Por Memória Globo

Acervo/Globo

Em 1969, ano de estreia do ‘Jornal Nacional’, a televisão ainda era em preto e branco. Os apresentadores Hilton Gomes e Cid Moreira ficavam sentados atrás de uma bancada, tendo como moldura uma tapadeira com várias cópias da logomarca do telejornal. Essa, por sua vez, era composta pelo ‘JN’ acompanhado pelo globo terrestre com seus hemisférios, então símbolo da emissora.

Cid Moreira e Hilton Gomes na bancada do Jornal Nacional, 1971. — Foto: Ronaldo Fonseca/Agência O Globo

Com o slogan “A notícia unindo setenta milhões de brasileiros”, o ‘JN’ exibia, em sua abertura, imagens de acontecimentos e personalidades importantes.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1969

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1969

‘The Fuzz’, peça composta pelo norte-americano Frank De Vol para o filme ‘The Happening’, de 1967, tornou-se o tema de abertura do ‘JN’. Sofreu algumas alterações ao longo dos anos, mas nunca foi trocado.

Ainda em seus primeiros anos no ar, o cenário do ‘JN’ foi alterado, passando a ter um fundo mais neutro, apenas com uma logomarca do telejornal atrás de cada um dos apresentadores.

Sérgio Chapelin no estúdio do 'Jornal Nacional', anos 1970 — Foto: Audyr Tavares/Globo

Em 1972, o slogan do ‘JN’ passou a ser “Três anos de liderança integrando o Brasil através da notícia”. Produzida em cores, mas vista pelo público em preto e branco, a vinheta ganhou mais dinamismo e exibia os créditos com o nome dos profissionais responsáveis pelo telejornal sobre a logomarca da emissora, abandonando as cenas documentais.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1972

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1972

Em 1975, o azul, o amarelo e o laranja coloriam a vinheta do telejornal, que seguiu trazendo os créditos dos responsáveis pela produção. Ao final, a logo era replicada em múltiplas cores.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1975

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1975

Nessa época, por conta da introdução da cor, foram necessárias algumas adaptações no cenário e no figurino para o uso adequado do chroma-key. No ‘Jornal Nacional’, técnicos e iluminadores precisaram mudar o tom de azul do chroma para ajustar os recortes, e os apresentadores passaram a não usar camisas brancas e ternos de cores que pudessem se misturar ao azul.

No começo, empolgados com a novidade, os apresentadores ousavam nas cores e nas padronagens dos ternos. Cid Moreira lembra que chegou a usar paletós verdes, cor de abóbora e quadriculados. Em 1975, a direção de jornalismo da Globo designou um profissional especializado para escolher as roupas que os locutores e repórteres deveriam usar para aparecer na tela.

Em 1976, o ‘JN’ ganhou uma nova abertura, com movimentos mais modernos. O nome e a logomarca do telejornal eram projetados de diversas maneiras na tela.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1976

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1976

A Era Hans Donner

Em 1979, o designer Hans Donner ganhou um concurso interno na Globo, promovido por Boni, então Superintendente de Produção e Programação da Globo, e criou o novo cenário do ‘Jornal Nacional’, que estreou em abril do mesmo ano. O fundo trazia as letras do selo ‘JN’ em perspectiva. Foi acrescentada mais uma parede, com dois monitores de cada lado, o que possibilitou o jogo de câmeras e maior movimentação dos apresentadores. “Eu sempre fiquei muito fascinado em dar ilusão de uma dimensão grande”, conta Hans Donner em entrevista ao Memória Globo.

