A HISTÓRIA
A primeira edição do Rock in Rio, promovida pelo empresário Roberto Medina, entrou para a história e transformou o festival em um dos mais importantes eventos musicais do país.
Realizado entre 11 e 20 de janeiro de 1985, o evento teve transmissão exclusiva da Globo, que deu início à programação comemorativa de seus 20 anos com a cobertura.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Entrevista exclusiva do jornalista Nelson Motta ao Memória Globo, em 10/05/2002, sobre o Rock In Rio I.
Entrevista exclusiva da jornalista Leilane Neubarth ao Memória Globo, em 29/05/2002, sobre o Rock In Rio I.
EQUIPE E ESTRUTURA
MINIEMISSORA
Para abrigar o megaevento, foi construída em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Cidade do Rock. Com uma área de gramado de 87.000 metros quadrados – o equivalente a 12 estádios do Maracanã – o local tinha três palcos giratórios de 5.500 metros quadrados cada. Junto aos palcos, havia um bar e um restaurante, uma sala de estar para os artistas e uma sala de imprensa. Foram construídos também 12 camarins VIPS.
Mais de 300 profissionais da Globo estiveram envolvidos na cobertura e na transmissão ao vivo. Foi montada uma espécie de miniemissora na Cidade do Rock, que contava não apenas com infraestrutura técnica, mas também com refeitório, salas de reunião e sala de imprensa, além de um núcleo de jornalismo com estúdio para entrevistas e comentários, uma área para a coordenação de programação, duas unidades móveis de produção (com nove câmeras) e uma unidade de jornalismo, com três câmeras, duas cabines de áudio e um estúdio central, para onde convergiam vídeo e áudio, separadamente.
ANTES DO FESTIVAL
Os repórteres Leila Cordeiro, Luiz Edmundo Monteiro, Angela Lindenberg e Glória Maria acompanharam desde o começo das obras na Cidade do Rock até as primeiras passagens de som.
Antes mesmo das aberturas dos portões da Cidade do Rock, todos os aspectos foram abordados pelos jornalistas da Globo, que entrevistaram operários, técnicos de luz e som, seguranças, vendedores de roupas, adereços e comidas, e organizadores. O time de repórteres incluiu Fernanda Esteves, Ricardo Pereira, Sandra Passarinho e Leilane Neubarth, que relembra: “Passei a propor pautas e comecei a ver o que a gente poderia fazer para o Jornal da Globo. Então, o que eu fazia: eu ia para lá de tarde, fazia uma ou mais matérias, voltava para a Globo, editava e apresentava a matéria no Jornal da Globo, e ainda conseguia voltar a tempo de assistir ao último show no Rock in Rio. E me lembro que eu subia na torre e ficava quietinha lá do lado do Nelson Motta, que era o comentarista do evento”.
EXCLUSIVAS
A Globo também realizou diversas entrevistas exclusivas. Glória Maria conversou com Eduardo Dusek e os integrantes do Kid Abelha para o Jornal Nacional, e com uma das grandes estrelas do evento, Freddie Mercury, para o Jornal da Globo. Leila Cordeiro fez matérias, para o RJTV, com Herbert Viana e Erasmo Carlos; enquanto Leda Nagle entrevistou Baby Consuelo para o Jornal Hoje.
Os correspondentes internacionais da Globo também falaram com alguns artistas sobre a participação no Rock in Rio. De Londres, a repórter Beth Lima entrevistou Al Jarreau para o Jornal Hoje; e Lucas Mendes conversou, diretamente de Nova York para o Fantástico, com Rod Stewart e George Benson. Os jornalistas Ana Maria Bahiana e Nelson Motta ficaram responsáveis pelos comentários.
Ao longo de todo o evento, reportagens diárias de reportagens eram inseridas nos telejornais. Além disso, eram transmitidos 20 flashes por dia sobre o festival. O jornalístico Globo Cidade prestava um serviço ao público com informações sobre trânsito, serviços médicos e transporte.
Glória Maria entrevista o cantor Eduardo Dussek e a banda Kid Abelha, atrações do evento, Jornal Nacional, 11/12/1984.
DESTAQUES
TRANSMISSÃO
O grande esquema de transmissão mobilizou profissionais da Central Globo de Produção (CGP) e da Central Globo de Jornalismo (CGJ) e teve direção–geral de Aloysio Legey, então responsável pela Divisão de Eventos Especiais da Globo e diretor artístico do festival.
