Em 1979, El Salvador sofreu um golpe de Estado que depôs o General Carlos Humberto Romero e instituiu uma Junta Civil-Militar no poder. A crise política e social aumentou com a repressão militar e estourou com o assassinato do arcebispo Oscar Romero, durante uma missa, em março de 1980. No funeral do religioso indicado ao Prêmio Nobel da Paz, 42 pessoas foram assassinadas, o que marcou o início da guerra civil. O conflito armado envolveu o governo militar, grupos paramilitares de extrema direita e a guerrilha de esquerda, representada pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). O financiamento da guerra por americanos e soviéticos, que apoiavam lados opostos, girou em torno de 7 bilhões de dólares, o que contribuiu para estender ainda mais a guerra.
O acordo de paz foi firmado em 1992, após 21 meses de negociações entre o então presidente Alfredo Cristiani e dirigentes da FMLN, mediadas pela Organização das Nações Unidas. Mais de 60 mil pessoas morreram no conflito. O fim da guerra civil em El Salvador representou o fim do último resquício da Guerra Fria na América Central.
Reportagem de Lucas Mendes sobre as eleições presidenciais em El Salvador e a atuação de guerrilheiros esquerdistas no país. Jornal Nacional, 24/03/1984.
EQUIPE E ESTRUTURA
A Globo acompanhou de perto a crise política e social em El Salvador desde a deflagração da guerra civil, em março de 1980.
Durante doze anos, o escritório de Nova York centralizou as informações sobre o conflito, com apoio de agências de notícias internacionais, e enviou repórteres ao país. Hélio Costa, Luís Fernando Silva Pinto, Lucas Mendes, Henderson Royes, Paulo Zero e Orlando Moreira estiveram diversas vezes no local, principalmente nos primeiros cinco anos do conflito.
PASSEATA SANGRENTA
El Salvador ainda não vivia uma guerra civil declarada, quando o Bloco Popular Revolucionário organizou uma “marcha bufa” na capital San Salvador em 7 de fevereiro de 1980, como mostrou a reportagem de Lucas Mendes e Henderson Royes para o Jornal da Globo daquela noite. O objetivo da passeata era ridicularizar a Junta Civil-Militar que governava o país desde o ano anterior, quando ocorreu um golpe de Estado.
Na matéria, Lucas Mendes observava que havia muitas mulheres e crianças naquele protesto, que acabou se tornando uma passeata de morte. “Nunca ficou esclarecido quem começou a disparar ou de onde vieram os tiros, os radicais de esquerda acusam organizações paramilitares de direita. A direita, afirma que as esquerdas criam seus próprios mártires. O número de mortes também varia conforme a fonte, as oficiais afirmam que o número de mortes chega perto de mil”, explicou Lucas Mendes na reportagem editada por Otávio Escobar, também do escritório de Nova York.
Reportagem de Lucas Mendes sobre a marcha do Bloco Popular Revolucionário e os confrontos dos manifestantes com os militares em El Salvador. Jornal da Globo, 07/02/1980.
Nesta reportagem especial, Lucas entrevistou pela primeira vez o líder da esquerda moderada José Napoleón Duarte, que fora democraticamente eleito presidente em 1972, mas não assumiu. Foi preso, torturado e deportado. E só voltou ao país em 1979, após o golpe.
Naquela mesma semana, os correspondentes cobriram o sequestro da sede do Partido Democrata-Cristão por guerrilheiros, como mostrou o Jornal Nacional do dia 8 de fevereiro. Devido à ação, grupos paramilitares de extrema-direita decidiram ataca-los. Era o início de uma situação tensa, que estourou em guerra civil um mês depois, com o assassinato do arcebispo da paz, Oscar Romero.
