Por Memória Globo


No dia 15 de abril de 2016, jornalistas cobriram a sessão na Câmara que discutia o trâmite da votação do impeachment. Foi a sessão mais longa da história da Casa: durou 42 horas, tendo começado na sexta-feira e terminado na noite de sábado. Decidiu-se que a votação em Plenário começaria às 14h de domingo, dia 17 de abril. Repórteres, como Giuliana Morrone, Zileide Silva e Júlio Mosquéra, cobriram a sessão de perto, com ajuda de produtores, para os telejornais da Globo. Naquela noite, o ‘Jornal das Dez’, da GloboNews, por exemplo, terminou à meia-noite, contando com comentários de jornalistas ansiosos por retornar ao Congresso no dia seguinte para cobrir a votação. Na longa sessão, representantes de 25 partidos falaram no Plenário.

Zileide Silva fala, ao vivo, sobre a votação na Câmara que discutiu o trâmite da votação do impeachment, em seguida, a reportagem de Júlio Mosquéra traz detalhes da sessão, que já durava 35 horas. Jornal Nacional, 16/04/2016.

Zileide Silva fala, ao vivo, sobre a votação na Câmara que discutiu o trâmite da votação do impeachment, em seguida, a reportagem de Júlio Mosquéra traz detalhes da sessão, que já durava 35 horas. Jornal Nacional, 16/04/2016.

Reportagem de Maria Fernanda sobre o fim da sessão na Câmara que discutiu o trâmite da votação do impeachment de Dilma Rousseff e foi a sessão mais longa da história da Casa, com duração de 42 horas. Jornal GloboNews, Edição das 8h, 17/04/2016.

Reportagem de Maria Fernanda sobre o fim da sessão na Câmara que discutiu o trâmite da votação do impeachment de Dilma Rousseff e foi a sessão mais longa da história da Casa, com duração de 42 horas. Jornal GloboNews, Edição das 8h, 17/04/2016.

Ricardo Villela explica a estrutura montada para a cobertura naquela semana de intensa movimentação no Congresso Nacional: “Em primeiro lugar, era uma cobertura que envolvia muito o jornalismo local. A gente precisava estar preparado para cobrir localmente a manifestação, que até acabou sendo menor do que se esperava. A gente decidiu que a TV aberta, além da GloboNews, ia transmitir o processo inteirinho e escalamos o Heraldo Pereira e o Alexandre Garcia para comentarem, de dentro do Congresso, o resultado no domingo. Mas ao longo de três dias, houve dezenas de discursos, porque todo deputado que quisesse podia pedir a palavra e falar. Eram discursos e mais discursos”.

O dia da votação

  • Votação em Plenário da Câmara, 17/4/2016
  • A favor do processo: 367
  • Contra o processo: 137
  • Abstenções: 7

Globo e GloboNews transmitiram ao vivo a votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados no domingo, dia 17 de abril de 2017. A cobertura ininterrupta da Globo tomou oito horas e 14 minutos da programação, no período da tarde e início da noite. Durante a manhã, um plantão ancorado em estúdio especial, por William Bonner, na emissora no Rio de Janeiro, interrompia a programação com as principais notícias: manifestações contra e a favor do governo, a articulação política para mobilização de votos. A base governista precisava de 172 votos para barrar o prosseguimento do processo, e a oposição, 342.

William Bonner apresenta a cobertura especial sobre a votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, com entradas ao vivo de repórteres mostrando as manifestações pelo país, e comentários de Heraldo Pereira e Alexandre Garcia, direto do Congresso Nacional. Cobertura do Impeachment, 17/04/2016.

William Bonner apresenta a cobertura especial sobre a votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, com entradas ao vivo de repórteres mostrando as manifestações pelo país, e comentários de Heraldo Pereira e Alexandre Garcia, direto do Congresso Nacional. Cobertura do Impeachment, 17/04/2016.

Às 14h, a sessão começou, presidida por Eduardo Cunha. Uma hora depois, a votação, marcada pelos votos “cantados”. Cada deputado tinha cerca de 30 segundos para se manifestar. Cada voto era comemorado dentro e fora da Câmara – na Esplanada dos Ministérios, manifestantes divididos por barreiras físicas se organizaram em verdadeiras torcidas contra ou a favor do impeachment.

Os repórteres Fábio William, em Brasília, Hélter Duarte, no Rio de Janeiro, Felipe Siani e César Galvão, em São Paulo, mostram a movimentação dos manifestantes contra e a favor do impeachment de Dilma Rousseff após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu o prosseguimento do processo. Fantástico, 17/04/2016.

Os repórteres Fábio William, em Brasília, Hélter Duarte, no Rio de Janeiro, Felipe Siani e César Galvão, em São Paulo, mostram a movimentação dos manifestantes contra e a favor do impeachment de Dilma Rousseff após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu o prosseguimento do processo. Fantástico, 17/04/2016.

William Bonner anuncia, ao vivo, o resultado da votação na Câmara, que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Cobertura do Impeachment, 17/04/2016.

William Bonner anuncia, ao vivo, o resultado da votação na Câmara, que autorizou o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Cobertura do Impeachment, 17/04/2016.

Bastidores

Repórteres de política, comentaristas e produtores especialistas se espalharam pelos corredores do Congresso. Pontos de link foram montados nas áreas externas e internas, para que qualquer profissional pudesse entrar ao vivo quando precisasse. Na redação de Brasília, outros profissionais trabalhavam decupando – ou seja, destacando os principais trechos – o conteúdo da transmissão e fechando reportagens para o ‘Fantástico’ e os telejornais do dia seguinte.

