Por Memória Globo

Bob Paulino/Memória Globo

Quem ouve notícia, seguramente reconhece a voz do jornalista Carlos Alberto Sardenberg. O timbre aberto – como ele mesmo define – não é muito comum no rádio, mas torna sua voz característica. Desde 2000, o jornalista é o âncora do CBN Brasil, noticiário que vai ao ar do meio-dia às duas da tarde, levando informação aos ouvintes da hora do almoço. Sua trajetória, no entanto, começou na mídia impressa. Passou por importantes jornais e revistas durante a ditadura e os anos de redemocratização e trabalhou como assessor em governos – o que lhe deu enorme especialização em assuntos econômicos e no funcionamento da máquina pública – antes de chegar à CBN. Entrou no ano da fundação da emissora, para fazer comentários econômicos, traduzindo a linguagem técnica para um vocabulário mais próximo do público comum. O talento, lapidado com muito conhecimento e técnica, levou-o a ser comentarista na GloboNews e na Globo, onde, até novembro de 2022, pode ser visto no 'Jornal das Dez' e no 'Jornal da Globo'. Sardenberg também assina uma coluna no jornal O Globo.  

Procuro fazer de forma tecnicamente correta, de acordo com a ciência econômica, mas de um modo que as pessoas entendam. Desenvolvi uma capacidade de fazer isso”

Início da carreira

Nascido em Botucatu, interior de São Paulo, em 25 de abril de 1946, Carlos Alberto Sardenberg cursou ao mesmo tempo as faculdades de Direito e Filosofia, durante os primeiros anos da ditadura militar. Como aluno da Universidade de São Paulo (USP), ele viu amigos engajarem-se na luta armada. O período de repressão também marcou profundamente a sua vida e acabou conduzindo-o à profissão de jornalista. O jovem estudante se encaminhava a uma carreira acadêmica, dando aula em um curso preparatório para ingresso na USP, o Cursinho do Grêmio (como se chamava o centro acadêmico da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP). Passou depois para o Equipe. Com o recrudescimento da ditadura, os cursos foram considerados subversivos pela polícia – professores e alunos foram presos – e o jovem foi impedido de voltar ao trabalho. Paralelamente, a universidade vivia uma crise, com a expulsão de professores e a falta de matérias necessárias para completar determinados cursos, como o que fazia Sardenberg. Era 1969, e Sardenberg não era mais apenas o filho do bancário Walterson Sardenberg e da professora Maria de Lourdes; já tinha formado sua própria família com o nascimento da filha Camila e precisava de um trabalho fixo. Frente a isso, teve que conseguir outro emprego e, por meio de uma indicação, começou a trabalhar como repórter em um jornal de bairros de Pinheiros, em São Paulo. “Não podia dar aula no Equipe (o cursinho) e também não podia completar a faculdade, então eu estava literalmente sem emprego e sem profissão, sem diploma. No começo como jornalista, fui trabalhar em um jornal de bairro e logo fui para o Estadão. Abriu lá uma vaga de redator, que na época se chamava noticiarista”, conta.

O processo de contratação no Estado de S. Paulo foi muito simples. Ele soube da oportunidade, procurou o editor, Saul Galvão, recebeu várias matérias mal redigidas e reescreveu os textos. No dia seguinte, estava contratado. Da função de copidesque, passou para a de subeditor de Internacional, graças ao conhecimento de línguas – lia inglês, francês e espanhol. Mais tarde, tornou-se repórter especial, um dos sete jornalistas encarregados pelo jornal de produzir reportagens investigativas, de maior fôlego.

Uma dessas matérias, publicada em 1975, chamou-se O Regime na Encruzilhada e mostrou o dissenso dentro do regime militar sobre a possibilidade e a conveniência de se iniciar o processo de abertura política, ou não. O ineditismo do tema na imprensa, em anos de forte censura, acabou gerando um convite para trabalhar na Veja – além de fontes importantes dentro do Serviço Nacional de Informações (SNI), que lhe renderiam uma reportagem de capa no novo emprego. Da Veja, o jornalista foi para a Isto É, até que, no início da década de 1980, as redações deram lugar à assessoria de comunicação na área política.

Carlos Alberto Sardenberg em entrevista ao Memória Globo, 2022 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Em governos

Em 1982, Sardenberg recebeu o convite de um colega para participar da campanha de Franco Montoro ao governo de São Paulo. “A campanha foi muito legal porque o Montoro era uma ótima figura, uma pessoa de respeito às coisas públicas”, afirma. Com a vitória do candidato, o jornalista integrou-se à administração, na condição de coordenador de Comunicação do secretário de Fazenda, João Sayad.