Cid Moreira na bancada do 'Jornal Nacional' que estreou em 1979. — Foto: Peter Schneider/Globo

No cenário antigo, criado por Mário Monteiro, atrás da bancada havia apenas uma tapadeira, com a logo do ‘JN’, o que não permitia variações no enquadramento que ambientava a apresentação de Cid Moreira e Sérgio Chapelin. Em 1979, portanto, o enquadramento dos locutores passou do close para o plano americano, que mostra a imagem do apresentador até a cintura. No ano seguinte, a abertura começava com feixes de luz que montavam a logo do ‘JN’.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1980

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1980

O primeiro cenário criado por Hans Donner ficou no ar por dois anos. Em 30 de março de 1981, o telejornal levou ao ar novidades no estúdio, capitaneadas, novamente, por Hans Donner. Foi criada uma nova bancada e, ao fundo, um mapa-múndi em relevo passou a fazer parte do cenário. Na chamada para as matérias, passaram a ser exibidas ilustrações conhecidas como selos over the shoulder, formato importado dos americanos que consistia em um espaço retangular onde eram exibidas imagens, acima do ombro dos apresentadores, relacionadas à reportagem chamada por eles.

Ainda em 1981, a logo do telejornal também sofreu alterações, deixando de ter a marca da Globo integrada às letras ‘JN’.

Cid Moreira e Sérgio Chapelin na bancada do 'Jornal Nacional' que estreou em 1981. — Foto: Acervo/Globo

Os selos over the shoulder ficavam sob a responsabilidade da Arte do Jornalismo, então comandada por Paulo Polé. O trabalho era diário e manual: para confeccionar legendas, eram usados decalques, como letras transferíveis, e recorte eletrônico, que posteriormente seriam inseridos sobre os vídeos. As ilustrações das matérias também eram feitas com pincel ou bico de pena e colagem. Ao longo dos anos 1990, a coleção de cerca de 65 ilustrações dos mais variados temas extrapolou esse espaço e ocupou todo o fundo.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1981

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1981

Computação gráfica

Um novo cenário estreou no dia 03 de janeiro de 1983. Apesar de a cor cinza ainda ser predominante, o vermelho e o azul passaram a fazer parte do visual. Nessa fase, a bancada parecia estar dentro de um globo, com diversos quadros que mostravam ora takes da vinheta ora um selo que ilustrava o assunto em questão. O Departamento de Artes da então Central Globo de Jornalismo, dirigido por Paulo Polé à época, era responsável pela produção diária dos selos, inseridos nos vídeos através do chroma-key junto com o Quantel, um equipamento eletrônico que reduzia a imagem.

Cid Moreira e Sérgio Chapelin na bancada do 'Jornal Nacional' que estreou em 1983. — Foto: Acervo/Globo

E a abertura do ‘JN’ em 1983 trouxe mudanças em suas cores, quando comparada à anterior. Foi a primeira vinheta de abertura do ‘Jornal Nacional’ feita a partir de recursos da computação gráfica.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1983

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1983

Os computadores ainda eram um sonho de consumo pelo preço exorbitante nos anos 1980. Ainda assim, a Arte passou a dispor de um, o Kromenko. Era uma máquina lentíssima, capaz de exibir apenas 256 cores simultâneas, ou gradações da mesma cor, e que conseguia processar animações rudimentares. Substituiu os trabalhos manuais e modernizou o processo. Dez anos depois, a equipe já tinha computadores capazes de exibir 65 mil cores. Bem mais rápidos do que o Kromenko, deram novas possibilidades para pensar as ilustrações do dia a dia.

Em 1987, mais uma mudança na abertura do telejornal. E bem marcante. Dessa vez, várias logos do ‘JN’ saíam de dentro de um globo terrestre estilizado e giratório.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1987

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1987

Departamento de Arte no Jornalismo

Em maio de 1989, o diretor de Arte da Central Globo de Jornalismo, Delfim Fujiwara, e os designers Alexandre Arrabal e Luis Felippe Cavalleiro promoveram uma renovação nos cenários e nos efeitos visuais do ‘Jornal Nacional’. A novidade estreou no dia 22. Pela primeira vez, a Arte do Jornalismo projetaria elementos cenográficos para o ‘JN’. A vinheta com o logotipo ‘JN’ foi aprimorada por computação gráfica. No cenário da abertura, o fundo em tons de azul, com o símbolo da emissora, foi encurvado para dar impressão de profundidade.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1989