No total, foram 12 câmeras dedicadas exclusivamente à cobertura do festival e uma mesa de corte – importada especialmente para o Rock in Rio I. Uma câmera comandada por controle remoto, com capacidade para registrar todos os ângulos dos shows, foi instalada no teto do palco. A direção evitou incluir efeitos especiais na transmissão, com o objetivo de reproduzir ao máximo o que estava acontecendo no evento.
MÚSICOS
Durante os dez dias de festival – de 11 e 20 de janeiro – houve entre quatro e seis apresentações diárias de bandas e artistas brasileiros e internacionais. Cada noite seguia um estilo musical dentro da linha do rock: houve a noite mais hard rock, com os grupos AC/DC e Scorpions; a mais romântica, com George Benson, James Taylor e Elba Ramalho; e a mais pop, com Blitz, Lulu Santos e Paralamas do Sucesso. A primeira noite, entretanto, foi a de maior público, levando cerca de 470 mil pessoas à Cidade do Rock. Nela, se apresentaram Queen, Iron Maiden, Whitesnake, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso.
Quatorze expoentes da música internacional estiveram no festival: George Benson, James Taylor, Al Jarreau, Ozzy Osbourne, Nina Hagen, Rod Stewart e as bandas Iron Maiden, Go Go’s, Yes, Whitesnakes, AC/DC, Scorpions, The B-52’s e Queen. Todos eles, com exceção da banda Iron Maiden, subiram no palco em duas noites diferentes.
No time de artistas nacionais se apresentaram Gilberto Gil, Alceu Valença, Rita Lee, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Lulu Santos, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Cazuza, Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Eduardo Dusek, Ivan Lins e os grupos Blitz, Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Os Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho.
Nelson Motta explica a importância do festival para a música brasileira. “A música dessa geração explodiu popularmente, em rede nacional, com o Rock in Rio. Com 20 anos de atraso quase, foi a partir desse festival que o rock Brasil explodiu. Surgiu com uma força enorme, com essa geração toda de Lulu, Cazuza, Os Paralamas, Barão Vermelho.”
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
Reportagem sobre a preocupação política durante o evento, Fantástico, 20/01/1985.
O Rock in Rio aconteceu justamente num momento de transição política. O quinto dia de show, 15 de janeiro, coincidiu com a eleição presidencial indireta, ocorrida no Colégio Eleitoral, em Brasília, que simbolizou um grande passo rumo à democratização do país. Naquele dia, Tancredo Neves foi escolhido como novo presidente e isso se refletiu nos palcos do Rock in Rio. Cazuza cantou Pro Dia Nascer Feliz e desejou “um Brasil novo”, acompanhado por um coro da plateia e saudado por bandeiras brasileiras que flamejavam.
A repórter Leilane Neubarth lembra o momento: “A princípio, tive a impressão de que aquilo estava acontecendo para desviar a atenção dos jovens exatamente para as coisas da política que estavam sendo resolvidas à época, a questão do novo presidente. No primeiro dia me mandaram para lá e eu fui com uma má vontade imensa. E na hora em que eu botei o pé dentro daquela estrutura do Rock in Rio, foi absolutamente imediata a minha paixão. Mudei de opinião assim que eu observei que, na verdade, aquilo era uma reunião, não era uma alienação.”
Nelson Motta, que foi comentarista do Rock in Rio, também recorda a data. “A eleição do Tancredo foi durante o Rock in Rio. Eu me lembro que eu dei a notícia. Eu terminei uma edição da transmissão do Rock in Rio, assim: ‘Boa noite, presidente Tancredo Neves’.
MOMENTOS DO ROCK
Antes e durante o Rock in Rio I, a Globo apresentou o boletim Momentos do Rock. Foram ao ar 98 programas de um minuto cada, com duas exibições diárias, tendo como temas a história do rock – seus precursores, as bandas e os intérpretes que iriam participar do festival – e uma retrospectiva sobre as mudanças de comportamento entre os jovens depois do surgimento do rock and roll.
A Globo também levou ao ar Rock in Rio – Melhores Momentos, apresentado de 11 a 20 de janeiro de 1985 e retransmitido de 26 de janeiro a 2 de fevereiro do mesmo ano. Apresentado por Nelson Motta, tinha uma hora de duração e reunia os grandes momentos dos espetáculos. Exibia também pequenas entrevistas com músicos e flashes da cobertura jornalística.
