Paulo Ricardo Campos Silvino esteve desde sempre familiarizado com o meio artístico. Filho do humorista Silvério Silvino Neto e da professora de música e pianista Noêmia Campos "Naja" Silvino, cresceu em meio aos artistas que, anos mais tarde, viriam a se tornar seus colegas de profissão. Pisou num palco pela primeira vez aos nove anos de idade, quando se atreveu a soprar as falas para um ator de uma peça que o pai participava. Na adolescência, ele se apresentava como crooner de um conjunto de rock, acompanhado por músicos como Eumir Deodato (acordeon), Durval Ferreira (guitarra) e Fernando Costa (bateria).
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Entrevista exclusiva do ator, cantor e humorista Paulo Silvino ao Memória Globo em 06/06/2005 sobre a vida e profissão de seus pais Silvino Neto e Naja Silvino.
Sua verve cômica já se manifestava durante os números do quarteto. Quando cantava 'Singin’ in the Rain', por exemplo, costumava abrir um guarda-chuva no palco. A primeira performance profissional aconteceu em 1956. Anunciado como Paulo Ricardo, para evitar associações com o pai, cantou dois sucessos de Little Richards para a plateia do 'Programa César de Alencar', na Rádio Nacional. Durante a apresentação, rasgou as próprias roupas e, apoteoticamente, comeu o medalhão de “ouro” que estava usando, na verdade, um biscoito pintado de amarelo.
Com o nome de Dickson Savana, em 1958, apresentou-se junto com Erasmo Carlos e Eumir Deodato no 'Clube do Rock', programa comandado por Carlos Imperial na TV Tupi. No ano seguinte, agora sob a alcunha de Silvino Júnior, compôs e cantou a maioria das canções do disco 'Nova Geração em Ritmo de Samba', gravado com os amigos Altamiro Carrilho, Durval Ferreira e Eumir Deodato. Até o início dos anos 1960, gravou com vários outros artistas, como o cantor Sílvio César e os conjuntos Tamba Trio e Os Cariocas.
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Entrevista exclusiva do ator, cantor e humorista Paulo Silvino ao Memória Globo em 06/06/2005 sobre a descoberta de sua vocação e o início da carreira.
Em 1962, incentivado pelo amigo Gláucio Gil, Paulo Silvino escreveu um espetáculo teatral baseado na letra de Anjinho Bossa Nova, música que havia composto e gravado naquele ano com Os Cariocas. Com um elenco formado por amigos de infância e cenários emprestados de um espetáculo de Dercy Gonçalves, a peça foi um sucesso e marcou sua estreia como ator. Em 1963, 'Anjinho Bossa Nova' ganhou montagem profissional produzida por Fernando D’Ávilla. Elogiado pela crítica como revelação do teatro, Paulo Silvino atuou ao lado de Augusto César Vannucci e Brigitte Blair.
Entrada na televisão
Paulo Silvino acha que entrou na televisão por acaso, apenas porque tinha facilidade com humor e não se acanhava diante das câmeras. “Ser comediante nasceu por acaso. Talvez seja pela minha desfaçatez, porque eu nunca tive inibição de máquina. Tenho tranquilidade com a câmera e tive vantagem em televisão por isso. O riso dos cinegrafistas é o meu termômetro”.
A carreira na televisão começou na TV Rio, em 1965, como apresentador do programa 'K Louros e Morenos', uma criação sua em que os participantes escolhiam o que iam cantar, mas só ficavam sabendo como seria a apresentação na hora, por sorteio. O calouro podia, por exemplo, ser obrigado a cantar sua versão para Chega de Saudade, de João Gilberto, vestido de urso enquanto subia e descia uma escada.
Em setembro de 1966, Paulo Silvino fez sua estreia na Globo, apresentando o 'Canal 0', humorístico de meia-hora de duração que satirizava a programação das emissoras de TV. No início de 1967, a atração passou a se chamar 'TV0-Canal 0'. Em abril daquele ano, a emissora estreou o 'TV1-Canal ½' , programa similar, apresentado por Agildo Ribeiro. Em julho, houve a fusão dos dois programas, e os dois comediantes passaram a apresentar juntos o 'TV0-TV1'.
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Webdoc sobre o programa 'TV O – TV 1', com entrevistas exclusivas do Memória Globo.
Em 1967, Paulo Silvino foi para a TV Excelsior, onde trabalhou no humorístico 'Hotel do Porteiro Doido', ao lado de comediantes como Castrinho, Consuelo Leandro, Renato Côrte Real, Tião Macalé e Otelo Zeloni. Em 1968, voltou à Globo e, durante três meses, apresentou o programa de variedades 'Porque Hoje é Sábado', ao lado de Lúcio Mauro, Grande Otelo e Dircinha Batista. No ano seguinte, integrou o elenco da primeira versão do humorístico 'Balança Mas Não Cai', com direção de Augusto César Vannucci. Ao Memória Globo ele revela que 'Balança Mais Não Cai', de que era apresentador, foi um de seus trabalhos favoritos.
“Ah, eu preciso tanto!”
