Creusa Gramacho Teles é filha do policial Lourival Gramacho Teles e da dona de casa Joselina – apelidada Zélia – Braga Gramacho. Nasceu em 9 de agosto – “o ano esqueci”, brinca – em Dona América, distrito de Mimoso do Sul, Espírito Santo. Passou uma infância simples, mudando-se com os pais por pequenas cidades do estado até estabelecer-se em Vitória quando tinha mais ou menos dez anos. Ainda adolescente começaria a trabalhar fazendo embrulhos em uma loja da cidade.
Cedo manifestou a vocação autodidata: conta que aprendeu a ler aos cinco anos, antes mesmo de entrar na escola. Dessa época, lembra em especial do incentivo de uma professora, Maria Miguel, que, encantada com as habilidades da menina prodígio, a incentivava dizendo que deveria ser artista. As palavras tomaram a forma de previsão quando Creusa foi aprovada em um concurso para radioatores na Rádio Espírito Santo, em 1951. “Quando cheguei em casa, mamãe disse assim: ‘Dona Rita passou aqui, deixou rosas’ – a gente era tão pobre que não tinha nem rádio – ‘Porque ela ouviu a novela, e você falou’. Comecei assim”, conta ela.
A Rádio Espírito Santo pertencia ao governo, e Creusa Gramacho – como assinava na época –tornou-se, assim, funcionária do estado. Além de radioatriz, atuou como apresentadora e locutora. Em 1965, Creusa abandona a promissora carreira para mudar-se para o Rio de Janeiro. Tomou a decisão guiada um pouco pela necessidade de cuidar de sua mãe, que, doente e separada do pai, precisava de tratamento médico, e um pouco pela intuição, que diz lhe acompanhar desde sempre.
O nascimento de Zora Yonara
Uma vez no Rio, Creusa Gramacho chegou a fazer testes na Rádio Nacional, a mais importante emissora de rádio do país à época, mas os astros não brilharam logo de cara. Ou brilharam por vias tortas, porque conseguiu um emprego de secretária na extinta cinegráfica Botelho. Com uma voz marcante, conta que, ao atender telefonemas, não raro ouvia do outro lado palavras como: “você é locutora?”. Ela confessa que foi um período de dificuldades, mas não pensou em desistir. Já então o otimismo lhe saudava.
Sua simpatia conquistou amizades e a ajudou a conseguir um teste para trabalhar como radioatriz no programa 'A Vida é Assim', na Rádio Globo, em 1967. Pouco tempo depois – dias, segundo ela –, Mario Luiz Barbato, o diretor da emissora, convidou-a para apresentar o horóscopo no 'Programa Haroldo de Andrade'', sucesso na rádio desde 1961. Entraria no lugar do astrólogo Professor Joe Ramath, conhecido por inúmeras previsões certeiras, como o suicídio de Getúlio Vargas e as enchentes de 1967 no Rio de Janeiro. Aceito o desafio, não sem alguma hesitação – “eu mal sabia que era do signo de leão”, confessa a radialista –, contou com a proteção e orientação do astrólogo, que acreditou no seu talento e lhe acompanhou nos estudos até que estivesse pronta para seguir sozinha.
Mas não bastava estudo e talento. Era preciso uma ajudinha do universo. Assim nasceu Zora Yonara, o pseudônimo pelo qual Creusa se tornaria conhecida de um vasto público que iria do Rio de Janeiro, a cidade que elegeu para viver – “sou carioca do Espírito Santo”, brinca ela –, até regiões da Argentina e do Uruguai.
Coube ao diretor da Rádio Globo a escolha do nome Zora, que vem do grego e significa coragem. “Creusa é filha do Seu Lorival e Dona Zélia, agora, Zora é filha do Mario Luiz. Ele pariu Zora Yonara”, conta. O sobrenome Yonara foi toque de Joe Ramath, calculado a partir do arcano cabalístico e da numerologia. Misticismo ou não, o fato é que a fórmula deu certo. Em pouco tempo, Zora Yonara, plantando otimismo nas suas previsões, encontraria o sucesso do público. Católica de nascimento e espírita por devoção, encontrou na astrologia o seu caminho.
