Na madrugada do dia 2 de maio de 2011, quase dez anos após os atentados terroristas de 11 de setembro, os Estados Unidos anunciaram a morte de Osama Bin Laden. O líder terrorista foi capturado pelas tropas norte-americanas numa fortaleza onde estava refugiado, a 120 km de Islamabad, no Paquistão. A notícia foi divulgada oficialmente por Barack Obama num pronunciamento histórico.
Reportagem de Marcos Losekann e Sergio Gilz sobre o percurso que fizeram até a casa de Bin Laden em Abbottabad, mostrando as dificuldades da viagem, como as barreiras militares, crateras e curvas, Fantástico, 08/05/2011.
EQUIPE E ESTRUTURA
A estrutura internacional da Globo – com correspondentes nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, Ásia, Oriente Médio e Argentina – garantiu uma cobertura completa e aprofundada, que foi além do factual.
Os repórteres Marcos Losekann e Sergio Gilz foram enviados ao Paquistão logo depois de a morte de Osama Bin Laden ser divulgada. Os dois chegaram a Islamabad em 3 de maio e, nesse mesmo dia, foram a Abbottabad, local onde o chefe da Al Qaeda foi encontrado, a 120 km da capital.
“O jornalismo da TV Globo fez uma cobertura brilhante sobre a morte do Osama Bin Laden, deixando para trás toda a concorrência. Isso porque nossos correspondentes conseguiram mostrar para todos os brasileiros onde vivia o terrorista. E, quando a concorrência chegou ao local, já era tarde. Não se podia mais se aproximar da casa. Eu me lembro de ter visto uma reportagem de outra emissora, em que o repórter ou a repórter ficou trancado dentro do carro, sem poder sair, a centenas de metros de distância do local. Enquanto o Losekann tinha estado duas vezes lá pelo Jornal Nacional. Então foi um furo espetacular”, lembra William Bonner, editor-chefe e apresentador do JN.
NOTÍCIA CONFIRMADA
A Globo anunciou a morte de Osama Bin Laden assim que a notícia foi confirmada pelo canal de notícias norte-americano CNN e por agências de informação. Já passava da meia-noite (horário de Brasília) quando entrou no ar um plantão especial com Patrícia Poeta e Zeca Camargo, apresentadores do Fantástico. Pouco depois, a emissora transmitiu, ao vivo, o pronunciamento de Barack Obama, com tradução simultânea dos dois jornalistas.
“Eu assisto ao Fantástico todo domingo. Nesse dia, alguém na redação me avisou pelo rádio que estava uma movimentação na Casa Branca e que alguma coisa de muito importante seria anunciada. Na época, a gente já tinha até esquecido que o Bin Laden estava vivo em algum lugar. Preparamos tudo para dar a notícia dentro do Fantástico, mas não conseguimos confirmar a informação. E é o tipo da coisa que não podemos errar, imagina matar Bin Laden sem que ele estivesse morto. A CNN foi a primeira a dar que o assunto era a morte do terrorista. Quando foi confirmado, ainda em off, com as agências de notícia, entramos com o plantão especial da Patrícia Poeta e do Zeca Camargo, dizendo que, em instantes, Barack Obama anunciaria a morte de Bin Laden. Ainda não sabíamos os detalhes. Em seguida, transmitimos toda a fala do presidente norte-americano”.
Ali Kamel | então diretor da Central Globo de Jornalismo
Patrícia Poeta e Zeca Camargo anunciam a morte de Osama Bin Laden no Plantão da Globo, 02/05/2011.
A notícia foi destaque em todos os telejornais daquele dia 2 de maio. Foram exibidas reportagens sobre a repercussão da morte do chefe da Al Qaeda ao redor do mundo e as comemorações nas ruas de Washington e Nova York. Especialistas em relações internacionais analisaram as consequências no cenário mundial e os possíveis riscos de novos atentados terroristas. Os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono, em setembro de 2001, foram relembrados com matérias especiais dos repórteres que estavam nos Estados Unidos há dez anos, como Edney Silvestre, Zileide Silva e Jorge Pontual.