Na década de 1970, o comediante trabalhou nos programas 'Faça Humor, Não Faça Guerra' (1970), 'Uau, a Companhia' (1972), 'Satiricom' (1973) e 'Planeta dos Homens' (1976). Deixou sua marca como intérprete de personagens lunáticos e criou bordões absurdos como “Ah, eu preciso tanto!”, “Eu gosto muito dessas coisas!”, “Guenta! Ele guenta!”, “Ah, aí tem!” e “Dá uma pegadinha!”.O humorista relembra: “O Satiricom era a sátira da comunicação. Depois, tivemos o Satiricom, a ‘sátira do comportamento humano’; depois, houve aquele filme o 'Planeta dos Macacos', e o Max Nunes veio com a ideia: ‘Agora, o terceiro ano vai ser o 'Satiricom, a sátira do Planeta dos Homens’. Mas o Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho] não quis mais continuar com 'Satiricom' no nome e virou só 'Planeta dos Homens'”.
Satiricom: Esquete em que Jô Soares, Paulo Silvino e Miele fazem uma sátira dos comentaristas de futebol.
Em 1977, Paulo Silvino fez uma participação em um episódio do 'Sítio do Picapau Amarelo' como Merlin, o mago da lenda do Rei Arthur. No ano seguinte, trabalhou na novela 'O Pulo do Gato', escrita por Bráulio Pedroso e dirigida por Jardel Mello, fazendo a chamada para as cenas dos próximos capítulos com uma narração ao estilo radiofônico. No final da novela, fez uma participação em cena representando a figura do Destino.
O Planeta dos Homens: casal perde a paciência com Primo Juca (Paulo Silvino) e Liberato (Milton Carneiro) durante exposição artística.
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Entrevista exclusiva do ator, cantor e humorista Paulo Silvino ao Memória Globo em 06/06/2005 em que fala sobre seu primeiro bordão.
'Viva o Gordo'
Entre 1981 e 1987, trabalhou no programa 'Viva o Gordo' (1981), estrelado por Jô Soares. Em 1983, fez parte do humorístico 'A Festa é Nossa', dirigido por Lúcio Mauro, e ganhou o papel do Louco Vampiro em 'O Inspetor Geral', episódio do 'Caso Especial' escrito por Doc Comparato e Bernardo Carvalho, com Lucélia Santos, Carlos Vereza, Gracindo Jr., José Vasconcellos e Maurício do Valle.
Com a saída de Jô Soares da Globo em 1989, Paulo Silvino trabalhou durante um breve período como redator do 'Domingão do Faustão'. Em 1990, foi para o SBT para apresentar o 'Condomínio Brasil', programa escrito por Max Nunes que, no entanto, não chegou a estrear. O comediante passou, então, a integrar o elenco de 'A Praça é Nossa' e da 'Escolinha do Golias'.
Em 1993, voltou à Globo e trabalhou na 'Escolinha do Professor Raimundo'. Em 1995, foi para TV Record, onde participou da 'Escolinha do Barulho'. Em 1997, de volta à Globo, fez uma breve participação na novela 'Zazá', de Lauro César Muniz.
Cara e crachá
Em 1999, passou a atuar no 'Zorra Total', humorístico dirigido por Maurício Sherman. Entre os vários tipos que já interpretou no programa, um dos mais famosos era Severino, porteiro da Globo que estava sempre em dificuldades por servir de quebra-galhos para um diretor. Um dos bordões do personagem – “Meu negócio é conferir a cara e o crachá” – fez tanto sucesso que ele virou símbolo de uma campanha interna da emissora sobre a importância do uso do crachá pelos funcionários. Outros personagens de sucesso foram Lobichomen e Teseu.
Zorra Total: Severino (Paulo Silvino) e diretor Sherman (Marcos Wainberg) entram em confusão ao tentarem gravar um comercial com Santinha (Nair Belo) e Ornela (Lolita Rodrigues)
Zorra Total: Bento Carneiro (Chico Anysio), Calunga (Lug de Paula), Funério (André Lucas), Nosferatu (David Pinheiro), Vampeguete (Fabiana Schunk), Político (Nizo Neto), Vangolano (Romeu Evaristo), Mortuália (Fabiana Karla), Lobichomem (Paulo Silvino) e outros.
Em 2015, o 'Zorra Total' passou por uma reformulação, transformando-se em um humorístico que destaca, entre outros elementos, a paródia musical. Paulo Silvino permaneceu no elenco de 'Zorra', nome do programa após a reformulação, e que esteve no ar até 2020. Nessa nova fase, o humorístico passou a ser escrito por Marcius Melhem, Celso Taddei e Gabriela Amaral.
Cinema
No cinema, Paulo Silvino trabalhou tanto como ator quanto como roteirista. Em muitos casos, cumpriu as duas funções: como em 'Ascensão e Queda de um Paquera' (1970), 'Café na Cama' (1973), 'Com a Cama na Cabeça' (1972), 'Um Varão Entre as Mulheres' (1974), 'O Padre que Queria Pecar' (1975), 'A Mulata que Queria Pecar' (1977), 'Assim Era a Pornochanchada' (1978), 'Os Melhores Momentos da Pornochanchada' (1978) e 'Um Marciano em Minha Cama' (1981). Também fazem parte de sua carreira no cinema atuações em 'Sherlock de Araque' (1957), 'Minha Sogra é da Polícia' (1958), 'O Rei da Pilantragem' (1968) e 'Um Edifício Chamado 200' (1973). Paulo Silvino também atuou nos filmes 'Rádio Nacional' (2011), 'Muita Calma Nessa Hora 2' (2013) e 'Até que a Sorte nos Separe 3' (2015).
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Paulo Silvino morreu no dia 17 de agosto de 2017, aos 78 anos, em decorrência de um tumor no estômago.
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