Por Memória Globo

João Goulart, popularmente conhecido como Jango, era vice-presidente de Jânio Quadros quando este renunciou à presidência, em 25 de agosto de 1961. Assumiu seu cargo dias mais tarde e presidiu o Brasil até 1964, quando foi deposto pelo Golpe Militar.

Jango exilou-se no Uruguai e, posteriormente, na Argentina, onde faleceu em 6 de dezembro de 1976, aos 57 anos. Sua morte, um ataque cardíaco, foi considerada natural até que suspeitas de envenenamento culminaram com a exumação de seu corpo, em 2013.

Reportagem sobre a missa em homenagem aos três anos da morte de João Goulart, celebrada no Rio de Janeiro. Jornal das Sete, 06/12/1979 .

Reportagem sobre a missa em homenagem aos três anos da morte de João Goulart, celebrada no Rio de Janeiro. Jornal das Sete, 06/12/1979 .

DESTAQUES

Sepultamento e homenagens

O corpo do ex-presidente foi levado de carro até São Borja, no Rio Grande do Sul, sua terra natal. Apesar do caixão lacrado, a comoção popular foi grande. A matéria sobre a missa de sétimo dia de João Goulart, que iria ao ar no Jornal Nacional, foi censurada e não pode ser exibida. 

A missa em homenagem aos três anos de sua morte, celebrada no Rio de Janeiro, foi ao ar no Jornal das Sete. Em 1980, o Jornal Hoje acompanhou a missa pelos quatro anos da morte do ex-presidente, na Igreja de Santa Luzia, com a presença de políticos e ex-ministros.

Reportagem sobre a missa de quatro anos de morte de João Goulart, na Igreja de Santa Luzia, com a presença de políticos e ex-ministros. Jornal Hoje, 05/12/1980.

Reportagem sobre a missa de quatro anos de morte de João Goulart, na Igreja de Santa Luzia, com a presença de políticos e ex-ministros. Jornal Hoje, 05/12/1980.

DENÚNCIAS

Em 1982, uma denúncia levou a Justiça da Argentina a pedir a exumação do corpo de João Goulart. A acusação partiu de Enrique Foch Díaz, conhecido do ex-presidente, que acusava o antigo sócio de Jango e ex-governador de Brasília, Ivo Magalhães, e o administrador do escritório argentino de João Goulart e ex-deputado, Cláudio Braga, de participação na morte. Díaz afirmava que Jango havia sido envenenado com sarin, uma substância tóxica, para que os dois ficassem com seus bens.

No Jornal Nacional de 21 de agosto de 1982, João Vicente Goulart, filho de Jango, foi entrevistado sobre a decisão da família de não autorizar a exumação do corpo do pai. As teses de Enrique Foch Díaz foram descartadas e o livro que ele escreveu sobre o caso, recolhido. O juiz responsável arquivou o caso por falta de provas e Díaz foi processado por Cláudio Braga e sentenciado a sete meses de prisão em 2002.

Entrevista com João Vicente Goulart, filho de João Goulart, sobre a suspeita de que seu pai teria sido envenenado e sobre a decisão da família de não exumar o corpo do ex-presidente, Jornal Nacional, 21/08/1982.

Entrevista com João Vicente Goulart, filho de João Goulart, sobre a suspeita de que seu pai teria sido envenenado e sobre a decisão da família de não exumar o corpo do ex-presidente, Jornal Nacional, 21/08/1982.

COMISSÃO DA CÂMARA

Em maio de 2000, uma Comissão Externa da Câmara Federal foi aberta para apurar as causas da morte de João Goulart. O pedido partiu do deputado Miro Teixeira, do PDT (Partido Democrático Trabalhista). A notícia foi ao ar no Jornal Nacional do dia 24, para o qual a repórter Zileide Silvaentrevistou João Vicente Goulart, Miro Teixeira e Fernando Gabeira.

Na mesma noite, o Jornal da Globo abordou a suspeita levantada pela Comissão da Câmara de que Jango tivesse sido vítima da Operação Condor – um acordo dos governos militares para eliminar políticos de oposição. O repórter Carlos Monforte entrevistou a socióloga Sinara Porto Furtado, que havia encontrado documentos secretos de reuniões de países da América do Sul para combater políticos considerados subversivos.

