O primeiro episódio do ‘Linha Direta Justiça’ a apresentar a reconstituição de um crime político foi ao ar no dia 27 de novembro de 2003, com a controversa morte da estilista Zuzu Angel, num acidente de carro considerado, mais tarde, um atentado político. Zuzu Angel era um incômodo para vários setores do governo militar desde que seu filho Stuart, integrante de um dos muitos movimentos de estudantes que partiram para a luta armada contra a ditadura, havia sido torturado e morto na Base Aérea do Galeão, em 1971. Ela fez o que pôde para denunciar a ação dos militares: escreveu às autoridades brasileiras e estrangeiras, distribuiu panfletos contra a ditadura exigindo justiça e lançou coleções com estampas de anjos que faziam alusão ao filho morto.
Na noite de 14 de abril de 1976, voltando para casa ao volante do seu Karmann Ghia, Zuzu Angel sofreu um acidente na saída do túnel que leva a São Conrado, no Rio de Janeiro. A versão oficial foi a de que ela dormira na direção. Constantemente ameaçada de morte em telefonemas anônimos, a estilista deixara um bilhete responsabilizando os militares caso morresse repentinamente em um acidente.
Primeiro bloco do programa 'Linha Direta Justiça' sobre o caso Zuzu Angel, 01/06/2006.
Em 1988, por decisão da Comissão de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça, os militares foram considerados culpados pela morte da Zuzu Angel. A Comissão admitiu, após a apresentação de vários indícios e do depoimento de uma testemunha ocular, que o carro da estilista havia sido propositalmente interceptado por outro na saída do túnel, provocando a colisão. Hoje, o túnel leva o nome de Zuzu Angel.
Dirigido por Edson Edermann, o episódio do ‘Caso Zuzu Angel’ teve Zezé Polessa no papel da estilista. No elenco também estavam, entre outros, os atores Mateus Solano – que interpretou Stuart Angel –, Georgiana Góes e Sérgio Mox. Para refazer o álbum de família de Zuzu Angel, a produção pesquisou jornais e arquivos da década de 1970. O programa contou ainda com os depoimentos da jornalista Hildegard Angel – filha de Zuzu –; do jornalista Zuenir Ventura; do então ministro da Defesa, José Viegas; e da cineasta Lucia Murat, que fez parte do grupo estudantil de Stuart e viveu clandestinamente durante a ditadura.
Nenhum dos envolvidos que poderiam representar o ponto de vista dos militares quis falar ao programa.