Entradas ao vivo
Antes mesmo de o Bom Dia Brasil começar, o apresentador Renato Machado adiantou algumas informações, ao vivo, sobre a morte de Bin Laden durante o Globo Rural. Naquela manhã, o telejornal exibiu uma edição especial sobre a operação militar que levou as tropas americanas ao esconderijo do terrorista. Os correspondentes Marcos Losekann, de Londres; Luís Fernando Silva Pinto, de Washington; e Roberto Kovalick, de Tóquio; fizeram entradas ao vivo ao longo do noticiário. Além disso, Edney Silvestre e Zileide Silva que, na época dos atentados ao World Trade Center, trabalhavam no escritório da Globo em Nova York, deram seus depoimentos.
O repórter Luís Fernando Silva Pinto, ao vivo, fala sobre a repercussão da morte de Osama Bin Laden em Washington, Bom Dia Brasil, 02/05/2011.
“Eu me lembro de ter aberto o jornal com essa notícia, o que fez voltar todas as imagens, sustos e emoções que os atentados de 11 de setembro provocaram. Talvez essas imagens sejam o ícone de sinal negativo desse início de século que foi o ano de 2001, exatamente o primeiro do século XXI. Quer dizer, o século abriu com aquela imagem, a imagem de que o mundo não estava em paz. Essa cobertura da morte do Osama Bin Laden fez reviver todo esse período de guerra, com imagens que mexem muito com as pessoas. Porque são imagens inesquecíveis de destruição, da invasão do Iraque, da invasão do Afeganistão, daquela prisão de Abu Ghraib, da prisão de Saddam Hussein naquele buraco, de toda a guerra”.
Renato Machado | então um dos apresentadores do Bom Dia Brasil
OPERAÇÃO POLÊMICA
Como uma edição praticamente toda voltada à morte de Bin Laden, o Jornal Nacional de 2 de maio relembrou os atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, em 2001. A reportagem de Edney Silvestre mostrou que, na edição do telejornal exibida naquele 11 de setembro, já se falava em Osama Bin Laden como o responsável pelos ataques terroristas aos Estados Unidos. O JN também analisou o impacto que a operação militar contra o líder da Al Qaeda teria nas eleições americanas de 2012, além de destacar as reações dos principais chefes de Estado ao acontecimento.
O Jornal da Globo, exibido quase 24 horas após o anúncio da morte de Osama Bin Laden, destacou as perguntas que ainda permaneciam sem respostas naquele momento: Por que o governo do Paquistão não foi informado sobre a operação? Por que não foram reveladas imagens da ação militar? Por que o corpo do terrorista foi jogado ao mar?
William Waack analisa as investigações americanas sobre o paradeiro de Osama Bin Laden, que culminaram na operação militar que matou o terrorista, Jornal da Globo, 02/05/2011.
Ao longo da semana, o Jornal Nacional acompanhou a polêmica em torno das diferentes versões, oficiais e extraoficiais, sobre a operação no Paquistão. No dia 5, conforme noticiou o Jornal Nacional, uma fonte não revelada do governo americano afirmava que, ao contrário do que fora divulgado pela Casa Branca no início, de que teria ocorrido uma intensa troca de tiros, havia sido uma ação unilateral. Bin Laden estava desarmado e não reagiu antes de ser morto pelos militares norte-americanos.
