Nem a educação rígida em colégio militar, nem o ambiente familiar de contestação política, impediu Agildo Ribeiro de seguir o sonho de fazer humor. Agildinho, como era conhecido quando criança, foi sensação dos colegas pelas imitações bem feitas de professores e figuras políticas, e acreditava desde aquela época que “nasceu para ser artista”. Para ele, o humorista precisa se inspirar na realidade para fazer graça. “Eu sou muito observador, tenho um ouvido incrível. Tenho mania de imitar os outros e a imitação é o caminho inicial para fazer um tipo”. Sua carreira como ator começou no teatro de revista e seus tipos fizeram sucesso na rádio. Na Globo, estrelou shows e programas humorísticos desde os anos 1960, como 'Chico City' (1973), 'Satiricom' (1973), 'Planeta dos Homens' (1976), 'Estúdio A… Gildo' (1982), 'Escolinha do Professor Raimundo' (1999), 'Zorra Total' (1999) e o novo 'Zorra' (2015).
Infância e início da carreira
Agildo da Gama Barata Ribeiro Filho era descendente de uma família de políticos e militares, no Rio de Janeiro. Seu pai, o oficial do exército Agildo Barata Ribeiro, participou do movimento tenentista e da Revolução de 1930. Seu tio-avô, Cândido Barata Ribeiro, foi o primeiro prefeito do Distrito Federal – na época, a cidade do Rio de Janeiro. Após a Revolução Constitucionalista de 1932, sua família exilou-se em Portugal, onde Agildo Ribeiro viveu seus primeiros anos. Lá, ele conta que aprendeu a falar com uma babá portuguesa, por isso, tinha sotaque lusitano. Quando retornou ao Rio de Janeiro, a família achava graça. “Todo mundo morria de rir quando eu abria a boca. E eu pensava: vou ganhar dinheiro com isso quando eu crescer”.
Na escola, ele era o rei das imitações. Aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro, Agildo imitava professores, colegas e líderes políticos. Era o “palhaço da turma”. “Esse micróbio do humor, da sátira, da gozação, da brincadeira, foi o carioquismo. Sou carioca demais, imitava professor e, depois, o artista”. Seu maior ídolo? O humorista popular Oscarito, por quem nutria grande admiração.
Em busca de fazer os outros rirem, Agildo investiu na carreira artística. Saiu do colégio militar direto para o Teatro do Estudante, criado por Paschoal Carlos Magno em 1938, e iniciou a carreira de ator. Em sua primeira peça, 'Joãozinho Anda pra Trás' (1953), de Lúcia Benedetti, Agildo Ribeiro contracenou com Consuelo Leandro, Oswaldo Loureiro, Glauce Rocha e Sérgio Cardoso. Fez sua estreia como ator profissional no teatro de revista, com o grupo Teatro Follies de Zilco Ribeiro, na peça 'Doll Face' (1954), originalmente escrita por Gypsy Rose Lee.
Humor na televisão
A ida de Agildo Ribeiro para a televisão está diretamente associada a seu sucesso no teatro. Graças à sua interpretação do personagem João Grilo, em 'O Auto da Compadecida' (1957), de Ariano Suassuna, recebeu diversos convites para que participasse de entrevistas, esquetes e programas de humor.
Junto com Marília Pêra, com quem era casado na época, e Augusto César Vannucci, Agildo Ribeiro foi um dos primeiros artistas contratados pela Globo, inaugurada em abril de 1965. Lançou na televisão seu 'Forrobodó', um musical baseado na peça escrita por Chiquinha Gonzaga na década de 1910. Esse especial foi exibido como episódio do programa 'Musicalíssima', em 1965. Na Globo, até 1967, Agildo Ribeiro também podia ser visto em pequenas vinhetas que fazia ao vivo, anunciando a programação da emissora. É dessa época a criação de seu bordão “Um momento! Um minuto para o próximo programa”, razão pela qual ganhou o apelido de “Um Minuto”.
Na emissora, o humorista integrou o elenco de programas pioneiros, como o seriado 'TNT' (1965), que contava a história de três jovens modelos. Agildo interpretava um repórter, cuja secretária era vivida pela então estreante Betty Faria. Já em 'Bairro Feliz' (1966), humorístico escrito por Haroldo Barbosa e Max Nunes, satirizava fatos do cotidiano ao lado de nomes como Grande Otelo, Milton Gonçalves, Emiliano Queiroz e Berta Loran. Também atuou em 'Riso Sinal Aberto' (1966) e em 'TV0-TV1' (1967), ambos escritos pela dupla Haroldo Barbosa e Max Nunes.