Na principal galeria de transmissão da Globo na Câmara, Alexandre Garcia e Heraldo Pereira repetiam a dupla que trabalhou lado a lado na cobertura do processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992. A função deles, em ambos os casos, era de narrar, em breves intervalos entre os votos, o andamento da sessão, do início ao fim. A decisão editorial da empresa fora de deixar a transmissão livre, sem interrupções de comentários.

Em entrevista ao Memória Globo, Heraldo comenta que a câmera da Globo foi posicionada no mesmo local, com a mesma angulação, do que 24 anos antes. E acrescenta: “No dia, nas galerias, fomos até muito tarde. A gente imaginava que o desfecho do impeachment da presidente Dilma seria aquele. O impeachment é um remédio constitucional, ele deixa marcas. No caso do impeachment do presidente Collor, a suposição é de que as marcas não tenham sido tão profundas, porque o presidente Collor não tinha uma base parlamentar. No impeachment da presidente Dilma, a resistência contra o desfecho talvez tenha sido maior”.

'Fantástico'

A edição do ‘Fantástico’ do dia 17 de abril de 2016 foi refeita em cima da hora. O programa previsto para ir ao ar naquela noite, preparado ao longo da semana, foi inteiramente descartado. Na tarde de domingo, equipes correram contra o tempo para fechar reportagens que contavam o passo a passo da votação, repercutiam aquilo que acontecia diante das câmeras, mas também por trás delas. Mas a sessão da Câmara se alongou mais do que o previsto, adentrando a faixa de horário do programa. Foi tomada a decisão de descartar todo o material e entrar com a notícia quente, ao vivo. Em tempo recorde, editores em Brasília prepararam um vídeo com rápidos destaques da sessão, exibido na abertura do ‘Fantástico’ assim que a transmissão da votação terminou. Em seguida, os apresentadores Tadeu Schmidt e Poliana Abritta chamaram repórteres espalhados pelo Brasil, que comentavam aquilo que apuraram durante o dia. Apenas o bloco de esporte, com os gols da rodada, foi exibido conforme o previsto.

Iain Semple, então chefe de redação em Brasília, lembra em detalhes a edição histórica. “Foi chegando a hora do Fantástico, e a gente via a paginação inteira mudar. A gente viu o Fantástico inteiro deixar de existir e não teve nenhuma dúvida de que a gente iria até o final. Tudo deu lugar ao fato mais importante do dia, que era a votação”. Ricardo Villela complementa: “A gente recebeu ajuda de gente de São Paulo e do Rio, a gente estava muito apegado ao material lindo produzido, com fina edição, textos maravilhosos. Mas era forçoso reconhecer que, àquela altura, o que se precisava fazer era jornalismo ao vivo, porque estava fervendo”.

Para o ‘Fantástico’ que não foi ao ar, havia sido montada uma estrutura reforçada com quatro ilhas de edição na redação de Brasília, que recebera profissionais da Globo de outras cidades. Grande parte do material inédito foi exibido em outros telejornais da Globo, como o ‘Bom Dia Brasil’, e da GloboNews.

Após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu o prosseguimento do processo do impeachment de Dilma Rousseff, o Fantástico exibe clipe com imagens da votação. Em seguida, os repórteres Fábio William, em Brasília, Hélter Duarte, no Rio de Janeiro, Felipe Siani e César Galvão, em São Paulo, mostram a movimentação dos manifestantes contra e a favor do impeachment. Fantástico, 17/04/2016.

Após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu o prosseguimento do processo do impeachment de Dilma Rousseff, o Fantástico exibe clipe com imagens da votação. Em seguida, os repórteres Fábio William, em Brasília, Hélter Duarte, no Rio de Janeiro, Felipe Siani e César Galvão, em São Paulo, mostram a movimentação dos manifestantes contra e a favor do impeachment. Fantástico, 17/04/2016.

GloboNews

A GloboNews também estava ao vivo desde as 9h da manhã daquele domingo, cobrindo as manifestações e, depois, a sessão na Câmara. Repórteres se distribuíram nas ruas das capitais; comentaristas, nos corredores e galerias da Câmara e do Senado. Desde cedo, Renata Lo Prete, Eliane Cantanhede, Mariana Francescini entravam no ar com informações recém-apuradas. No estúdio, apresentadores se revezaram para ancorar e amarrar os acontecimentos. O ‘Jornal das Dez’ daquela noite abriu com um vídeo editado mostrando os destaques dos votos “cantados” no plenário naquela tarde. Apresentado por Donny De Nuccio, Renata Lo Prete e Gerson Camarotti, o ‘J10’ foi todo dedicado ao assunto. A repórter Andréia Sadi, posicionada na galeria da Câmara, passou informações ao vivo apuradas nos bastidores do Poder. Naquele domingo, a GloboNews obteve audiência histórica. Mesmo sendo um canal fechado, figurou no ranking da TV aberta – foi o quarto mais assistido. Entre os canais por assinatura, permaneceu o dia todo no primeiro lugar. Mais de 8 milhões de pessoas passaram pela GloboNews.

'Jornal das Dez': Impeachment de Dilma (2016)

'Jornal das Dez': Impeachment de Dilma (2016)

“Tudo foi extremamente cansativo. Perdi até a voz. Começamos cedo e fomos até a madrugada. Transmitimos tudo ao vivo, e era justamente nas pausas dos discursos que você tinha que comentar. ” - Gerson Camarotti, comentarista.

“Foram três dias de cobertura. No sábado e no domingo, cobri os bastidores. Os deputados queriam muito passar a opinião deles, e eu foquei mais no seguinte: ‘Vou contar o que está acontecendo no Palácio da Alvorada, onde ficava a Dilma, e o que acontecia no Palácio do Jaburu’. Repercutia entre os parlamentares para tentar, de fato, levar alguma coisa de diferente para a GloboNews. Foi o que eu fiz e deu muito certo” - Andréia Sadi, repórter.

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