Eram nove horas da noite do dia sete de fevereiro de 2007. O que seria mais um assalto a carro na zona norte do Rio de Janeiro se transformou em uma tragédia das mais chocantes da crônica policial brasileira. Rosa Fernandes parou em um sinal de trânsito da rua João Vicente, no bairro de Oswaldo Cruz, zona norte do Rio de Janeiro. Ao lado dela, a filha Aline, de 13 anos. No banco de trás, estava João Hélio, o outro filho. Abordada por assaltantes armados, Rosa e Aline conseguiram abandonar o carro. Mas, ao tentar tirar o cinto de segurança do filho, Rosa foi surpreendida pela frieza dos bandidos que arrancaram o carro com João Hélio pendurado. O menino foi arrastado por sete km em um trajeto que durou quase 10 minutos.
Reportagem de Vandrey Pereira sobre a prisão de Carlos Eduardo Toledo Lima, que dirigia o carro que arrastou o menino João Hélio, de seis anos, para a morte no Rio de Janeiro, Fantástico, 11/02/2007.
A covardia e a crueldade dos assaltantes, que ignoraram os gritos desesperados das pessoas nas ruas, gerou uma onda de revolta e indignação no país. Com a repercussão do crime, a polícia prendeu logo os cinco bandidos, entre eles, um menor de 16 anos. Os criminosos foram condenados a penas que variaram de 39 a 45 anos de reclusão. O menor envolvido recebeu pena de medida sócio educativa, tendo que cumprir três anos em regime fechado e dois anos em semiaberto. A participação de um menor no crime reabriu a discussão sobre a redução da maioridade penal. Sociedade civil, parlamentares, autoridades do Judiciário e do Executivo debateram o tema.
EQUIPE E ESTRUTURA
A Globo realizou uma ampla cobertura da morte do menino João Hélio e os desdobramentos do crime. A prisão dos suspeitos, o choque, a indignação dos brasileiros e a discussão sobre mudanças na legislação para endurecer a punição para barbáries como essa. O Jornal Hoje do dia seguinte, oito de fevereiro de 2007, trouxe os detalhes da tragédia com reportagem de Ana Paula Araújo. O RJ-TV-2ª edição daquele dia também dedicou um amplo espaço ao assunto com reportagens de Ari Peixoto e Mila Burns.
No Jornal Nacional, o repórter Flávio Fachel trouxe novas revelações do crime que abalou o país. Participaram ainda da cobertura, os repórteres Paulo Renato Soares, Edney Silvestre, Cristina Serra, Flavia Januzzi, Eduardo Tchao, Délis Ortiz, André Luiz Azevedo e Rodrigo Bocardi. Fatima Bernardes, na época dividindo a bancada do Jornal Nacional com William Bonner, fez uma entrevista exclusiva com os pais do garoto para o Fantástico.
UMA NAÇÃO EM CHOQUE
o Jornal Hoje do dia oito de fevereiro de 2007, Sandra Annenberg abriu o telejornal dizendo que “uma história de crueldade e covardia de assaltantes deixa o país perplexo”. A repórter Ana Paula Araújo reconstituiu, passo a passo, o trajeto do carro que arrastou João Hélio. No local onde o veículo foi abandonado com o corpo do menino, o choro de pessoas que testemunharam imagens que nunca irão esquecer.
No RJTV- 2ª edição daquele dia, o repórter Ari Peixoto acompanhou o desespero dos parentes e amigos de João Hélio. O telejornal noticiou a prisão de três suspeitos, dois deles teriam confessado o crime. Ari Peixoto ouviu ainda testemunhas do assassinato. Uma delas contou que a cena que presenciou era inacreditável. Do local do desfecho da tragédia, Ari Peixoto disse que uma história tão triste como essa não ia sair da lembrança de quem mora no Rio de Janeiro. Ainda no telejornal local, a repórter Mila Burns acompanhou as investigações da polícia e mostrou a prisão dos suspeitos.
Reportagem de Ana Paula Araújo sobre a morte brutal do menino João Hélio no Rio de Janeiro, Jornal Hoje, 08/02/2007.
Reportagem de Ari Peixoto e Mila Burns sobre a morte do menino de seis anos João Hélio que chocou o Brasil, RJTV 2ª Edição, 08/02/2007.
RASTRO DE SANGUE
William Bonner e Fátima Bernardes abriram o Jornal Nacional do dia 8 dizendo: “Rio de Janeiro, um rastro de sangue de sete mil metros deixa os brasileiros perplexos, o sangue de um garoto de seis anos preso ao cinto de segurança de um carro e arrastado por bandidos. O menino está morto.” Com reportagem de Flávio Fachel, o JN apresentou uma arte para reconstituir o trajeto do carro. Fachel revelou que, no momento do assalto, um casal que passava de carro viu João Hélio preso pelo cinto do lado de fora. Eles decidiram perseguir o carro, buzinando, gritando, tentando avisar os bandidos. A reportagem mostrou ainda a emoção no enterro do menino.
Reportagem de Flávio Fachel sobre a morte do menino João Hélio, de seis anos, no Rio de Janeiro, Jornal Nacional, 08/02/2007.
O PAI
As ruas percorridas pelos bandidos foram mostradas no Jornal da Globo do dia oito. Três criminosos já estavam presos. O JG noticiou que a prisão foi feita graças a uma denúncia do próprio pai de um dos criminosos. O telejornal ouviu ainda um policial que revelou que os bandidos disseram que não perceberam a criança sendo arrastada. O apresentador Wlliam Waack disse que “os bandidos que arrastaram o menino deixaram muito mais do que um rastro de sangue e sofrimento, um crime bárbaro que faz a sociedade refletir e se perguntar como dar um basta à tanta violência?”. O repórter Paulo Renato Soares mostrou o desespero dos familiares de João Hélio no enterro do menino.