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 1989

Nesse processo, foram montados dois cenários para os apresentadores: um fixo e outro móvel. O fixo, criado por Hans Donner, era uma bancada de acrílico, iluminada por luz neon vermelha, onde ficavam os locutores. O móvel, criado pelo diretor da Arte Delfim Fujiwara e os designers Alexandre Arrabal e Luis Felippe Cavalleiro, era composto de desenhos feitos em um computador gráfico, que davam um tratamento visual particular a cada reportagem. Essas imagens ocupavam toda a tela ao fundo do apresentador e substituíram o tradicional selo – as ilustrações e fotografias que ficavam enquadradas ao lado do locutor durante a apresentação das reportagens. Com essa mudança, deixavam-se de lado as limitações de espaço impostas até então pelas molduras.

Cenário do 'Jornal Nacional', 1989 — Foto: Acervo/Globo

Mais de cinquenta selos foram montados para ilustrar assuntos relacionados às editorias de economia, política, esporte e geral. Enquanto Cid Moreira lia uma notícia sobre inflação, por exemplo, o telespectador via uma seta crescendo em perspectiva no vídeo. Essa fase também foi marcada por uma maior utilização das imagens produzidas por computação gráfica, inseridas através de chroma-key, sem a utilização do Quantel, pois não precisavam mais ser reduzidas.

“A chegada dos computadores, no final dos anos 1980, acelerou a produtividade e abriu as portas para a criatividade da equipe. O uso de computação gráfica contribuiu para o desenvolvimento de uma linguagem gráfica jornalística, que realça informações, adiciona dados, facilita a exposição de notícias complicadas, como reformas econômicas, por exemplo”, explica Alexandre Arrabal, em entrevista ao Memória Globo.

Gilda Rocha, na época cenógrafa do departamento de Arte, ajudou na confecção dos selos e lembrou, em entrevista ao Memória Globo: “Nesse momento, a gente saiu do chroma pequenininho, recortado, do over the shoulder e partiu para a tela cheia. A gente colocou nas laterais do cenário uma tapadeira verde com rodinhas. (...) O assistente do jornal empurrava quando tinha um selo, a câmera caía mais um pouquinho e enquadrava então um fundo todo verde. Foi uma mudança importante, porque saiu do selinho tímido para uma coisa que ocupava toda a área. Ele tinha uma presença muito maior no jornal”. No novo cenário, o público via, nos intervalos das ilustrações, o fundo em um degradê de azul, que foi pintado cuidadosamente à mão pela equipe, e os dois logotipos do ‘JN’, que pareciam flutuar na parede. Gilda Rocha e o ilustrador Júlio Harada fizeram os desenhos técnicos.

Na época, a rotina de produção de ilustração para o 'JN’ misturava processo manual e digital. A equipe desenhava em cartões, que eram filmados para finalização com efeitos especiais nas mesas de controle. Os selos eram editados na sequência exata em que seriam exibidos, deixando uma possibilidade mínima de alteração na paginação.

Para Armando Nogueira, o novo cenário do ‘Jornal Nacional’ expressava o conceito que passou a guiar o jornalismo da Globo com a abertura política: “Nós passamos a nossa vida inteira debaixo de um regime de exceção fazendo um telejornalismo que, tanto na forma como no conteúdo, era absolutamente ‘chapado’. Nós tínhamos sempre uma tapadeira atrás dos apresentadores. E quando veio a abertura, a gente chegou à conclusão de que uma das maneiras de mostrar que estávamos fazendo um novo jornalismo era criar um cenário em três dimensões. Era aprofundar o cenário, colocar uma bancada em primeiro plano, e fazer uma concepção cenográfica, através de iluminação e de criptogramas, que desse a ideia de que nós tínhamos um jornalismo agora com mais peso, com mais densidade.”

Em 1° de abril de 1996, a troca de apresentadores coincidiu com mais uma mudança de cenário do ‘Jornal Nacional’. A equipe da Arte do Jornalismo, então liderada por Alexandre Arrabal, ficou responsável pela nova concepção, que manteve a estética implantada por Hans Donner nos anos 1980. O cenário continuou com as linhas sinuosas, porém com características mais dinâmicas e mais possibilidades para a câmera passear no estúdio e explorar diferentes efeitos de luz.

