Rosana Garcia nasceu no dia 10 de outubro de 1964, em São Paulo. Acompanhada pela mãe, Dirce Prieto, e inspirada no pai, o ator e redator Antônio Gilberto Garcia Costa, ela começou a trabalhar como atriz na televisão aos cinco anos, com os irmãos Isabela e Ricardo. Era uma das alunas do programa 'Moacyr Franco Show', na Globo, no início dos anos 1970 - atração para a qual o pai escrevia quadros. Na sequência, participou de diversas novelas, mas o trabalho que a faria entrar para a história da televisão brasileira foi como a primeira Narizinho, de 'Sítio do Picapau Amarelo'. Embora tenha crescido na frente das câmeras, foi atrás das telas que Rosana descobriu sua grande vocação. Desde 2001, atua como preparadora de elenco na Globo, auxiliando profissionais no intenso trabalho de mergulhar em um personagem. Tem particular sensibilidade para lidar com crianças, às quais tem especial dedicação.
Estreia em novelas
Ao longo de sua carreira, Rosana participou de diversos trabalhos na Globo, entre eles, várias novelas. A primeira delas foi O 'Primeiro Amor' (1972), de Walther Negrão, como a filha do personagem de Sérgio Cardoso. Ainda muito menina, a atriz teve o apoio da direção, dos demais atores e, em especial, de Guta Mattos, diretora de elenco e madrinha de casamento de seus pais. “Eu me lembro de ser muito bem acolhida, muito paparicada pelo elenco, pela direção, por todo mundo, por ser muito pequenininha, por ser a menininha ali”, conta.
Na sequência, participou das novelas 'Bicho do Mato' (1972), de Chico de Assis e Renato Correia de Castro, e 'A Patota' (1972-1973), de Maria Clara Machado – produção destinada principalmente ao público infanto-juvenil, em que contracenava com outras crianças. “A gente tinha um clubinho e tocava instrumentos; tinha um cachorro que era nosso amigo… Era uma farra, com aquele monte de criança. Lembro muito bem da Débora Duarte, que era nossa professora”, recorda.
Sem deixar de frequentar a escola, Rosana Garcia manteve-se em atividade profissional constante até ser mãe ainda muito jovem, aos 17 anos. Atuou em 'Cavalo de Aço' (1973), de Walther Negrão, e 'O Semideus' (1973-1974) e 'Fogo sobre Terra' (1974-1975), ambas de Janete Clair. Desta última novela, traz lembranças especiais. Teve, como colegas de elenco, sua irmã, Isabela, e grandes atores, como Jardel Filho, Dina Sfat, mas destaca, especialmente, Walter Avancini, com quem já havia trabalhado em Cavalo de Aço. Embora fosse conhecido por ser muito exigente, o diretor a tratava com enorme carinho.
Sítio do Picapau Amarelo
Sítio do Picapau Amarelo: Dona Benta (Zilka Sallaberry) fala à Narizinho (Rosana Garcia), Pedrinho (Júlio Cézar), Visconde de Sabugosa (André Valli) e Emília (Reny de Oliveira) sobre o Minotauro.
Após participações em episódios de 'Casos Especiais', Rosana Garcia ganhou o papel que marcaria sua trajetória profissional para sempre: em 1977, foi a primeira Narizinho do 'Sítio do Picapau Amarelo', obra de Monteiro Lobato adaptada por Paulo Afonso Grisolli e Wilson Rocha. Durante quase cinco anos, a atriz viveu intensamente o universo lúdico construído pelo autor. “Se já é legal para um adulto, imagine para uma criança, todas aquelas histórias que a gente viveu lá dentro, todo aquele mundo de fantasia. Eu vivia dentro de um sítio que tinha árvores com tudo quanto é fruta, tinha bicho de verdade... Eu saía do colégio, ia pra lá e vivia dentro de um sítio minha tarde inteira, todos os dias da semana”, conta.A seu lado, em um primeiro momento, estiveram atores e atrizes como Dirce Migliaccio, a Emília; Dorinha Durval, a Cuca; Zilka Sallaberry, a Dona Benta; André Valli, o Visconde de Sabugosa; Jacyra Sampaio, a Tia Anastácia; Tonico Pereira, o Zé Carneiro; e Júlio César, o Pedrinho. Depois houve trocas no elenco, mas o clima familiar das gravações se manteve, sob comando de Geraldo Casé. Alguns episódios foram especialmente marcantes, entre os quais O Minotauro (1978), em que ela foi para a Grécia antiga atrás da Tia Anastácia e pôde aprender muito sobre mitologia. O 'Sítio do Pica-Pau Amarelo' deixou fortes lembranças afetivas, a ponto de sua trilha sonora estar até hoje entre as preferidas da atriz – entre sucessos de Chico Buarque, Dorival Caymmi e Gilberto Gil.