Em 'TV0-TV1', uma sátira da televisão brasileira, Agildo e Paulo Silvino se desdobravam em vários personagens. “A gente fazia uma crítica, às vezes, muito incisiva à televisão. O 'TV0' cresceu muito. Tinha uma sátira toda em cima dos candidatos, e brincava muito com o apresentador Flavio Cavalcanti, com as outras emissoras, novelas, com o Chacrinha. Tudo sátira, muito engraçado”.
Webdoc humor - TV O - TV 1 (1966)
O humorista participou da adaptação para a televisão do humorístico 'Balança, mas Não Cai', um grande sucesso radiofônico, exibido na Rádio Nacional de 1957 a 1967. Dirigido por Lúcio Mauro, o programa estreou na Globo em 1968, com apresentação de Augusto César Vannucci e um cenário rotatório, dividido em quatro partes – cada uma com um esquete diferente. Em 1972, o programa voltou ao ar com apresentação de Paulo Silvino.
'Mister Show'
Com 'Mister Show', programa de auditório que apresentou ao lado do ratinho falante Topo Gigio, de 1969 a 1970, Agildo tornou-se conhecido no Brasil inteiro. Seu esquete de maior sucesso era aquele em que interpretava um solícito ascensorista, que, a pretexto de ajudar belas mulheres, permitia a superlotação do elevador.
Depoimento - Agildo Ribeiro: Mister Show (1969)
Em uma tentativa de reunir artistas como Paulo Silvino, Luiz Carlos Miele e o próprio Agildo Ribeiro, os diretores Augusto César Vannucci, Walter Lacet e Paulo Araújo criaram, em 1972, o humorístico 'Uau, a Companhia'. Era o embrião de 'Satiricom' (1973), primeiro programa da Globo a satirizar exclusivamente a programação da própria emissora. Na mesma linha do 'Balança Mas Não Cai', três anos depois, o humorista se juntou a atores como Roberto Azevedo, Stênio Garcia e Clarice Piovesan em 'Planeta dos Homens' (1976).
Um dos personagens mais famosos do programa era o professor de mitologia Aquiles Arquelau (Agildo Ribeiro). Toda semana, o professor, confortavelmente instalado em uma cadeira, contava uma passagem mitológica aos telespectadores. Como se tratava de um tarado, não raro se desviava dos temas centrais de sua história para se deter em particularidades picantes, como a descrição física minuciosa de algumas escravas ou deusas. Também frequentemente inseria a imagem da atriz Bruna Lombardi, por quem era especialmente obcecado. Nesses momentos, era sempre interrompido pela campainha do mordomo (Pedro Farah), o que o levava a exclamar irritado: “Para com essa campainha, sua múmia paralítica!”. Outro bordão, o “Coisa horrorosa!”, com que Arquelau pontuava suas frases, também fez muito sucesso.
O Planeta dos Homens: Aquiles Arquelau e a "múmia paralítica"
Para Agildo Ribeiro, o humorístico foi um verdadeiro exercício de criatividade: escrito por Max Nunes e Haroldo Barbosa, o programa driblava a censura com ironia, não apenas para fazer graça, mas também para expressar uma posição política. “Era uma sátira à política brasileira muito intensa. Todo mundo ficava extasiado. Acho que foi o maior programa de humor feito no Brasil.”
'Estúdio A… Gildo'
Em 1982, estreou 'Estúdio A… Gildo' com direção de Augusto César Vannucci e Adriano Stuart. Era a primeira vez que Agildo Ribeiro assinava seu próprio programa humorístico. Baseado nos grandes espetáculos do teatro de revista, sempre entrecortado por números musicais e participações especiais, 'Estúdio A… Gildo' representou um desafio especial para o artista, já que ele não podia explorar plenamente o recurso dos bordões. “O programa tinha o pecado de ser mensal. Se você perdia um dia, ficava dois meses sem me ver. Então, o bordão, que é uma das chaves da gente, a repetição, eu não tinha chance de fixar”.