O diretor Jorge Queiroz ajudou a definir essa nova concepção cenográfica do ‘JN’, que manteve o azul que é sua marca registrada. A principal novidade em relação ao cenário anterior foram os logos do ‘JN’, que passaram a ser sustentados por um fio quase imperceptível, dando a ideia de flutuarem no ambiente. No cenário anterior, esses logos eram bidimensionais, aerografados no fundo. No teto, um enorme ‘JN’ de acrílico ficava, de fato, em cima dos apresentadores.

Galvão Bueno, Lilian Wite Fibe e William Bonner no cenário que estreou em 1996. — Foto: Arley Alves/Globo

Redação como cenário

No dia 26 de abril de 2000, quando a TV Globo comemorava 35 anos, o ‘Jornal Nacional’ entrou no ar completamente reformulado. Um novo arranjo da tradicional trilha sonora do telejornal anunciava mudanças. A música guiava o voo da câmera sobre a redação, mostrando jornalistas trabalhando. O quadro final da abertura exibia, pela primeira vez, não apenas os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, mas também a essência do jornal. As notícias do Brasil e do mundo estavam representadas pela biosfera terrestre, que compunha o cenário. Os profissionais que faziam o 'JN’ tornaram-se visíveis.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2000

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2000

“Mais do que um marco estético, o novo formato imprimia credibilidade e agilidade, conforme mostraram as pesquisas qualitativas da época. O caminho até a consolidação do projeto foi longo e mobilizou uma equipe que trabalhou intensamente durante dois anos”, destaca Alexandre Arrabal, então diretor de Ilustração e Arte, no livro ‘JN - 50 Anos de Telejornalismo’.

A bancada deixou o estúdio tradicional e passou a ser vista em um mezanino, tendo como fundo a redação do Jornalismo da Globo no Rio. A bancada foi transformada em área de trabalho, com um monitor e um computador; o mezanino fora construído a três metros e meio de altura do chão.

Redação como cenário. ‘Jornal Nacional’, 26/04/2000

Redação como cenário. ‘Jornal Nacional’, 26/04/2000

Na abertura do ‘JN’, uma grua passou a mostrar as atividades da redação, passeando, lentamente, no sentido da bancada. Nesse movimento, entravam em cena sete painéis de 12 metros de largura, presos ao teto. Ao final, formavam um grande mapa-múndi estilizado, com o Brasil no centro.

“Na abertura, você mostra a redação, as pessoas andando, você mostra quem faz a notícia. Mostra que a notícia não vem do nada, que tem seres humanos trabalhando para que você receba essa notícia em casa”, explica Arrabal em entrevista ao Memória Globo.

A sugestão do novo cenário partiu da equipe de Arte, então liderada por Alexandre Arrabal, que identificou uma expectativa de Evandro Carlos de Andrade, então diretor de Jornalismo da Globo. “Foi uma proposta da Arte do jornalismo. Eu achava que esteticamente ele [o cenário] estava superado, primeira coisa. E eu sabia que o Evandro, ele nunca me falou, mas eu tinha certeza de que ele gostaria de ter algo que procurasse aproximar mais [o telejornal] do telespectador. Aí você fala: ‘Então, bota o ‘Jornal Nacional’ na redação!’. Aí eu falo: ‘Não, mas o ‘Jornal Nacional’ não pode botar na redação, botar na redação é muito simples. O ‘Jornal Nacional’ tem que ter algo genial, algo que ninguém nunca fez no mundo’”, lembra Arrabal em entrevista ao Memória Globo.

