A repórter Sandra Moreyra começou sua carreira na mídia impressa. Recém-formada, foi contratada pelo Jornal do Brasil e sua primeira matéria assinada saiu no caderno de cultura do jornal, o 'Caderno B', sobre o incêndio no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro. "No dia seguinte, saí de casa para comprar o jornal. Quando abro o jornal, estava lá: ‘Sandra Oliveira’. Depois me explicaram que, na revisão, disseram: ‘Não tem Sandra Moreyra. Tem Sandro Moreyra” – pai da jornalista, então funcionário do JB – “E tacaram um Oliveira! Assim, eu aprendi que não dá para ser muito vaidoso com essa coisa de jornalismo”, diverte-se.
Sandra tinha o jornalismo correndo nas veias. Sua irmã, Eugenia Moreyra, foi diretora da GloboNews. O bisavô paterno foi um gaúcho que trabalhava com comércio de atacado e, nas horas vagas, colaborava com um jornal do Rio Grande do Sul. O avô paterno, Álvaro Moreyra, era escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, e dirigiu importantes revistas nos anos 1950, como Fon-Fon e Paratodos. O pai, Sandro Moreyra, foi um reconhecido jornalista esportivo. E a filha de Sandra, Cecília Figueiredo, formou-se em jornalismo e trabalhou como documentarista.
Início da carreira
Sandra Maria Moreyra nasceu no Rio de Janeiro, em 28 de agosto de 1954, apenas quatro dias depois do suicídio do presidente Getúlio Vargas. Seu pai fez história como um dos mais importantes cronistas esportivos do jornalismo brasileiro; sua mãe, Lea de Barros Pinto, era professora. A família de classe média garantiu que estudasse em bons colégios e pudesse fazer faculdade. Em 1975, após um concurso, começou seu primeiro estágio, no Departamento de Pesquisa do Jornal do Brasil, um dos principais jornais diários do país. Formou-se em 1976, foi contratada e, em 1978, foi para a reportagem geral do jornal, onde de fato começou sua carreira de repórter. “Esse período foi interessante. Foi uma época em que o JB era muito bom, os grandes nomes da imprensa estavam lá: Elio Gaspari, Luiz Orlando Carneiro, Renato Machado”, recorda.
Em 1979, deixou o JB para acompanhar o marido que trabalhava em uma empresa de engenharia e foi transferido para a Argélia. Chegou a produzir algum material para o jornal, engravidou, voltou para o Brasil e começou a trabalhar em uma agência de publicidade, onde teve seu primeiro contato com o vídeo. Mais uma vez, o marido fora transferido, agora para Salvador, e Sandra resolveu bater na porta da TV Aratu, na época afiliada da Globo – havia gostado de mexer com imagens e queria se especializar. Foi aceita, como uma espécie de aprendiz, mas começou a ficar insatisfeita, pois trabalhava das 8h às 20h, sem parar, sábados e domingos inclusive. Acabou na TV Bandeirantes, que precisava de uma repórter. “A redação da TV Bandeirantes em Salvador tinha seis pessoas, então você fazia tudo. Tudo ia ao ar, porque não tinha que preencher o espaço do jornal. Então, foi um ótimo lugar para aprender”, avalia.
Sandra ficou em Salvador até o fim de 1982, quando voltou para o Rio de Janeiro. Foi convidada para trabalhar na TV Manchete, já como subeditora de um jornal de cultura e entretenimento, o que se transformaria numa de suas marcas. Mais uma vez, porém, uma viagem mudou seus planos profissionais: o marido foi enviado para Minas Gerais, e a jornalista conseguiu uma transferência para fazer matérias especiais no estado. Logo foi convidada para trabalhar na Globo Minas, como repórter.
Globo Minas
“Cheguei em Minas no fim de 1983, e no meio de 1984 entrei para a Globo de lá. A gente mandava matéria para o 'Jornal Nacional' quase todo dia. Ainda mais quando começou a campanha do Tancredo Neves para a Presidência”, destaca. Em 1985, com eleição e subsequente doença de Tancredo Neves, a Globo preparou uma cobertura especial, da qual Sandra Moreyra participou ativamente, com matérias para os telejornais da rede. No dia da morte do primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, Sandra acompanhou o cortejo fúnebre, matéria exibida em 22 de abril, no Jornal Nacional.