OPERAÇÃO MOSQUITO

Em 2000, a morte de Jango voltou à tona, com a criação de uma CPI. Em 6 de junho, a repórter Zileide Silva informou, no Jornal da Globo, que João Vicente Goulart havia prestado depoimento à Comissão.

No Jornal da Globo de 25 de agosto de 2000 foi ao ar uma matéria do repórter Geneton Moraes Neto sobre a Operação Mosquito, que teria interceptado e desviado de Brasília o avião de João Goulart para evitar que ele assumisse a presidência quando Jânio Quadros renunciou, em 1961. O brigadeiro reformado Marcio Leal Coqueiro assumiu, em entrevista a Geneton, ter comandado a operação. A informação era mais uma peça importante para as investigações da morte de Jango, provando que ele já representava uma ameaça aos militares antes mesmo de assumir o poder

Reportagem de Geneton Moraes Neto sobre a Operação Mosquito, que teria interceptado e desviado de Brasília o avião de João Goulart para evitar que ele assumisse a presidência quando Jânio Quadros renunciou, em 1961. Jornal da Globo, 25/08/2000.

Reportagem de Geneton Moraes Neto sobre a Operação Mosquito, que teria interceptado e desviado de Brasília o avião de João Goulart para evitar que ele assumisse a presidência quando Jânio Quadros renunciou, em 1961. Jornal da Globo, 25/08/2000.

ANISTIA CONCEDIDA

Em 15 de novembro de 2008 foi concedida a anistia ao ex-presidente João Goulart e a sua viúva, Maria Teresa Goulart. Além de uma indenização financeira, a anistia política marcou, segundo o presidente em exercício na época, Luis Inácio Lula da Silva, um ‘pedido oficial’ de desculpas do Estado brasileiro. A notícia foi ao ar no Jornal Nacional, que mostrou a entrega, pelo então ministro Tarso Genro, do documento de anistia ao neto de Jango, Cristopher Goulart.

EXUMAÇÃO

Em 18 de março de 2013, como noticiado no JN, a família de João Goulart autorizou a exumação de seu corpo para investigação da causa da morte. A suspeita de envenenamento ganhou forças depois que um ex-agente secreto do Uruguai disse, em depoimento, que os remédios que João Goulart tomava para o coração foram manipulados com o objetivo de envenená-lo. Nesta ocasião, também foram entregues documentos à Comissão Nacional da Verdade, criada em 2012 para apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas a partir do Golpe de 1964.

Em maio de 2013, o Jornal Nacional e o Jornal Hoje informaram que os passos para a investigação estavam sendo definidos e uma comissão de peritos brasileiros e estrangeiros iria acompanhar o processo de exumação e autópsia do corpo do ex-presidente.

O processo de exumação e autópsia aconteceu no dia 13 de novembro de 2013 no cemitério de São Borja, no Rio Grande do Sul e contou com a participação de peritos de seis países. Em seguida, os restos mortais de João Goulart foram recebidos em Brasília com honras militares fúnebres numa cerimônia concedida apenas a chefes de estado, como noticiou o Jornal Nacional do dia 14 de novembro.

O laudo da perícia foi divulgado pela Polícia Federal no dia 01 de dezembro de 2014, e o resultado foi inconclusivo, como mostrou a reportagem de Cristina Serra para o Jornal Nacional.

William Bonner informa a decisão da família de João Goulart de exumar o corpo do ex-presidente para investigar a causa de sua morte, Jornal Nacional, 18/03/2013.

William Bonner informa a decisão da família de João Goulart de exumar o corpo do ex-presidente para investigar a causa de sua morte, Jornal Nacional, 18/03/2013.

FONTES

MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional, a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004; Jornal da Globo 07/03/2000, 24/05/2000, 06/06/2000, 25/08/2000, 31/03/2004, 16/12/2004; Jornal das Sete 06/12/1979; Jornal Hoje 05/12/1980, 31/03/2004, 03/05/2013, Jornal Nacional 14/02/1981, 21/08/1982, 24/05/2000, 28/01/2008, 29/01/2008, 20/02/2008, 18/03/2013, 03/05/2013.
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