Por Memória Globo

Acervo/Globo

Alberico de Sousa Cruz viveu na fazenda da família até os sete anos. Mudou-se para Belo Horizonte para concluir seus estudos, entrou para a faculdade de direito, mas, logo em seguida, trocou pelo jornalismo. Começou a carreira como repórter no Jornal da Cidade, que tinha o escritor Roberto Drummond como editor. Passou por diversos veículos na capital mineira, em Brasília e no Rio de Janeiro, até entrar na Globo, em 1980, quando foi convidado por Armando Nogueira para ser o diretor de jornalismo da emissora em Minas Gerais. “Nos primeiros seis meses, eu fiquei mais tempo no Rio de Janeiro do que em Belo Horizonte: eles sempre me requisitavam para substituir alguém que saía de férias”, lembra. Dois anos depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro, tornando-se diretor de telejornais comunitários da Central Globo de Jornalismo. Em 1990, Alberico de Souza Cruz tornou-se diretor da Central Globo de Jornalismo.

Uma coisa que me marcou dentro da Globo, foi o profissionalismo das pessoas.
Entrevista exclusiva de Alberico de Sousa Cruz ao Memória Globo, em 15/05/2003, sobre sua experiência como diretor de Jornalismo e Esporte da Globo.

Entrevista exclusiva de Alberico de Sousa Cruz ao Memória Globo, em 15/05/2003, sobre sua experiência como diretor de Jornalismo e Esporte da Globo.

Primeiro à frente dos telejornais de rede, de 1987 a 1990, depois como diretor da CGJ, Alberico de Sousa Cruz participou de um período decisivo para o país. Foram anos intensos para o Jornalismo, que ganhava mais peso frente aos desafios da abertura democrática e econômica. Além disso, conflitos e mudanças globais mobilizavam os correspondentes da emissora ao redor do mundo. Tendo vindo da mídia impressa, apaixonou-se pela televisão.

Televisão é coisa séria, mas há situações engraçadíssimas em seus bastidores.

Alberico de Sousa Cruz. Foto: Rodolpho Machado. — Foto: Acervo pessoal Neusa Rocha.

Início da carreira

Alberico de Sousa Cruz nasceu em 6 de maio de 1938, em Abaeté, Minas Gerais. Viveu na fazenda da família até os sete anos. Mudou-se para Belo Horizonte para concluir seus estudos cerca de quatro anos depois. Ainda estudante secundarista, ligou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi eleito presidente da União Colegial de Minas Gerais.

Entrou para a faculdade de direito, mas, logo em seguida, trocou-a pelo jornalismo. Ainda em Belo Horizonte, começou a trabalhar como repórter no Jornal da Cidade, que tinha o escritor Roberto Drummond como editor. “O Roberto me deu uma missão que quase que acabou com a minha carreira, que era entrevistar um técnico de futebol chamado Yustrich [Dorival Knipel], que não gostava de jornalista. Com aquela missão, fui até o Yustrich e tentei três, quatro dias. Ele me tratava mal, foi uma coisa meio complicada que quase me desviou da profissão. Mas finalmente consegui. O Yustrich disse: Vou dar a entrevista porque se não você não me larga.”

Em seguida, trabalhou no jornal Binômio, dirigido por José Maria Rabelo e Euro Arantes, e na sucursal mineira da Última Hora – ambos os jornais seriam fechados logo após o golpe militar de 1964. “Na Última Hora, eu aprendi a fazer o pouco que sei em termos de jornalismo, com Celso Japiassu, Roberto Drummond, uma equipe muito boa. Eu era repórter de polícia, e meu chefe era uma figura admirável, o Fernando Gabeira”.

Ainda na capital mineira, trabalhou nas sucursais do Jornal do Brasil e da revista Manchete. Em meados dos anos de 1960, participou da implantação da sucursal do jornal Última Hora em Brasília. Em 1966, foi convidado pelo jornalista Henrique Caban para participar da implementação da revista Veja. Chegou a se mudar para São Paulo a fim de participar do projeto, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde assumiu a chefia da sucursal da revista. “Fiz parte da primeira equipe da revista Veja, mas em posição absolutamente secundária. Eu participava do grupo, mas não do comando. Eu era o chefe em Minas, nada mais”, analisa. Em 1972, mudou-se para o Rio de Janeiro para dirigir O Jornal, dos Diários Associados. Em seguida, trabalhou no Jornal do Brasil.