Tudo começou em 1998. Flávio Fernandes, Eduardo Bernardes, Luiz Nogueira, Chico Chagas, Doris Kosminski, Helio Bueno, Gilda Rocha e Rodolpho Xavier, liderados por Alexandre Arrabal, fizeram várias reuniões e pesquisaram cenários de telejornais do mundo inteiro. No da NBC americana viram uma possibilidade: a presença dos jornalistas trabalhando na redação ao fundo. Seria uma solução, mas teriam de quebrar um padrão: ao construir um cenário aberto, os selos projetados no fundo do estúdio perderiam seu espaço. Essas ilustrações temáticas do assunto noticiado caracterizaram o ‘JN’ por muito tempo. O modelo “redação” eliminaria o selo, mas daria dinamismo e transparência ao telejornal. “O que fazer? Escolhemos os dois”, explica Arrabal no livro ‘JN - 50 Anos de Telejornalismo’. E completa: “Desenvolvemos um protótipo misto que possibilitaria enquadramentos típicos de estúdio, inclusive com o uso de nossas ilustrações, mas que também contemplaria outros recursos”.

Mas havia outro desfio: a redação estava lotada, não havia espaço para inserir uma bancada e três ou quatro câmeras para rodar o ‘JN’. Todos os elementos estavam no mesmo plano, na mesma altura. Não havia perspectiva, profundidade. Após muitas reuniões e desenhos, optou-se por subir o plano de apresentação em relação ao piso da redação, o que melhorava a perspectiva. O distanciamento evitava também que pessoas atrás dos apresentadores acabassem tirando a atenção da notícia. Foi quando o editor de imagem Flávio Fernandes sugeriu que fosse aberto um buraco no estúdio e construído um set de apresentação no andar de cima.

Surgiu, então, um formato único no mundo e que unia dois tipos de cenário: apresentava a redação ao fundo e, simultaneamente, ilustrava os assuntos com imagens gráficas atrás dos apresentadores. Todas as mudanças vieram acompanhadas de inovações tecnológicas. As ilustrações, por exemplo, eram projetadas por um refletor. Em vez de inseridos por chroma-key, os selos passaram a ser sobrepostos, misturando-se ao fundo real da redação. A imagem era formada à medida que o apresentador começava a falar no assunto. A produção de selos era diária, sempre de acordo com os assuntos que seriam abordados no noticiário do dia.

Terminada a fase de projeto, iniciou-se a obra, que durou oito meses. A equipe do ‘Jornal Nacional’ permaneceu trabalhando na redação, enquanto um novo estúdio, atrás dos tapumes, era erguido no mezanino. Para tudo isso acontecer, foi estabelecida uma parceria com outras áreas, como a então Central Globo de Informática, Administração e Patrimônio (CGIAP) e a Engenharia.

Paralelamente, na Arte, eram pensadas ilustrações temáticas para o novo espaço. A ideia era promover uma evolução em relação à identidade visual anterior, mas mantendo um fio de continuidade.

“Essa não foi a primeira nem a última mudança no cenário, mas foi definitivamente um marco. Um portal de passagem: quando a câmera voou sobre a redação e passou pelo buraco criado na caixa do estúdio A, estávamos saindo de uma era romântica e ingressando em outra, mais tecnológica, em que surgiriam projetos complexos e ambiciosos, marcados por intenso planejamento. Um tempo em que a criatividade seria mais importante ainda”, destaca Alexandre Arrabal no livro ‘JN - 50 Anos de Telejornalismo’.

Em 2002, a bancada foi modificada. Foram substituídos os acrílicos que “protegiam” os computadores e decoravam o meio da mesa por um material cinza e um acrílico verde-água, respectivamente. Ainda neste ano, o chroma-key voltou a ser utilizado, dessa vez em conjunto com a técnica de sobreposição das imagens no fundo real. Isso permitiu que as figuras voltassem a ter profundidade e perspectiva, sem perda do impacto da sobreposição de objetos sobre o fundo da redação e da bancada.

William Bonner, Carlos Henrique Schroder, Ali Kamel e Fátima Bernardes na bancada do 'Jornal Nacional', cuja estética estreou em 2002. — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

Cada vez mais moderno

Em 2009, para celebrar os 40 anos do telejornal, houve mudanças no cenário, anunciadas ao telespectador no dia 31 de agosto. “As novidades começam por um enorme globo em constante movimento sobre a redação, que ajuda a passar o dinamismo da notícia. Outra inovação é um telão ao fundo, com ilustrações temáticas que dão profundidade e ambientam o que está sendo noticiado. Mais de 50 imagens já foram preparadas. Para completar, detalhes em vermelho vão esquentar o tom da redação, em contraste com o azul ainda predominante”, explicou Alexandre Arrabal, então diretor de Arte da Central Globo de Jornalismo, em matéria do jornal O Globo, do dia 30 de agosto de 2009.