Por trás das câmeras
O repórter cinematográfico Henderson Royes se lembra do caos nas ruas de El Salvador no início da guerra civil e diz que a câmera ou a identificação como “imprensa” não impediram que saíssem da mira de tiros. “Era muito perigoso, eu sempre tive medo de voltar. Houve uma vez em que chegamos à catedral, após um tiroteio e fui me aproximando para filmar os corpos. Não percebi que atrás de mim tinham umas dez pessoas que acharam que estavam seguras comigo, que ninguém ia atirar no cinegrafista com câmera. Mas a guarda civil estava aumentando o cerco em volta da catedral e começou a atirar. Corremos e nos escondemos atrás de um carro, até que uma ambulância da Cruz Verde estacionou entre nós. Acabaram deixando a gente ir embora.”
ASSASSINATO DO MONSENHOR OSCAR ROMERO
Indicado para o prêmio Nobel da Paz, o arcebispo Oscar Romero era considerado um dos personagens mais importantes para a preservação dos direitos humanos em El Salvador. No dia 24 de março de 1980, Romero foi executado com um tiro no peito, durante a celebração de uma missa. Ele já havia se posicionado diversas vezes contra a repressão do governo e dos constantes atentados dos radicais de direita e esquerda.
Após seu assassinato, o governo aumentou a presença do Exército nas ruas e determinou censura dos meios de comunicação. Em seu velório, um tiroteio tirou a vida de 42 pessoas e instaurou um caos na capital San Salvador. Os enviados especiais ao local, Luís Fernando Silva Pinto e Paulo Zero, que permaneceram na capital durante algumas semanas, acompanharam tudo de dentro da igreja e mostraram detalhes da confusão, em reportagem para o Fantástico, exibida no dia 30 de março.
Mar de sapatos
Paulo Zero contou, ao Memória Globo, que a imagem mais marcante da cobertura desse funeral foi o mar de sapatos deixado para trás pela população em fuga. “Havia uma multidão em volta da catedral, porque não dava todo mundo dentro. Na frente da escadaria, tinha um parapeito, como uma sacada, e decidimos subir para fazer umas imagens do povo todo lá embaixo. Quando estávamos filmando, estourou uma bomba do lado direito. Vimos o clarão. Logo, começou um tiroteio, gente correndo para lá e para cá – e a gente lá em cima. Eu estava com a CP, uma câmera de filme que é toda preta, que põe no ombro. Estávamos com medo de acharem que era uma bazuca. Então a gente gravava umas passagens rapidinhas. O Luís Fernando subia, falava, e se abaixava. Depois, ficamos presos na igreja durante um tempo, não conseguíamos sair por causa dos tiros. Quando saímos, havia um mar de calçados na frente da igreja. A praça estava forrada de sapatos.”
E a história não parou por aí. Paulo Zero lembrou ainda que quando finalmente decidiram voltar para casa, foram surpreendidos com um incêndio. “Saímos da igreja, mesmo com tiroteios. Fomos correndo direto para o nosso carro, que estava a duas quadras dali. Quando chegamos, labaredas de fogo saíam do veículo. Eu perdi a mala de luz, e um monte de equipamento”.
Agravamento da crise
Luís Fernando Silva Pinto e Paulo Zero continuaram na capital San Salvador para cobrir o enterro e identificação dos corpos das pessoas mortas no velório de Monsenhor Romero. Na reportagem exibida no Jornal Nacional do dia 1º de abril de 1980, os correspondentes mostraram que o país estava dividido: na capital, a população tentava voltar à normalidade, enquanto no campo, os movimentos de guerrilha seguiam treinando pessoas para a luta armada.
Ao Memória Globo, Luís Fernando disse que aquela guerrilha foi a situação mais tensa e “tenebrosa” que presenciou como correspondente: “El Salvador era o país mais complicado da América Central, era uma guerra mais subversiva, que está no meio de você. Se você está num elevador com seis pessoas e tem duas que querem matar as outras quatro, o que você faz? Difícil de cobrir. Havia esquadrões de execução. No meio da cidade, de repente, víamos três homens numa caminhonete atirando.”
