Por Memória Globo

Renato Velasco/Memória Globo

Alexandre Arrabal cresceu no ambiente de televisão. Todos os dias, saía da escola e ia para a TV Tupi, no Rio de Janeiro, onde seu pai trabalhava. Aos 14 anos, fez seu primeiro estágio na TV Rio. Passou em primeiro lugar no vestibular para programação visual na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio). Quando se formou, em 1982, trabalhou na TV Manchete, antes de ir para o Departamento de Artes da Globo, em 1985. Depois de uma temporada na Itália, voltou para a Globo. Em 1992, assumiu a chefia do Departamento de Artes da Central Globo de Jornalismo. Desde então, esteve à frente de inúmeros projetos inovadores.

Trabalhamos em função da notícia, buscando enriquecer a informação, surpreender, fazer uma coisa realmente nova.

Alexandre Arrabal em entrevista ao Memória Globo, 2013 — Foto: Renato Velasco/Memória Globo

Início da carreira

Nascido no Paraná, Alexandre Thadeu da Costa Arrabal mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança com a família, porque o pai, o advogado José Arrabal, assumiu o cargo de superintendente da TV Tupi, dos Diários Associados. Ele havia trabalhado em outras emissoras do grupo, em diferentes cidades do país, e havia participado da implantação da TV Coroado, em Londrina. Por isso, Alexandre cresceu no ambiente de televisão. Todos os dias, saía da escola e ia para a TV Tupi, onde ficava desenhando, enquanto o pai trabalhava. Às vezes, alguém o levava para passear pelos estúdios, e o garoto ficava fascinado. Estava destinado àquele mundo. “Sempre soube que meu trabalho teria algo a ver com artes visuais. No começo, eu pensei em ser pintor. Acho que era o mais óbvio; uma criança pensa isso. Com o tempo, fui vendo que o meu caminho era mais para o design. Ao mesmo tempo, tinha a televisão. Eu adorava televisão”, conta.

Quando se formou, em 1982, passou a trabalhar no setor de artes da TV Manchete, sob a chefia de Arlindo Rodrigues. Desenvolveu para a emissora o projeto de um departamento de arte voltado especialmente para o jornalismo. Em 1985, começou na Globo no Departamento de Artes, comandado na época por Paulo Collet. Era responsável pelos selos, mapas, reconstituições de fatos, tabelas e outros recursos visuais utilizados nos programas jornalísticos.

Dois anos depois, se mudou para a Itália. Fez um trabalho para a RAI e chegou a chefiar o departamento de arte de uma produtora em Milão. Mas Delfim Fujiwara, que assumira o cargo de Paulo Collet, o convidou para voltar para a Globo. Novamente na emissora, participou da reformulação do visual do 'Jornal Nacional'.

Foi quando a gente começou a colocar mais a mão em cenário. Nessa época, passamos a usar ilustração com fundo inteiro. Foi feita uma nova safra de selos. Houve muitas novidades na apresentação dos grafismos de eleições também. As afiliadas no Brasil inteiro usaram fundos parecidos. Nessa época começamos a trabalhar de fato com computação gráfica

Em 1990, foi mais uma vez para a Itália, mas, no final do ano seguinte, voltou à Globo com a tarefa de cuidar do visual do 'Fantástico'. Em 1992, assumiu a chefia do Departamento de Artes da Central Globo de Jornalismo, substituindo Roberto Simões. O convite foi feito por Carlos Henrique Schroder, então diretor de produção e diretor editorial do Jornalismo. “Ele me chamou na sala dele e falou que, com a informação cada vez mais rápida e ao alcance de todos, passava a ser importante não só o furo, mas também a qualidade na maneira de passar a notícia. E a qualidade significava um texto bom, mas também uma arte boa, um design adequado e requintado”, conta.

Ajudou a criar cenários novos, em 1993, para todos os telejornais locais, inclusive para os das afiliadas. Nesse mesmo ano, desenvolveu também um projeto para o 'Jornal da Globo', que incluía novos recursos gráficos, cenário e a possibilidade de deslocamento dos âncoras no estúdio. A proposta era dar um tom futurista nas formas e ilustrações. Ainda em 1993, o número de reconstituições nas matérias jornalísticas aumentou, principalmente de casos policiais. Arrabal criou, então, um subdepartamento para cuidar especialmente desse tipo de trabalho. Nessa época, era responsável também por alguns programas de entretenimento, como o reality 'No Limite' e o 'Domingão do Faustão'.

Jornal Nacional: redação como cenário (2000)

Em 2000, enfrentou um novo desafio: mudar o cenário do principal telejornal da emissora, o 'Jornal Nacional'. Não houve uma encomenda da direção. Foi uma iniciativa própria. Começou, então, a se reunir com outros diretores de arte nos intervalos do trabalho. Pensava em aproximar a estética do 'JN' do dinamismo da notícia, primando pela identificação com o público: "Montamos um grupo com pessoas que se destacavam pela criatividade. Estavam lá Flávio Fernandes, Eduardo Bernardes, Luiz Nogueira, Chico Chagas, Doris Kosminski, Helio Bueno, Gilda Rocha e Rodolpho Xavier. Fizemos várias reuniões e pesquisamos cenários de telejornais do mundo inteiro; no da NBC americana vimos uma possibilidade: a presença dos jornalistas trabalhando na redação, o que poderia ser uma alternativa".

