Por Memória Globo

Val Santana/Memória Globo

A mineira Beatriz Castro, que se define como “pernambucana de coração”, considera que sua missão no jornalismo é desvendar o Brasil. “Porque eu sou repórter, vou pra rua diariamente. Gosto de fazer matérias, contar histórias. Se a história é boa, não tem feriado para mim, não tem fim de semana, não tem horário”. Tamanha dedicação rendeu a ela, além de prêmios importantes, o título de Cidadã de Pernambuco. “Eu saí de Minas muito criança. Quero que me vejam assim mesmo, eu sou uma repórter de Pernambuco”, diz a jornalista que chegou ao estado nordestino em 1990, depois de passar por Brasília e Alagoas, e lá fincou raízes.

Eu saí de Minas muito criança. Quero que me vejam assim mesmo, eu sou uma repórter de Pernambuco.

Depoimento de Beatriz Castro ao Memória Globo, 2011 — Foto: Val Santana/Memória Globo

Início da carreira

Beatriz de Castro Serra nasceu no dia 17 de novembro de 1961. Ainda criança, mudou-se com a família para Brasília, onde se formou em jornalismo pela UNB. Com 18 anos, fazia estágio como revisora no Diário Oficial; em seguida, passou pela Rádio Nacional da Amazônia, pela TV Nacional, pelo Jornal de Brasília e pela redação do jornal O Globo no Distrito Federal.

Globo Brasília

Em 1982, começou a trabalhar na sucursal da Globo em Brasília, como repórter da editoria Artes e Espetáculos, e no telejornal 'DFTV'. “Estava surgindo o movimento do rock de Brasília. Eu entrevistei aquela turma toda, Plebe Rude, Legião Urbana, Capital Inicial. Entrevistei o Renato Russo quando ele estava ensaiando em garagem. Ninguém era famoso, era todo mundo muito jovem. Também cobri as primeiras eleições diretas para governador do Distrito Federal, que foi emocionante, com o povo nas ruas”, conta. Pouco depois, a jornalista começou a produzir reportagens para o 'Bom Dia Brasil', para o quadro Café da Manhã – onde entrevistou políticos e celebridades – e para o 'Jornal Hoje'. Em 1988, fez sua estreia no 'Jornal Nacional' com uma matéria sobre a Previdência Social.

TV Gazeta e Globo Recife

Ainda em 1988, Beatriz foi para Alagoas, trabalhar na TV Gazeta, afiliada da Globo, como parte da estratégia da emissora de fortalecer as praças regionais. “Havia a prioridade de pôr repórteres em rede em todas as regiões. Já tinha começado com Fortaleza, o Heraldo Pereira ficou um tempo lá. Depois foi o Giácomo Mancini. Eu fazia todo tipo de matéria para todos os telejornais da rede, Globo Rural, Bom Dia Brasil, Jornal Nacional, Fantástico, Jornal Hoje”, conta.

Logo que chegou em Alagoas, encarou 22 dias de cobertura da enchente que arrasou o estado, considerada a pior do século XX naquela região. “A partir desta cobertura, a Globo lançou uma campanha para ajudar os flagelados”, lembra. Também foi o ano em que Fernando Collor se lançou candidato à Presidência. “De alguma maneira, também apresentei a ‘República das Alagoas’ ao Brasil”. Beatriz ficou um ano na TV Gazeta; quando seu contrato terminou, optou por se transferir para Pernambuco. “Achei que não era a hora de voltar para Brasília, porque no Nordeste, principalmente há 20 e poucos anos, a presença masculina no telejornalismo era muito forte. Eu tenho um olhar feminino de mostrar os problemas sociais, as tragédias, o trabalho infantil”.

Impeachment do Collor

Em Pernambuco, deu dois furos de reportagem relacionados ao processo de impeachment de Collor: a fuga do seu ex-tesoureiro PC Farias do Brasil e o paradeiro de Jorge Bandeira e de Cláudio Vieira, respectivamente piloto e secretário particular do ex-presidente. “PC Farias estava deixando o país naquele jato que ficou conhecido como Morcego Negro, e era um domingo. Foi um furo, entrou no 'Fantástico'. Jorge Bandeira e Cláudio Vieira eram procurados pela Polícia Federal e estavam velejando na Regata de Fernando de Noronha. Como tinham passado por Maceió, eu os conhecia de vista”, conta.

Webdoc sobre a cobertura da eleição, governo e impeachment de Fernando Collor de Mello com entrevistas exclusivas do Memória Globo - 2ª parte

Webdoc sobre a cobertura da eleição, governo e impeachment de Fernando Collor de Mello com entrevistas exclusivas do Memória Globo - 2ª parte

Série sobre trabalho infantil

Seu trabalho mais conhecido, porém, é a série de reportagens que produziu para o 'Jornal Nacional', sobre o trabalho infantil, que lhe rendeu os prêmios Ayrton Senna de Jornalismo, em 2000, e o Imprensa Embratel, em 2005.