Em outra reportagem, exibida no Jornal da Globo, no dia 7 de abril, o repórter se investigou uma das principais fontes de discórdia do país: a reforma agrária. Três semanas após a promulgação de uma lei que previa tornar 60% das terras produtivas do país propriedade dos produtores rurais, extremistas de esquerda e direita discordavam da eficácia do projeto. Já o governo, de acordo com a matéria, acreditava que a implementação da medida seria uma forma de evitar uma revolução.
ESCALADA DA VIOLÊNCIA
Ao longo do ano de 1980, a violência em El Salvador aumentou: números oficiais registraram dez mil mortes. Do lado governista, uma cisão opunha dois grupos do Exército: moderado e radical, que se uniam frequentemente para apoiar investidas como a invasão da Universidade Nacional, em junho. Do lado esquerdista, a luta armada tomava embaixadas, fazia reféns e exigia a deposição da junta militar. A Globo acompanhou por meio de agências internacionais a escalada da guerrilha nos primeiros meses.
De Nova York, o correspondente Sergio Motta Mello atualizava o Brasil com boletins periódicos. Em dezembro de 1980, quando seis dirigentes da oposição esquerdista foram sequestrados, torturados e assassinados por membros de um comando militar de direita, o correspondente foi enviado ao país com o repórter-cinematográfico Paulo Zero. A primeira reportagem deles foi sobre o velório dos guerrilheiros e a ebulição nas ruas, em meio a troca de tiros, exibida no Jornal Nacional do dia 3.
A equipe permaneceu na região por mais de dez dias, registrando cenas da guerrilha. O resultado da apuração foi uma reportagem especial exibida no Jornal Nacional do dia 13 de dezembro, data da escolha de um novo presidente da República pela junta militar. Nesta matéria, também havia a informação que nove entre dez mortes em El Salvador eram fruto da violência política, que tirava a vida principalmente de jovens.
Lembranças da guerrilha
Paulo Zero conta que perdeu as contas de quantas vezes viajou ao país. “El Salvador foi uma cobertura que durou vários anos. Comecei em 1979, cobrindo o golpe de Estado. Entre 1979 e 1984, íamos cinco vezes por ano, pelo menos. Primeiro, foi uma guerrilha urbana. Tinha muito atentado, botavam fogo em ônibus, carro… Era uma cobertura em que todo dia tinha um tiroteio. Acordávamos quase todo dia com barulho de tiroteio. E ao invés de fugir, a gente tinha que ir fazer o tiroteio, para ver o que estava acontecendo. Aí depois, teve uma época em que a guerrilha se organizou mais, e foi para o interior. Saiu da cidade e foi para o interior se organizar. E aí as coisas eram mais fora de San Salvador. Aí, quando o Napoleão Duarte começou a entrar na cena – porque tinha os Democráticos Cristãos, liderados pelo Napoleão Duarte, e tinham os do D’Aubuisson, o pessoal da Arena, pessoal de direita. E aí começaram a se organizar eleições.
Em entrevista ao Memória Globo, Sergio Motta Mello lembrou que em El Salvador, “sentia medo o tempo inteiro”. “O perigo de uma bala perdida era enorme. Você não sabia de onde vinha o tiro, e tinha muito tiro. Então, havia risco de vida em qualquer lugar em que você estivesse. O pessoal da direita de El Salvador punha o revólver na mesa do bar, o cara tomava uísque com a arma em cima do balcão. Inacreditável. Você tem que ter bom senso para ir até o limite das situações, sem se expor demais. Mas é muito difícil ponderar os riscos e tomar essas decisões o tempo todo. Porque você nunca sabe se está indo no caminho certo. Depois que você cobre esse tipo de guerra, passa a dar um valor maior à estabilidade política, à possibilidade de se resolverem os conflitos de forma pacífica.”
REPÓRTERES DA GLOBO EM PERIGO
O caso das freiras assassinadas
No dia 2 de dezembro de 1980, três freiras americanas e um religioso foram assassinados em San Salvador, por militares. O episódio teve grande repercussão internacional e gerou reação do governo norte-americano, que pediu à Junta Militar de El Salvador que controlasse a ação de seus homens.