A equipe de cenografia da emissora produziu o cenário do ‘JN’ levando em conta as medidas dos apresentadores Fátima Bernardes e William Bonner. A ideia era tornar a bancada o mais confortável possível para os dois. “O novo modelo é totalmente utilitário e ergonômico, sem prejuízo do design. Ele foi desenhado com base em sessões de prova com os próprios âncoras. Tiramos até as medidas dos dois”, completou Arrabal na matéria de O Globo.

William Bonner e Fátima Bernardes mostram as principais mudanças no novo cenário do ‘Jornal Nacional’, 31/08/2009

William Bonner e Fátima Bernardes mostram as principais mudanças no novo cenário do ‘Jornal Nacional’, 31/08/2009

William Bonner e Patrícia Poeta na bancada do 'JN', 2011 — Foto: João Cotta/Globo

Em 27 de abril de 2015, como parte das comemorações dos 50 anos da Globo, o estúdio do ‘JN' passou por transformações. Na ocasião, foi acrescentado um telão de led ao fundo da redação, onde ficavam as ilustrações. Além dele, foi inserida outra tela ao lado da bancada, através da qual os âncoras, de pé, interagiam, em tamanho real, com repórteres, correspondentes ou apresentadores da previsão do tempo, em outras cidades. E saíram de cena o mapa-múndi e os ‘JN’ de acrílico.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2015

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2015

Estreia do novo cenário do ‘JN’, 27/04/2015

Estreia do novo cenário do ‘JN’, 27/04/2015

Em 2017, uma redação completamente nova

No dia 19 de junho de 2017, o ‘Jornal Nacional’ foi transmitido do recém-inaugurado prédio de Jornalismo da Globo, construído dentro do complexo que já existe no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. O novo cenário, projeto liderado por Alexandre Arrabal, então diretor de Ilustração e Arte do Jornalismo e Esporte, foi montado dentro de um espaço que reúne jornalistas de TV e internet – em uma área de 1.370 m², com espaço para 189 postos de trabalho, 18 ilhas de edição, três de pós-produção, duas cabines de locução e salas de reunião. Tudo ao redor do moderno estúdio do ‘JN’.

“É um projeto bem diferente de tudo que existe, não tínhamos referências para seguir. As inovações complementam a apresentação talentosa dos âncoras, que poderão interagir com os gráficos, correspondentes e apresentadores do tempo, por exemplo”, contou Alexandre Arrabal, em matéria do g1, publicada em 19 de junho de 2017.

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu e William Bonner participam da inauguração da nova redação do 'Jornal Nacional', 19/06/2017.

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu e William Bonner participam da inauguração da nova redação do 'Jornal Nacional', 19/06/2017.

O primeiro passo dessa mudança veio com a decisão de que a Globo construiria um prédio novo, na emissora do Rio de Janeiro. “Em um primeiro momento, pensamos em manter a estrutura que estava no ar, da bancada em um plano mais alto, à frente da redação. Os desenhos já estavam prontos. No entanto, em dezembro de 2013, houve uma reviravolta. Queríamos construir algo inteiramente novo, diferente de todos os telejornais do mundo. Nosso incômodo em seguir com o modelo antigo nos impedia de prosseguir. Com apoio do Ali Kamel [então diretor de Jornalismo] e de toda a direção da Globo, começamos do zero. Depois de muita discussão tivemos um lampejo: ‘Vamos botar o cenário no centro da redação, irradiando notícias para o Brasil e o mundo’”, lembra Alexandre Arrabal no livro ‘JN - 50 Anos de Telejornalismo’. Para isso, áreas parceiras – Arte, Arquitetura, Engenharia Civil, Tecnologia e Jornalismo – interagiram intensamente.