ROCK IN RIO ESPECIAL
O programa Rock in Rio Especial, que foi exibido um ano após a transmissão do Rock in Rio I, mostrou uma breve reportagem sobre o festival, com apresentação de Nelson Motta, que recorda: “Eu ficava numa torre, apresentava e comentava um pouco as coisas que teria no festival. Trabalhei os dez dias do Rock in Rio. Para mim, foi um sonho. Eu voltei da Itália para fazer isso.”
Nele, exibiu-se o que foi considerado o melhor número de cada artista. De Elba Ramalho, por exemplo, foi ao ar a canção Banho de Cheiro; da banda Os Paralamas do Sucesso, o hit Óculos; do cantor norte-americano James Taylor, que retomou sua carreira no festival, o momento em que ele cantou Shower the People; e da famosa banda Queen, a performance do grupo para Radio Ga Ga.
Nem todos os artistas que se apresentaram no evento fizeram parte do especial, porque alguns deles não cederam os direitos de transmissão dos espetáculos, como foi o caso do guitarrista norte-americano George Benson e do cantor brasileiro Ney Matogrosso. No entanto, os grandes sucessos da maratona musical puderam, em sua maioria, ser relembrados.
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por Nelson Motta (10/015/2002) e Leilane Neubarth (29/05/2002). “Rock in Rio, saudades. É hora de ligar a TV” In: O Globo, 10/01/1986. Boletim de Programação da Rede Globo números 621, 626-A, 627, 940, 941, 943, 944; 29/12/2000; ESCOBAR, Pepe.“Rio pega fogo com o rock 40 graus” In: Folha de São Paulo, 06/08/1984; “Dois bilhões vão assistir Rock in Rio no exterior” In: Folha de São Paulo, 05/01/1991; “Globo transmite show ao vivo a partir de hoje” In: Folha de São Paulo, 18/01/1991; MATTOS, Adriana. “Indústria do rock fatura R$ 500 milhões no Rio” In: Folha de São Paulo, 20/01/2001; PENTEADO, Lea. “Rock in Rio: um sonho real, uma realidade de sonho” In: O Globo, 12/11/1984; KAUFFMAN, Rita. “Complexo eletrônico garante a qualidade da TV” In: O Globo, 11/01/1985; “Rock in Rio, os erros e os acertos. Valeu? Valeu” In: O Globo, 20/01/1985; PENTEADO, Lea e SILVA, Beatriz Coelho. “Rock in Rio, saudades. É hora de ligar a TV” In: O Globo, 10/01/1986; BAHIANA, Ana Maria. “Overdose de estrelas” In: O Globo, 17/08/1990; ALMEIDA, Lívia. “No embalo do Rock in Rio II” IN: O Globo, 05/01/1991; “Apólice de 10 milhões de dólares” In: O Globo, 10/01/1991; ALMEIDA, Lívia. “Canais abertos ao Rock in Rio II” In: O Globo, 18/01/1991; ALMEIDA, Lívia. “Som, imagem e o melhor da festa” In: O Globo, 01/02/1991; MARQUES, Mario. “Contagem agressiva” In: O Globo, 20/12/2000; ALECRIM, Michel. “Últimos retoques para o festival” In: O Globo, 12/01/2001; FILHO, Gilberto Lima e VASCONCELLOS, Fábio. “Mudanças na infra da Cidade do Rock atenuam o calor dos roqueiros” In: O Globo, 20/01/2001; “Mais rock e menos gente” In: O Globo, 23/01/2001; MEDEIROS, Jotabê. “Rock in Rio Lisboa: McCartney abre hoje o rock no Tejo” In: O Estado de S. Paulo, 28/05/2004; SCHILD, Susana. “Roqueiros de todo o mundo, uni-vos” In: Jornal do Brasil, 09/10/1984; LAGE, Miriam. “Rock ao vivo e na TV” In: Jornal do Brasil, 11/01/1985; TINOCO, Pedro. “As boas vibrações do Maracanã” In: Jornal do Brasil, 19/12/1990; “Juiz suspende Rock in Rio por falta de laudo” In: Jornal do Brasil, 09/01/1991; “Rock in Rio – MPB invade a praia roqueira” IN: O Dia, 13/01/2001. |