Sandra Annenberg

A paulistana Sandra Annenberg começou a carreira em televisão como atriz, em 1974. Estreou no jornalismo da Globo em 1991, como a “moça do tempo”. É apresentadora do 'Globo Repórter' desde outubro de 2019.

Por Memória Globo


Desenvolta, bem-humorada e dona de uma doce irreverência, Sandra Annenberg soma quase 50 anos de carreira na televisão, tendo estreado aos seis anos em um teleteatro na TV Cultura. E foi com sua naturalidade que ela 'viralizou' pelo país. Em 31 de outubro de 2011, por exemplo, primeiro dia de tratamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diagnosticado com câncer na laringe em um hospital em São Paulo, a repórter Monalisa Perrone transmitia o boletim médico, ao vivo, para o 'Jornal Hoje'. De repente, dois homens avançaram sobre ela e interromperam a transmissão. Na bancada, os dois apresentadores, Sandra Annenberg e Evaristo Costa, perplexos, ficaram mudos por um instante, sem saber o que dizer. Sandra foi a primeira a reagir: “Que deselegante!” A cena foi parar na internet, a expressão virou hit na web e nas redes sociais, e a popularidade de Sandra só fez aumentar. 

Acho que existe espaço no jornalismo para participação e opinião. A notícia continua sendo o nosso carro-chefe, mas depois dela vem o nosso jeito de ser.

Em depoimento exclusivo ao Memória Globo, Sandra Annenberg conta como foi sua estreia na bancada do 'JH'.

Início da carreira

Nascida em 5 de junho de 1968, na Avenida Paulista, em São Paulo, filha de um engenheiro eletrônico e de uma produtora, Sandra Annenberg estreou no vídeo em 1974, em um teleteatro da TV Cultura, tendo contracenado com Luis Gustavo e Elizabeth Savalla. Daí em diante, fez comerciais para a televisão. Mas, quando se deu conta, estava se encaminhando para o jornalismo. Tornou-se repórter aos 14 anos, no programa 'Crig-Rá', da TV Gazeta (Abril Vídeo), de jovens para jovens, da produtora independente Olhar Eletrônico. “Eu fazia reportagem sobre sexo, entrevistava as pessoas na rua sobre virgindade, masturbação, primeira vez, traição e fidelidade. E achava que ia ser jornalista”, lembra.

Aos 15 anos, tornou-se apresentadora no programa 'Show do Esporte', da TV Bandeirantes. No ano seguinte, comandou o infantil 'TV Criança'. De volta à TV Cultura, esteve à frente do esportivo 'Vitória', do programa de música clássica 'Grandes Concertos' e dos Festivais de MPB. Na Record, apresentou o 'Esporte Shopping Show' e o 'Super Esportes'. Nessa época, foi chamada para fazer um pequeno papel na peça 'Um Dia Muito Especial', estrelada por Tarcísio Meira e Glória Menezes. “Tomei gosto pela coisa e fui fazer a Escola de Arte Dramática na USP”, conta.

Em 1985, na Bandeirantes, estreou no elenco do siticom 'Bronco', transmitido ao vivo. Permaneceu dois anos no programa, onde contracenou com Ronald Golias, Renata Fronzi e Nair Bello. Também na Bandeirantes, em 1988, fez a minissérie 'Chapadão do Bugre', dirigida por Walter Avancini. “Ele não era fácil, era muito durão, mas era um mestre maravilhoso”, diz.

Na Globo, Sandra Annenberg estreou no seriado 'Tarcísio & Glória', em 1988. Também atuou na novela 'Pacto de Sangue' (1989) e nas minisséries 'República' (1989) e 'A, E, I, O…Urca' (1990), em que interpretou uma empregada doméstica.

Moça do tempo

Ainda em 1990, aceitou um convite do SBT para participar da novela 'Cortina de Vidro'. Foi seu último trabalho como atriz. Ela conta que viu que "só poderia ser atriz se fosse para o Rio. Mas não queria estar no Rio, queria estar em São Paulo”.

Voltou a procurar trabalho como apresentadora. Foi contratada pela Record para fazer um programa chamado 'TV Franchising', que ia ao ar aos domingos, às 7h. Seu trabalho chamou a atenção do jornalismo da Globo, o que lhe rendeu um convite para fazer um teste como moça do tempo. Deu certo. Em 17 de junho de 1991, aos 23 anos, estreou no telejornal 'São Paulo Já'. No dia 08 de julho do mesmo ano, começou a apresentar a previsão da meteorologia no 'Jornal Nacional', tornando-se a primeira mulher a ter um quadro fixo no telejornal. Para Sandra, aquele foi o momento de ruptura entre a fantasia e a realidade: “Eu abri mão da ficção e abracei o jornalismo.”