O resultado foi inovador ao promover a união de dois tipos de cenário: um em que os apresentadores aparecem com a redação ao fundo e outro – na forma de estúdio – em que imagens são projetadas atrás deles. "Fizemos os dois. No começo do jornal, na abertura, mostramos a redação, as pessoas trabalhando, a notícia sendo preparada para ir ao ar. Quando para o passeio da câmera, o que acontece? Você está como se estivesse no meio do estúdio. Com a redação ao fundo, fatalmente, você perde uma notícia porque alguém levantou e você olhou o que a pessoa estava fazendo. No 'Jornal Nacional', queríamos algo novo, sem distrair a atenção do público".

Novo cenário do 'Jornal Nacional', que passou a ser apresentado de dentro da redação. 'Jornal Nacional', 26/04/2000.

Novo cenário do 'Jornal Nacional', que passou a ser apresentado de dentro da redação. 'Jornal Nacional', 26/04/2000.

Fantástico

Na década de 2000, o 'Fantástico' passou por várias mudanças estéticas. A primeira, em 2003, foi no cenário. A bancada foi abolida, e os apresentadores começaram a caminhar entre placas e módulos com o logotipo do programa. No ano seguinte, foi criada a Eva Byte, a primeira apresentadora virtual da televisão. “Foi surpreendente. Fez bastante sucesso e foi um diferencial para a época”, conta.

Em 2008, o aniversário de 35 anos do programa também trouxe novidades. As principais foram os recursos tecnológicos de interação e o uso do painel multitouch. Em 2012, quando completou 2000 edições, o 'Fantástico' teve seu cenário completamente iluminado com cores e telas de vários tamanhos, inclusive no piso. Com a colaboração de artistas plásticos, como Vik Muniz, Beatriz Milhazes e Carlos Vergara, foram criadas vinhetas comemorativas.

No dia 27 de abril de 2014, o 'Fantástico' inaugurou um novo estúdio, integrando toda a operação do programa em um ambiente de 500 m². Com redação e cenário unidos, o espaço é palco das atrações de domingo, transformando-se durante a semana em uma arena para entrevistas e reuniões de pauta. No novo cenário, um telão de 25 m² cria novos ambientes virtuais; e uma tela vertical sensível ao toque permite a interação dos apresentadores com o conteúdo. A transformação foi acompanhada de uma nova vinheta de abertura que mistura dança e arte gráfica; além de um novo formato de jornalismo, mais interativo, que preza a mobilidade e o dinamismo.

Projeto gráfico premiado

O projeto gráfico do 'Jornal Nacional' foi lançado em 2017, junto com a inauguração do novo prédio da Redação de Jornalismo da Globo, no Rio de Janeiro. A partir dele, recursos gráficos do estúdio ganharam efeitos 3D e as artes projetadas podem ser vistas por diferentes perspectivas, de acordo com a movimentação das câmeras.

Estreia do novo cenário do 'Jornal Nacional' com apresentação de William Bonner e Renata Vasconcellos, 'Jornal Nacional', 19/06/2017.

Estreia do novo cenário do 'Jornal Nacional' com apresentação de William Bonner e Renata Vasconcellos, 'Jornal Nacional', 19/06/2017.

No dia 10 de abril de 2018, pelo quarto ano consecutivo, o time da Arte do Jornalismo e Esportes da Globo foi premiado pelo New York Festivals, que reconhece os melhores do mundo nas campanhas de publicidade e programação. O projeto gráfico e cenográfico do novo 'Jornal Nacional' ganhou medalha de ouro na categoria Melhor Uso da Tecnologia. Em entrevista ao 'Conexão', veículo de comunicação interna da Globo, Alexandre Arrabal comentou: “As inovações são sempre pensadas para estarem a favor da notícia, complementando apresentação talentosa dos âncoras, que interagem com os gráficos, correspondentes e apresentadores do tempo”.

Nesse novo espaço, precisávamos de uma nova casa para o 'JN'. Ele continuaria a ser apresentado com a redação ao fundo, mas mudanças precisavam ser feitas. Queríamos construir algo inteiramente novo, diferente de todos os telejornais do mundo. Com apoio do Ali Kamel e de toda a direção da Globo, começamos do zero. Depois de muita discussão tivemos uma ideia: inserir o cenário no centro da redação, irradiando notícias para o Brasil e o mundo. A ideia era trazer modernidade, ao retratar o tempo hiperconectado em que vivemos.

Enquanto esteve à frente do Departamento de Artes do Jornalismo e Esporte da Globo, Arrabal cuidou também do visual das transmissões de Carnaval e de toda a GloboNews, canal de noticias 24 horas no ar. Em parceria com o Entretenimento, foi responsável pela programação estética de programas como 'Big Brother Brasil', 'Mais Você', 'Programa do Jô' e 'Altas Horas'. Em 2019, como resultado do programa 'Uma Só Globo', Arrabal passou a integrar a área de Tecnologia, liderando o hub de Ilustração e Arte de toda a Globo.

Arrabal deixou a empresa em abril de 2023.

Fontes

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