“A gente começou com os meninos canavieiros, porque a cana-de-açúcar é a atividade mais forte da economia do estado e, quando cheguei em Pernambuco, o trabalho infantil era considerado normal. Começamos a denunciar, a mostrar que não era normal. Depois dos canavieiros, fiz matérias sobre as crianças nas casas de farinha. Não sabia que essa atividade era tão intensa e filmamos crianças de quatro anos manuseando facão, com dedo cortado, chupeta na boca. Antes havia medo, mas a partir daí, as pessoas começaram a me chamar para denunciar. Se eu tinha uma missão a cumprir, já cumpri”.

Webdoc jornalismo - Jornal Nacional: Trabalho infantil (1998)

Webdoc jornalismo - Jornal Nacional: Trabalho infantil (1998)

A jornalista cobriu, em 2012, aquela que foi então maior seca no nordeste dos últimos 30 anos. A estiagem gerou grande prejuízo para os criadores de gado e agricultores da região. Quatro milhões de animais foram perdidos e mais de 1.200 municípios decretaram estado de emergência e precisaram ser abastecidos por carros-pipa. Beatriz Castro visitou cidades e conversou com a população afetada pela seca que atingiu o nordeste.

Em 2014, Beatriz Castro acompanhou a greve da Polícia Militar de Pernambuco, que resultou em centenas de lojas saqueadas no estado. Ao todo, 234 pessoas foram detidas suspeitas de furtos, roubos, porte ilegal de armas, vandalismo, entre outros crimes. No fim da paralisação, a categoria conseguiu incorporar a gratificação de risco ao salário-base e aprovou a reestruturação do hospital da PM.

'Globo Repórter'

Beatriz Castro também costuma colaborar com programas como o 'Globo Repórter' – “A gente chegou a fazer entradas ao vivo no programa no São João”, lembra. Para o programa, a jornalista também fez reportagens de aventura, como quando explorou o cânion do Rio São Francisco, antes e depois de ser inundado para a construção da Hidrelétrica de Xingó, em 1994, ou quando desceu em uma mina de 60 metros de profundidade na Paraíba para o 'Globo Repórter'. “Eu não sou muito aventureira, mas acho que quando você faz uma matéria, é personagem também. Já fiz mergulho noturno, mas prefiro água clara, de dia. A gente fez uma imagem histórica em Xingó, porque no momento em que foram desviar a água do cânion para o reservatório, eles bloquearam o rio. Então, o Rio São Francisco deixou de correr. A nossa expedição foi a primeira que atravessou o cânion alagado”, conta.

Beatriz Castro e Dirceu Martins no Globo Repórter sobre o Brasil das pedras preciosas, em 2009

Beatriz Castro e Dirceu Martins no Globo Repórter sobre o Brasil das pedras preciosas, em 2009

Cobertura de carnaval

Como não poderia deixar de ser, Beatriz tem participado ativamente das coberturas do famoso carnaval pernambucano. “Até doer, até cansar. Carnaval ninguém sai de férias, ninguém pode ficar doente. Mas é uma festa tão bonita que a gente não enjoa”.

Webdoc produzido pelo Memória Globo sobre os festejos do carnaval de rua de Pernambuco, com entrevistas exclusivas dos jornalistas Francisco José, Beatriz Castro e Jô Mazzarolo.

Webdoc produzido pelo Memória Globo sobre os festejos do carnaval de rua de Pernambuco, com entrevistas exclusivas dos jornalistas Francisco José, Beatriz Castro e Jô Mazzarolo.

Programa 'Viver e Preservar'

Entre 2006 e 2019, Beatriz apresentou o 'Viver e Preservar', um programa da Globo Recife sobre sustentabilidade que era exibido aos sábados. Com exceção de 2019, ano em que apresentou sozinha, nos demais anos dividiu a apresentação com Francisco José. “É o primeiro programa 100% HD em Pernambuco. Tem aventura, que é mais o perfil do Chico, e eu fico, como eu digo, com a vida real. Como você pode melhorar a sua comunidade? O que fazer com o lixo? A questão ambiental é crucial. A gente tem que mostrar para as pessoas como a agressão ao meio ambiente retorna em prejuízo para elas mesmas”.

Equipe do Jornal Nacional em RecifeCharles Tricot Tricot (editor e produtor), Fernando Rêgo Barros (repórter), Mônica Silveira (repórter), Beatriz Castro (repórter), Francisco José (repórter), Eduardo Riecken (supervisor dos cinegrafistas), Karla Almeida (repórter) e Jô Mazzarolo (diretora de jornalismo), 2009 — Foto: Roberio Rodriges/Globo

FONTE:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Beatriz Castro em 30/08/2011.
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