Inaugurada como emissora local de radiodifusão no Rio de Janeiro, em 1944, a Rádio Globo logo investiu na formação de uma rede. Em 1958, iniciou seu processo de expansão ao inaugurar a Rádio Eldorado AM, ainda com transmissão para o Rio de Janeiro. Sete anos depois, por meio da compra das rádios paulistas Nacional e Excelsior, ultrapassaria as divisas do estado. Finalmente, no início dos anos 1970, já com estações em Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, e cobertura em todo o território nacional, foi criado o nome Sistema Globo de Rádio para reunir todas as empresas de rádio do grupo liderado pelo jornalista Roberto Marinho.
Por meio do Sistema Globo de Rádio, os horóscopos de Zora Yonara seriam ouvidos por todo o país. Um dos destaques eram as cartas de ouvintes, que a astróloga comentava durante os programas. Por meio dessas correspondências, confirmava a abrangência de suas previsões: elas vinham de todo o território nacional, mas também da Argentina e do Uruguai. Foi assim, inclusive, que conheceu o marido, com quem viveu por mais de 20 anos. O italiano Bruno Carosella lhe mandou uma carta do Uruguai, onde vivia, e depois foi ao Rio conhecê-la. Alguns encontros e meses depois, estariam casados. Creusa Gramacho Teles seria, então, Creusa Gramacho Carosella.
Durante anos, a voz de Zora Yonara esteve associada ao 'Programa Haroldo de Andrade' e ao Sistema Globo de Rádio. Durante um breve período, mudou-se para a Rádio Record e a TVS, de São Paulo, mas logo retornou, dessa vez para o 'Programa Paulo Giovani'. Também fez parte dos programas 'Paulo Barbosa', 'Show da Manhã' e 'Show do Antônio Carlos', atração que, a partir de 2017, passaria a ser transmitida pela Super Rádio Tupi. Em suas previsões, a astróloga sempre procurou distanciar-se de temas críticos, preferindo os assuntos do coração.
A partir de 2017, o horóscopo de Zora Yonara pôde ser ouvido no 'Show do Antônio Carlos', na Super Rádio Tupi.
Televisão
A carreira de Zora Yonara consolidou-se na rádio, veículo que, pelo alcance, considerava ideal para suas previsões: “Eu gosto muito de rádio, porque faz você pensar. No rádio, você imagina, cria, pensa. Tem o povo do interior também; a pessoa está plantando, colhendo, tem seu radinho de pilha. Ele coloca o fone no ouvido e continua escutando, com enxada na mão. Esse povo é muito importante para nós”. Nem por isso, ela ignorou a televisão. A astróloga teve passagens pela Globo, SBT e TV Gaúcha.
De 1974 a 1980, Zora Yonara comentou os astros e as cartas de ouvintes no 'Jornal do Almoço' da TV Gaúcha, do grupo RBS. Em 1975, passou a ler as previsões semanais na Globo, aos sábados, no 'Jornal Hoje'. Na então TVS, emissora que daria origem, em 1981, ao SBT, Zora fez parte do 'Jornal da Mulher' e do noticiário que o substituiria no horário do almoço, o 'Jornal da Tarde', além de ler as previsões em uma coluna própria no final do dia.
Em 1982, Zora integraria o time do 'TV Mulher', primeiro programa de variedades ao vivo voltado ao público feminino da Globo, no ar de 1980 a 1986. Ficou na função por três anos, sendo substituída pela astróloga Leiloca.
Experiências e reconhecimentos
Em 2011, Zora participou, com a astróloga Cláudia Lisboa, de uma edição do programa 'Globo Repórter'. Ambas contaram ao jornalista Edney Silvestre sobre a profissão e seus métodos de trabalho. No ano seguinte, Zora foi citada no samba-enredo da Escola Acadêmicos de Santa Cruz, que homenageava o radialista Antônio Carlos. Além disso, a partir deste ano, seu rosto pôde ser visto, esporadicamente, no canal do YouTube mantido pelo sonoplasta Toninho Bondade. A astróloga manteve, ainda, colunas nas revistas Amiga e Sétimo Céu, e teve sua voz registrada em um audiolivro de mensagens positivas recitadas por comunicadores da Rádio Globo.
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Zora Yonara morreu em 11 de dezembro de 2020, vítima de pneumonia. Ela tinha 91 anos.
Fonte