Zileide Silva

Paulistana, a repórter Zileide Silva trabalha na Globo desde 1997. Foi correspondente em Nova York e desde 2009, é repórter especial em Brasília, onde se dedica à cobertura do Poder.

Por Memória Globo


Zileide Silva no 'Bom Dia Brasil', 2011 — Foto: Rafael França/ Memória Globo.

Conhecida por sua atuação nas áreas de economia e política, com base em Brasília, a repórter Zileide Silva começou na Globo em 1997. Foi correspondente internacional em Nova York no período dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao retornar ao Brasil e retomar o posto de repórter especial no Distrito Federal, tornou-se também apresentadora do 'Bom Dia Brasil', e apresentadora eventual do 'Jornal Hoje' e 'Jornal da Globo'.

Cobrindo o Poder, Zileide acompanhou as principais reviravoltas da política, como o escândalo do Mensalão do DEM, em 2009; desdobramentos da Operação Lava Jato, a partir de 2014; e impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

A responsabilidade da TV Globo é muito grande pelo fato de ser a maior audiência, a principal emissora. Você não pode errar e não pode ter uma tendência. Isso te obriga a ficar o tempo inteiro com atenção

Zileide Silva da Luz nasceu no dia 26 de outubro de 1958 na cidade de São Paulo. Seu pai, mestre de obras, meio candango, foi um dos muitos brasileiros de vários estados que ajudaram a construir Brasília. A mãe era dona de casa. Ela lembra que o pai trazia para casa o jornal Notícias Populares – “daqueles que você espreme e sai sangue” – e que, no colégio, fazia um jornalzinho, mas nunca pensou em ser jornalista.

Estudou em escola pública, o que, acredita, foi um privilégio. Gostava de matemática e resolveu fazer física na PUC de São Paulo, mas trancou a matrícula no final do primeiro semestre. Optou pelo jornalismo, pensando em ser escritora, e se formou na Cásper Líbero. Para melhorar sua formação, foi estudar história na Universidade de São Paulo.

Por volta de 1978, começou a trabalhar como redatora numa rádio de São Paulo e trancou a matrícula na USP. Sua voz grave, até então alvo de brincadeiras dos colegas de escola, encantou alguns amigos da Rádio Bandeirantes FM, que lhe sugeriram ser locutora. Dali, foi para a Rádio Cultura, onde fazia um programa para jovens chamado 'Matéria Prima', com Serginho Groisman, hoje apresentador na Globo.

Em seguida, foi para um programa de mulheres. Era locutora e repórter. Mas o projeto não vingou. Surgiu nova oportunidade quando a TV Cultura resolveu aproveitar alguns dos repórteres de rádio. Nunca havia pensado em trabalhar na televisão, mas, naquele momento, só tinha duas opções: ou passava no teste da TV Cultura ou ficava desempregada. Passou e começou a trabalhar na editoria Geral.

Zileide Silva conta que sempre admirou o jornalista Joelmir Beting por traduzir o economês para uma linguagem compreensível por todos, e que o copiava:

“Passei a botar uma ou outra frase dele nos meus offs”

Trocou a editoria Geral pela Economia. Para dar mais consistência a seu trabalho, fez cursos na Bolsa de Valores e na Fundação Getulio Vargas.

Repórter de política e economia

Logo após a eleição de Fernando Collor para presidente, em 1989, quando já se pressentia que mudanças importantes viriam, Zileide Silva foi convidada para cobrir economia no 'TJ Brasil', do SBT. Começou cobrindo o Plano Collor. “Foi uma experiência muito interessante – e difícil – tentar traduzir aquilo para a população”. Passou a viajar muito acompanhando o presidente, inclusive para fora do país, e se firmou como repórter de política e economia. As idas para Brasília, que já aconteciam desde que cobriu a Assembleia Constituinte, em 1988, tornaram-se ainda mais frequentes.

'Programa do Jô': As Meninas do Jô

Anos 1990

Zileide Silva foi contratada pela Globo em 1997, para trabalhar na sucursal de Brasília, na área de economia, principalmente para o 'Jornal Nacional'. Logo passou a fazer também a cobertura diária do Palácio do Planalto, dos ministérios e do Congresso.

Bem-humorada, encontrou espaço para tratar, ainda, de um romance inusitado. No final dos anos 1990, fez para o 'Jornal Nacional' uma série contando a história de Capitu, que saía de sua ilha, onde vivia com Otelo, e atravessava a nado um lago para se encontrar com Eliseu. E não se tratava de uma refilmagem da personagem de Machado de Assis, mas da história real de uma macaca dadivosa, que levava uma vida tranquila no Zoológico de Brasília, dividindo seus carinhos entre o marido e o amante.