Reportagem de Paulo Renato Soares sobre a prisão dos responsáveis pela morte brutal do menino João Hélio, de seis anos, no Rio de Janeiro após a denúncia do pai de um dos envolvidos, Jornal da Globo, 08/02/2007.
MOBILIZAÇÃO
No Jornal Nacional do dia nove de fevereiro de 2007, William Bonner e Fátima Bernardes disseram que um assunto dominava as conversas dos brasileiros: a morte do menino João Hélio. O telejornal mostrou o sentimento de indignação que tomou conta do país. O repórter Flavio Fachel foi à escola em que João Hélio estudava e ouviu professores do menino. Fachel conseguiu ainda o depoimento exclusivo do pai de um dos assassinos que se disse revoltado com o crime e revelou que a casa dele havia sido apedrejada: “Um erro não se paga com outro”, disse.
Reportagem de Flávio Fachel na escola do menino João Hélio, de seis anos, morto de forma brutal no Rio de Janeiro, Jornal Nacional, 09/02/2007.
DISQUE-DENÚNCIA
Ainda no JN, Flavio Fachel revelou, dentro da sala do serviço Disque-Denúncia, que de cada 10 ligações recebidas pelos operadores, cinco eram relacionadas ao caso. Muitos oferecendo recompensa do próprio bolso.
MAIORIDADE PENAL
O Jornal Nacional mostrou também uma reportagem de Cristina Serra constatando que a participação de um adolescente no crime fez o país retomar a discussão sobre a punição aos menores de 18 anos. A repórter relembrou outros assassinatos cometidos por menores e ouviu juristas e promotores sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. A reportagem revelou ainda que as 19 propostas de redução da maioridade penal discutidas na Câmara dos Deputados tinham sido arquivadas. O repórter Eduardo Tchao mostrou as áreas mais violentas da cidade e o crescimento das milícias formadas por policiais, ex-policiais e bombeiros.
Reportagem de Cristina Serra sobre a discussão da redução da maioridade penal após a morte do menino de seis anos João Hélio que teve o envolvimento de um menor de idade, Jornal Nacional, 09/02/2007.
MANIFESTAÇÃO PELA PAZ
No Jornal Nacional do dia 10 de fevereiro de 2007, o repórter Edney Silvestre mostrou a manifestação no Rio de Janeiro pela paz, depois da morte de João Hélio. O telejornal noticiou que cinco bandidos foram responsáveis pelo crime e só um ainda estava foragido. De Salvador, o então Presidente Lula disse que reduzir a maioridade penal não era a solução. O JN mostrou ainda um pequeno trecho da entrevista exclusiva de Fátima Bernardes com os pais de João Hélio, que seria exibida no dia seguinte no Fantástico.
Reportagem de Edney Silvestre sobre a manifestação de paz realizada no Rio de Janeiro após a morte do menino João Hélio, Jornal Nacional, 10/02/2007.
EXCLUSIVA PARA O FANTÁSTICO
O Fantástico do dia 11 de fevereiro de 2007, exibiu uma entrevista exclusiva de Fátima Bernardes com os pais de João Hélio. Em depoimento ao Memória Globo, Fátima desabafou: “Foi a entrevista mais difícil que eu fiz na vida. Quando o Luiz Nascimento, diretor do Fantástico me chamou e disse que a mãe, Rosa Cristina, só falaria para mim, eu inicialmente me recusei a fazer. Eu pensava: ‘ O que eu vou perguntar para ela?’ Eu não tinha como preparar aquela entrevista. Era diferente de tudo que eu já fiz. Aquilo era realmente o fundo do poço. Mas, acabei concordando em ir. Fui mais para ouvir com uma expectativa que ela encontrasse em mim alguma coisa que desse a ela a vontade de falar. De, quem sabe, uma expectativa de que a morte do filho não fosse em vão. E eu saí de lá muito impressionada com a questão da religião, ela tinha vindo de um centro espírita kardecista. Isso estava ajudando eles nessa hora. Ela tinha uma fé enorme. E ela tinha certeza que o João praticamente não sofreu.”
Os pais do menino João Hélio concedem entrevista exclusiva para Fátima Bernardes após a morte do menino de seis anos que chocou o Brasil, Fantástico, 11/02/2007.
REPERCUSSÃO
O Jornal Nacional do dia 12 de fevereiro de 2007 mostrou a repercussão da entrevista da mãe de João Hélio ao Fantástico. De Brasília, a repórter Délis Ortis ouviu o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e parlamentares. Discursos no Congresso pediram urgência para projetos de segurança pública. Delis disse que “alterar a lei é a resposta pronta que o Congresso dá toda vez que a violência choca o país”.
Ainda no JN, uma reportagem de André Luiz Azevedo falou da alta reincidência dos praticantes de crimes no Brasil. De São Paulo, o repórter Rodrigo Bocardi mostrou modelos alternativos de recuperação de menores infratores que vem dando resultado no estado.
Reportagem de Delis Ortiz sobre a repercussão da morte do menino João Hélio no Congresso Nacional após a entrevista dos pais do garoto para o Fantástico, Jornal Nacional, 12/02/2007.
FONTES
Jornal Nacional(08/02/2007, 09/02/2007,10/02/2007,11/02/2007 e 12/02/2007) |
Jornal Hoje(08/02/2007, 10/02/2007); Jornal da Globo (08/02/2007, 09/02/2007, 10/07/2007); Jornal do Brasil (08/02/2007, 09/02/2207,10/02/2007) |