Em fevereiro de 2020, Miriam Leitão dedicou um episódio inteiro de seu programa de entrevistas na GloboNews para uma conversa com Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada. Ela falou sobre a criação do Instituto Marielle Franco, dedicado à proteção do legado e da luta que travou a vereadora.
Miriam Leitão entrevista irmã de Marielle Franco, Anielle, para seu programa na GloboNews. 20/02/2020
Em 11 de março de 2020, às vésperas do aniversário de dois anos do crime, a imprensa divulgou a decisão de levar os dois suspeitos de executar os assassinatos, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, a júri popular.
Assassinos de Marielle vão a Júri Popular. RJ1, 11/03/2020
Ainda em 13 de março de 2020, foi lançado 'Marielle, o Documentário', do Globoplay, com o primeiro episódio sendo também transmitido na TV aberta no dia anterior.
O documentário teve direção e roteiro de Caio Cavechini, edição e roteiro de Eliane Scardovelli e edição de Rafael Armbrust e Felippe Ferreira. Também contou com reportagem de Leslie Leitão, Arthur Guimarães, Marco Antônio Martins, Felipe Freire, Sara Pavani e Tyndaro Menezes; pesquisa de Maria Morganti e Camila Azevedo Souza. A fotografia ficou a cargo de Mariane Rodrigues, Pedro Henrique Machado e Douglas Lopes.
Trailer - Marielle: O Documentário - Série Original Globoplay
O pedido de federalização do caso Marielle Franco, feito pela procuradora-geral da República Raquel Dodge no último dia de seu mandato, em 17 de setembro de 2019, só seria votado pelo Superior Tribunal de Justiça em maio de 2020. Até o dia da votação, as partes envolvidas foram ouvidas: enquanto os advogados dos criminosos Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz se manifestaram a favor da mudança de âmbito na investigação, a família da ex-vereadora foi contra.
No dia 26 de maio de 2020, véspera da decisão, a viúva de Marielle, Monica Benício, explicou a posição da família no ‘Jornal Globonews Edição das 10h’. “Não há razões técnicas que justifiquem [a decisão] e hoje há razões políticas para acreditar que a federalização é o caminho para a impunidade”, afirmou. Disse ainda que não queria o caso nas mãos da polícia de Jair Bolsonaro, já que o então presidente "sempre se manifestou de forma desrespeitosa sobre o caso".
Viúva de Marielle Franco explica razões para não querer a federalização do caso. Jornal GloboNews edição das 10h, 26/05/2020
No dia 27 de maio, a decisão do STJ foi unânime. Os oito ministros votaram contra a federalização. Com isso, o caso seguiu no âmbito da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio.
Mas os problemas da investigação não cessaram. Em 10 de julho de 2021, as promotoras do Ministério Público do Rio Simone Sibilio e Letícia Emile se desligaram do caso, após acusarem interferências externas. Elas estavam à frente do inquérito desde setembro de 2018. Anielle Franco, irmã de Marielle, manifestou preocupação na reportagem do ‘JN’. "Interferência de quem? É o que a gente quer saber."
Não foi a única mudança daquela semana. Cinco dias antes, o titular da delegacia de homicídios (DH), que investigava o caso Marielle, foi afastado. No lugar de Moisés Santana entrou o delegado Henrique Damaceno. Foi o quinto delegado a assumir a direção da DH e consequentemente o comando da investigação do caso.
Promotoras deixam força-tarefa que investiga execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. Jornal Nacional, 10/07/2021
No fim de julho, o MP-RJ aumentou de dois para oito o número de promotores que atuavam na força-tarefa sobre o caso.
Força-Tarefa do MPRJ que investiga a morte de Marielle Franco passa a ter oito integrantes. RJ1, 27/07/2021
2022 foi um ano sem avanços para as investigações. Já 2023 volta a ter lances relevantes. O ano chegou com Luiz Inácio Lula da Silva de volta à presidência do país. Em fevereiro, seu então ministro da Justiça, Flavio Dino, afirmou que a Polícia Federal voltaria a participar da força-tarefa sobre o caso, junto com a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio. Não chegou a ser a federalização do caso, mas a PF teve participação efetiva daí para a frente, para além da “investigação da investigação”.
Flávio Dino determina abertura de inquérito na PF para investigar morte de Marielle Franco. Jornal Hoje, 22/02/2023
Em julho de 2023, o cerco para chegar aos nomes dos mandantes começou a se fechar. Élcio de Queiroz fez delação premiada à Polícia Federal e ao MP-RJ. Foi a primeira vez que um acusado confessou o crime. O assassino estava preso desde 2019, mas ainda não havia sido julgado.
No depoimento homologado pela Justiça, que teve trechos exibidos pelo ‘Jornal Nacional’ com exclusividade, Élcio confessou que dirigiu o Cobalt prata usado no ataque e afirmou que Ronnie de fato fez os disparos com uma submetralhadora contra Marielle. Élcio disse ainda que o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, vigiou a vereadora e participaria da emboscada, mas acabou sendo trocado por ele na hora do crime.
