O capixaba Afonso Garschagen sempre gostou de esportes, mas não imaginava que seria jornalista esportivo. Só três anos após entrar na faculdade de Direito sentiu o desejo de mudar seu rumo profissional e cursar Jornalismo. Uma vez encontrado o caminho, no entanto, a trajetória foi segura. Em 2000, entrou como estagiário no SporTV e, em 2003, foi contratado pela Globo como editor do noticiário esportivo no 'RJTV2' e no 'Jornal da Globo'. Em 2005, foi para o 'Bom Dia Brasil' e teve
um importante papel na renovação de linguagem do conteúdo esportivo exibido pelo telejornal. Três anos depois, foi convidado a integrar a equipe do Globo Esporte, onde rapidamente se tornou editor-chefe. Desde então, participou das coberturas dos principais eventos esportivos, com desafios como a condução de programas especiais, e ainda teve uma breve experiência como editor-chefe do 'Esporte Espetacular'. Com a integração de todas as plataformas de conteúdo esportivo do Grupo Globo, tornou-se gerente de programas, em 2017.
Início da carreira
Capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, Carlos Afonso Gonçalves Garschagen nasceu em 3 de abril de 1977. Por três anos, cursou a faculdade de Direito, talvez influenciado pela mãe, Helena Gonçalves, funcionária do Tribunal Regional do Trabalho. Mas, quando o curso começou a se distanciar da teoria e entrou em estudos de direito processual, perdeu o interesse e percebeu que seu caminho era outro, mais parecido com o do pai, Donaldson Magalhães Garschagen, tradutor, redator e diretor da Enciclopédia Britânica do Brasil. Afonso Garschagen decidiu estudar Comunicação Social, para trabalhar como jornalista. Mais especificamente: jornalista esportivo.
Durante o curso, em 2000, ele conseguiu um estágio no SporTV. A redação do canal à época era ainda bem pequena: ocupava três pequenas salas na sede da Globosat na rua Itapiru, no bairro carioca do Rio Comprido. A experiência em programas como o SporTV News e o Dossiê SporTV abriu portas para entrar na Globo. Começou cobrindo férias de um editor responsável por notícias esportivas no 'RJTV2' e no 'Jornal da Globo'. Contratado em seguida, no ano de 2003, ficou nos dois telejornais até 2005, quando passou a editor no 'Bom Dia Brasil'.
Novas linguagens
Com o apoio do então editor-executivo, Miguel Athayde, e a participação decisiva do apresentador Tadeu Schmidt, Afonso Garschagen contribuiu para uma mudança de linguagem. O esporte, no 'Bom Dia Brasil', passou a ter tratamento mais leve e criativo. “O Tadeu, com uma vontade louca de fazer coisas diferentes, de inovar, de sair da mesmice, me cobrou e me fez caminhar junto. Foi um momento de mudança no meu patamar como editor”, acredita. Os gols da rodada deixaram de ser apresentados linearmente, com a tradicional descrição da jogada, para ganharem textos saborosos e uma edição de imagens diferente. Essa experiência foi levada depois para o ´'Fantástico'. Ao lado de outros três editores, Afonso Garschagen preparava surpresas bem-humoradas para o final do programa, quando os gols são exibidos.
Com o fim da Olimpíada de Pequim, em 2008, o diretor-executivo do Esporte à época, João Pedro Paes Leme, convidou o jornalista a integrar a equipe do Globo Esporte do Rio de Janeiro. Em pouco tempo, tornou-se editor-executivo e, logo a seguir, com a saída do jornalista Tino Marcos, envolvido em outro projeto na emissora, editor-chefe. Bem-recebido pelos colegas de edição no novo cargo, Afonso Garschagen usou os gols do 'Fantástico' como inspiração para fazer um programa com uma linguagem mais divertida, mais solta, baseada em roteiros mais elaborados.
