Rodrigo Alvarez

O jornalista Rodrigo Alvarez nasceu no Rio de Janeiro, em 1974. Começou na GloboNews em 1996, como editor de imagem. Foi correspondente em Nova York, Oriente Médio, Alemanha e França. Deixou a Globo em 2019.

Por Memória Globo


“Sem sorte, melhor nem sair de casa”, costuma brincar Rodrigo Alvarez. Para ele, o acaso não é decisivo, mas é bom estar disposto a ser ajudado por ele. É por isso que guarda um espaço para o improviso em suas reportagens especiais. Unindo a sorte à ousadia, o editor de imagem Rodrigo Alvarez se tornou repórter da GloboNews apostando em seu próprio trabalho: chegou a vender o carro e ir sozinho a Califórnia tentar um novo modelo de jornalismo em uma matéria sobre o Vale do Silício, em 2000. Lá, entrevistou garotos fundadores de uma promissora empresa da internet, o Google. Quando retornou ao Brasil, a reportagem entrou no 'Jornal das Dez'. E Alvarez ficou mais próximo de concretizar o sonho de se tornar correspondente.

As viagens internacionais que fez pela GloboNews, como as que resultaram na série sobre implantação do Euro, em 2001, lhe deram visibilidade. Em 2006, foi contratado pela Globo para ser correspondente nos Estados Unidos. Cobriu eleições, caçou tornados no meio-oeste, acompanhou os desdobramentos da morte do cantor Michael Jackson, conseguiu uma passagem de ida para cobrir a destruição causada pelo terremoto no Haiti (2010). De volta ao Brasil, ele se tornou repórter do 'Fantástico'. Teve a oportunidade de rodar o país em matérias especiais, como o projeto Expedição Xingu, que repetiu a experiência dos irmãos Villas-Bôas na conquista do centro-oeste brasileiro. Em 2013, foi com a família para Jerusalém, tornando-se correspondente da Globo no Oriente Médio, de onde cobriu de perto os conflitos na Faixa de Gaza. Em 2016, assumiu o posto na Alemanha, de onde passou a acompanhar o drama dos refugiados na Europa.

Desde que comecei no jornalismo, eu quis ser correspondente. Já tinha viajado para muitos países e o que me interessava na profissão era poder entender o mundo.
Rodrigo Alvarez na Faixa de Gaza, 2014 — Foto: Acervo/Globo

Início da carreira

Rodrigo Nascimento Alvarez nasceu no Rio de Janeiro em 08 de junho de 1974. Formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica e fez pós-graduação em Negócios no IBMEC. Quando entrou para a faculdade, a ideia dele era ser escritor. No sexto período, colegas da faculdade o convenceram a fazer uma prova para a GloboNews, que estava para ser inaugurada.

Eu não queria trabalhar em televisão, meu sonho era escrever num jornal, mas elas insistiram muito. E no fim do longo processo de seleção, acabei passando.

Jornalista que soube desde cedo usar a tecnologia a seu favor, Alvarez foi contratado como editor de imagens pouco antes de a nova emissora entrar no ar, no dia 15 de outubro de 1996. Exerceu a função até 1999, no 'Jornal das Dez'. Depois, virou repórter da madrugada e deu o seu primeiro furo. Foi na Conferência do Rio de Janeiro que reuniu Chefes de Estado da América Latina, Caribe e União Europeia. “Eu dei a sorte de entrevistar Fidel Castro. Ele estava no hotel com o Hugo Chávez e só eu e um repórter argentino ficamos esperando até ele sair do quarto, às 5h. Ficamos meia hora entrevistando o Fidel. Acabou que entrou no Jornal Nacional”, relembra. Era a primeira vez que Cuba participava deste tipo de encontro.

No ano seguinte, o repórter vendeu seu carro e comprou uma câmera. Foi para a Califórnia nas férias e produziu, sozinho, uma série de reportagens sobre o Vale do Silício. “Entrevistei 30 daqueles jovens que criavam empresas de internet, inclusive os fundadores do Google, quando eles não eram conhecidos. Pouco depois, a Bolsa Nasdaq entrou em crise, foi a semana da bolha da internet. Então, o meu material se tornou atualíssimo”.

Grandes coberturas

Ainda no 'Jornal das Dez', Alvarez registrou o naufrágio da plataforma P36 da Petrobras, em Macaé, no Rio de Janeiro, em 2001, junto com o repórter-cinematográfico Eglédio Vianna e o técnico Márcio Couto. A cobertura rendeu menção honrosa no Prêmio Imprensa Embratel. “A GloboNews foi a única televisão que gravou as imagens, que depois foram para o mundo. Na época, disseram que era o único registro de uma plataforma afundando em alto-mar que já tinha sido feito”, contou Rodrigo em depoimento ao Memória Globo.