“Estava no auge de uma novela chamada 'Por Amor', e era um sucesso. Eu inventei que a macaca, por amor, sem-vergonha ou não, estava apaixonada. Falei: vamos fechar, e eu vou botar sentimentos humanos. Havia imagens muito boas da macaca nadando, o que só faz em situações de perigo. Nós tínhamos imagens da macaca fazendo sexo, que não podíamos mostrar. Mas eu brinquei com isso. Ficou muito engraçado”

Naquela noite, Zileide foi jantar com amigos e, no restaurante, estava todo mundo falando da matéria da macaca Capitu.

“Algumas pessoas me chamaram para discutir, foi um sucesso. Depois me mostraram que foi a maior audiência do 'Jornal Nacional' naquele dia.”

Até hoje perguntam à jornalista sobre Capitu.

FHC

De volta ao noticiário político e econômico, em 1998, acompanhou de perto a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

Cobrimos a eleição já preocupados com o que aconteceria no início do governo. E não deu outra: houve a posse, imediatamente depois veio uma maxidesvalorização do Real. E a economia voltou a pesar: a cobertura econômica dos jornais passou a ter novamente um destaque no país

Em seguida, participou de sua primeira grande cobertura internacional pela Globo, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, acompanhando o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

“É difícil tirar alguma coisa diferente ali, porque você não tem acesso. É um trabalho braçal. Com tanta gente importante participando, inclusive Paulo Coelho, no auge do sucesso, você não pode perder o foco da notícia e da participação do presidente. Foi um teste.”

Zileide Silva, mais uma vez, passou.

Reportagem de Zileide Silva sobre primeiro discurso do presidente reeleito Fernando Henrique Cardoso. 'Jornal Nacional', 07/10/1998.

Também nessa época, fez uma série de reportagens especiais para o 'Jornal Nacional' sobre o Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH, apurado pela ONU. A organização repassara o material para vários jornalistas, para que pudessem estudá-lo, com a condição de que fosse mantido em sigilo por 15 dias. De posse do estudo, Zileide Silva escolheu as melhores e as piores cidades do Brasil e passou uma semana viajando e ouvindo prefeitos e gente do povo, sempre mantendo segredo. Mas veio a informação de que um jornal de São Paulo resolvera desrespeitar o embargo e publicaria as informações no dia seguinte. O acordo estava desfeito. Zileide Silva trabalhava na ilha de edição quando veio a ordem de aprontar a primeira matéria a tempo de exibi-la no 'Jornal Nacional'. “E foi aquela loucura”, lembra. Mas a matéria saiu.

Correspondente em NY

Em 2000, foi convidada para ser correspondente em Nova York. Tremeu nas bases, mas aceitou: “Você tem que ir, é um desafio”, disse para si mesma. Chegou à cidade na época da eleição de George W. Bush, uma eleição teoricamente tranquila, mas que acabou na Suprema Corte. A jornalista ainda lembra que falava: “Bom, se não acontecer mais nada, já estou feliz da vida, já fiz um belíssimo trabalho”. Mal sabia o que estava por vir.

Correspondente Zileide Silva na cobertura do atentado ao WTC. Frame de vídeo, 2001 — Foto: Acervo Globo

No dia 10 de setembro de 2001, Zileide Silva estava de férias. Chegou a Nova York de manhãzinha. Ligou para o escritório avisando que só voltaria a trabalhar no dia 12. No dia 11, quando o primeiro avião atingiu uma das torres do World Trade Center, sua diretora ligou dizendo:

“Houve uma tragédia, um acidente horrível. Corra para cá. Nós estamos entrando por telefone”.

“Quando cheguei ao escritório, o segundo avião atingiu a segunda torre”, conta. Imediatamente, a jornalista falou:

“Isso não é um acidente, é um atentado!”

A diretora lhe passou o telefone. Tudo começou ficar confuso. Alguém disse: “Um avião atingiu o Pentágono, pode dar.” Zileide Silva lembra que tapou o telefone com a mão e falou: “Isso é impossível. Vamos checar essa informação.” Em seguida, o quarto avião caiu na Pensilvânia. Algum tempo depois, a equipe parou um pouco para discutir. Falou-se muito sobre Al Qaeda e Osama Bin Laden. “Pode ser por aí”, disse, “vamos trabalhar”.

A repórter Zileide Silva, ao vivo, de Nova York, informa que a agência de inteligência americana interceptou mensagens do terrorista Osama Bin Laden sobre os ataques, 'Jornal Nacional', 11/09/2001.

Repórter Zileide Silva, ao vivo, na cobertura dos atentados de 11 de setembro, 'Jornal Nacional', 11/09/2001.

