Por Memória Globo

Acervo/Globo

A estrutura básica do 'Globo Rural' combinava seções regulares, como o boletim com as cotações do mercado e as cartas dos telespectadores, com matérias sobre assuntos até então inéditos no telejornalismo brasileiro. A primeira reportagem a ser exibida no programa de estreia, em 6 de janeiro de 1980, falava sobre o plantio de soja no cerrado. A região, tradicionalmente considerada ruim para o cultivo, obteve na época o recorde de produtividade de soja no mundo. Em 1980, o programa visitou 25 estados e territórios do Brasil para mostrar, por exemplo, a expansão da fronteira agrícola na região centro-oeste; a agricultura dos colonos no território do Amapá; a criação de búfalos na Ilha de Marajó; ou o sistema de irrigação que desenvolveu uma plantação de milhos e frutas em Pernambuco em plena seca.

Entrevista de Humberto Pereira com o então ministro da Agricultura Amaury Stabile, Globo Rural, 10/02/1980.

Entrevista de Humberto Pereira com o então ministro da Agricultura Amaury Stabile, Globo Rural, 10/02/1980.

O editor-chefe Humberto Pereira ocupava uma das mesas do cenário original do 'Globo Rural' e, em alguns programas, entrevistava no estúdio pesquisadores, agrônomos e autoridades do governo. Em fevereiro de 1980, ele entrevistou o então ministro da Agricultura Amaury Stabile, que também respondeu às cartas de telespectadores que cobravam mais apoio do governo.

Humberto Pereira na redação do Globo Rural em São Paulo, 2015 — Foto: Bob Paulino/Memória Globo

Boa audiência

A partir do dia 3 de agosto de 1980, graças à excelente receptividade junto à audiência, o 'Globo Rural' passou a ter uma hora de duração (de janeiro até lá, ocupava meia hora das manhãs da Globo a cada domingo). A resposta dos telespectadores às matérias sobre assuntos como novas tecnologias, sementes, variedades de capim ou vacinas contra a febre aftosa foi, desde o princípio, imediata e significativa. Espalhados pelas mais diversas regiões do Brasil, os produtores rurais viam no programa um valioso canal de troca de informações.

A equipe de produção passou a receber, diariamente, uma profusão de cartas e telefonemas de agricultores, veterinários e agrônomos pedindo mais detalhes sobre os assuntos abordados nas matérias, sugerindo temas e denunciando abusos ao meio ambiente. De acordo com o editor de mercado Benedito Cavechini, houve casos de pecuaristas que fechavam seus contratos para a entrega do gado com base nas cotações fornecidas pelo 'Globo Rural'.

Em dezembro de 1980, o programa foi eleito pela revista Veja como o melhor do ano no gênero jornalístico. Embora as matérias não fossem especialmente dirigidas ao público das grandes cidades, a audiência nos centros urbanos cresceu durante esse período. Donas de casa escreviam para a redação pedindo, por exemplo, informações sobre técnicas de desenvolvimento de hortas caseiras que pudessem ser aplicadas em terraços de edifício. Serviços de alto-falantes e cartazes de exposições agropecuárias em pequenas cidades do interior de Minas Gerais recomendavam o programa a agricultores e fruticultores.

Tudo de que falamos no 'Globo Rural' tem vida. É uma planta, ou uma árvore, ou uma bactéria. O ritmo que a gente dá é o ritmo da vida, é o ritmo biológico. Daí o plano-sequência longo. A gente filma a coisa no tempo que ela precisa ter para acontecer. Não compactamos nem esticamos o tempo. É quase uma biotelevisão.
— Humberto Pereira, editor-chefe até 2017, em entrevista à Folha de S. Paulo em 2009

Período de mudanças

O segundo ano do 'Globo Rural' marcou o início de uma série de mudanças importantes. As reportagens passaram a dar mais ênfase ao lado humano dos trabalhadores rurais e, esteticamente, o programa investiu numa linguagem com referências cinematográficas, que se aproximava da usada em documentários, com longos planos sequência e com mais imagens captadas em primeiro plano. As entrevistas passaram a ser feitas com microfones sem fio, na época um recurso técnico avançado, que contribuía para criar um clima de informalidade entre repórter e entrevistado. Houve também uma mudança de ritmo. A equipe começou a buscar um timing característico para o texto e as imagens das matérias, estabelecendo uma narrativa mais desacelerada e mais expositiva do que os demais jornalísticos da Rede Globo. Como explicou Humberto Pereira, essa mudança tinha a ver, principalmente, com o estilo de vida da audiência majoritária do programa. O homem do campo, seja o maior fazendeiro do país ou o mais humilde trabalhador rural, desconfia de tudo que é muito rápido.

