo, quando um incêndio destruiu parte das instalações da emissora no bairro do Jardim Botânico, em 1976.
“Houve perda de equipamentos, perda de acervo, de material. Por outro lado, houve solidariedade. E também uma reformulação, a empresa começou a redesenhar seus cenários de trabalho na área técnica”
Evoluções tecnológicas
De lá para cá, presenciou várias evoluções tecnológicas: a chegada do ACR25, um programador de fitas de duas polegadas; a criação do DIG, um sequenciador de fitas U-matic; e a invenção da “ternurinha”, uma espécie de faixa onde vários comerciais eram gravados na ordem, e assim levados ao ar. A chegada da cor, em 1972, foi um evento particular: “Foi em 'Meu Primeiro Baile', um 'Caso Especial'. Era a primeira experiência. E veio muita gente para ver aquele negócio funcionar. A produção, a iluminação, o videoteipe, a gravação e a edição eram complicados. Porque não se tinha experiência nenhuma. Mas saiu um trabalho legal”, recorda.
Na década de 1980, Amorim presenciou um dos grandes marcos da informatização da Globo: a introdução do ENG (Electronic News Gathering), sistema de transmissão instantânea de imagens, através de micro-ondas. Por ser um método de fácil locomoção, possibilitou a câmera portátil e a chegada das UPJs (Unidades Portáteis de Jornalismo), que trouxeram muito mais mobilidade ao jornalismo da emissora. As grandes coberturas, como Copa do Mundo, Fórmula 1 e o Carnaval, beneficiaram-se diretamente desses avanços tecnológicos.
Ainda nos anos 1980, houve uma reformulação no departamento de Engenharia: um setor ficou responsável pelo entretenimento e a dramaturgia e outro, pelo jornalismo. Foi quando Amorim assumiu o cargo de gerente da direção de Engenharia de Jornalismo, no qual permaneceu até sua aposentadoria, em 1998.
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