Naquele dia, Zileide Silva entrou ao vivo no 'Jornal Nacional', enquanto todos ainda apuravam novas informações. Quase acabando o jornal, veio a confirmação: realmente havia sido a Al Qaeda e Osama Bin Laden havia assumido a responsabilidade pelo atentado. Zileide Silva estava no ar quando a sua chefe lhe passou o papel com a notícia. Aconteceu o impensável: ela estava sem as lentes de contato, não conseguia ler nada. A chefe percebeu, foi para detrás da câmera e fez um movimento labial: “Osama Bin Laden, Al Qaeda.” Como já tinham discutido, a jornalista sabia muito bem o que era, e falou para os telespectadores: “Desculpem. Nós estamos recebendo essas informações ao vivo”, e deu a notícia. Foi um desfecho memorável.

Crítica rigorosa, Zileide Silva achou que tinha estragado aquela ediçãohistórica do 'Jornal Nacional'. E só se convenceu do contrário um ano depois, durante uma palestra, quando o diretor Ali Kamel e a apresentadora Fátima Bernardes usaram aquela passagem para ilustrar como se faz um jornal ao vivo. Anos depois, para acontrariedade da jornalista, ela perderia novamente as lentes, ao vivo, enquanto apresentava o Jornal Hoje. A cena fez sucesso na internet e foi parar em programas humorísticos.

De volta ao país

De volta ao Brasil, Zileide Silva participou de outra cobertura histórica, a das eleições de 2002, que marcaram a chegada do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Acompanhou o então presidente eleito em sua primeira viagem oficial à África, passando a ser a primeira repórter negra a integrar uma comitiva presidencial brasileira. Zileide Silva cobriria o dia a dia dos dois governos Lula, que foi reeleito em 2006.

Em 2010, veio outra cobertura marcante, a da eleição de Dilma Rousseff, a primeira mulher a assumir a Presidência no Brasil. Com isso, passou a integrar o seleto time de repórteres que cobriram todos os presidentes eleitos pelo voto direto desde a queda do regime militar – de Collor a Dilma, sem interrupção.

Zileide Silva, 2018 — Foto: Davi Seiffert/Memória Globo

Sua experiência como apresentadora teve início na GloboNews, no programa 'Espaço Aberto' e no 'Jornal das Dez'. Na Globo, em 2007, tornou-se apresentadora do 'Jornal Hoje' aos sábados. Antes disso, estreou no 'Bom Dia Brasil', cobrindo férias da jornalista Cláudia Bomtempo em Brasília. Em 2009, foi efetivada como apresentadora do bloco gerado desde a capital federal. Em 2012, mediou o debate entre os candidatos a prefeito de Teresina, no Piauí. Em julho de 2014, apresentou o 'Jornal da Globo' ao lado de William Waack, durante as férias de Christiane Pelajo.

Em 2021, a jornalista revelou no programa 'Em Pauta', da Globonews, que descobriu um câncer de mama durante a pandemia de COVID-19. Zileide Silva contou aos telespectadores que passou por uma cirurgia, fez sessões de quimioterapia, afastou-se de suas funções em razão do tratamento e voltou ao trabalho.

Prêmios

Zileide Silva ganhou quatro vezes o Prêmio Comunique-se: em 2004, 2006 e 2008, foi eleita a melhor jornalista política; em 2005, a melhor repórter. Em 2022, foi homenageada com o Prêmio Contribuição do Jornalismo durante a edição do Troféu Imprensa Brasileira. A entrega da honraria se deu pelo papel que a jornalista tem no desenvolvimento da comunicação no país.

Em 2022 recebeu uma homenagem com o Prêmio Contribuição do Jornalismo durante o Troféu Imprensa Brasileira, por sua contribuição para a comunicação

Galeria de vídeos

Reportagem de Zileide Silva sobre os vinte anos da descoberta do vírus da Aids, 'Jornal Nacional', 05/06/2001.

Reportagem de Zileide Silva sobre a demissão de José Dirceu da Casa Civil, 'Jornal Nacional', 16/06/2005.

Reportagem de Zileide Silva sobre a saída Luiz Gushiken da Secretaria de Comunicação do Governo, 'Jornal Nacional', 21/07/2005.

Reportagens de Zileide Silva, Sandra Moreyra, Rogério Corrêa e Eunice Ramos sobre as investigações das causas do acidente com o avião da Gol e sobre as dificuldades enfrentadas pelas equipes de resgate, 'Jornal Nacional', 30/09/2006.

Repórter Zileide Silva entrevista o assessor de imprensa da Aeronáutica, Coronel Henry Munhoz, na cobertura do acidente com o avião da Air France, 'Bom Dia Brasil', 01/06/2009.

Reportagem de Zileide Silva sobre a avaliação da presidente Dilma Rousseff quanto às manifestações contra o seu governo, ocorridas no dia anterior, 'Jornal Nacional', 16/03/2015.

Fonte