Por Memória Globo

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Armando Nogueira foi um dos profissionais que ajudou a construir a Globo durante mais de duas décadas. Consagrado cronista esportivo e ex-diretor de jornalismo da emissora, participou, desde o início de sua carreira, de grandes transformações na imprensa brasileira. Ele foi um dos responsáveis pela criação do primeiro programa de TV transmitido em rede no país, o 'Jornal Nacional'. No período em que esteve à frente da Central Globo de Jornalismo, o telejornal sofreu diversas transformações, sendo as principais a criação de editorias especializadas, a supressão de matérias locais, com a predominância de matérias nacionais e internacionais de maior relevância, e a inclusão de comentaristas.

A Rede Globo foi fruto do trabalho extraordinário de um grupo de profissionais, e acabou se transformando num modelo, numa instituição operada por seres humanos que não se pretendiam e nem se pretendem perfeitos; que são falíveis, como qualquer um. A Globo representou um papel fundamental, creio eu, até no processo de integração geopolítica do Brasil.

Armando Nogueira — Foto: Globo

Início da carreira: do Acre ao Rio de Janeiro

Filho do oficial de justiça Rodovaldo Justiniano Nogueira e da dona de casa Maria Soares Nogueira, Armando Nogueira nasceu em 14 de janeiro de 1927, na cidade de Xapuri, no Acre. Aos 17 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e se matriculou na Faculdade de Direito, curso que concluiu em 1953. Três anos antes, porém, iniciou sua carreira de jornalista no Diário Carioca, onde trabalhou até 1959 como repórter, copidesque, colunista esportivo e comentarista político.

Nesta época, Armando Nogueira teve intensa atividade profissional, principalmente ligada ao esporte, acumulando diversos cargos em diferentes veículos. Trabalhou na revista Manchete, da qual foi redator-chefe (1955-1957) e onde atuou também como repórter fotográfico, influenciado pelo jornalismo ilustrado de revistas como Life e Paris Match. Entre 1957 e 1959, foi repórter da revista O Cruzeiro, na qual assinava texto e fotografias de suas reportagens. Em 1959, desligou-se de outros veículos para assumir o cargo de copidesque da editoria de Esportes do Jornal do Brasil, passando também a assinar a coluna diária Na Grande Área, que escreveria até 1973.

Imprensa escrita

Como repórter do Diário Carioca, primeiro jornal a modernizar o texto jornalístico no Brasil, com a introdução da técnica do lead e da função do copidesque, Armando Nogueira foi autor de dois “furos” de reportagem que entraram para a história do jornalismo brasileiro. O primeiro, durante a Copa do Mundo de 1954, ao final da partida entre Brasil e Hungria, na Suíça, quando se viu em meio a uma pancadaria entre os dois times e suas comissões técnicas. Derrotada por 4 a 2, a seleção brasileira agrediu os jogadores húngaros no vestiário. Em plena confusão, o jornalista posicionou a câmera no basculante e tirou algumas fotos, sem saber exatamente o que fotografava. Depois de reveladas, constatou que uma delas flagrara o então técnico da seleção brasileira, Zezé Moreira, atirando uma chuteira, que atingiu com violência a cabeça do chefe da delegação húngara. A imagem teve grande repercussão e foi publicada em vários jornais e revistas.

O segundo “furo” aconteceu em 5 de agosto de 1954, por uma coincidência de horários. Ao chegar em casa do jornal Diário Carioca, testemunhou o atentado contra o jornalista e político Carlos Lacerda. O tiro, disparado pelo pistoleiro Alcino João do Nascimento, matou o major Rubens Vaz, oficial da Aeronáutica que acompanhava Lacerda.

'Grande Resenha Facit'

Estreou em televisão na TV Rio (1960-1966), participando da primeira mesa-redonda do gênero, a 'Grande Resenha Facit', criada por Walter Clark, na época diretor da emissora. Torcedor fervoroso do Botafogo Futebol e Regatas, discutia os principais lances da rodada do futebol do fim de semana com ilustres nomes da crônica esportiva: Luís Mendes, João Saldanha, Nelson Rodrigues e José Maria Scassa.

Em setembro de 1966, o programa e todos os seus participantes foram para a Globo, levados por Walter Clark, que havia assumido o comando da recém-inaugurada emissora. Um mês depois, Armando Nogueira foi convidado a ser diretor de jornalismo da Globo. “O engraçado é que me deram o cargo sem nunca ter sido escrito um único papel sobre essa indicação. Nunca. Ninguém assumiu a responsabilidade por tamanha leviandade”, disse, bem-humorado, em certa ocasião.