Eu guardo isso até hoje. Porque eu era a primeira mulher a entrar todo dia no 'Jornal Nacional'.

Entrevista exclusiva da jornalista Sandra Annenberg ao Memória Globo em 27/01/2004, sobre a estreia do quadro “Previsão do Tempo” no Jornal Nacional, em 1991.

Aliás, anos mais tarde, Sandra seria pioneira em mais um momento importante do 'JN': ela e Patrícia Poeta ancoraram o telejornal no Dia Internacional da Mulher, em março de 2014. Foi a primeira vez que o ‘JN’ foi apresentado por duas mulheres.

Dos palcos para a bancada

Iniciou o curso de Jornalismo ao mesmo tempo em que trabalhava. Em abril de 1993, foi convidada a dividir a bancada do 'Fantástico' com Celso Freitas e Fátima Bernardes. Era um novo começo, que a levaria a conquistar um espaço merecido na televisão brasileira. Apresentou edições marcantes, como a dedicada à morte do piloto Ayrton Senna, em 1994. Ficou na memória dos telespectadores o esforço dos apresentadores para dominar as emoções. “Eu e Fátima nos falávamos muito durante o programa, mas naquele dia a gente não se olhou. Simplesmente, eu olhava para minha câmera, e ela, para a dela. Na hora que terminou, estávamos com a voz completamente embargada. Acabamos de ler e, quando nos olhamos, choramos”, recorda.

Sandra Annenberg, Celso Freitas e Fátima Bernardes na bancada do 'Fantástico' (1993) — Foto: Nelson Di Rago/Globo

Depois de três anos apresentando o programa, gravado no Rio de Janeiro, bateu a saudade de casa, e Sandra pediu para sair. Voltou para São Paulo em 1996 e tornou-se apresentadora e editora-executiva do 'SPTV – 1ª Edição': “Comecei a descobrir o que é fechar um jornal. Foi um aprendizado e tanto”.

Ainda em 1996, participou da equipe responsável pela cobertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta. No ano seguinte, acumulou as funções de apresentadora e editora-executiva do 'Jornal da Globo'.

Em 1998, foi para o Rio de Janeiro, por um breve período, para assumir as mesmas funções no comando do 'Jornal Hoje'. No ano seguinte, voltou para São Paulo. Sandra estava na bancada do 'JH' quando a redação do telejornal foi transferida para lá, em janeiro de 1999. Ela deixou o cargo em outubro daquele ano, para se tornar repórter da rede.

Correspondente em Londres

Em 2000, Sandra Annenberg assumiu o posto de correspondente internacional e coordenadora do escritório da Globo em Londres. “Tinha que atender do 'Bom Dia' ao 'Jornal da Globo', passando pelo Esporte, 'Globo Repórter' e 'Fantástico', tudo com uma equipe de três repórteres, dois cinegrafistas, dois editores de imagem e dois produtores. Um desafio e tanto. Não me separava do celular. Ali, eu aprendi o que é jornalismo 24 horas no ar.”

Entre os muitos acontecimentos cobertos, ela destaca a queda do avião francês Concorde (2000); o drama do submarino russo Kursk (2000); a queda do ditador da Sérvia, Slobodan Milosevic (2000); e as repercussões dos ataques terroristas em Nova York (2001). Aliás, Sandra assinaria, dez anos depois dos atentados de 11 de setembro, uma série especial do 'JH' em memória do ocorrido. Ela foi a Nova York para, em três reportagens inéditas, mostrar como estava a cidade e contar a história de personagens que tiveram suas vidas marcadas pela tragédia.

Em 2003, Sandra voltou para o Brasil e começou a apresentar o 'Jornal Hoje' com Carlos Nascimento. No ano seguinte, com a saída de Nascimento da Globo, passou a dividir a bancada com Evaristo Costa. Em abril de 2005, assumiu também a função de editora-chefe e apresentadora na parte da manhã do telejornal 'Globo Notícia', exibido até 2014.

Evaristo Costa e Sandra Annenberg na bancada do 'Jornal Hoje', 2007 — Foto: Acervo/Globo

Das coberturas feitas pelo 'Jornal Hoje' que mais lhe emocionaram, Sandra destaca a dos Jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro, em 2007. “Eu nunca tinha entrado no Maracanã. E, simplesmente, entrei no dia da final do futebol feminino: Brasil e Estados Unidos. E a Seleção Brasileira ganhou de lavada, foram cinco gols a zero”. O jogo foi transmitido pelo 'Globo Esporte', e o 'Jornal Hoje' entrou no ar na hora que a partida acabou. Sandra falou ao vivo do Maracanã: “Isso é fantástico! Isso é sensacional! Isso é maravilhoso!”