O ex-bombeiro, que já havia sido preso em junho de 2020 e respondia em liberdade, acabou indo para o presídio após essa delação. Outro envolvido no caso, o sargento da PM Macalé, havia sido assassinado em 2021. Ele teria sido o elo entre Lessa e os mandantes.
Um dos réus dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes confessa o crime pela primeira vez. Jornal Nacional, 24/07/2023
Em delação, Élcio Queiroz confirma que dirigia carro no momento dos disparos de Ronnie Lessa contra carro de Marielle e Anderson. Jornal Nacional, 24/07/2023
Macalé, sargento da PM que teria feito elo de Ronnie Lessa com mandante da morte de Marielle foi executado em 2021. RJ1, 24/07/2023
No dia 26 de julho, o ‘Jornal da Globo’ mostrou que a defesa de Ronnie Lessa havia sofrido outro revés, para além da delação do comparsa. Dois meses antes, o depoimento da esposa de Lessa, Elaine, derrubou a versão de que os dois matadores estariam na casa dela na hora do crime. Ela contou que chegou às 18h30 com o filho, e que o marido só voltou ao amanhecer.
Caso Marielle: Esposa de Ronnie Lessa desmente a versão do marido; entenda. Jornal da Globo, 26/07/2023
Em 2024, mandantes são presos
2024 chegaria como o ano definitivo para a resolução do caso. Ao longo do mês de fevereiro, Ronnie Lessa foi condenado por contrabando de peças de armas de fogo e seu comparsa Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, foi preso, acusado de realizar o desmanche do carro usado no crime.
Caso Marielle: preso responsável por desmanche de carro usado no crime. Bom dia, Brasil, 29/02/2024
No dia 14 de março, exatos seis anos após a realização do crime, o caso chegou a outro patamar: parte da investigação foi enviada ao Supremo Tribunal Federal, indicando que pessoas com prerrogativa de foro privilegiado foram citadas.
Caso Marielle: Moraes será relator no STF. Jornal das Dez, 14/03/2024
Cinco dias depois, em 19 de março, Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, fez um pronunciamento para anunciar a homologação da delação de Ronnie Lessa, que foi assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Lewandowski anuncia que delação premiada de Ronnie Lessa foi homologada. Jornal GloboNews edição das 18h, 19/03/2024
No dia 24 de março, finalmente, os suspeitos de mandar assassinar Marielle foram presos: Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro – o que justificou o caso ir parar o STF –, seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa.
Era um domingo, dia atípico para operações policiais. As prisões e as ações de busca e apreensão foram detalhadas em uma longa reportagem de Bette Lucchese para o ‘Fantástico’.
PF prende suspeitos de mandar matar Marielle Franco: veja como foi a operação na manhã deste domingo. Fantástico, 24/03/2024
Os três acusados foram presos pela manhã. As delações revelaram que os iIrmãos Brazão plantaram um informante no PSOL, partido de Marielle, para saber de seus passos. Lessa afirmou que só aceitou participar do assassinato quando os mandantes disseram que Rivaldo estava colaborando com o planejamento e garantia que a investigação não iria para a frente.
Houve também busca e apreensão nas casas de Giniton Lages, que foi chefe da delegacia de homicídios por um período, e de um comissário da Polícia Civil, Marco Antônio Pinto. Ambos foram acusados de tratar com negligência a coleta de provas no local do crime. O ministro Alexandre de Moraes pediu afastamento de ambos das funções na Polícia Civil, além de exigir entrega dos passaportes e o uso de tornozeleira. Um detalhe: em 2022, Giniton lançou um livro sobre a investigação do Caso Marielle. Sua defesa respondeu à matéria do ‘Fantástico’ dizendo que ele foi tirado do caso assim que Lessa e Queiroz foram presos.
Mas afinal, por que Marielle foi assassinada? A investigação da Polícia Federal com apoio do MP-RJ avaliou que Marielle começou a atrapalhar os interesses dos irmãos Brazão em áreas de milícias. Chiquinho era vereador pelo PMDB e tentava passar um projeto para regularizar terrenos irregulares. A bancada do PSOL votou contra duas vezes. A redação final ficou pronta em 13 de março de 2018, véspera do crime. O projeto foi aprovado. Em 2019, a lei foi considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Rio.
O envolvimento dos Brazão já havia sido considerado no passado, mas o envolvimento de Rivaldo Barbosa causou surpresa e revolta na família de Marielle. O ex-chefe de Polícia Civil foi a primeira autoridade a receber pais, irmã e viúva da vereadora, além de Marcelo Freixo, e prometeu dedicação ao caso.
Famílias de Marielle e Anderson se revoltaram ao saber dos mandantes do crime. Bom dia Rio, 25/03/2024
Anielle Franco diz que prisão de Rivaldo Barbosa foi uma surpresa. Jornal GloboNews, 24/03/2024
Foi o fim de uma longa investigação, com tantas reviravoltas que ganhou reportagens com cronologias e detalhamentos. O g1 publicou as principais perguntas e respostas sobre o caso, e explicou os motivos que atrasaram a resolução do caso.