Antes de se tornar músico e ator, Alexandre Nero Vieira concluiu o curso técnico de agropecuária e estudou administração de empresas por dois anos. Como perdeu os pais ainda na adolescência – Ibrahim Nero Vieira, gerente de vendas, e Iracema Peixoto Vieira, dona de casa –, o trabalho como músico foi importante, em um primeiro momento, para seu sustento; depois, permitiu que ele se relacionasse com pessoas interessantes e se desenvolvesse como artista. Lançado profissionalmente como ator em um musical, Alexandre Nero destacou-se na peça Os Leões, em 2006, o que motivou um convite para sua estreia em TV, no ano seguinte. Mesmo em papéis pequenos, em suas primeiras novelas, conseguiu reconhecimento e visibilidade. Além das novelas, o ator empresta seu talento a personagens de especiais e minisséries, dando a eles um tom humano e quase sempre bem-humorado que explica a proximidade alcançada com o público.
Início da carreira
Músico, Alexandre Nero foi lançado como ator em um musical. O teatro surgiu em sua vida para fazer o músico crescer. “Eu sentia falta de saber me posicionar no palco, de entender de luz, de figurino, cenário, de entender o meu espaço físico e me comunicar com o público, tudo isso pensando na música”, conta. Ao estudar artes cênicas, interessou-se por aquele universo e acabou convidado para fazer um teste para o musical Chicago 1930, sua estreia no teatro profissional, em 1995.
A carreira seguiu mais voltada para a veia instrumentista de Alexandre Nero, até que ele leu o texto da peça Os Leões (2006), de Diego Fortes, se encantou e decidiu participar da montagem, um sucesso de crítica. Daniel Berlinsky, produtor de elenco da Globo, assistiu ao espetáculo no Festival de Teatro de Curitiba e o chamou para atuar no especial de fim de ano Casos e Acasos (2007), de Daniel Adjafre e Marcius Melhem, que depois se tornou um programa da grade.
A Favorita
Apesar de estar em um papel secundário e de poucas falas, o processo de leitura do texto pelo elenco fez com que o ator acabasse indicado para outro papel na TV, na novela A Favorita (2008), de João Emanuel Carneiro. Seu personagem seria pequeno, mas caiu no gosto popular. Tímido, envergonhado e olhando para o chão, o Vanderlei ganhou a simpatia do telespectador e foi importante para que o ator tivesse uma nova oportunidade, em Paraíso (2009), de Benedito Ruy Barbosa.
Desta vez como Terêncio, foi dirigido por Rogério Gomes, o Papinha, um profissional que Alexandre Nero reverencia pela capacidade de criar um ambiente bom entre os atores e a equipe de produção. “A gente ficou muito amigo, viajamos para o Pantanal para começar as primeiras cenas, porque a novela se passava lá. E é impressionante, em 15 dias todo mundo era amigo de infância, todo mundo tocava violão e já tinha se transformado em peão”, relembra.
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Paraíso - 2ª Versão: Zeca, Zé Camilo e Terêncio
Novo final para Gilmar
Em seguida, o ator fez participações em dois especiais: Dó-Ré-Mi-Fábrica (2009), de Péricles Barros, e Batendo Ponto (2010), de Paulo Cursino. Ainda em 2010, voltou às novelas em Escrito nas Estrelas, de Elizabeth Jhin, já como contratado da emissora. Quando recebeu o texto do último capítulo, Alexandre Nero achou que a solução para o personagem que interpretava, o Gilmar, não espelhava bem sua personalidade. Levou essa percepção ao Papinha, diretor de Núcleo, que concordou e procurou a autora com a proposta de reformular o final. Ela aceitou a sugestão e o Gilmar mudou a reação planejada antes diante da descoberta de sua falta de caráter.
Seu papel na novela posterior, Fina Estampa (2011), de Aguinaldo Silva, abordava uma questão difícil: ele interpretou o Baltazar, um homem que batia na esposa, vivida por Dira Paes. “Eu tentei fazer um cara extremamente infeliz, um cara que queria descontar tudo na mulher, um homem de mal com a vida, ele achava que a vida dele era uma porcaria, mas a vida dele era ótima”, afirma. Ao contrário do que se esperava, o personagem acabou ganhando leveza pela relação desenvolvida com o Crô, personagem gay de Marcelo Serrado. Os dois atores resolveram fazer uma cena em que se olhavam intensamente, o que deu margem a um possível relacionamento afetivo da dupla, apesar da homofobia do Baltazar. Se na novela ficou implícito, em Crô: o Filme (2013), de Bruno Barreto, produzido em função do sucesso alcançado pelo personagem de Serrado, os dois terminam juntos oficialmente.
