Em abril de 1986, uma explosão num dos quatro reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, acabou provocando uma nuvem de radioatividade que se espalhou por vários países da Europa. A radiação – centenas de vezes maior do que a das bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas – contaminou quilômetros de florestas e causou doenças em milhares de pessoas. Segundo organizações não governamentais, morreram, pelo menos, 80 mil pessoas. A fauna e flora de países como a Suécia foram atingidas. Apenas em dezembro de 2000, a usina de Chernobyl foi fechada.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc sobre a cobertura do acidente nuclear em Chernobyl em 1986, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
DESTAQUES
FALTA DE INFORMAÇÕES
A cobertura da explosão na usina de Chernobyl foi marcada, num primeiro momento, pela imprecisão e pela falta de informações oficiais, já que a União Soviética se recusava a divulgar imagens ou fornecer à sua população e ao resto do mundo dados mais exatos sobre o acidente.
Apenas dois dias depois, em 28 de abril, o Jornal Nacional noticiou a explosão. Uma nota, lida pelo apresentador Cid Moreira, informou que a URSS confirmara o acidente em uma usina atômica, porém sem dar detalhes sobre o numero de vítimas. A Suécia foi o primeiro país a detectar níveis elevados de radioatividade no ar. Moscou foi consultado, mas, a princípio, negou que a origem do problema estivesse em seu território, só admitindo a explosão horas depois.
A partir de então, os correspondentes da Globo Silio Boccanera, Renato Machado e Luís Fernando Silva Pinto acompanharam a repercussão do desastre nuclear na Europa e nos Estados Unidos. Ao longo daquela semana, os telejornais da emissora foram noticiando aquilo que, aos poucos, começava a ser divulgado pelo governo da União Soviética e também pelos americanos, através de imagens captadas por satélite.
UMA COBERTURA À DISTÂNCIA
Como os ucranianos não permitiram a entrada no país, a imprensa internacional não pôde cobrir o acontecimento in loco. Renato Machado, que na época trabalhava no escritório da Globo em Londres, foi para Upsala, na Suécia, uma das cidades atingidas pela nuvem radioativa.“Nós não pudemos nos aproximar muito, por isso as poucas imagens do acidente que tivemos vieram através de agência de notícia. Eu não fui para a União Soviética na época. Os ucranianos estavam desesperados com aquilo e não deixavam ninguém entrar. Nenhuma televisão chegou lá perto. Mas a nuvem radioativa foi para o norte, na direção do Mar Báltico, entrou pela Suécia e concentrou-se perigosamente em cima de certas cidades suecas, das quais Upsala era a mais importante”, relembra o correspondente.
Reportagem de Renato Machado e imagens de Luiz Demétrio Furkim em Upsala, na Suécia, sobre as proporções do acidente nuclear de Chernobyl. Jornal Nacional, 03/05/1986.
UM ANO DEPOIS
Em 23 de abril de 1987, um ano após o desastre nuclear em Chernobyl, o Globo Repórter apresentou o documentário Advertência, produzido pela TV estatal soviética e transmitido com exclusividade pela Globo. O programa mostrou a cronologia do acidente, a situação da Ucrânia depois da explosão em Chernobyl e o trabalho de voluntários que ajudaram na limpeza do terreno e na reconstituição da usina. Foram exibidas também imagens inéditas do reator ainda queimando, feitas de um helicóptero pela equipe da TV soviética, dois dias depois da explosão. No final, o Globo Repórter exibiu uma reportagem de Silio Boccanera que falava sobre a preocupação que ainda pairava na Europa a respeito dos efeitos de Chernobyl.
AS CONSEQUÊNCIAS
A Globo continua apresentando matérias sobre a explosão na usina de Chernobyl e suas consequências no longo prazo, especialmente nas datas que marcam o aniversário do acidente.
Em dezembro de 1991, Leilane Neubarth foi a Cuba fazer uma reportagem sobre as crianças vítimas da radiação que se recuperavam em Havana, numa minicidade chamada Cidade dos Pioneiros.
Quando completou dez anos do acidente, os telejornais Bom Dia Brasil, Jornal Nacional e Jornal da Globo apresentaram matérias sobre o tema. O correspondente César Tralli visitou a cidade de Pripyat, na Ucrânia, próxima à usina de Chernobyl, completamente abandonada desde o acidente nuclear. O repórter entrevistou algumas sobreviventes que faziam parte do grupo conhecido como Mães de Chernobyl. A reportagem, exibida pelo JN em 10 de abril de 1996, alertava ainda para o risco de um novo desastre atômico, já que o depósito do reator apresentava rachaduras.
Em março de 2011, por causa do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão e afetaram a usina nuclear de Fukushima, o acidente de Chernobyl foi relembrado. O correspondente Marcos Losekanne o repórter cinematográfico Sergio Gilz foram ao local do desastre que, após 25 anos, foi aberto para visitação pública pelo governo ucraniano. A equipe da Globo fez parte de uma das primeiras excursões à central nuclear. Por conta do nível de radiação, ainda dez vezes acima do normal, só era permitido ficar 15 minutos próximo ao antigo reator. A reportagem foi exibida no Jornal Nacional em 14 de março e, no dia seguinte, no Bom Dia Brasil.
Reportagem de Leilane Neubarth sobre as crianças vítimas da radiação em Chernobyl que se recuperavam em Cuba, Fantástico, 15/12/1991.
Reportagem de Cesar Tralli em Pripyat, uma cidade vizinha à usina de Chernobyl,10 anos depois do acidente nuclear, Jornal Nacional, 10/04/1996.
Em reportagem especial para o Fantástico, a repórter Ilze Scamparini visita a usina de Chernobyl, 15 anos depois do maior acidente nuclear da história. Fantástico, 05/08/2001.
FONTES
Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: César Tralli (22/04/2010, 29/04/2010 e 06/05/2010), Leilane Neubarth (29/05/2002) e Marcos Losekann (28/05/2009); MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004; Bom Dia Brasil, 15/03/2011; Globo Repórter, 23/04/1987; Jornal Nacional, 28-30/04/1986, 10/04/1996, 14/03/2011; Agenda CEDOC; Globo 2000; Jornal do Século – JB. |