Em 1986, a jornalista deixou Minas e voltou para o Rio, onde participou da cobertura do Plano Cruzado, grande pacote econômico feito no intuito de estabilizar a economia, trazendo uma nova moeda, o cruzado, em substituição ao cruzeiro. Para o 'RJTV', a jornalista fez uma reportagem dentro da Superintendência Nacional do Abastecimento, a Sunab, com os chamados “fiscais do Sarney”, fazendo um stand up diretamente do local, uma novidade para a época.
Acidente radioativo em Goiânia
Em setembro de 1987, Sandra Moreyra foi uma das repórteres destacadas para acompanhar os desdobramentos do acidente radioativo em Goiânia, com Césio 137, que contaminou centenas de pessoas. No Rio, a jornalista acompanhou o atendimento aos pacientes mais graves, internados no Hospital Naval, realizando matérias para o 'Jornal Nacional' e também para o 'Globo Repórter' especial, exibido em dezembro daquele ano.
Acidente radioativo em Goiânia - Césio 137 (1987)
Naufrágio do Bateau Mouche
Na virada de 1988 para 1989, uma tragédia chocou o Rio de Janeiro. Com a capacidade extrapolada, o Bateau Mouche IV afundou na Baía da Guanabara, matando 55 pessoas. Grávida, Sandra Moreyra estava de plantão e assim que soube do ocorrido começou a apurar a tragédia. Ela se lembra que telespectadores chegaram a ligar para a Globo para pedir que tirassem a gestante daquela cobertura. “Eu, com o maior barrigão, fazendo flash daquilo. Uma coisa maluca, e a gente nem se tocou”.
Depoimento - Sandra Moreyra: Naufrágio do Bateau Mouche (1988)
Sandra logo se tornou uma das principais repórteres da editoria Rio, cobrindo todo o tipo de pauta na região metropolitana. Em 1992, realizou reportagens para os principais jornais da rede sobre a Rio-92, também tendo sido escalada para, vinte anos mais tarde, acompanhar a Rio +20 (quando foi responsável por relatar os principais acontecimentos da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo).
Chacina de Vigário Geral
No ano seguinte, a jornalista fez uma reportagem que considera marcante em sua trajetória, sobre o enterro das vítimas da chacina em Vigário Geral. Era agosto de 1993 quando quarenta homens invadiram a favela da zona norte do Rio e mataram 22 pessoas, em represália ao assassinato de PMs, poucos dias antes. O enterro das vítimas da chacina, exibido em matéria no 'Jornal Nacional', comoveu o país. A repórter lembra: “Na hora de escrever o texto, a matéria tinha uma carga de emoção tão forte, da dor daquelas pessoas, da violência, que pensei: ‘Tenho que botar isso nas palavras mais simples’. Quando a matéria entrou no ar, foi um soco no estômago. Ela estava mais forte do que eu poderia imaginar, porque consegui exatamente isso, lidar com a realidade sem querer ser mais do que ela, sem querer aparecer mais. No dia em que fiz aquela matéria foi quando senti: ‘Puxa vida, cresci. Que bom!”, conta.
Chacina em Vigário Geral (1993)
Ainda nos anos 1990, para o 'JN', Sandra participou da cobertura do lançamento do Plano Real, no fim do governo Itamar Franco, quando outra série de medidas para estabilizar a economia incluiu a mudança da moeda corrente. Junto a outros colegas, a jornalista acompanhou reuniões e entrevistas da equipe econômica, dando informações sobre as medidas que estavam sendo tomadas em julho de 1994.
Sandra fez pautas para o 'Globo Repórter', ao mesmo tempo em que tocava reportagens na editoria Rio. Ela destaca que a cobertura da eleição e reeleição de Alberto Fujimori como presidente do Peru, em 1990 e 1995, foi um dos programas mais interessantes de que participou.
