Bruno Bernardes construiu a carreira profissional no 'Fantástico'. Começou lendo e-mails dos telespectadores para produzir um relatório interno. Logo se tornou editor, depois chefe e foi escolhido por seu antecessor, Luiz Nascimento, para sucedê-lo, pela capacidade demonstrada de manter viva a inquietação criativa que faz do programa, desde 1973, referência de qualidade aos domingos.
O diretor do programa se formou em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2005, quando já trabalhava no 'Fantástico'. Filho do taxista Jeferson Francisco Bernardes e de Vilma Maria Salgado Rafaelli, formada em Museologia, começou sua trajetória na Globo em 1999, lendo e-mails dos telespectadores. Seu computador era o único da Redação com acesso à internet e os relatórios que produzia, a partir das mensagens recebidas, acabaram fazendo sucesso, pela elaboração e pelo tom bem-humorado do texto.
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Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, em 21/05/2018, o jornalista Bruno Bernardes, atual diretor do 'Fantástico', fala sobre o início de sua carreira.
Curioso e perfeccionista, tornou-se editor pouco tempo depois e esteve por seis anos na Redação do programa em São Paulo, de onde voltou para o Rio de Janeiro como chefe da área que trabalha com quadros e séries com perfil de reality. Ao longo de quase 20 anos, pôde conhecer e participar ativamente de todas as etapas de produção do 'Fantástico'.
Foi no ano 2000 que Bruno ganhou a oportunidade de editar sua primeira matéria. Antes de seguir a trajetória que o levaria a ser diretor do programa, passou por suas únicas experiências em outras atrações da emissora. Em 2001, integrou o grupo de profissionais que buscou incorporar jornalismo ao 'Domingão do Faustão'; em 2002, foi um dos editores da equipe que lançou o 'Big Brother'; também em 2002, entre a primeira e a segunda temporadas do 'BBB', editou o programa 'Hipertensão', um reality show com provas radicais que testavam o preparo físico, a coragem e o controle emocional dos participantes.
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Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, em 21/05/2018, o jornalista Bruno Bernardes, atual diretor do 'Fantástico', fala sobre a experiência de trabalhar nas primeiras edições do ‘Big Brother Brasil’.
Ainda em 2002, surgiu uma vaga na edição do 'Fantástico' e ele pôde voltar ao programa, então apresentado por Pedro Bial e Glória Maria e dirigido por Luizinho Nascimento, com os jornalistas Geneton Moraes Neto, Luiz Petry e Léia Paniz em posições-chave. Naquele momento, com uma equipe mais enxuta do que a atual, era comum que os editores passassem a madrugada de sábado para domingo na emissora, já que a cada um cabiam duas reportagens, que tratavam dos mais diversos temas, como investigação, comportamento, ciência e materiais comprados da BBC.
Entre as matérias de repercussão editadas por ele na época esteve uma denúncia do repórter Eduardo Faustini, que conseguiu imagens exclusivas mostrando o livre consumo de drogas por detentos em um presídio do Rio de Janeiro, o que gerou uma reação do governo do estado no dia seguinte.
Em 2004, a edição do quadro 'A Fantástica Volta ao Mundo', com Zeca Camargo, foi considerada por Bruno Bernardes uma experiência inesquecível. O material enviado dos diversos países chegava aos pedacinhos, pela internet, e ia sendo montando. Ao fim de cada etapa da viagem, o público escolhia a próxima parada, em participação interativa.
'Ser ou não ser'
No ano seguinte, o editor teve sua primeira ideia de quadro aprovada por Luiz Nascimento. 'Ser ou Não Ser' era uma série sobre filosofia apresentada pela psicóloga Viviane Mosé. Sobre saúde, na mesma época, o médico Drauzio Varella falava sobre envelhecimento na série 'Tempo, Dono da Vida', editada pela jornalista Eugenia Moreyra.
