Por Memória Globo

Memoria Globo

Desde os tempos de escola, Arnaldo Cezar Coelho já “apitava as peladinhas”, mas foi no futebol das areias de Copacabana que afirmou essa vocação. Certo dia, quando o juiz faltou e ninguém queria apitar o jogo, Arnaldo Cezar Coelho foi chamado e ganhou o apelido intrujão. “Depois eu fui descobrir que intrujão é receptador de furto, e fiquei chateado. Mas, na gíria da praia, intrujão era aquele cara que se metia em tudo. Eu me intrujei e fui apitar o jogo”. Entrou em 1989 na Globo para comentar lances no Jornal Nacional. Desde então, Arnaldo Cezar Coelho comentou copas, olimpíadas e jogos importantes.

Árbitro de futebol não pode dar dúvidas sobre a sua honra porque, dentro do campo, ele é um reflexo daquilo.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Depoimentos exclusivos em homenagem ao ex-árbitro de futebol e comentarista de arbitragem da Globo, Arnaldo Cezar Coelho.

Depoimentos exclusivos em homenagem ao ex-árbitro de futebol e comentarista de arbitragem da Globo, Arnaldo Cezar Coelho.

Início da carreira

Seu eu pai, Oswaldo Amazonas Cezar Coelho, era propagandista médico de companhias americanas no Brasil. A mãe, Sara Sabat Coelho, funcionária pública dos correios, trabalhava no guichê de telegramas. “Minha mãe era muito parecida com uma personagem do filme Central do Brasil: ela ensinava aos operários das obras que vinham do Norte (para o Rio de Janeiro) a passar telegramas para suas famílias”, conta.

Se não fosse um de seus professores, é possível que um dos maiores comentaristas esportivos do país trabalhasse no mercado financeiro. Arnaldo Cezar Coelho estava estudando para o vestibular em Economia quando o mestre, percebendo suas dificuldades, lhe sugeriu outra profissão: “Arnaldo, você gosta e pratica esporte, já tem sua atividade na praia, faça Educação Física”. De fato, formou-se no ofício sugerido, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e passou a lecionar. Em seguida, especializou-se em futebol e arbitragem e cursou marketing esportivo na PUC.

Desde então, Arnaldo Cezar Coelho começou a prestar atenção na arbitragem profissional e tomou gosto pela atividade, copiando o estilo de profissionais que apitavam grandes clássicos ou que vinham de outros países: “Eu imitava o Armando Marques, imitava mesmo, usava a mesma roupa preta dele, mesma postura. Anos depois, quando me tornei árbitro, comprei até um carro igual ao dele”.

Após um curso na Federação Carioca de Futebol, em 1964, começou a apitar profissionalmente. Seu primeiro jogo foi América X Fluminense, mas sua primeira partida memorável foi um Fla-Flu. “Eu estava estreando no Maracanã, os caras já me pressionando. Um jogador do Fluminense olhou para mim e falou assim: ‘O senhor vai dar gol?’ Eu disse: ‘Vou – página 46 do Guia Universal de Árbitros. Você não conhece a regra?’ Ele olhou para mim, botou a mão no escudo e falou: ‘Isso é Fluminense. Fluminense manda na Federação. Você nunca mais vai apitar na sua vida'”, recorda. Contrariamente ao que o jogador previu, na semana seguinte, todos os jornais elogiaram o árbitro, dizendo que ele havia aplicado a regra corretamente.

Arnaldo Cezar Coelho — Foto: Acervo Arnaldo Cezar Coelho

Arnaldo Cezar Coelho — Foto: Acervo Arnaldo Cezar Coelho

Copa do Mundo de 1982

“Parabéns, você foi indicado para apitar a final da Copa”, foi a frase que anunciou o ápice de sua carreira como árbitro. Arnaldo Cezar Coelho foi o primeiro juiz sul-americano escolhido para apitar uma final de Copa do Mundo, em 1982. “No final do jogo, eu dei um pênalti a favor da Itália. Quando o cara bateu o pênalti para fora, eu respirei fundo e pensei: Graças a Deus!”, conta. Depois dessa final, sua notoriedade foi tão grande que ele foi convidado a conhecer o Papa, Dom João VI.

Entrada na Globo

A decisão de deixar os gramados veio a partir de um convite de Armando Nogueira para que comentasse no Jornal Nacional lances polêmicos das partidas. Assim, em 1989, passou a ser comentarista esportivo do JN, tendo seus comentários veiculados também no Globo Esporte e Esporte Espetacular. Logo Alice-Maria, então responsável pelo JN, propôs que ele se especializasse em comentar a arbitragem dos jogos. Estava criada a figura do comentarista de arbitragem nas transmissões da Globo.

A partir de 1990, Arnaldo Cezar Coelho comentou todas as copas do mundo pela emissora, além das Olimpíadas. Nem sempre esteve nos países-sedes, comentando as partidas desde o estúdio da Globo, no Brasil – como no caso das Olimpíadas de 1992, 2004 e 2008. Outras vezes, como na Copa da Itália, em 1990, não apenas comentou os jogos, mas realizou matérias. “Eu tenho uma reportagem de 1990 que ficou famosa: eu atravessando a Via Veneto (em Roma), com um microfone e um cinegrafista. Fui falar com o guarda que estava apitando em frente a um hotel famoso. Ele apitava para lá, para cá. Eu perguntei a ele se um pênalti a favor da Itália havia sido bem apitado. Depois, peguei o apito dele, que estava amarrado no pescoço, e apitei no meio da rua. Ele, então, tirou do bolso e me deu um cartão amarelo”, relata.

Com o passar dos anos, Arnaldo Cezar Coelho atuou ao lado de diversos profissionais, entre narradores e comentaristas: “Galvão Bueno conhece muito: um time entra em campo; com cinco minutos, ele já pegou quais são os jogadores, uma característica ou outra. Ele se entrega muito ao jogo. Cléber Machado já é uma pessoa que tem uma dinâmica de narração que vem de rádio, tem um jeito de brincar diferente, de interagir contigo. Já Luiz Roberto lê tudo, é informado toda vida, enche uma transmissão de informações. Cada um tem uma característica diferente, um estilo. E todos os três agradam.”

Convidado por Galvão Bueno, o árbitro passou a participar também do programa Bem, Amigos!, do canal SporTV. Arnaldo Cezar Coelho ainda é superintendente da TV Rio Sul, que tem sede em Resende e filial em Angra dos Reis, e comanda o programa cultural Rio Sul Revista, transmitido pela Globo News.

Arnaldo Cezar Coelho se aposentou como comentarista da Globo em 20 de novembro de 2018.

Fontes

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