"Há um ano calaram uma mulher com quatro tiros. Mas a luta de Marielle se multiplicou ao longo desses 365 dias”. Assim começa a reportagem de Bette Lucchese para o 'Jornal Nacional' no dia 14 de março de 2019, dia em que o crime completava um ano. A data foi lembrada em todos os telejornais do dia, locais e de rede.
Desde a manhã, Chico Pinheiro, da bancada do 'Bom Dia Brasil', sinalizava que a data seria marcada por atos e manifestações. Miriam Leitão, no estúdio, comentou o caso reiterando a importância que Marielle tinha como exemplo de liderança representativa das minorias que foram fortalecidas no país nos últimos anos.
Ao longo do dia, dezenas de homenagens às vítimas foram realizadas na cidade. A primeira delas aconteceu no local do crime, o bairro do Estácio, onde 365 flores e um girassol, a flor preferida da vereadora, lembravam cada um dos dias sem a presença de Marielle e Anderson. No Complexo da Maré, comunidade onde cresceu a parlamentar, a abertura da exposição do artista Abdias do Nascimento lembrava a luta pela resistência que unia ambos – ele, nascido em 14 de março, ela, morta na mesma data, com a distância de 104 anos. Na igreja da Candelária, uma missa reuniu representantes de várias religiões.
O 'RJ1' trouxe mais detalhes sobre as investigações em curso, e o 'RJ2' foi aberto com Fernanda Graell, ao vivo, mostrando a praça da Cinelândia lotada de manifestantes e apresentações artísticas. O 'JN' e o 'JG' mostraram a repercussão dos atos em outras cidades do Brasil e do mundo e, ainda, deram notícias sobre o prosseguimento das investigações.
Miriam Leitão comenta a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes. Bom Dia Brasil, 14/03/2019.
Um ano depois do assassinato, admiradores da vereadora, ativista dos direitos humanos, se reúnem em diversos pontos para lembrar da luta por respeito e cobrar justiça. RJ, 14/03/2019.
Reportagem de Bette Lucchese sobre um ano da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes. Jornal Nacional, 14/03/2019.
No dia seguinte, o jornalista Mario Sergio Conti fez uma longa entrevista com Marcelo Freixo sobre Marielle, em seu programa na GloboNews.
Marcelo Freixo, 1 ano após a morte de Marielle Franco. Diálogos com Mario Sergio Conti, 15/03/2019
Homenagens ao longo do ano todo
Foram muitas as homenagens feitas à Marielle Franco durante um ano.
A Biblioteca de Manguinhos foi reaberta com o nome da vereadora ainda em março. No dia 2 de abril, manifestantes em todo mundo acenderam velas por Marielle e Anderson. No Rio, elas iluminaram as escadas da Câmara Municipal. Nos meses seguintes, manifestações pressionaram as autoridades a manter viva a memória dos assassinados.
O 'RJ2' de 2 de maio mostrou as galerias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro lotadas durante a sessão extraordinária em que foram votados, nesse dia, projetos de Marielle. Cinco, dos seis que estavam em pauta, foram aprovados: abertura de creches no período da noite; campanha permanente contra assédio e violência sexuais; inclusão do dia de Tereza Benguela, em homenagem à líder negra; medidas socioeducativas para que menores infratores pudessem cumprir sentenças em liberdade, com chance de trabalho; e políticas públicas de apoio às mulheres nas áreas de saúde, assistência social e direitos humanos. Um projeto de criação do dia da luta contra homofobia foi adiado a pedido da bancada evangélica. Ao fim da sessão, a tribuna do plenário foi batizada com o nome da vereadora.
Câmara de Vereadores aprova cinco projetos de autoria de Marielle Franco. RJ2, 02/05/2018
Em julho, os telejornais exibiram a homenagem feita pela ativista paquistanesa Malala Yousafzai que, em visita à cidade, grafitou o rosto de Marielle Franco em uma comunidade da Zona Sul carioca. Cinco meses depois, no dia em que a Declaração Internacional dos Direitos Humanos completava 70 anos, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Marcelo Freixo, concedeu à vereadora a condecoração mais importante do órgão. A medalha Tiradentes foi recebida pelo pai de Marielle.
A quase um ano de sua morte, Marielle foi celebrada no carnaval carioca. Com um enredo crítico que pretendia recontar a história do país a partir de heróis negros e índios, dando destaque ao papel da vereadora, a Mangueira foi campeã de 2019.
Direitos humanos
“Todo dia 14, um protesto simples e silencioso”, assim Bette Lucchese abria a reportagem que foi ao ar dia no 14 de agosto, cinco meses após o homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes, no 'JN'. A primeira organização internacional a se pronunciar sobre o crime seguiu desempenhando um papel importante para que o caso não fosse esquecido. Mensalmente, a Anistia Internacional organizava atos de protesto pelo silêncio das autoridades. Em julho, passou a pedir que uma comissão independente acompanhasse as investigações. A organização foi também responsável pela inclusão de Marielle Franco na lista das dez defensoras de direitos humanos a serem celebradas na sua principal campanha anual, como foi noticiado pelo 'JN' em 10 de outubro.
Marielle figura em campanha que destaca dez defensoras dos direitos humanos no mundo. Jornal Nacional, 10/10/2018.
Na véspera de o caso completar oito meses sem solução, em 13 de novembro, a Anistia Internacional divulgou um relatório chamado “O labirinto do caso Marielle”, apontando possíveis incoerências e contradições na investigação, além de questões consideradas graves, como o silêncio das autoridades sobre a ausência de câmeras de vigilância no local do crime, o desaparecimento de submetralhadoras e o desvio de munições. O 'Jornal da Globo' foi o primeiro a dar a notícia, repercutidas em todos os telejornais no dia seguinte.
Proteção internacional
Na tentativa de internacionalizar o caso que julgava estar em risco, a viúva de Marielle, Monica Benício, pediu proteção à comissão interamericana de direitos humanos da Organização dos Estados Americanos depois de episódios de ameaça. Ela foi ouvida por Carlos de Lannoy para o 'RJ2' do dia 4 de agosto. Dois dias depois, o 'JN' levou ao ar uma reportagem de Bette Lucchese com as declarações de Monica, que havia rejeitado entrar para programa de proteção a testemunhas. Ela alegava suspeitar do envolvimento de instâncias oficiais no caso.
Sempre lembrado nos anos seguintes
Ao longo dos seis anos até a conclusão das investigações, os aniversários do assassinato foram sempre lembrados com homenagens e protestos.
Não apenas nas datas redondas, aliás. Uma postagem que se tornou comum nas redes sociais, a qualquer momento, era a que dizia “XXX dias. Quem mandou matar Marielle, e por quê?”