'Bom Dia Brasil'
Em 1996, Sandra foi trabalhar como repórter do 'Bom Dia Brasil' e passou a comandar uma coluna de gastronomia: “Eu cozinhava em casa, recebia os amigos, e todos sabiam que eu piloto um fogão com uma certa responsabilidade, e gosto muito. Então bolamos uma coluna para o 'Bom Dia' que tivesse uma linguagem diferente, que não tivesse aquela coisa de receita tintim por tintim, fosse mais uma coisa de cultura gastronômica”.
Bom Dia Brasil: coluna "Arte da Mesa" (1996)
GloboNews
Três anos depois, trocou o telejornal matinal pela GloboNews, onde passou a cuidar de parte gerencial e administrativa, ampliando sua experiência em televisão. Lá, também apresentou o programa 'Espaço Aberto Literatura'. Em 2004, de volta à Globo, participou da série comemorativa dos 35 anos do 'Jornal Nacional', com a reportagem 'As Mudanças nos Costumes dos Brasileiros'. Em 2008, dividiu com a jornalista Mônica Sanches a apresentação da premiada série '1808 – A Corte no Brasil', exibida em comemoração pelos 200 anos da chegada da família real.
Em 2010, Sandra Moreyra cobriu o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, mesma tarefa que desempenhou em 2013. Foi uma das repórteres envolvidas na premiada cobertura Rio Contra o Crime, em 2010, realizando matérias sobre a ocupação do Complexo do Alemão e implantação de UPPs nas favelas da cidade. Em 2011, pode relembrar um pouco de seus tempos como jornalista cultural na imprensa carioca, ao cobrir in loco o Rock in Rio IV, fazendo matérias para telejornais locais e também para o Bom Dia Brasil.
Séries de reportagem
Em janeiro de 2015, Sandra Moreyra coordenou a série 'Memórias de uma Cidade', sobre os 450 anos do Rio de Janeiro. A série do 'RJTV – 2ª Edição' recuperou imagens inéditas da cidade, como o filme mais antigo do acervo da Globo. Imagens restauradas mostram a cidade do Rio de Janeiro há meio século, em seus 400 anos. A série apresentada pelo repórter Pedro Bassan foi exibida na íntegra no 'Globo Comunidade', e as imagens inéditas também renderam matéria no 'Jornal Nacional'. Crônicas da jornalista em homenagem aos 450 anos da cidade foram ao ar nos telejornais 'RJTV', 'Bom Dia Rio' e no 'Hora Um da Notícia', interpretadas pelos atores Tony Ramos, Fernanda Montenegro, Milton Gonçalves e pela jornalista Ana Luiza Guimarães.
A série 'Cariocas Olímpicos' contou com produção e reportagem da jornalista, um esquenta para os Jogos Olímpicos de 2016. A série do 'RJTV – 1ª edição' estreou em agosto de 2015 para contar a história de atletas cariocas que já disputaram Olimpíadas.
RJTV - 1ª Edição: Série "Cariocas Olímpicos" (2015)
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A jornalista Sandra Moreyra faleceu em 10 de novembro de 2015. Ela lutava contra o câncer desde 2008, quando a doença foi diagnosticada no esôfago.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Entrevista exclusiva da jornalista Sandra Moreyra ao Memória Globo, em 15/05/2002, sobre a sua profissão.
Entrevista exclusiva da jornalista Sandra Moreyra ao Memória Globo, em 15/05/2002, sobre sua referências na profissão de jornalista.
Entrevista exclusiva da jornalista Sandra Moreyra ao Memória Globo, em 15/05/2002, sobre a cobertura do naufrágio do Bateau Mouche, no Ano Novo de 1988.
Webdoc com depoimentos exclusivos do Memória Globo sobre o naufrágio do barco Bateau Mouche 4 no réveillon de 1988, na entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
As principais coberturas jornalísticas da GloboNews, desde 1996 até 2005, com depoimento exclusivos ao Memória Globo dos profissionais que fizeram parte dessa história.
Webdoc sobre o programa Arquivo N com depoimentos exclusivos ao Memória Globo.
FONTE:
Entrevistas concedidas por Sandra Moreyra ao Memória Globo em 15/05/2002 e 01/12/2005. |