Naufrágio da Plataforma P36 (2001)

Esse furo lhe permitiu fazer reportagens maiores no canal. No final de 2002, ele teve a ideia de viajar sozinho à Europa, para produzir uma série sobre a implantação do Euro. “Acompanhei a chegada das notas e das moedas, fisicamente, a Portugal, Alemanha e Itália. Na virada do ano, eu estava em Berlim e entrei ao vivo, por telefone, no Jornal das Dez, contando como os alemães haviam recebido a nova moeda”, relembra.

A partir daí, especializou-se em reportagens internacionais; logo depois, fez parte da equipe da emissora que cobriu a Copa do Mundo do Japão e da Coreia do Sul, em 2002.

Correspondente em Nova York

Em 2006, um sonho foi concretizado: foi convidado pela Globo para ser correspondente em Nova York. “Desde que comecei no jornalismo, eu quis ser correspondente. Já tinha viajado para muitos países e o que me interessava na profissão era poder entender o mundo”. Alvarez permaneceu nos Estados Unidos até 2010, tendo passado um período como correspondente na Califórnia de onde, aliás, acompanhou as eleições norte-americanas de 2008.

Webdoc sobre a cobertura da Eleição de Barack Obama em 2008, com entrevistas exclusivas do Memória Globo.

Mas, antes disso, sua primeira grande cobertura foi a do massacre na Universidade de Virgínia, em abril de 2007, quando o estudante Cho Seung-Hui matou 32 pessoas e se suicidou. O repórter e o cinegrafista Orlando Moreira foram os primeiros a entrar com uma câmera escondida no dormitório onde os crimes haviam ocorrido.

Meses depois, para o 'Jornal da Globo', fez uma série de reportagens sobre a fronteira do México com os Estados Unidos. “Foi no momento em que estava se construindo o muro entre os dois países. O México estava começando a ficar violento, roubaram nossa câmera”.

Depois, foi para a Califórnia. “Eu sempre busquei a possibilidade de fazer as coisas de maneira mais independente do padrão. E acabou que lá eu me fixei no Fantástico. Acho que o perfil de repórter que tenho hoje se consolidou na Califórnia”, relembra.

Eleições americanas

Durante a cobertura das eleições americanas de 2008, Rodrigo Alvarez e o cinegrafista Sérgio Telles viajaram pelo país de carro, percorrendo 18 estados, um por dia para a série 'Americanos'. “O objetivo era mostrar o que americanos diferentes pensavam das eleições. Fomos a uma cidade fantasma em Nevada que tinha sete habitantes. Ao contrário do que normalmente se faz, a gente não ouviu especialista nenhum, só o americano simples”.

Com a estrada pela frente, os dois ficaram imersos naquele universo e, depois, tentaram montar a reportagem com uma linguagem de documentário, narrada pela voz dos próprios personagens. A série rendeu o primeiro livro do jornalista, 'No País de Obama', lançado em 2009.

Estreia da série 'Americanos' com reportagem de Rodrigo Alvarez sobre os eleitores americanos antes da eleição presidencial de 2008. Jornal da Globo, 27/10/2008.

Quinta e última reportagem da série 'Americanos', de Rodrigo Alvarez, sobre a região dos Estados Unidos conhecida como "Cinturão da Bíblia", dias antes das eleições presidenciais norte-americanas. Jornal da Globo, 31/10/20082008.

Morte de Michael Jackson

Em 2009, Rodrigo participou da cobertura da morte de Michael Jackson. “Foram dois meses de cobertura, um volume enorme de trabalho. Parecia uma Copa do Mundo”.

Rodrigo Alvarez entrevista a brasileira Remi Vale Real, que durante quase duas décadas foi cozinheira do cantor Michael Jackon. Fantástico, 28/06/2009.

Reportagem de Rodrigo Alvarez sobre o enterro do cantor Michael Jackson. Bom Dia Brasil, 04/09/2009.

A experiência do Haiti

Em 2010, Rodrigo foi para o Haiti, país destruído por um terremoto, uma das experiências mais extremas que teve na carreira. “Humanamente, aquilo me mudou. Nunca imaginei ver uma calamidade daquele porte. Demorei um bom tempo para conseguir dormir direito. Você andava na rua e se via cercado de corpos”. A experiência lhe levou a escrever seu segundo livro, 'Haiti Depois do Inferno' (2010).

Reportagem de Lilia Teles e Rodrigo Alvarez na cobertura do terremoto no Haiti. Jornal Nacional, 14/01/2010.

Ainda em 2010, durante oito dias, Rodrigo e o cinegrafista Luiz Cláudio Azevedo percorreram seis estados dos Estados Unidos com a missão de filmar tornados nas planícies do meio-oeste. A reportagem foi exibida em junho, no 'Fantástico', com a impressionante imagem de um tornado tocando o solo muito próximo aos repórteres, captada no último dia da aventura, quando seguiram seus instintos e resolveram sair por conta própria em busca da imagem perfeita. “Parecia que eu estava em uma história mágica, em um fenômeno fora deste universo. O tornado começou a descer e, quando vimos, encostou no chão. Ele vinha em nossa direção. Era muito perto. Eu fiquei contemplando aquilo e narrando o que eu estava pensando na hora. Enquanto ele se aproximava, trouxe uma ventania seguida de gelo. Pedras de granizo caíam sobre nós e sacudiam ainda mais o carro. Foi uma correria danada, gravamos durante muito tempo. O tornado ia para um lado e para o outro, parecia um gigante se movimentando”, relembra.