No início de 1982, o 'Globo Rural' passou por mais mudanças: os jornalistas Wellington de Oliveira e Sérgio Roberto Ribeiro substituíram Carlos Nascimento na apresentação. A editora Olga Vasone passou a apresentar a seção de cartas.

Apresentadores nos anos 1990

Em 1988, William Bonner esteve na bancada do 'Globo Rural' por alguns meses. Ele apresentava o 'SPTV' e gravava o 'Globo Rural' às sextas-feiras à noite. Saiu em junho do mesmo ano para trabalhar no 'Jornal Hoje'.

Em 1990, a redação do 'Globo Rural' ganhou o reforço do jornalista Nélson Araújo que acumulou as funções de produtor, repórter, editor e apresentador. Em 1995, a repórter Helen Martins assumiu a editoria da seção de carta, e o repórter Vico Iasi, que trabalhava no CBN Campo – um programa de rádio sobre agronegócios fruto de uma parceria do 'Globo Rural' e a rádio CBN – passou a fazer reportagens para o telejornal. A partir de 1996, Nélson Araújo, Helen Martins e Vico Iasi passaram a dividir a apresentação do 'Globo Rural'.

Edição diária

Em 9 de outubro de 2000, o 'Globo Rural' ganhou uma edição diária apresentada pelos jornalistas Rosana Jatobá e Lúcio Sturm. Inicialmente com 15 minutos de duração, o programa ia ao ar de segunda a sexta-feira, às 6h30, informando em tempo real sobre as cotações diárias do mercado, o andamento das safras e a agenda de feiras agropecuárias, seminários, congressos, exposições de gado e boletins meteorológicos. Diferente do programa de domingo, que seguia em exibição com um perfil de revista semanal de reportagens aprofundadas, o 'Globo Rural' diário era mais noticioso, e mobilizava esforços de profissionais nas redações das centrais de jornalismo das 127 emissoras ligadas à Globo, entre geradoras e afiliadas. As equipes produziam matérias curtas e quentes, e podiam entrar ao vivo na atração.

Estreia do formato em edições diárias. 'Globo Rural', 09/10/2000

Estreia do formato em edições diárias. 'Globo Rural', 09/10/2000

A boa audiência para o horário concedeu mais 15 minutos de duração à edição diária. Em 2003, a jornalista Priscila Brandão assumiu a bancada sozinha, permanecendo no cargo até 2009, quando foi sucedida pela jornalista Ana Paula Campos. No final de 2012, Cristina Vieira também passou pela bancada para cobrir licença-maternidade da colega.

O 'Globo Rural' diário ficou no ar até 28 de novembro de 2014. A partir de 7 de dezembro, a equipe que produzia o boletim passou a trabalhar para o novo telejornal do horário, o 'Hora Um'. Os profissionais mais envolvidos com a produção da edição dominical continuaram trabalhando para entregar um produto semanal de qualidade para o homem do campo.

Primeiro bloco do Globo Rural em sua reestreia exclusivamente dominical, em 07/12/2014. Apresentação de Nélson Araújo e Priscila Brandão.

Primeiro bloco do Globo Rural em sua reestreia exclusivamente dominical, em 07/12/2014. Apresentação de Nélson Araújo e Priscila Brandão.

O 'Globo Rural' de domingo é apresentado por Helen Martins e Nélson Araújo, que recebem apoio de Vico Iasi, Priscila Brandão e Cristina Vieira. Todos produzem reportagens.

Em 31 de dezembro de 2017, foram anunciadas mudanças no comando do 'Globo Rural'. Humberto Pereira, diretor por mais de 30 anos, aposentou-se. Também se despediu da equipe Gabriel Romeiro, chefe de redação desde 1980. Coube ao jornalista Lucas Battaglin, chefe de reportagem com longa trajetória no programa, assumir a direção tanto do 'Globo Rural' quanto da marca 'Globo Natureza'.

No início de 2024, o 'Globo Rural' passou por nova mudança de gestão. Depois de mais de 40 anos na Globo, Lucas Battaglin decidiu se aposentar. Com a saída de Lucas, Camila Marconato deixou o cargo de chefe de redação, função que assumiu em 2021, para tornar-se editora -chefe do programa. A chefia de redação foi assumida pela jornalista Hellen Santos e Cristina Vieira tornou-se editora executiva. Cristina também apresenta o programa, ao lado de Helen Martins e Nélson Araújo.

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