“O Drauzio foi parceiro da Eugenia em muitas séries, é uma referência. Ela e o Luizinho me ensinaram a editar. O jeito de você contar uma história sem gordura, com firmeza, sem deixar a edição frouxa”, afirma.
Experiência
Durante seis anos, entre 2006 e 2011, Bruno Bernardes trabalhou para o 'Fantástico' em São Paulo. A mudança teve uma razão pessoal, o casamento, mas acabou sendo importante para sua formação, pela maturidade profissional obtida. Nesse período, editou matérias sobre temas considerados hard news, o que já fazia parte de sua rotina carioca, mas de forma menos frequente.
No primeiro ano em São Paulo, Bruno teve participação intensa em uma reportagem de grande repercussão, que revelou uma tentativa de farsa, ao divulgar a orientação dos advogados a Suzane Richthofen, para que ela chorasse durante a entrevista que dava ao 'Fantástico'. “Fiquei totalmente envolvido nesse trabalho, estive nas duas gravações, frente a frente com ela, acompanhando a repórter Fabiana Godoy. Encontrei os áudios que denunciaram a armação”, relembra.
Foi também na fase paulistana que ele passou a fazer séries com linguagem de reality, entre elas 'Menina Fantástica', um concurso de modelos; e 'Tintim por Tintim', que apresentava orientações financeiras aos telespectadores. Com Max Gehringer, editou quadros e séries como 'Emprego de A a Z', 'Meu Primeiro Emprego' e 'Você é o Dono', além de 'O Conciliador', que foi criado pelo jornalista e teve mais de 30 episódios.
Volta para o Rio
O primeiro cargo de chefia aconteceu em sua volta para o Rio, em 2012, justamente para comandar os quadros especiais, pela saída do antigo chefe, Frederico Neves, que se transferiu para o 'Caldeirão do Huck'. Agora pai de dois filhos, seguia em progressão na carreira, passando a desempenhar uma função mais voltada para a gestão e o planejamento. Nesse momento, ele começou a escrever as chamadas do 'Fantástico' e a integrar o núcleo de profissionais responsáveis pelo fechamento do programa.
A partir de seu retorno, séries e quadros de diversos perfis foram lançados. 'Bem Sertanejo', com o cantor Michel Teló, funcionou como um documentário sobre o crescimento da música sertaneja que trouxe artistas consagrados do gênero para cantar e contar histórias; 'Fant 360º', nascido da percepção de que a realidade virtual é uma tendência em todo o mundo, mostra uma imagem por diversos ângulos, fora de seu formato usual; 'A Jornada da Vida', projeto do 'Globo Natureza' com Sônia Bridi e Paulo Zero, visitava locais do mundo importantes para o desenvolvimento da vida e da civilização; e 'Quem Sou Eu?', ideia do próprio Bruno, abordava o universo das pessoas transgênero. Por sugestão do editor Bruno Latta, a série foi elaborada traçando-se um paralelo com a história de 'Alice no País das Maravilhas'.
Mudança de cenário
O cenário do 'Fantástico' mudou em 2014, com a incorporação de mais recursos tecnológicos e a integração do estúdio à Redação. O projeto inicial, depois alterado, mostrava como o programa era concebido desde a reunião de pauta. Outra novidade foi a gravação de musicais no próprio estúdio, que dão leveza ao programa e podem, como no caso Marielle Franco, estar completamente relacionados à pauta. Na edição que teve como principal destaque o assassinato da vereadora, Elza Soares e Pitty cantaram, em homenagem à Marielle, a música 'Juízo Final' ("O sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações..."), de Nelson Cavaquinho, acompanhadas por músicos do Complexo da Maré.
Entrevista exclusiva do jornalista Bruno Bernardes ao Memória Globo sobre a edição do 'Fantástico' após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14/03/2018.
