Patricia Carvalho

A jornalista mineira Patricia Carvalho tem uma trajetória de mais de 20 anos na Globo. Começou na GloboNews e passou pelo 'SPTV', 'Jornal da Globo' e 'Fantástico'. Foi editora-chefe do 'Bem Estar', programa que ajudou a criar. Está à frente da direção de produção dos programas das Manhãs Globo

Por Memória Globo


Mineira de Conselheiro Lafaiete, Patricia Gonzaga de Carvalho formou-se em Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora e fez pós-graduação em Jornalismo Internacional na PUC paulista. Nascida em 1974 e filha dos funcionários públicos Geraldo Graciano de Carvalho e Marta Elisa Gonzaga de Carvalho, começou sua carreira na Tribuna de Minas, jornal de Juiz Fora. Em busca de novos ares e oportunidades, viu o anúncio de seleção de trainees na TV Cultura de São Paulo. Candidatou-se a uma vaga, fez a prova, passou e se mudou para a capital paulista. Em seguida, foi contratada pela GloboNews, como produtora de programas apresentados por jornalistas como Caco Barcellos, Pedro Bial e Joelmir Beting. Ficou na TV a cabo por quatro anos, transferindo-se depois para a Globo, ainda em São Paulo. Contribuiu para a concepção do 'Profissão Repórter', além do 'Bem Estar', trabalhou com jornalismo diário e em programas que aliam informação e entretenimento, sem perder o rigor na apuração e a leveza no tratamento do tema.

— Foto: Globo
Nosso desafio era pensar a cobertura de um ponto de vista diferente, o que acrescentar. E pensar essas matérias não era apenas uma responsabilidade. Era uma cultura do repórter e do editor, para fazer correlações e dar uma versão mais interessante

Terminado o período como trainee na Cultura, em 1998, Patricia Carvalho foi chamada para cobrir férias. Enquanto trabalhava nessa condição, ainda não contratada, soube por um profissional da emissora que a GloboNews teria aberto uma vaga para produtora. Conversando primeiro com Marcia Ribeiro, na época produtora da GloboNews, e depois com a chefe dela, Adelina Schlaich, conseguiu ficar para uma experiência de um mês. Desde então, está no grupo Globo, sem interrupção. “Fui convidada para trabalhar na faixa de programas entre 21h e 23h. Fazíamos uma brincadeira infame: a gente dizia que era garota de programa. Mas não era garota de qualquer programa, porque a gente só fazia programa com Joelmir Beting, Pedro Bial, Caco Barcellos, Carlos Nascimento, Ernesto Paglia”, se diverte.

Se o programa do Caco Barcellos era direcionado para questões ligadas à injustiça social e o surgimento das primeiras ONGs, Joelmir Beting trazia medalhões da economia para entrevistas exclusivas. As diferenças entre os jornalistas e a linha editorial de atrações como 'Espaço Aberto', 'Almanaque' e 'Starte' faziam com que a jovem profissional aprendesse bastante. Quando foi gravar com Pedro Bial uma entrevista com José Agrippino de Paula, um dos inspiradores da Tropicália, percebeu como o conhecimento sobre o assunto e o tato podem permitir a condução com sucesso de uma conversa que parecia caótica, por conta das dificuldades do entrevistado, que vivia como um eremita.

Evolução tecnológica

O desafio de realizar os programas era ainda maior do que atualmente porque, naquela época, os profissionais lidavam com questões técnicas impensáveis nos dias de hoje. Não havia e-mail, grande parte do material físico com que ela trabalhava era enviada por malote e o sistema operacional usado em seu computador, quando entrou na GloboNews, era o DOS, precursor do Windows. “Eu me lembro a primeira vez que o menino chegou falando que ia fazer um e-mail. Eu demorei para entender o que ele estava falando, o que ia ser exatamente isso”, relembra.

Em 2000, Patricia Carvalho passou três meses no Rio de Janeiro, editando os programas que produzia em São Paulo, para entender melhor como funcionava a rotina na sede e a grade de programação. Conversou várias vezes com a então diretora Alice-Maria e com as jornalistas Vera Íris Paternostro e Mônica Labarthe, com as quais a equipe paulista lidava diretamente. E decidiu, a partir dessa experiência, que queria de se tornar editora.

Mudança de função

Pouco tempo depois, o diretor de Jornalismo da Globo em São Paulo na época, Amauri Soares, criou um projeto de formação de editores acessível aos produtores. Primeira a se candidatar, Patricia Carvalho passou a acompanhar o 'SP1', como trainee, ainda sem sair da GloboNews. Quando surgiu uma vaga no 'SP2', em 2002, ela foi transferida para a equipe do telejornal.

Nesse momento, ela destaca o interesse do telespectador pelo Globocop, que havia entrado em operação há pouco tempo. “O helicóptero foi uma mudança de paradigma no jeito de ver a cidade. A sensação que a gente tinha é que as pessoas ficavam extasiadas só de ver a cidade de cima, às vezes nem precisava de nenhuma notícia, era só mostrar um ponto de vista diferente da Avenida Paulista”, explica.