“A morte do Osama Bin Laden é um daqueles marcos importantes na linha do tempo. O Jornal da Globo tratou isso, primeiro, como um acontecimento histórico porque encerrava um período. Mas também a usamos como pretexto para mostrar quão instável é a situação no Paquistão e no Afeganistão. A presença do Osama Bin Laden junto à principal academia militar paquistanesa foi o pretexto para mostrarmos como são complexas as relações ali, onde não dá para dizer quem é bandido e quem é mocinho. O terceiro ponto que nos pareceu essencial nessa cobertura foi mostrar a derrota de um movimento terrorista, como o que Bin Laden chefiava, associada ao aniversário de dez anos dos ataques aos Estados Unidos. Nessa perspectiva histórica, a gente percebe como os atentados de 2001 foram, na verdade, menores do que a gente inicialmente acreditou que fossem. Não no seu impacto como imagem, evidentemente. Qualquer pessoa é capaz de dizer onde estava, quando viu as imagens das torres gêmeas do World Trade Center desabando. Mas a reação americana àquilo tudo foi desproporcional. O movimento terrorista islâmico era menor do que aquelas imagens inesquecíveis faziam a gente acreditar que fosse. Essa perspectiva histórica de dez anos e a morte isolada do Osama Bin Laden nos dá a verdadeira dimensão do terrorismo islâmico. Muito menor do que se imaginava. Muito menos capaz de causar danos duradouros do que se imaginava”.
William Waack | então apresentador do Jornal da Globo
A NOTÍCIA IN LOCO
No mesmo dia em que foi anunciada a morte de Osama Bin Laden, os correspondentes Marcos Losekann e Sergio Gilz foram enviados ao Paquistão para acompanharem de perto o acontecimento. Assim que chegaram à Islamabad, os dois seguiram de carro até Abbottabad, cidade a 120 km da capital, onde o terrorista estava escondido.
Já no dia 3 de maio, Marcos Losekann entrou ao vivo no Bom Dia Brasil, direto de Abbottabad. O correspondente estava próximo à casa onde Osama Bin Laden vivia e conversou com Renato Machado e Renata Vasconcellos sobre como estava a movimentação na cidade.
Reportagem de Marcos Losekann, direto do Paquistão, sobre a operação que culminou na morte do terrorista Osama Bin Laden, Jornal Nacional, 03/05/2011.
Quando o Jornal Nacional foi ao ar, Losekann estava de volta a Islamabad. Novamente ao vivo, o repórter descreveu o percurso que ele e Sergio Gilz fizeram até a casa de Bin Laden e questionou como teria sido possível o terrorista passar por tantas barreiras policiais, presentes ao longo do trajeto, sem levantar suspeita. Naquele momento, o exército paquistanês mantinha a casa lacrada e não permitia a entrada de ninguém sem autorização. Na reportagem exibida no JN, Losekann entrevistou paquistaneses que viviam na vizinhança, mas sequer desconfiavam da presença do líder da Al Qaeda no local.
Ao longo da semana, a equipe da Globo em Islamabad fez entradas ao vivo diárias nos principais telejornais da emissora, sempre atualizando os telespectadores com informações sobre a reação do governo paquistanês diante da ação militar norte-americana e as diferentes versões que foram surgindo sobre a operação para capturar e matar Osama Bin Laden.
Para a edição do Fantástico de 8 de maio, Losekann e Gilz fizeram novamente a viagem até Abbottabad, desta vez mostrando as dificuldades encontradas pelo caminho, como as barreiras militares, crateras, curvas e outros perigos, o que fazia com que a distância de 120 km fosse percorrida em não menos que três horas. A reportagem tentava entender como Bin Laden chegou à cidade, sede da principal academia militar paquistanesa, e permaneceu tanto tempo escondido sem despertar as desconfianças do governo daquele país.
O repórter Marcos Losekann fala ao vivo, direto de Abbottabad, Paquistão, em frente à casa onde o terrorista Osama Bin Laden foi morto. Bom Dia Brasil, 03/05/2011.
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Ali Kamel (26/03/2012), Renato Machado(12/09/2011), William Bonner (07/03/2012), William Waack (21/03/2012); Bom Dia Brasil, 02/05/2011; Fantástico, 1º/05/2011 e 8/05/2011; Jornal da Globo, 02/05/2011; Jornal Nacional, 2-7/05/2011; Mais Você, 02/05/2011 |