'A Festa é Nossa' estreou em 1983, sob a direção de Lúcio Mauro. O humorístico tinha influência no humor inglês – o argumento era a vida de um milionário, interpretado por Agildo Ribeiro, que, entediado, costumava fazer festas em sua cobertura. Em um único cenário com vários ambientes, o programa reunia um elenco de humoristas, atores e modelos, contando com a participação especial de artistas plásticos, atletas e políticos.
No ano seguinte, o ator participou de 'Humor Livre', antes de desligar-se da televisão para se dedicar ao teatro. Nessa fase, atuou em 'Vou Querer Também Senão Eu Conto pra Todo Mundo' (1984), peça que escreveu em parceria com Gugu Olimecha e cuja montagem teve a direção de Oswaldo Loureiro.
Décadas de 80 e 90
Agildo Ribeiro voltou à Globo em 1985, quando fez sua primeira novela, 'De Quina pra Lua', de Alcides Nogueira, como o distraído professor Cagliosto. Em 1987, acompanhou o diretor Augusto César Vannucci e transferiu-se para a TV Bandeirantes, onde estrelou 'Agildo no País das Maravilhas', programa de sátira política encenado com ventríloquos. Em 1989, agora sob o nome 'Cabaré do Barata', o programa passou a ser exibido pela TV Manchete. Na década de 1990, Agildo Ribeiro trabalharia também no SBT, com o humorístico 'Não Pergunta que Eu Respondo' (1993).
Em 1994, Agildo Ribeiro mudou-se para Portugal, onde permaneceu por dois anos e apresentou o programa 'Isto é o Agildo', com direção de Fernando Ávila, no canal RTP 1.
Anos 2000
Em 2005, Agildo voltou a atuar em telenovelas, interpretando o personagem Coriolano em 'A Lua Me Disse', de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Também participou de vários episódios da segunda versão do 'Sítio do Picapau Amarelo', que estreou em 2001. Em 2010, integrou o elenco da novela 'Escrito nas Estrelas', de Elizabeth Jhin, como Durvalino, e na minissérie 'As Cariocas', dirigida por Daniel Filho, como Alberto.
Cinema
Em 1955, Agildo Ribeiro estreou no cinema, atuando em 'Angu de Caroço', de Euripides Ramos. Ao longo de sua carreira, participou de mais de 30 filmes, principalmente nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Entre seus maiores sucessos estão: 'Esse Rio que Eu Amo' (1962), com direção de Carlos Hugo Christensen; 'O Pai do Povo' (1976), dirigido por Jô Soares; e 'A Casa da Mãe Joana' (2008), de Hugo Carvana.
'Zorra Total'
Ao longo da carreira, Agildo Ribeiro participou de vários momentos do humorístico 'Zorra Total', desde a estreia do programa, em 1999.
Em janeiro 2012, atuou ao lado de Alcione Mazzeo no quadro 'Metrô Zorra Brasil'. No programa, também interpretou com sucesso personagens como o professor português Laércio Falaclaro e uma paródia do presidente venezuelano Hugo Chávez, entre outros. “O Zorra era moleque, tinha várias opções de humor, então não cansava, era diversificado ao extremo e todo mundo gostava. Gostei de todos os meus personagens”. Entre eles, estava uma reedição do personagem Aquiles Arquelau, antológico professor de mitologia, criado no humorístico 'O Planeta dos Homens' (1976), inspirado em seu professor de teatro na vida real. Em 2015, o 'Zorra Total' foi reformulado e passou a se chamar apenas 'Zorra'. Com a nova linguagem, trouxe esquetes, cenas externas e também novos humoristas. Agildo participou desse processo.
Livros
Em 2004, Agildo Ribeiro e Paulo Silvino publicaram juntos o livro de piadas 'Dose Dupla', lançado pela Ediouro. E em 2007, aos 75 anos de idade e 50 de carreira, Agildo Ribeiro assistiu ao lançamento de sua biografia pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 'Agildo Ribeiro: o Capitão do Riso', com 30 horas de entrevistas organizadas e editadas pelo jornalista e diretor de cinema Wagner de Assis.
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O ator morreu aos 86 anos, no dia 28 de abril de 2018. Ele sofria de problemas cardíacos.
FONTE:
Depoimento concedido ao Memória Globo por Agildo Ribeiro em 06/12/2001. |