No dia 17 de junho de 1972, cinco homens foram detidos por invadirem a sede do Comitê do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington. O grupo pretendia instalar um grampo telefônico e usar as informações obtidas para ajudar a reeleger o republicano Richard Nixon. Embora a Casa Branca declarasse que desconhecia o fato, as explosivas reportagens dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, comprovaram o envolvimento do presidente e seus assessores no caso.
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Webdoc sobre a cobertura do caso Watergate e Renúncia de Nixon (1974) com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
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A Globo acompanhou desde o início a crise política norte-americana, fazendo uso de material das agências internacionais e apresentando reportagens do correspondente Lucas Mendes, exibidas, sobretudo, no Jornal Nacional.
O momento culminante da cobertura, no entanto, ocorreu no Jornal Internacional. Em 9 de agosto de 1974, em edição extraordinária sobre a renúncia de Nixon, o telejornal exibiu imagens do presidente se maquiando, episódio que o jornalista Hélio Costa, então correspondente da Globo em Nova York, considera um dos mais marcantes da sua carreira.
Ainda sem estrutura para transmitir regularmente via satélite, a Globo assinara um convênio com a rede de TV norte-americana ABC. Estava tudo pronto para a transmissão ao vivo, com tradução simultânea, do discurso de renúncia. Uma câmera no Salão Oval da Casa Branca transmitiria as imagens para um estúdio em Nova York, de onde seriam passadas para a Rede Globo, já com a narração de Hélio Costa.
A transmissão oficial do discurso estava marcada para começar às 20h (horário de Washington). Um selo presidencial apareceria no vídeo, e um locutor anunciaria: “Senhoras e senhores, o presidente dos Estados Unidos.” Só então o presidente Nixon apareceria na tela e iniciaria o discurso. Cinco minutos antes do horário esperado, porém, a câmera do Salão Oval foi aberta e, pensando tratar-se de uma mudança no protocolo, Hélio Costa começou a narrar as imagens, imediatamente colocadas no ar em edição extraordinária do Jornal Internacional. Surpresa total: o que se viu durante cinco minutos foram cenas de um Nixon sorridente, fazendo brincadeiras com a maquiadora e com a câmera. Quando o selo presidencial finalmente surgiu no vídeo, o presidente mudou completamente, apresentando uma expressão séria e falando com pesar.
A edição do Jornal Internacional sobre a renúncia de Richard Nixon foi redigida por Jorge Pontual e apresentada por Heron Domingues. O locutor pedira a Armando Nogueira um adiamento das suas férias para poder dar a notícia, pois queria manter a tradição do slogan – “o primeiro a dar as últimas” – do Repórter Esso, grande marco na sua carreira.
O texto dizia: “A televisão americana comentava a surpreendente calma e bom humor de Nixon. O contrário do que se esperava de um homem acuado por pressões enormes. Nós confirmamos esse detalhe, com a imagem espontânea, colhida em circuito fechado, dos momentos de descontração de Nixon. Como um ator antes da novela, como um político que fez a sua carreira dominando a televisão e, às vezes, sendo vencido por ela Richard Milhous Nixon se despediu do cargo mais visado da Terra com um sorriso”.
O desempenho de Heron Domingues naquela noite emocionou Armando Nogueira, que o considera um momento precioso do telejornalismo brasileiro. Os dois jornalistas jantaram juntos depois do programa. Horas mais tarde, o apresentador morreria de infarto, dormindo.
Edição extraordinária sobre a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, com apresentação de Heron Domingues, Jornal Internacional, 09/08/1974.
Reportagem de Lucas Mendes sobre Watergate e a renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, Jornal Nacional, 10/08/1974.
FONTES
MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional – a notícia faz história. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004. |