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2017

Abertura do ‘Jornal Nacional’, 2017

Cada item teve que ser customizado, adaptado ou mesmo criado para o projeto. Desenhos, simulação, prototipagem e testes eram atividades constantes. Foram produzidos cerca de 65 cenários temáticos, que ilustram e ambientam as notícias apresentadas. Os cenários temáticos são a versão imersiva e tridimensional dos antigos “selos”, em que cada assunto do jornal tem um cenário virtual tematizado tridimensional.

Bastidores da construção do novo estúdio do ‘JN’, 21/06/2017

Bastidores da construção do novo estúdio do ‘JN’, 21/06/2017

A redação passou a abrigar as equipes da Editoria Rio, G1 Rio, Bom Dia Brasil, além do ‘Jornal Nacional’. A GloboNews ganhou no local um posto avançado, para facilitar a integração com a cobertura de notícias relativas ao Rio. Por um grande video wall tornou-se possível monitorar em tempo real agências internacionais de notícias, canais internacionais e nacionais de relevância e todos os sinais de equipes externas em trabalho no Rio. Passou a ser feita aí também a escuta digital, que captura o que acontece nas redes sociais.

“[O novo cenário] foi dentro dessa perspectiva de integração”, explica Ali Kamel, então diretor-geral de Jornalismo, em entrevista ao Memória Globo.

No fundo da redação, uma tela de LED retrátil – com 16 metros de largura, três de altura e cerca de três toneladas – passou a garantir um efeito 3D aos recursos gráficos do estúdio. As artes projetadas podem ser vistas de diferentes perspectivas, segundo o movimento das câmeras. “O cenário novo foi um projeto todo da equipe do Alexandre Arrabal. Eu entrei para participar quando o cenário estava pronto e chegou a hora de fazer o estudo de utilização de câmeras. Aí eu acho que eu tive um papel bem ativo, alguns enquadramentos, algumas ideias”, lembra William Bonner, apresentador e editor-chefe do ‘JN’, em entrevista ao Memória Globo.

William Bonner e Renata Vasconcellos no novo estúdio do 'Jornal Nacional', 2017 — Foto: João Cotta/Globo

"O estúdio do ‘JN’ é visualmente bonito, mas ele não é algo só para ser visto, é para ser usado. Tudo que encantará informará ao mesmo tempo. Esse é o grande passo que a gente está dando”, disse Ali Kamel em matéria do g1, publicada em 19 de junho de 2017.

O cenário também tem duas câmeras operadas por braços robóticos. Suas trajetórias são pré-fixadas ou guiadas por sensores a partir do movimento dos apresentadores. Também há uma câmera de trilho de chão, que se desloca acompanhando a curva do cenário, e outra de trilho aéreo, que dá uma visão ampla de toda a redação.

“Foi, de fato, um deslumbramento. Não tem estúdio tão bonito, tão elegante, tão imponente como o estúdio do ‘Jornal Nacional’. (...) Acho que a partir dali se inaugurou também uma nova era, câmeras-robô, equipes extremamente treinadas. (...) Nós fazemos o jornal ao vivo, apresentamos no calor de uma redação que está em funcionamento. (...) É a redação pulsando junto com você, você não está separado num estúdio asséptico, distante de todos, você está junto com as equipes de jornalismo. Está todo mundo ali, todo mundo com você. Então, a gente carrega um pouco dessa energia, dessa vibração, que vai para o ar e isso graças à dinâmica desse estúdio novo”, destaca Renata Vasconcellos, apresentadora e editora-executiva do ‘JN’, em entrevista ao Memória Globo.

Atrás da bancada dos apresentadores há um vidro de 15 metros em curva, desenvolvido exclusivamente para o cenário do ‘Jornal Nacional’, que dá uma perfeita visão da redação em funcionamento. O vidro é revestido por uma película que escurece sincronizada a nove projetores a laser para permitir imagens de excelente qualidade.

O novo cenário recebeu o prêmio de Melhor Uso da Tecnologia no New York Festivals Awards, em 2018.

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