Convite para a direção
O convite para que Bruno Bernardes assumisse a direção do 'Fantástico' ocorreu em 2016, de forma surpreendente para ele. “Em 2014, eu comecei a fazer espelhos do programa. Eu fazia o espelho e passava para o Luizinho aprovar. Quando chegou 2016, ele falou: ‘Eu vou me aposentar e você vai ficar no meu lugar’. Fiquei surpreso, não esperava aquilo. Claro que eu tinha a ambição de estar cada vez mais próximo do Luizinho, mas não me via como sucessor, ali”, explica.
Como parte da preparação para o cargo, o jornalista passou a acompanhar as reuniões com a direção da emissora para discutir o programa. Em 2017, na nova função, entrou em uma rotina mais trabalhosa, que começa às terças-feiras, na reunião de pauta, seguida de reuniões com as chefias e com a direção, para que o 'Fantástico' seja moldado.
Para cumprir esse desafio, Bruno exalta a importância de sua equipe: “Eu tenho o privilégio de trabalhar com uma equipe que entende a missão do ‘Fantástico’ sem precisar explicar. Está no sangue, todos sabem qual é a cara do ‘Fantástico’ e correm atrás de histórias que mereçam estar no ‘Fantástico’”. E foi com esse espírito que o programa conquistou, sob a liderança de Bruno, importantes reconhecimentos, como a indicação ao Emmy Internacional com a série de Álvaro Pereira Júnior sobre a Coréia do Norte, que foi ao ar em 2018, e o Prêmio Vladimir Herzog, com a reportagem ‘Os Defensores da Floresta’, de Marcelo Canellas, exibida em 2019.
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Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, em 21/05/2018, o jornalista Bruno Bernardes, atual diretor do 'Fantástico', fala sobre a rotina de produção do programa.
Mas foi no ano de 2020 que Bruno Bernardes enfrentou um dos momentos mais desafiadores de sua carreira: a cobertura da pandemia de Covid-19. Assim como o restante da programação jornalística da Globo, o ‘Fantástico’ ganhou mais tempo no ar, e foi preciso ser criativo para driblar as baixas na equipe e as limitações impostas pelas regras de distanciamento social. “Foi bem desafiador fazer um programa sem botar o pé na rua. (...) A gente fez programas inteiros, naquela época, sem nenhuma externa, só arquivos, agência, videoconferência. E a gente tendo que se entender dessa forma. Foi bem, bem desafiador, assustador, porque a gente estava, ao mesmo tempo, processando o nosso próprio medo do que estava acontecendo e tendo que cumprir o dever jornalístico de não deixar de colocar o programa no ar”, lembra.
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Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, em 03/07/2023, o jornalista Bruno Bernardes, diretor do 'Fantástico', fala sobre a cobertura da pandemia de Covid-19 no programa.
No início de 2023, Bruno Bernardes liderou outra importante cobertura no ‘Fantástico’. Ele estava viajando quando soube das primeiras notícias sobre os ataques golpistas do dia 08 de janeiro, em Brasília. Enquanto assistia bolsonaristas radicais invadirem e depredarem os prédios dos Três Poderes, ligou aflito para Gustavo Vieira, chefe de redação do programa, responsável pela edição daquele domingo: “eu ficava ligando para ele do México: ‘Gustavo, e agora, o que vocês vão fazer? Derruba tudo, tem que derrubar tudo’, e ele foi me atualizando”. Bruno voltou ao Rio no dia seguinte para preparar a edição especial sobre os ataques, que foi ao ar no dia 15 com matérias exclusivas, como as imagens inéditas das câmeras de segurança que mostravam as cenas de vandalismo, e os registros dramáticos dos policiais legislativos enfrentando os invasores no Congresso Nacional.
Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, em 03/07/2023, o jornalista Bruno Bernardes, diretor do 'Fantástico', fala sobre a cobertura dos ataques antidemocráticos de 08 de janeiro de 2023 em Brasília.
FONTE:
Depoimentos de Bruno Bernardes ao Memória Globo em 21/05/2018 e 03/07/2023. |