Em fevereiro de 1982, Hélio Costa e Orlando Moreira desembarcaram na capital para cobrir o julgamento de seis integrantes da Guarda Nacional, acusados do assassinato, como mostrou a reportagem do Jornal Nacional do dia 10. De acordo com a matéria, o julgamento só ocorrera devido à condição imposta pelo governo dos Estados Unidos: ou El Salvador dava provas de que respeitava os direitos humanos, ou não receberia um empréstimo de 81 milhões de dólares acordado entre as partes.
Em seguida, os repórteres partiram para a cidade de El Sulután, no interior, e acompanharam a ação do Exército para controlar o município rural. A situação era de caos. E Hélio Costa mostrou que, ainda assim, o governo insistia em dizer que controlava todo o território nacional. El Salvador era, na verdade, uma das regiões mais perigosas do mundo, onde o inimigo podia estar em qualquer lugar, conforme mostrou a reportagem para o Fantástico, do dia 14 de fevereiro.
Em depoimento ao Memória Globo, Hélio Costa lembrou: “Inicialmente, passamos alguns dias com o Exército salvadorenho, que certamente tentou acobertar toda a história da guerra. Eles mostravam como se a guerra tivesse sido ganha e que eles estivessem fazendo um trabalho absolutamente purificante para a nação salvadorenha. E nós não gostamos muito da ideia, então decidimos voltar e passar uma temporada com os guerrilheiros”. Essa segunda aventura foi ao ar no Globo Repórter.
Após a emboscada, o Globo Repórter
A saga de Hélio Costa e Orlando Moreira pelo interior de El Salvador, registrando a ação da guerrilha pelo ponto de vista dos guerrilheiros, tornou-se tema do Globo Repórter, exibido no dia 25 de março de 1982. O programa realizou um panorama da situação política da América Central, com ênfase na violência presenciada pelos repórteres nesta viagem. A ideia de se aventurar pelo interior do país foi motivada por denúncias de que houvera um massacre de camponeses, executado por militares. Para a reportagem, os jornalistas conversaram com personagens que comprovaram a matança. Mas, em meio à apuração, a equipe da Globo foi surpreendida por uma emboscada.
Em depoimento ao Memória Globo, Hélio Costa lembrou os detalhes da situação e afirmou que ele e seu amigo Orlando Moreira não morreram “por pura sorte”. Ao registrarem cenas da guerra e da fome, notaram que soldados à espreita os aguardavam. “Eu estava dirigindo uma Kombi e, em determinado momento, vi no mato uns pontos pretos, achei que era um pássaro. No que eu vi que o ponto brilhou, eu não esperei: engatei uma ré e virei o carro para sair de volta. Eles levantaram – era uma coluna do exército e saíram com rifle M16 atirando na gente. Vazaram tudo de bala o nosso carro e a gente abaixava a cabeça. Até que descemos a colina e lá embaixo estava uma família que eu tinha ajudado. Quando nós apontamos lá em cima, o homem da casa sentiu que nós estávamos sendo perseguidos e abriu a porteira para a gente. Nós passamos e ele fechou. Quando o jipe chegou, eles tiveram que descer para abrir a porteira encrencada. Foi o tempo que nós tivemos para sair do local, chegar no asfalto e ir até à cidade, senão teríamos sido mortos.”
Orlando Moreira também se lembrou da história, foram momentos de tensão. Para o repórter cinematográfico “não é novidade as pessoas atirarem em cima de mim, mas lá, um pelotão do exército atirou diretamente em cima da gente. Não deu tempo de ficar com medo. Chegou um ponto que eu falei: ‘Olha, só quero saber onde vai pegar o tiro.’ A sorte é que eles eram maus atiradores. Porque nós íamos ser jogados no campo dos subversivos.”