Sayad iria para o governo federal, como um dos criadores do Plano Cruzado, na gestão José Sarney, e levaria Carlos Alberto Sardenberg com ele, para Brasília. Com o fracasso do plano de controle da inflação, o jornalista saiu do governo para não mais voltar, em 1987. Depois de envolver-se na tentativa de criar um curso de pós-graduação em Jornalismo na Universidade de Campinas, a convite do reitor Paulo Renato, tornou-se, em 1988, comentarista de economia em TV, em um horário comprado pelo jornal Gazeta Mercantil na TV Gazeta. Também teve passagens pelo impresso, como diretor de redação e titular da coluna Informe Econômico no Jornal do Brasil e repórter especial da Folha de S. Paulo. Mas foi a vivência de um ano na TV Gazeta que deu a Sardenberg bagagem que seria de grande importância para sua carreira a partir daí.

Início na CBN

A rádio CBN havia acabado de ser criada, em 1991, quando o diretor Laerte Rimoli convidou Carlos Alberto Sardenberg para ser comentarista da emissora. O quadro destinado ao jornalista deveria traduzir questões econômicas em uma linguagem simples e acessível ao ouvinte.

Anos depois, em 2000, Sardenberg assumiu a função de âncora do CBN Brasil, noticiário que vai ao ar do meio-dia às duas da tarde. Em mais de duas décadas à frente do programa, Sardenberg liderou coberturas memoráveis, como a do atentado de 11 de setembro de 2001. “Fizemos uma cobertura espetacular, porque eu estava com a televisão na frente e recebendo o noticiário online. Aí tivemos uma ideia muito boa: começamos a ligar para todo mundo que conhecíamos em Nova York. ‘Ah, eu estou aqui no Brooklin’. ‘O que está acontecendo?’. Fomos dando o noticiário que recebíamos das agências de notícias, da TV e dos nossos correspondentes”, detalha.

Televisão

Sem jamais deixar a CBN, Sardenberg teve uma rápida passagem pelo SBT, como comentarista, e pela Band, como diretor de Jornalismo, até iniciar sua trajetória na GloboNews, em 1998. A convite da diretora Alice-Maria, o jornalista começou fazendo participações em telejornais do canal, em especial no 'Jornal das Dez', onde entrevistava profissionais do mercado financeiro e empresários. Em seguida, passou a atuar como comentarista de economia no programa. A boa recepção à sua análise, entre os assinantes, o levou a acumular a função de comentarista também no 'Jornal da Globo', na TV aberta, a partir de 2006. Em 2008, Sardenberg ampliou sua atuação no Grupo ao publicar a primeira coluna em O Globo, inicialmente tratando de economia, mas neste caso com humor, de forma leve. Aos poucos, foi incorporando aos seus textos a análise política e a combinação com a economia.

Jornal da Globo 40 anos: bastidores (2022)

Jornal da Globo 40 anos: bastidores (2022)

Por suas vitórias consecutivas no Prêmio Comunique-se, que destaca os principais jornalistas do país em diferentes categorias, Carlos Alberto Sardenberg recebeu o título de Grande Mestre da Comunicação. Desde a criação do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças, tem sido eleito entre os Top 5. Obteve o primeiro lugar em 2019.

Estreia - Coluna Sardenberg

Estreia - Coluna Sardenberg

Livros e reconhecimentos

Sardenberg também é autor de livros, dois dos quais especialmente importantes para ele. O primeiro, publicado em 1987 – 'Aventura e Agonia nos Bastidores do Cruzado' –, conta a história da criação do Plano Cruzado, com base na própria participação do jornalista no processo e em entrevistas com economistas e governantes. O segundo, de 2008 – 'Neoliberal, não. Liberal' – reúne um conjunto de ensaios sobre o país, com base na perspectiva e nos desafios de ser liberal no Brasil. “Procuro mostrar que o liberal tem que ser completo, liberal na economia, liberal na política; o regime capitalista tem que ser com democracia, senão não funciona. É um ensaio sobre democracia, capitalismo e liberalismo”, resume. Em 2010 publicou, com Mara Luquet, o livro 'O Assunto é Bolsa', baseado em conversas dos jornalistas na rádio CBN.

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Em novembro de 2022, Sardenberg deixou a GloboNews e o 'Jornal da Globo' , seguindo a frente do programa CBN Brasil e com sua coluna no jornal O Globo.

Carlos Alberto Sardenberg e Mara Luquet lançam livro

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FONTE:

Depoimento de Carlos Alberto Sardenberg ao Memória Globo em 17/07/2017.
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