Entre janeiro e setembro de 1999, o enigmático Mister M, um mágico americano que se apresentava com o rosto encoberto por uma máscara, revelava no 'Fantástico' os segredos por trás de truques de ilusionismo, explicando em detalhes como eles eram elaborados e executados.
Mister M desmistifica truque de levitação. 'Fantástico', 24/01/1999
O Mister M tornou-se um sucesso absoluto de público. Em boa parte devido à locução de Cid Moreira – em um registro que lembrava o de um radialista, completamente diferente do que ele adotava habitualmente – e o texto elegante e levemente irônico escrito pelo jornalista Luiz Petry. As alcunhas que Petry criou para o mágico – “O Príncipe Negro dos Sortilégios”, “Senhor de Todos os Segredos” – também caíram nas graças do telespectador.
"O nome Mister M foi criação do Geneton [Moraes Neto, editor-chefe do 'Fantástico' entre 1998 e 2006]. A gente viu que estava dando certo e precisava botar outras alcunhas, outros nomes para criar uma aderência, uma empatia. O que seria um nome infame? Seria o Príncipe Negro dos Sortilégios, até porque ele não tem nada de sortilégio, ele é mágica, e o Senhor de Todos os Segredos, porque é bacana, parece um personagem. Foi para ajudar a narrativa, para dar mais uma cara para o Mister M, porque o Mister M não tem cara, ele não fala. Ou a gente fala dele ou ninguém vai saber quem é", explica Luiz Petry.
Em entrevista ao Memória Globo, Geneton Moraes Neto contou como surgiu a ideia de batizar o mágico de Mister M. "A gente comprou a série de uma TV estrangeira, de uma produtora, e estava quebrando a cabeça para o nome. 'Como a gente vai chamar?' No original, não tinha nada a ver com Mister M. Aí me deu um estalo: 'Pô, Luizinho, que tal se a gente chamar esse cara de Mister M?'. Ele falou: 'Por quê?'. A gente pode chamar de Mister Mágica, ou Mister... O sobrenome dele, do mágico na vida real, era Montana [Val Valentino, nome artístico do ilusionista Leonard Montano]. Ele disse: 'Então, vamos chamar de Mister M'. Aí soltou no ar." Segundo Geneton, o sucesso foi tamanho que o mágico adotou o codinome para sua vida profissional nos Estados Unidos.
"A gente deu um toque tupiniquim que tornou aquele produto grandioso. O texto que o Petry fazia, brincando com aquela narrativa, era uma locução off, mas ele resolveu fazer uma coisa gaiata, ácida e boba, mas absurdamente envolvente. E chamamos Cid Moreira para fazer a locução. E o Cid era o cara do jornalismo, era o Deus do jornalismo, era um grande apresentador da televisão brasileira", destaca o produtor Celso Lobo.
Em agosto de 1999, Mister M esteve no Brasil e foi entrevistado no 'Fantástico' pelo próprio Cid Moreira.
Entrevista exclusiva de Mister M. 'Fantástico', 01/08/1999
Origem do Mister M
Mister M é Leonard Montano, que ficou conhecido pelo nome artístico de Val Valentino. Nascido em Los Angeles, nos Estados Unidos, fez a vida artística em Las Vegas, no início da década de 1990, em shows de cassinos e boates. Até que Val Valentino foi encontrado por um caça talentos do canal Fox e lançou, em novembro de 1997, o programa 'Breaking the Magician's Code' – 'Quebrando o Código dos Mágicos', como foi originalmente chamado. O programa foi posteriormente lançado em formato de série nos EUA, encerrada em novembro de 1998.
Polêmica
A ideia do quadro no Brasil não agradou os profissionais do ramo. Assim que as primeiras chamadas foram ao ar, mágicos profissionais de todo o Brasil se mobilizaram para impedir que seus truques fossem desvendados. A Globo recebeu cartas de protesto e uma corrente de e-mails pela internet, ameaçando processar a emissora por perdas e danos. O então diretor de Jornalismo da Globo, Evandro Carlos de Andrade, respondeu aos apelos explicando que Mister M desvendava um número limitado de mágicas e que não havia registros de perda de interesse popular por espetáculos de ilusionismo nos países em que o quadro fora apresentado.
Por determinação da Justiça, em março de 1999, o 'Fantástico' foi proibido de exibir o quadro 'Mister M'. A recém-formada Associação dos Mágicos Gaúchos Vítimas do Programa Fantástico entrou com uma medida cautelar pedindo a suspensão da exibição da atração, baseando-se em dois argumentos jurídicos: abuso de direito e concorrência desleal. O quadro ficou fora do ar de 21 de março a 11 de abril. Voltou a ser exibido e ficou no ar até setembro de 1999.
"Os mágicos ficaram indignados com o programa. Ficamos um mês sem 'Mister M' no ar porque teve uma briga judicial, e os mágicos conseguiram na justiça o direito de impedir a exibição. Enfim, foi uma guerra com os mágicos, mas no final eles entenderam", lembra Luiz Nascimento, então diretor do programa.