ELEIÇÕES DURANTE A GUERRA CIVIL
Eleições gerais de 1982
De um lado, o governo prometia votos com segurança. De outro, os guerrilheiros juravam votos com sangue. Sem reconhecer o pleito, a extrema esquerda se empenhava em destruir o transporte coletivo da capital para impedir os eleitores de chegarem aos colégios eleitorais durante as eleições legislativas de 1982. Os repórteres Lucas Mendes e Paulo Zero desembarcaram em El Salvador em março daquele ano junto com 600 jornalistas do mundo inteiro para cobrir o pleito, conforme mostrou a reportagem do Jornal Nacional, exibida no dia 26 de fevereiro.
A votação mesmo só ocorreu no dia 28, mesmo sob intenso tiroteio com 40 mortos e muitos feridos, como relatado na reportagem dos correspondentes ao Jornal Nacional daquela noite. Naquelas eleições, 59% dos votos foram dados a partidos de extrema direita, e 51% ao partido de centro, apoiado pelos Estados Unidos. Em maio daquele ano, os partidos apoiaram a posse de Álvaro Magaña.
De acordo com Lucas Mendes, em depoimento ao Memória Globo, a guerrilha e a extrema direita não tinham nada contra jornalistas. Já o Exército, não gostava nem um pouco da imprensa. Ao longo dos 12 anos de guerra, o repórter esteve 13 vezes em El Salvador e se lembra de escutar tiroteio todos os dias; além disso, para ser bem sucedido em seu trabalho, mantinha uma boa relação com suas fontes, apesar de não ter garantia de segurança. “Depois da primeira viagem, liguei para a Globo e pedi coletes à prova de bala. Na viagem seguinte, foram confiscados no aeroporto, e o policial disse que eu fosse reclamar com o Ministro da Guerra. Fui. O general foi curto e grosso: ‘Meus soldados querem esses coletes, os terroristas também. Matam por eles’. Nunca mais os usei.”
Eleições presidenciais de 1984
Em meio à guerra civil, El Salvador conseguiu promover eleições presidenciais livres, que ocorreram em dois turnos.
A primeira votação foi realizada no dia 25 de março de 1984, como mostrou a reportagem de Lucas Mendes para o Jornal Nacional do dia 24, na qual relembrava os principais momentos da guerra. Em sua análise, El Salvador passara por uma guerrilha urbana até 1981, quando foi, aos poucos, se voltando para o campo, onde os guerrilheiros treinavam seus homens. Nesta matéria, o correspondente da Globo entrevistou o candidato favorito Napoleón Duarte, que afirmou saber que as eleições não iriam resolver todos os problemas do país, embora fossem necessárias.
Reportagem de Sérgio Motta Mello sobre as eleições presidenciais em El Salvador, com ataques de guerrilheiros da esquerda revolucionária. Fantástico, 06/05/1984.
Segundo turno
Esquerda moderada e extrema direita foram os grupos mais votados pelos salvadorenhos, na disputa eleitoral que deixou de fora os guerrilheiros. Foram ao segundo turno o democrata-cristão Napoleón Duarte e o conservador Roberto D’Aubuisson, em nova votação que ocorreu no dia 6 de maio daquele ano, como mostrou a reportagem de Sergio Motta Melo para o Fantástico daquela noite. Nessa matéria, o correspondente correu as imediações da capital, mostrando também as consequências de alguns atos da esquerda revolucionária, que tentou, enfraquecida, impedir a população de votar.
José Napoleón Duarte governou El Salvador entre junho de 1984 e junho de 1989, e não conseguiu pôr fim à guerra civil.
O TERREMOTO
A guerra civil ainda dominava o interior de El Salvador, quando um terremoto atingiu a capital, derrubando um de seus principais prédios, deixando cerca de 1.500 pessoas mortas e centenas de feridos. O tremor – de magnitude 7,5 graus na escala Richter – ocorreu em na manhã de 10 de outubro de 1986. Lucas Mendes se deslocou para a América Central para acompanhar os trabalhos de resgate das forças humanitárias, como mostrou o Fantástico do dia 12 de outubro. Ao longo daquela semana, o correspondente fomentou os principais telejornais da Globo com informações sobre a tragédia.
Reportagem de Lucas Mendes sobre o terremoto em San Salvador e os trabalhos de resgate das forças humanitárias internacionais. Fantástico, 12/10/1986.