Rodrigo Alvarez e Luiz Cláudio Azevedo percorrem o estado do Colorado, nos Estados Unidos, em busca de tornados. Fantástico, 06/06/2010.

O jornalista também foi apresentador do 'Mundo S/A', da GloboNews, até o fim de 2010, quando regressou ao Brasil. “Fizemos um programa de economia e negócios com humor. Foi um sucesso. As pessoas me param na rua até hoje para falar dele”, relembra Rodrigo sobre o programa.

De volta ao Brasil, Alvarez se estabeleceu em São Paulo e passou a fazer reportagens para o 'Fantástico'. Entre elas, o projeto Expedição Xingu, que repetiu a experiência dos irmãos Villas-Boas na conquista do centro-oeste brasileiro.

Oriente Médio

Rodrigo se tornou correspondente da Globo no Oriente Médio em fevereiro de 2013: em sua base em Jerusalém, ele trabalhava com repórteres-cinematográficos parceiros e editava o material em um estúdio montado no mesmo prédio em que morava com a família.

Em 2013, Rodrigo Alvarez foi o primeiro correspondente da Globo a chegar na África do Sul para cobrir a morte de Nelson Mandela: achou um voo direto de Jerusalém a Joanesburgo naquele 5 de dezembro. O funeral do ex-presidente durou dez dias, passando por várias cidades. Seu corpo foi enterrado na aldeia de Qunu, na província do Cabo Oriental, onde nascera. Rodrigo Alvarez permaneceu lá durante toda a cobertura.

“Tomado pela energia do lugar, fui esperando tristeza pela morte de alguém tão amado, mas descobri que os sul-africanos não lamentavam. Ao contrário, eles comemoravam a vida. Era emocionante demais para a nossa cabeça ocidental, que vê a morte como um fim, uma tristeza. Mandela tinha libertado o povo negro da África do Sul, era um herói, e as pessoas estavam comemorando o fato de ele ter existido. Foi um sentimento que eu não conhecia”, relembra Rodrigo sobre a cobertura.

Sul-africanos prestam homenagem a Nelson Mandela um dia após sua morte

Em 2014, Rodrigo Alvarez se destacou com a cobertura do conflito Israel-Palestina, conhecido como Guerra de Gaza. Com o repórter cinematográfico Jeremy Portnoi, produziu reportagens exclusivas para o 'Jornal Nacional' e para o 'Fantástico'. Entre elas, os trabalhos sobre um túnel usado pelo grupo extremista Hamas para atacar Israel, em 2014; e sobre uma escola bombardeada pelos israelenses na Faixa de Gaza, que matou 15 crianças.

Também no período, começou a acompanhar o aparecimento dos primeiros campos de refugiados na região, que fugiam principalmente da Síria. De Israel, ele partiu para viagens à Jordânia, Grécia, Turquia e Alemanha, cobrindo a maior tragédia humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Entre as reportagens mais marcantes sobre o tema, está Europa Fechada (2015), um material para o 'Fantástico' reunido após uma travessia de vários países acompanhando o fluxo de refugiados até a Alemanha.

Fantástico percorre 7 países e mostra o drama de refugiados na Europa

“Uma cena marcante foi em Salzburg, na Áustria. Em um trem, encontramos três afegãos muito alegres. Tinham viajado 70 dias, entre campos de refugiados e barcos, passando pela rota dos Bálcãs. Finalmente, estavam chegando à Alemanha. A imagem representava a vitória do refugiado. Acompanhamos quando eles desceram do trem em Munique e vimos uma enormidade de outros refugiados transitando pela estação”, contou ao Memória.

Em 2016, Rodrigo deixou Jerusalém e criou o posto de correspondente em Berlim. Da Alemanha, ele acompanhou a escalada do terrorismo na Europa e continuou reportando, do outro lado, o problema humanitário dos refugiados: “Foi muito curioso ter testemunhado aquilo no tempo em que eu morei em Jerusalém e, depois, em 2016, quando me tornei correspondente na Alemanha, acompanhando a mesma situação pelo outro lado. Coisas da vida: os melhores amigos dos meus filhos na escolinha em Berlim são Hamed e Mohamed, dois meninos sírios divertidíssimos”, relembra.

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Rodrigo Alvarez deixou o posto de Berlim em janeiro de 2018 e passou a ser correspondente no escritório de Paris. Em dezembro de 2019, deixou a Globo para se dedicar a projetos pessoais.

FONTES:

Depoimento concedido ao Memória Globo por Rodrigo Alvarez em 19/07/2011 e em 12/06/2017.