O novo Papa

Outra cobertura marcante foi a da escolha do Papa em 2005. O mundo inteiro diante da televisão esperava a fumaça branca que sairia da chaminé no telhado do Vaticano, anunciando o novo Papa. Nas redações, todos estavam plugados nas agências de notícias. Piscou a Reuters: fumaça branca, o Papa tinha sido escolhido.

Eu gritei: 'Habemus Papam! Habemus Papam!' ('Temos Papa', em latim). Na hora que foi anunciado, ele declarou o nome Bento XVI. Só que falou em latim, Benedictus, e eu traduzi como ‘Benedito’. Não me toquei de que Benedito vira Bento.

A experiência de anunciar a escolha do Sumo Pontífice seria vivida novamente pela jornalista.

Coube à Sandra Annenberg, em março de 2013, informar ao vivo a escolha do sucessor de Bento XVI, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, da Argentina, eleito Papa Francisco. Durante quase duas horas, ela e o padre Marcial Maçaneiro comentaram a eleição.

Sandra Annenberg noticia a saída da fumaça branca pela chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. Conclave transmitido ao vivo no plantão do Jornal Hoje, 13/03/2013.

Para registrar a Copa de 2010, na África do Sul, para o 'JH', Sandra viajou para o país, em junho de 2010, e apresentou o jornal de Offenbach, cidade-sede que hospedou a Seleção brasileira, na Alemanha.

Reportagem de Sandra Annenberg sobre a estrutura da Globo na cobertura da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, Jornal Hoje, 07/06/2010.

Como Será?!

A partir de junho de 2012, Sandra Annenberg acumulou o 'Jornal Hoje' com a apresentação dos programas reunidos no Globo Cidadania – 'Globo Ecologia', 'Globo Ciência', 'Globo Educação', 'Globo Universidade' e 'Ação', substituindo Serginho Groisman. A atração ia ao ar aos sábados pela manhã.

De agosto de 2014 até dezembro de 2019, ela apresentou o programa 'Como Será?', um novo formato do Globo Cidadania. Também exibido aos sábados, das seis às oito da manhã, o programa discutia questões ligadas à educação, a trabalho, à cidadania e à sustentabilidade.

Sandra Annenberg e Lenine no 'Como Será', 2014 — Foto: Acervo/Globo

Grandes coberturas

No dia 28 de janeiro de 2013, dia seguinte ao incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), Sandra ancorou o ‘Jornal Hoje’ do local da tragédia. Evaristo ficou na bancada, chamando matérias sobre os desdobramentos do ocorrido.

A morte do então candidato à presidência da República Eduardo Campos, em agosto de 2014, foi anunciada em plantão do ‘Jornal Hoje'. O apresentador Evaristo Costa informou que a tragédia fora confirmada pelo Secretário Geral do PSB ao repórter Gerson Camarotti, da GloboNews. Durante duas horas, Evaristo e Sandra trouxeram as principais informações sobre o acidente, fizeram entrevistas por telefone com autoridades e chamaram repórteres ao vivo. Um ano depois, em agosto de 2015, a cobertura da morte de Eduardo Campos, realizada pelo ‘Jornal Nacional’ e pelo ‘Jornal Hoje’, foi indicada ao Emmy Internacional na categoria Notícia.

Para a cobertura da Olimpíada do Rio, entre os dias 05 e 21 de agosto de 2016, a Globo montou um estúdio no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O estúdio serviu de base para as transmissões da Olimpíada e apresentação dos telejornais da rede, dentre eles o ‘Jornal Hoje’, ancorado do estúdio de vidro por Sandra Annenberg.

Do Parque Olímpico, Sandra Annenberg fala sobre os últimos preparativos para a Olimpíada no Rio, Jornal Hoje, 05/08/2016

Seguindo no clima esportivo, Sandra e Alex Escobar apresentaram o 'JH' na Copa da Rússia, em 2018, de um estúdio montado especialmente para o evento na Praça Vermelha, ao lado do Kremlin, no coração de Moscou.

Sandra Annenberg e Alex Escobar apresentam o JH direto da Rússia, no estúdio de vidro, Jornal Hoje, 11/06/2018

As primeiras informações sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019, foram dadas por Sandra Annenberg no ‘Jornal Hoje’. Logo após o telejornal terminar, Sandra entrou ao vivo com boletins de atualização sobre o rompimento.