Sítio do Picapau Amarelo: Narizinho (Rosana Garcia) lembra dona Benta (Zilka Sallaberry) que já é hora de ir pra casa. Com Pedrinho (Júlio Cézar), Visconde de Sabugosa (André Valli), Emília (Reny de Oliveira), Alcebíades (Fábio Mássimo), Péricles (Jorge Cherques), Heródoto (Rofran Fernandes), Sócrates (Telmo de Avelar), Fídias (Antonio Ganzarolli) Aspásia (Leina Krespi) e tia Nastácia (Jacyra Sampaio).
Como as gravações de 'Sítio do Picapau Amarelo' começaram bem antes de o programa ir ao ar, Rosana Garcia viu seu último episódio no final da adolescência, mas se despediu da Narizinho antes, quando tinha 15 anos. Na mesma época, a Globo, fundada em 1965, também debutava, e para comemorar o aniversário a emissora teve a ideia de relacionar as datas. Foi criada uma festa em que a jovem atriz descia uma escadaria e seus colegas, entre os quais Paulo Gracindo e Bibi Ferreira, a esperavam em um salão. “Eu descendo com aquela roupa branca e passando por todo o elenco da Globo como se fosse um baile de debutantes. Muito legal”, afirma. Após sair do 'Sítio do Picapau Amarelo', Rosana Garcia atuou em 'O Amor é Nosso' (1981), de Roberto Freire, Wilson Aguiar Filho e Walther Negrão. Na novela, interpretou Loreta, repetindo a parceria com o ator Júlio César, o Pedrinho do 'Sítio'. Com a maternidade, a atriz se afastou da profissão, voltando alguns anos depois. Primeiro, em 'Direito de Amar' (1987), de Walther Negrão, como a Marizé, dirigida por Jayme Monjardim; e, em seguida, em 'O Sexo dos Anjos' (1989-1990), de Ivani Ribeiro, quando trabalhou novamente com sua irmã, Isabela. Sua personagem nesta novela, Lucinha, fingia-se de rica e encontrou um namorado mentiroso, exatamente com as mesmas características, vivido por Rodolfo Bottino. Essa veia cômica da atriz foi explorada, ainda, em participações em 'Chico Anysio Show' e 'Os Trapalhões'.
Instrutora de dramaturgia
Embora tenha crescido na frente das câmeras, Rosana Garcia descobriu atrás delas sua grande vocação. Em 2001, estreava a novela 'Estrela-Guia', de Ana Maria Moretzsohn, que tinha Sandy como protagonista. Um jovem ator começou a ganhar destaque na trama e precisou de orientação. No elenco, estava Isabela Garcia, que indicou a irmã para ajudá-lo. Quase por acaso, Rosana passou a ser instrutora de dramaturgia. Trabalhou com grandes atores, como Fábio Assunção, Malu Mader e Claudia Raia, além de muitas crianças – algumas que seguiriam na carreira com sucesso, como Marina Ruy Barbosa. Com atores formados, Rosana discute cenas e os ajuda a decorar textos.
Com as crianças, a dedicação é maior, pois ela precisa acompanhá-las nas gravações, motivá-las e ensinar a elas como se comportar profissionalmente. “Chega o texto com antecedência, eu marco com as crianças, antes de começar a novela. A gente vai lá numa salinha, onde eu começo a preparar as crianças para aquelas cenas: ‘Olha, vai ter essa cena assim, seu personagem é assim, sua mãe é essa, a situação é essa, essa e essa’”, explica. Em 2019, teve como pupilo Rodrigo Vidal, um menino de apenas três anos que viveu o Kháled de 'Órfãos da Terra' (2019), novela de Duca Rachid e Thelma Guedes.
Encontro com Fátima Bernardes: Sergio Malheiros relembra trabalho de preparação com Rosana Garcia, 12/10/2012.
Mesmo como preparadora de elenco, Rosana Garcia continuou a atuar eventualmente. Em 'Ti-Ti-Ti' (2010-2011), de Maria Adelaide Amaral, interpretou a Solange, uma personagem que ora era carola, ora ladra, ora hippie. Também fez participações em 'Páginas da Vida' (2006-2007), de Manoel Carlos; em 'Flor do Caribe' (2013), de Walther Negrão; e no seriado 'A Grande Família' (2001-2014). No cinema, atuou no infantil Os 'Três Palhaços e o Menino' (1983), de Milton Alencar, e em 'Como Ser Solteiro' (1998), de Rosane Svartman, contracenando com Marcos Palmeira, Ernesto Piccolo, Heitor Martinez e Cássia Linhares. No teatro, destaca o musical 'Lampião no Inferno' (1981), de Luiz Carlos Niño.
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