Globo Repórter
Reportagem de Luís Fernando Silva Pinto e Paulo Zero sobre o resgate de uma vítima soterrada por escombros após um terremoto que atingiu El Salvador, Globo Repórter, 15/10/1986.
No terceiro dia após o cismo, também desembarcaram em San Salvador Luís Fernando Silva Pinto e Paulo Zero, com a missão de captar imagens exclusivas para o Globo Repórter, exibido no dia 15. Os repórteres tinham esperanças de encontrar sobreviventes, assim como as famílias das vítimas, que aguardavam por informações atrás do cerco formado por missões internacionais de resgate. Logo no primeiro dia, a equipe acompanhou a espera de uma mãe por notícias da filha, Marisol, que estava no terceiro andar do prédio mais afetado.
Paulo Zero contou um pouco dessa história, ressaltando que a cena mais marcante da reportagem também é uma das mais importantes que ele registrou nesse período, como correspondente nos Estados Unidos. “No terceiro dia, quando chegamos, todo mundo praticamente estava indo embora. Fomos para o prédio Ruben Dario e vimos uma senhora a 20 metros da gente, chorando. Ela queria entrar para ver o corpo da filha; que ainda não tinha sido entregue. A gente a chamou e conseguimos entrar com ela para perto dos escombros. O genro estava trabalhando de voluntário. Fui com a câmera para lá e o acompanhei descendo os escombros, estava chorando. Em um momento, ele vem – fico até emocionado – e dá um abraço na mãe dela e fala que ela está viva. Nós subimos, mostramos o resgate dela, e saímos de carro na frente da ambulância para o hospital. A perna dela tinha sido prensada, tinha que ser amputada. A sala de operação estava um caos, consegui subir numa janela e filmar os procedimentos e a mãe, depois, cuidando dela.”
A repercussão
Na semana seguinte, no dia 21, o Jornal Nacional exibiu uma reportagem sobre a repercussão do Globo Repórter no Brasil e em El Salvador. Em entrevista à repórter Sônia Pompeu, o Embaixador salvadorenho Gregorio Contreas informou que foi alto o número de pessoas fazendo doações para as vítimas.
O FIM DA GUERRA
Após 21 meses de negociações um acordo de paz sinalizou o fim da Guerra Civil de El Salvador, como mostrou o Jornal Nacional do dia 1 de janeiro de 1992. A matéria reuniu imagens de agência da reunião realizada em Nova York, na qual o ex-Secretário Geral da ONU, Javier Perez de Cuellar mediou a assinatura do cessar-fogo entre o governo salvadorenho e membros da FMLN. As medidas para colocar em prática o fim da guerra civil foram tomadas ao longo do ano de 1992.
FONTES
Edições consultadas de telejornais: Jornal Nacional: 08/02/1980; 03/12/1980; 13/12/1980; 10/02/1982; 26/02/1982; 28/02/1982; 24/03/1984; 01/01/1992. Jornal da Globo: 7/02/1980; 7/04/1980. Fantástico: 30/03/1980; 14/02/1982. Globo Repórter: 25/03/1982. Matérias em periódicos: “Assassínio de Arcebispo põe em risco América Central”. Jornal do Brasil, 26/03/1980. “Mais de 3.500 mortos em El Salvador este ano”, O Globo, 06/03/1981; “Acordo põe fim à Guerra com El Salvador”, O Globo, 02/01/1992; MACEDO, Sandro. “Guerra civil de El Salvador deixou mais de 60 mil mortos entre 1980 e 1992”, Acervo O Globo, 11/01/2017. Depoimentos concedidos ao Memória Globo: Hélio Costa (30/11/2001); Henderson Royes (01/02/2018); Lucas Mendes (28/01/2009, 29/03/2017); Luís Fernando Silva Pinto (26/03/2010); Orlando Moreira (19/12/2001); Paulo Zero (19/10/2009). Sergio Motta Mello (12/06/2002, 30/06/2017). |