Primeiras informações sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), 'Jornal Hoje', 25/01/2019

Ainda em 2019, três tragédias chocaram o país e renderam edições especiais do 'JH' e plantões, com apresentação de Sandra Annenberg e Donny de Nuccio – Evaristo Costa deixou a bancada do 'JH' em julho de 2017. Em 08 de fevereiro de 2019, dez atletas da base do Flamengo, com idade entre 14 e 16 anos, morreram em incêndio no CT Ninho do Urubu. As primeiras informações foram ao ar ainda pela manhã, no ‘Bom Dia Rio’. A escalada do ‘JH’ abriu com a notícia da tragédia. Às 14h45, Sandra entrou com plantão com mais notícias sobre o caso. O ‘JH’ do dia 13 de março levou ao ar edição especial – com 2 horas e 50 minutos de duração – por conta do tiroteio em escola de Suzano, em São Paulo, que deixou 10 mortos. Durante a apresentação do ‘JH’ do dia 27 de maio, foi anunciado um acidente aéreo no Sergipe. Ao longo da tarde, em plantão do ‘JH’, as mortes do cantor Gabriel Diniz e de outras duas pessoas foram confirmadas. Sandra Annenberg fez as entradas nos plantões ao longo da tarde.

Assessoria de imprensa confirma que Gabriel Diniz estava em avião que caiu em Sergipe. 'Jornal Hoje', 27/05/2019

O 'Jornal Hoje' passou a ter um único apresentador a partir de 1º agosto de agosto de 2019, quando Dony de Nuccio deixou a empresa. Sandra Annenberg se manteve na função até setembro. No mês seguinte, assumiu a apresentação do 'Globo Repórter', ao lado de Glória Maria. Sandra se despediu da bancada do 'JH' de forma emocionada e anunciou sua substituta, Maria Júlia Coutinho.

Sandra Annenberg se despede da bancada do 'Jornal Hoje', 13/09/2019.

Globo Repórter e pandemia

No dia 09 de agosto de 2019, a Globo anunciou a aposentadoria de Sérgio Chapelin e a saída de Sandra Annenberg do ‘JH’, no mês seguinte. A jornalista passaria a dividir com Glória Maria, a partir do dia 4 de outubro, o comando do ‘Globo Repórter’.

"Fui convidada pelo Diretor de Jornalismo, Ali Kamel, para integrar a equipe do 'Globo Repórter'. Ele me disse que Sérgio Chapelin queria se aposentar e que, numa pesquisa para saber quem poderia substituí-lo, apareceu meu nome. Fui pega de surpresa, me senti lisonjeada e receosa. Como entrar no lugar de um ídolo, de alguém em quem me inspirava e me servia de modelo? Chapelin é insubstituível, e a voz dele continua ecoando e me guiando. Estar nesse lugar é uma honra que jamais ousei imaginar", destaca Sandra.

Estreia de Sandra Annenberg, ao lado de Glória Maria, no 'Globo Repórter', 04/10/2019.

Poucos meses depois da entrada de Sandra no ‘Globo Repórter’ e dias depois da estreia da nova temporada do programa em 2020, a OMS decretou a pandemia da Covid-19. "Estava acontecendo tudo ao mesmo tempo. Impossível não ficar apreensiva com tantas mudanças. Nos fechamos em casa. Ernesto Paglia, meu marido, por já estar com 60 anos, entrou em trabalho remoto. Fomos nos adaptando. Nos ajudávamos mutuamente. Fazíamos câmera um pro outro. Compramos equipamentos, iluminação. Fomos descobrindo novas maneiras de trabalhar. Aprendemos muito, num período de intensa produtividade. Para evitar os riscos da viagem Rio-SP, comecei a gravar a apresentação do 'Globo Repórter' de São Paulo. Começou um novo desafio: manter a qualidade e o estilo do programa, com cada apresentadora em uma cidade diferente. Não foi fácil", lembra a jornalista.

O primeiro programa inédito de Sandra para o 'Globo Repórter' começou a ser gravado antes da pandemia, em janeiro de 2020, mas o trabalho só pôde ser retomado no final do ano. A reportagem sobre o tempo fechou a temporada de 2020, tendo sido exibida em 18 de dezembro. "O tema foi sugerido pelo editor Paulo Sampaio e era perfeito para a transformação que estava acontecendo na minha vida: falar sobre o tempo. Como aproveitar, ter mais tempo, como lidar com a passagem do tempo, como não apressar e como dar tempo ao tempo. Parecia simples, mas não era".

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Sandra é casada com o jornalista Ernesto Paglia, com quem tem uma filha.

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