Durante os oito anos em que foi editor-chefe, o jornalista participou da criação da agência Globo Esporte – cuja atribuição era reunir o material de diversas praças e distribuir as melhores reportagens para exibição – e viabilizou a realização de quadros e séries que fizeram bastante sucesso. O 'Cafezinho com Escobar', ideia do editor Camilo Machado, transformou-se em uma marca do programa, pela descontração, a integração com os torcedores e as paródias musicais durante a conversa sobre a atuação dos grandes times cariocas. Também com muito êxito, o Inacreditável Futebol Clube é uma forma engraçada de mostrar gols perdidos por jogadores de todo o país. A maioria dos “artilheiros” se diverte tanto vestindo a camisa quanto os torcedores. “A gente fez vários quadros superinteressantes e séries que me deixam feliz, como Os Cariocas, uma paródia, com toda a liberdade poética, daquela série, As Brasileiras”, relembra.
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Grandes eventos
Em sua trajetória no 'Globo Esporte', Afonso Garschagen vivenciou de perto eventos esportivos históricos. Em 2010, foi parceiro do repórter Régis Rösing em entrevistas com a torcida na África do Sul. Em 2014, no Brasil, foi responsável pelo 'Central da Copa'. Entre as atrações do programa, chamou atenção um boneco-caricatura do jogador Messi. Tratava-se de um ‘mecatronic’ – com rosto (na verdade, uma máscara) todo operado por controle remoto – criado pelo cartunista Ique e vestida pelo ator Nizo Neto. Quando foi a vez da Copa da Rússia, em 2018, Afonso Garschagen coordenou de Moscou programas ancorados diretamente do estúdio montado na Praça Vermelha, para a Globo e o SporTV.
Central da Copa: Enquete
Em outro evento marcante em sua carreira, a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, ele liderou as 15 edições da 'Balada Olímpica', programa apresentado pelo judoca Flávio Canto e a jornalista Carol Barcellos. Os dois entrevistaram, durante as madrugadas, medalhistas olímpicos e nomes importantes do esporte. No mesmo ano, contudo, Afonso Garschagen precisou lidar com a tristeza de perder companheiros de trabalho no acidente com o avião que levava o time da Chapecoense e jornalistas para a Colômbia. Um documentário sobre a tragédia, A Lenda Condá, foi produzido pouco depois, em 2017. “Ficou superbonito, belíssimo, o documentário feito pelo SporTV. E a gente exibiu, em blocos, no Esporte Espetacular, como homenagem”, conta.
A Lenda Condá - Parte 2
Novos desafios
Ainda em 2017, Afonso Garschagen tornou-se editor-chefe do Esporte Espetacular. Acostumado a programas diários, teve a oportunidade de trabalhar com outro formato, mais aprofundado, que exigia planejamento de longo prazo. Uma de suas iniciativas no novo cargo foi buscar um maior equilíbrio entre as grandes reportagens, mais frias, e as notícias mais quentes da semana. “Ninguém faz, na televisão brasileira, o que o Esporte Espetacular faz: reportagens de fôlego com produção, capricho, edição. Ninguém faz. Eu tenho muito orgulho do trabalho que realizei. Cheguei com muitas ideias, chancelando, aprovando, puxando a turma. Mas esse trabalho vem de muito antes de mim”, ressalta.
A experiência como editor-chefe do Esporte Espetacular durou apenas 18 meses – quando foi promovido a gerente de programas. O jornalista passou a atuar em uma nova estrutura, que passava a integrar as equipes da TV aberta, do SporTV e do GE.com, com o desafio de liderar programas de variedades, como o próprio Esporte Espetacular, na Globo, como também o Bem, Amigos, Redação e Seleção, entre outros, no SporTV. “Agora, precisamos levar as ideias à produção. Vou lá e digo: ‘Quero criar uma série ou uma reportagem assim, assado.’ E a gente vai se ajustando às possibilidades de entrega da melhor maneira possível. É uma maneira diferente de trabalhar, mais enxuta, mais objetiva”, afirma.
FONTE:
Depoimento de Afonso Garschagen ao Memória Globo em 12/11/2018. |