Borjalo tinha vocação para o desenho desde criança. Antes de usar o lápis e o papel, desenhava com carvão nas paredes de casa. Iniciou a carreira de chargista no impresso, no jornal Folha de Minas. Passou por outros jornais e revistas e alcançou reconhecimento internacional como chargista. Em televisão, trabalhou na TV Excelsior e na TV Tupi, antes de ingressar na Globo, em 1966.
Início da carreira
Mauro Borja Lopes nasceu em Velho da Taipa, pequena cidade do distrito de Pitangui, Minas Gerais, em 1925. Filho do engenheiro e caricaturista Manoel Antônio Lopes Júnior e da dona de casa Helena Borja Lopes, Borjalo, desde criança, manifestou a aptidão para o desenho. No colégio, aprendeu a gravar suas ideias com canivete, na madeira das carteiras escolares. Prestou vestibular para medicina, mas não chegou a frequentar o curso.
Trabalhou como laboratorista e, depois, como desenhista na Secretaria de Agricultura de Minas Gerais. Iniciou sua carreira na imprensa em 1946, fazendo charges esportivas na Folha de Minas. Em 1947, foi demitido e, no mesmo dia, convidado para trabalhar na Gazeta Esportiva. Na mesma época, fazia charges políticas para a primeira página do Diário de Minas, jornal de oposição ao então governador Milton Campos. Fez mais de 1.500 charges, que desagradavam aos partidários do governador, mas lhe propiciaram muito prestígio junto ao público e aos colegas.
Desde o início, chamava a atenção o fato de suas caricaturas e charges não precisarem de legenda. De volta à Folha de Minas, tornou-se organizador do Suplemento Literário, e responsável pela página de humor. Em 1954, com a grande repercussão de seu trabalho, foi levado por Otto Lara Rezende, Fernando Sabino e Augusto Rodrigues para a revista Manchete. Até 1955, teve 15 trabalhos seus selecionados por uma editora de Nova York para uma Antologia Universal da Caricatura, e recebeu convite para expor em Buenos Aires. Colaborou também com a revista semanal O Cruzeiro.
Borjalo foi o criador dos “bonecos andantes”, caricaturas trabalhadas em massa, movimentados por molas. Teve trabalhos publicados nos Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Suécia, França e outros países. Uma admiradora italiana inscreveu alguns trabalhos de Borjalo no Congresso Internacional de Caricaturas de Bordighera. Assim, em 1955, sem tomar conhecimento, foi escolhido como um dos sete melhores caricaturistas do mundo.
Televisão
Interessou-se pela televisão desde as primeiras transmissões. Durante anos, dedicou-se a pesquisar uma maneira de melhor adequar o desenho ao novo veículo. Depois de incontáveis noites de insônia, dois desenhos superpostos por acaso o levaram à descoberta da técnica. Trabalhou na TV Excelsior e na TV Tupi, antes de ingressar na Globo, em 1966.
Globo
Ocupou diversas funções na emissora – antes mesmo da contratação de Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. É um dos nomes mais importantes dos chamados “tempos heróicos” da televisão. Acompanhou todo o desenvolvimento tecnológico, administrativo e artístico da Globo, participando ativamente do grupo formado por Armando Nogueira, José Ulisses Arce, entre outros, sob o comando de Walter Clark e o Boni.
Trecho da entrevista exclusiva do diretor e cartunista Borjalo, ao Memória Globo em 25/02/2000, sobre seus “Bonecos Falantes”.
Vinheta que marca a passagem de ida e volta dos intervalos comerciais da Globo, com animação do cartunista Borjalo
Entre 1967 e 1976, a imagem da emissora esteve associada a um logotipo criado por Borjalo – e só substituído com a chegada do alemão Hans Donner e do austríaco Rudi Bohn, que propuseram uma nova programação visual, elaborada com recursos mais sofisticados do que os disponíveis na década de 1960. Borjalo foi um dos idealizadores do 'Jornal Nacional', junto com Walter Clark, Boni e Armando Nogueira.
Jornal de Verdade
Em fevereiro de 1970, tornou-se diretor de programação e responsável pelo 'Jornal de Verdade'. Na redação da emissora, era conhecido pela calma e pela maneira peculiar de datilografar: a mão direita para segurar os cigarros e o indicador da esquerda dando conta de todo o texto. Em 1975, assumiu a supervisão do Sistema Auxiliar de Produção (SAP), criado para auxiliar os produtores independentes na produção de novelas, casos especiais e shows.
Em março de 1980, participou de reunião dos representantes das emissoras de rádio e televisão com o então ministro da Justiça, Ibrahim Abi Ackel, que solicitou que se evitasse, antes das 21h, a transmissão de programas com situações de “abandono do lar, violência física, dissolução da família e exacerbação do sexo”. A reunião se transformou em “debate acalorado” quando Borjalo pediu ao ministro que definisse com clareza o que seria uma cena sensual e o que ele entendia como violência. Abi Ackel, irritado, chamou Borjalo de “ensaboado”. O representante da Globo batia de frente com a censura do final do regime militar. O fato resultou em movimentos populares e de classe a favor do ministro, mas também em manifestações pelo fim da censura. A polêmica surgida desse encontro se arrastou durante meses, ocupando considerável espaço na mídia.
Em 1987, Borjalo lançou o livro de cartuns 'O Caçador de Borboletas', com tiragem limitada e “especial para os amigos”, pela Globo Livros. O último cargo de Borjado na Globo foi o de assessor na Central Globo de Controle de Qualidade.
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Mauro Borja Lopes, o Borjalo, morreu de câncer no dia 18 de novembro de 2004, no Rio de Janeiro. Desde maio de 1959, era casado com a escritora Marilu Saldanha. Teve dois filhos, Gustavo e Helena Luisa.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Mauro Borja Lopes em 25/02/2000. |