Entrada na Globo

A entrada na Globo ocorreu em 1980, quando foi convidado por Armando Nogueira para ser o diretor de jornalismo da emissora em Minas Gerais. “Nos primeiros seis meses, fiquei mais tempo no Rio de Janeiro do que em Belo Horizonte: eles sempre me requisitavam para substituir alguém que saía de férias”, lembra. Dois anos depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro, tornando-se diretor de telejornais comunitários da Central Globo de Jornalismo.

Ao longo dos anos na Globo, participou de importantes coberturas jornalísticas, como a das eleições de 1982, o primeiro pleito direta para governador de estado após a instauração do regime militar. “Nós resolvemos cobrir, muito direito, a eleição de 1982. Viajei com o [Henrique] Caban pelo Brasil inteiro, implantando o modelo que nós iríamos fazer. Mobilizamos talvez a maior equipe de toda a televisão brasileira, viajando e montando um centro de produção em cada estado: um centro encarregado só da apuração; outro, só do conteúdo. Foi uma coisa muito bonita, interessante”, conta Alberico.

O jornalista também participou diretamente da cobertura da campanha pelas Diretas Já e a da morte do presidente eleito Tancredo Neves, em 1984 e 1985. “Do ponto de vista jornalístico, eu acho que essa foi a grande arrancada da Globo”, avalia.

Assumiu o cargo de diretor de telejornais de rede, em 1987, substituindo Woile Guimarães. Dois anos depois, comandou a cobertura das eleições de 1989, quando, após 29 anos, o eleitor voltava a escolher o presidente da República pelo voto direto. “Foi uma época riquíssima, talvez seja uma das melhores coberturas que nós já fizemos. O Brasil estava muito dividido naquele momento, e você tinha uma presença muito grande de participação política dentro das redações”, relembra.

Em abril de 1990, a cúpula da Central Globo de Jornalismo foi reestruturada. Alberico de Sousa Cruz substituiu Armando Nogueira na diretoria da CGJ até 1995, quando deixou a emissora. Desta época, destaca a cobertura da Guerra do Golfo (1991): “Resolvemos investir na Guerra do Golfo. Mandei gente pra tudo quanto é lado, cobrimos a guerra como qualquer televisão americana estava cobrindo. Foi um sucesso. Tinha o [Carlos] Dornelles em Tel Aviv; o [Pedro] Bial [do Iraque], Silio Boccanera [de Amã, na Jordânia], Paulo Henrique Amorim [De Nova York]. Todo mundo participando da cobertura.”

Alberico também esteve à frente da cobertura de um dos eventos que mais emocionou o Brasil: a morte do piloto Ayrton Senna, em 1994. “Acompanhamos desde o primeiro minuto, em uma cobertura irrepreensível”, comenta.

A primeira mulher no Jornal Nacional

Em 1992, pela primeira vez, uma mulher assumiu a bancada do Jornal Nacional, o principal telejornal da Globo. Valéria Monteiro já havia apresentado outros telejornais da emissora e, o que foi sentido com muito espanto pelo público, foi uma decisão natural para Alberico. “Em um sábado em que um dos apresentadores teve um contratempo, decidi colocá-la no ar. No dia seguinte, choveram ligações para elogiar a iniciativa. Todo mundo pensa que fizemos pesquisas e várias reuniões antes de tomar essa decisão. Não aconteceu nada disso”, conta.

Após sair da Globo, tornou-se sócio de um canal de TV a cabo regional (canal 15), da Rede de Televisão Comunitária e da Brasil Telecomunicações. Em 2001, assumiu a superintendência de jornalismo da Rede TV!, cargo no qual permaneceu até julho de 2002, quando se aposentou. “Hoje eu cuido das minhas fazendas – adoro fazenda, gado. E vou à praia. Eu consegui ser sertanejo e homem do mar. Quer dizer, consegui o que queria na vida”, conclui.

Alberico de Sousa Cruz morreu, aos 84 anos, em 10 de maio de 2022. Ele estava internado em uma clínica no Rio de Janeiro, devido a complicações de uma leucemia, diagnosticada alguns meses antes.

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