Em total sigilo, a jornalista encontrou-se com o refugiado político em Moscou, onde ele estava asilado. Foi a primeira entrevista que ele concedeu em dez meses, depois que deixou os Estados Unidos para evitar um julgamento por traição e espionagem. O furo de reportagem de Bridi no 'Fantástico' repercutiu no mundo todo.
Entrevista exclusiva de Sônia Bridi com Edward Snowden. 'Fantástico', 01/06/2014
Em entrevista ao Memória Globo, Sônia Bridi conta que foram horas de espera, em um quarto de hotel em Moscou, até que Snowden aparecesse para a entrevista. Segundo ela, que estava acompanhada do repórter cinematográfico Paulo Zero, da mesma forma misteriosa que apareceu, ele se foi, após três horas e meia de conversa. “Quando deu sete da noite, toc-toc-toc na porta. Eu abri e ali estava o carinha magrinho, menor que eu, acho, de altura, ‘Oi, eu sou Edward Snowden!’ Da maneira mais simples do mundo, entrou. Conversamos e chegou o Glenn, a Laura Poitras, a documentarista que ganhou o Oscar com o documentário sobre o Snowden, e David Miranda. A gente conversou durante uma hora, bateu um papo e ficou acertado que a entrevista seria no dia seguinte, porque ele tinha acabado de sair da entrevista da NBC, que tinha sido exaustiva, tipo oito horas de entrevista. Foram três horas e meia de entrevista, com a maior paciência do mundo. Quando terminou, o Snowden pegou uma mochila, tirou a gravata, o óculos e saiu pela escada de incêndio. Nunca mais vi. Empacotamos todo o equipamento, corremos para o aeroporto pra pegar o voo de volta. Eu estava com visto de turista, porque não consegui a tempo o visto de jornalista, portanto estava sem meus direitos de jornalista garantidos, além de ter material com o cara mais procurado do mundo e um pen drive com documentos inéditos da NSA”, conta Sônia.
A entrevista precisava ser gravada em sigilo absoluto. Por isso, não poderia haver muita gente trabalhando na equipe. Paulo Zero lembra que ficou responsável por montar as três câmeras, fazer iluminação de todas e o som. “Uma grande preocupação de cinegrafista é usar um equipamento desconhecido. Foi tudo alugado em Moscou e em diferentes produtoras. Como o sucesso está nos detalhes, o meu medo era configurar todas as câmeras, posicionar e compor o quadro de cada uma delas e afinar a iluminação sozinho e com jetlag [efeitos no corpo após mudança brusca de fuso horário]. Um descuido e eu poria a entrevista em perigo. Acho que a adrenalina me ajudou a ficar focado, e tudo deu certo. Eu gostei muito da entrevista do Snowden. Para mim, a boa televisão é ouvir gente inteligente falando”.
Contexto
Sônia Bridi já havia revelado ao público brasileiro as primeiras informações sobre a espionagem americana nos EUA em setembro de 2013. Na ocasião, mostrou documentos enviados por Snowden para o jornalista americano radicado no Brasil, Glenn Greenwald, sobre a monitoração da presidente Dilma Rousseff pela NSA. O próprio Snowden concedeu uma pequena entrevista pela internet.