Na próxima novela, Salve Jorge (2012), de Gloria Perez, Alexandre Nero foi o Stênio, um homem muito diferente de Baltazar. Agora no papel de um bon vivant, encontrou aquela que julga sua grande parceira romântica na TV, a atriz Giovanna Antonelli, com quem veio a contracenar depois. Um fã clube do casal chegou a se formar para comemorar, todo ano, a partir dali, o casamento de Stênio e Helô.
O Comendador
Em 2013, atuou em uma novela das 19h, Além do Horizonte, de Marcos Bernstein e Carlos Gregório, e voltou ao horário nobre em 2014, em seu papel de maior destaque: o Comendador de Império, escrita por Aguinaldo Silva. “Esse talvez tenha sido o personagem que me deram mais tempo e estrutura para preparar. Trabalhamos com a direção, com o elenco principal, fizemos aula com Eduardo Levitche, que foi genial em nos conduzir, e chegamos ao resultado que todo mundo esperava, maravilhoso. Eu recebo mensagem do mundo inteiro por causa do Comendador”, garante.
Para viver seu primeiro protagonista, Nero precisou de um aplique no cabelo e de uma maquiagem cuidadosa, com rugas desenhadas, fruto de um processo demorado e minucioso. Na trama, pôde estar ao lado de uma parceira de cena de quem gosta, a atriz Lilia Cabral; venceu o desafio da aceitação pelo público da história de amor entre seu personagem e uma mulher muito jovem, interpretada por Marina Ruy Barbosa; e teve uma morte gloriosa, numa cena de enorme audiência que fez, ele soube depois, Milton Nascimento atrasar seu show em uma hora e meia para assistir. Império ganhou inclusive o Emmy Internacional de Melhor Novela. Em 2014, graças ao Comendador, Alexandre Nero cantou ao lado de Roberto Carlos em seu especial de fim de ano.
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Romero Rômulo
Também com êxito, Alexandre Nero foi o Romero Rômulo de A Regra do Jogo (2015), de João Emanuel Carneiro, dirigida por Amora Mautner. No papel de um presidente de ONG que finge buscar a reabilitação de presidiários mas pertence a uma facção criminosa, fez novamente par romântico de Giovanna Antonelli, desta vez em um amor bandido. E teve, como no caso do Comendador, uma cena de morte muito marcante, na qual dançava ao som de Elvis Presley.
Pelo trabalho, concorreu ao Emmy Internacional de Melhor Ator, numa disputa que acabou vencida por Dustin Hoffman. “O prêmio da novela engloba todo mundo, o do ator é só você. Só que não é só você – e isso é muito importante as pessoas saberem. Só existe aquele ator, só existe aquele personagem porque existe um bilhão de pessoas atrás dando a estrutura para que o ator possa fazer aquilo”, enfatiza.
Os programas Adnight e Amor & Sexo, da Globo, e Gentalha, exibido no Canal Brasil, foram três participações de Alexandre Nero nessa fase, fora das novelas. Em Amor & Sexo, ele se divertiu como o mal-humorado da atração, atuando como o contraponto da bancada em relação ao auditório. Em 2017, o ator esteve ao lado de Fernanda Torres, Matheus Nachtergaele e Johnny Massaro em Filhos da Pátria, uma minissérie de Bruno Mazzeo e Alexandre Machado que, de forma cômica, historiava o início da corrupção após a independência do Brasil.
Cinema e teatro
Em busca de seu grande papel em cinema, Alexandre Nero fez mais de dez filmes na carreira, entre os quais O Preço da Paz (2003), de Paulo Morelli; Corpos Celestes (2011), de Marcos Jorge e Fernando Severo; e Getúlio (2014), de João Jardim. Em teatro, onde começou, ele destaca, além de Chicago 1930 e Os Leões, a peça O Grande Sucesso (2016), de Diego Fortes, espetáculo que discute a expectativa do acerto e do êxito, a necessidade de receber parabéns. “Fazer o que eu gosto é um sucesso, estar com pessoas de quem eu gosto é um sucesso, há milhões de coisas envolvendo fracassos que são sucessos”, pontua.
Música sempre
Intercalando o trabalho de ator com a atividade musical, Alexandre Nero compõe, arranja, toca e grava desde a década de 1990. De seus discos, sublinha o Maquinaíma, de 2001, pouco conhecido do público, e o DVD Revendo Amor, de 2014. Mesmo quando atua, os sons e notas se fazem presentes. “Eu sempre estou pensando música, então nos meus textos eu sempre estou pensando no timbre da voz e na musicalidade, para que eles não fiquem num tom só”, conclui.