Decolando um boeing

O jornalismo da Globo começara em 1965. Quatro anos depois, em 1º de setembro de 1969, estreava o 'Jornal Nacional'. Um dos responsáveis pela criação do primeiro programa de TV transmitido em rede no país foi Armando Nogueira. Mais tarde, ao comentar o dia da estreia, o jornalista, um aficionado por aviação e que chegou a pilotar aviões, declarou: “A sensação era de que eu estava decolando com um Boeing”. No período em que esteve à frente da Central Globo de Jornalismo, o 'Jornal Nacional' sofreu diversas transformações, sendo as principais a criação de editorias especializadas, a supressão de matérias locais, com a predominância de matérias nacionais e internacionais de maior relevância, e a inclusão de comentaristas.

Nós sabíamos fazer telejornalismo melhor do que os nossos concorrentes. E fazer telejornalismo é uma coisa muito difícil. Não só do ponto de vista da forma. A forma você domina, mas do ponto de vista do conteúdo. O que é o conteúdo? É muita informação, informação selecionada para um veículo que vive de seleção da informação. Esse veículo não vive de informação massificada.

Alice-Maria e Armando Nogueira no cenário do Jornal Nacional, década de 1980. — Foto: Agência O Globo

Volta ao jornalismo esportivo

No início de 1990, quando ocorreu a reestruturação da cúpula de jornalismo da Globo, Armando Nogueira deixou a emissora para se dedicar ao jornalismo esportivo. E assegurou: “Eu tenho a satisfação muito grande de, em 25 anos de trabalho na emissora, não ter tido qualquer desapontamento nem com a direção política da empresa, com a qual eu ficava solidário nos momentos em que recebíamos pressões do poder central. E muito menos do Departamento Comercial, que é tradicionalmente conhecido como uma vertente de pressões sobre o jornalismo”.

O jornalista passou a escrever para jornais de todo o país, foi comentarista da TV Cultura (1992-1993), no programa 'Cartão Verde', e da TV Bandeirantes (1994-1999), onde participou do programa 'Apito Final'. No SporTV, canal da Globosat, participou dos programas 'Papo com Armando Nogueira', 'Esporte Real' e 'Redação SportTV', entre 1995 e 2007. Foi comentarista também da Rádio CBN. Em agosto de 2007, afastou-se da televisão após o diagnóstico de um câncer.

Comentário esportivo

Como repórter ou comentarista, Armando Nogueira participou de todas as Copas do Mundo desde 1950 e acompanhou todas as edições dos Jogos Olímpicos desde 1980. Além disso, escreveu dez livros sobre esporte: 'Drama e Glória dos Bicampeões' (1962), com Araújo Neto; 'Na Grande Área' (1966); 'Bola na Rede' (1973); 'O Homem e a Bola' (1986); 'Bola de Cristal' (1987); 'O Voo das Gazelas' (1991); 'A Copa que Ninguém Viu e A que Não Queremos Lembrar' (1994), com Jô Soares e Roberto Muylaert; 'O Canto dos Meus Amores' (1998); 'A Chama que Não se Apaga' (2000) e 'A Ginga e o Jogo' (2003).

Em 30 de março de 2008, a Superintendência de Desportos da Cidade do Rio de Janeiro (Suderj) inaugurou o Espaço Armando Nogueira, no acesso à tribuna da imprensa do Maracanã, onde a foto do jornalista aparece ao lado das de outros 72 grandes nomes da imprensa esportiva. Na ocasião, cercado por diversas gerações da profissão de cronista esportivo, com a qual colaborou para que viesse a ser respeitada, Armando Nogueira disse: “Meu maior prazer no Maracanã não vem de nenhum jogo, mas de subir até a tribuna de imprensa e ver o estádio lotado”. No mesmo ano ganhou a Medalha da Ordem do Mérito das Comunicações e a Medalha do Mérito Esportivo Pan-Americano. Também foi agraciado com o título de Cidadão do Estado do Rio de Janeiro pela Assembleia Legislativa.

Morte

Armando Nogueira morreu aos 83 anos, no dia 29 de março de 2010, em seu apartamento, no Rio de Janeiro. Desde 2007, lutava contra um câncer no cérebro.

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Fontes

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