Exatamente dois anos e meio após os atentados terroristas nos Estados Unidos, a Espanha foi alvo do maior ataque numa capital europeia desde a Segunda Guerra Mundial. Em 11 de março de 2004, uma série de bombas explodiu em três estações de metrô em Madri, matando 200 pessoas, dentre elas um brasileiro, e deixando quase 1.500 feridos. Apesar de o governo espanhol insistir que o grupo separatista basco ETA estava por trás do massacre, a rede terrorista Al Qaeda, de Osama Bin Laden, assumiu a autoria dos ataques.
Reportagem do correspondente Caco Barcellos sobre a explosão de bombas em estações de metrô em Madri, na Espanha, Bom Dia Brasil, 11/03/2004.
EQUIPE E ESTRUTURA
O correspondente Caco Barcellos, baseado em Paris na época, foi para Madri no mesmo dia em que aconteceram os atentados. Já na Espanha, contratou um repórter cinematográfico para lhe ajudar na cobertura. Durante cerca de uma semana, Caco Barcellos enviou material para os principais telejornais da Globo usando o que era então novidade, o clipmail – tecnologia que permitia que as imagens fossem transmitidas pela internet, dispensando o uso do satélite, o que barateava a cobertura e facilitava o deslocamento da equipe. Ele também fez entradas ao vivo direto da estação de trem Atocha, onde explodiu uma das bombas.
“Eu estava no início da minha vida de correspondente em Paris e, pela primeira vez, fizemos aquilo que se havia planejado. Paris está pertinho de Madri, tentei ir o mais rápido possível. Cheguei ainda no dia do atentado e usei direto esse sistema novo. Toda a cobertura foi feita pelo clipmail, com exceção do primeiro dia, quando entrei ao vivo por satélite. Mas já à noite, no Jornal da Globo, e a partir do dia seguinte, foram quatro matérias diárias, no mínimo, usando esse sistema”, lembra Caco Barcellos.
Os escritórios da Globo em Londres e em Nova York e os correspondentes da emissora em Roma e em Buenos Aires também participaram da cobertura, acompanhando a repercussão na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul.
DESTAQUES
ETA ou Al Qaeda?
Os atentados em Madri foram destaque nos telejornais de 11 de março de 2004. As explosões aconteceram de manhã cedo, quando milhares de pessoas iam para o trabalho. Por conta da diferença de fuso horário, os ataques na capital espanhola já foram notícia no Bom Dia Brasil. Quando o telejornal foi ao ar, o principal suspeito ainda era o grupo terrorista basco ETA.
A matéria de Caco Barcellos no Jornal Nacional, no entanto, já fazia referência à rede terrorista Al Qaeda. A reportagem destacou que as táticas empregadas nos ataques daquela manhã diferiam das utilizadas normalmente pelo grupo basco, que costumava avisar à polícia quando praticava uma ação com risco para a população. As imagens mostraram o cenário de tragédia: entre os destroços dos trens e os corpos de vítimas, pessoas eram socorridas por voluntários.
Ainda naquela edição do JN, Fátima Bernardes noticiou o conteúdo de uma carta enviada para um jornal árabe em Londres que atribuía a autoria dos atentados a um grupo terrorista ligado à rede Al Qaeda. A Espanha foi o primeiro país, depois da Inglaterra, a apoiar a invasão do Iraque, o que contrariava a organização comandada por Osama Bin Laden.
No Jornal da Globo, o jornalista William Waack fez uma análise sobre as duas organizações suspeitas de terem sido a responsável dos ataques em Madri, ETA e Al Qaeda.
Correspondente Caco Barcellos fala ao vivo de Paris, por telefone, sobre as suspeitas das autoridades espanholas quanto à autoria dos atentados em Madri, Bom Dia Brasil, 11/03/2004.
Reportagem do correspondente Caco Barcellos com detalhes sobre os atentados terroristas em Madri, na Espanha, Jornal Nacional, 11/03/2004.
Fátima Bernardes noticia o conteúdo de uma carta enviada para um jornal árabe em Londres que atribui a autoria dos atentados em Madri, na Espanha, a um grupo terrorista ligado à rede Al Qaeda, Jornal Nacional, 11/03/2004.
Espanha de luto
Os espanhóis foram às ruas, no dia seguinte, protestar contra o terrorismo. Apesar da chuva, a manifestação reuniu milhões de pessoas em Madri, como mostrou a reportagem de Caco Barcellos no Jornal Nacional de 12 de março. O correspondente também acompanhou as investigações na busca por evidências que comprovassem a autoria dos atentados. Na matéria, o repórter destacou ainda a história do brasileiro que estava entre as vítimas.
Preocupado com as eleições que aconteceriam em dois dias, o primeiro-ministro José Maria Aznar, um dos principais aliados da política norte-americana no Iraque, insistia em responsabilizar o grupo separatista basco ETA. A reportagem de William Waack, exibida pelo Jornal da Globo naquela noite, no entanto, apontou diversos indícios de que os ataques do dia anterior teriam sido planejados por outra organização terrorista.
Os funerais das vítimas do massacre e as investigações da polícia espanhola foram o tema das reportagens de sábado, 13 de março. Numa nota lida pelo apresentador Chico Pinheiro antes do encerramento do Jornal Nacional, o governo espanhol anunciava a existência de uma fita gravada em que a rede terrorista Al Qaeda assumia a autoria dos ataques. Ainda naquela edição do telejornal, foi confirmado o nome do brasileiro morto no atentado: Sérgio dos Santos Silva.
O Partido Popular, do primeiro-ministro José Maria Aznar, acabou derrotado nas urnas. A vitória dos socialistas espanhóis nas eleições do dia 14 gerou muita discussão, principalmente nos Estados Unidos, a respeito da interferência de atos violentos na política interna de países ocidentais. A possibilidade de um atentado terrorista ter impacto no resultado das eleições norte-americanas, em novembro do mesmo ano, passou a preocupar George W. Bush, candidato à reeleição.
Reportagem do correspondente Caco Barcellos sobre manifestações contra os atentados terroristas em Madri, na Espanha, Jornal Nacional, 12/03/2004.
Reportagem do correspondente Caco Barcellos sobre as manifestações populares contra o governo espanhol e o andamento das investigações pela polícia quanto à autoria dos atentados terroristas em Madri, Jornal Nacional, 13/03/2004.
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Caco Barcellos (07/02/2006 e 10/02/2006); Bom Dia Brasil, 11/03/2004; Fantástico, 14/03/2004; Jornal da Globo, 11-12/03/2004; Jornal Hoje, 11/03/2004; Jornal Nacional, 11-13/03/2004. |