'Jornal da Globo'

Os caminhos profissionais de Patricia Carvalho a conduziram, em 2003, ao 'Jornal da Globo'. Convidada por Luiz Cláudio Latgé, ex-diretor de Jornalismo de São Paulo, para assumir o lugar de produtora especial de Ana Paula Padrão, tinha também as funções de editora das reportagens da jornalista. No cargo, também se relacionou com equipes de outras capitais, como Fortaleza e Maceió, o que abriu seus horizontes. A expectativa da equipe do 'Jornal da Globo' era, então, encontrar uma abordagem diferente para os assuntos do dia, evitando assim repetir a forma como os fatos haviam sido tratados em outros telejornais.

Séries de reportagens

Com Ana Paula Padrão e o repórter-cinematográfico Helio Alvarez, Patricia produziu uma série sobre mulheres em situações de risco que a levou à Colômbia. “Foi fantástico ver o Helio Alvarez trabalhando. Eu me lembro o quanto eu aprendi sobre posicionamento de câmera, como ela era invisível no ambiente, como ele conseguia deixá-la assim, apesar do tamanho do equipamento, com seu jeito silencioso, atento”, afirma. Na Colômbia, foram feitas entrevistas com mulheres que deixaram a guerrilha e não eram aceitas mais onde viviam antes de se alistar.

Outro trabalho que deixou memórias fortes foi uma série sobre o turismo sexual infantil no Nordeste, que explorava meninas. Com o nome 'Aqui se Vende Sexo', a reportagem usou câmeras escondidas e mostrou como as jovens, algumas com apenas 12 anos, entrando para a prostituição e acabavam viciadas em crack.

'Profissão Repórter'

Patricia Carvalho participou também do processo de criação do 'Profissão Repórter', a pedido de Luiz Cláudio Latgé. Para isso, assistiu a muitas horas de gravação de matérias feitas por Caco Barcellos e jovens jornalistas orientados por ele sobre temas como a reintegração de posse de imóveis ocupados por pessoas sem teto em São Paulo. Apesar desse esforço, que gerou o primeiro piloto do programa, ela não conseguiu ser liberada do 'Jornal da Globo' para integrar o grupo fixo do 'Profissão Repórter'.

'Fantástico'

Em 2009, voltando da licença-maternidade de sua segunda filha e sem encontrar creche com horários compatíveis com seu trabalho, pediu ao então editor-chefe do 'Jornal da Globo', Erick Brêtas, para sair do telejornal e se transferir para o 'Fantástico'. Obteve a mudança e entrou no programa como editora, em São Paulo. “O Fantástico era uma redação barulhenta, ficava mais difícil me concentrar, não tinha uma ilha para eu decupar, mas por outro lado a troca era maior também. Eu tinha a sensação de que estava entre os tops. Os melhores profissionais estavam lá. Então aquilo me dava muita energia, porque eram as pessoas mais criativas, as pessoas mais questionadoras”, diz.

No programa, viveu a transição do processo analógico para o digital, quando o editor de imagem deixou de precisar do editor de texto para montar a estrutura da matéria. Isso tornou mais fácil o recorte de trechos e a correlação de informações, alterando a estrutura do trabalho.

Editora-chefe

Enquanto estava no 'Fantástico', Patricia Carvalho participou de um seminário, com cerca de 20 pessoas, em que se debatia a concepção de um programa sobre saúde. Dois anos depois, o projeto saiu do papel, e a jornalista foi convidada a ser a editora-chefe da atração que entraria no ar em breve, ainda sem nome. Em 2 janeiro de 2011, com a equipe formada por pessoas com mais experiência em jornalismo diário e comunitário, como Leda Pasta e Cléber Cândido, começou a produção do 'Bem Estar', que estrearia no mês seguinte.

Patricia Carvalho, bastidores Bem Estar, 2015. Bob Paulino/ Memória Globo - memoriaglobo/Patrícia-Carvalho_Dr.-Almino-Ramos-e-Dr.-João-Eduardo-Salles-Bem-Estar-2015.-Bob-PaulinoMemória-Globo-2.jpg — Foto: Memória Globo

Tanto quanto os apresentadores Fernando Rocha e Mariana Ferrão, a escolha dos profissionais de saúde que dão orientações no programa foi feita com muito cuidado. “A gente queria médicos que fossem midiáticos, falassem bem, mas ao mesmo tempo fossem referência para os colegas. Isso é um ponto importante pra gente, porque a gente queria ganhar o respeito da comunidade médica”, enfatiza.

EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO

Depoimentos exclusivos ao Memória Globo sobre o programa Bem Estar.

Depoimentos exclusivos ao Memória Globo sobre as danças do apresentador Fernando Rocha no programa Bem Estar.

Mudanças no tempo

O 'Bem Estar' tinha, no início, 40 minutos de produção, depois passou para 35 e 30. À medida que o programa foi se desenvolvendo, outros especialistas passaram a fazer parte da equipe e deixou-se de obedecer a um padrão rígido, com um dia certo para cada especialidade, como se fazia antes. Em função do horário de exibição, na parte da manhã, a preocupação com a qualidade do áudio se intensificou, pois muitas pessoas não assistem em casa, mas sim em padarias e locais públicos.

Outra mudança definida, para manter o interesse do público mesmo com a repetição inevitável de temas, ao longo dos anos, foi abordar diferentes aspectos de um mesmo assunto. Se a pauta é miopia, além de explicar por que o problema ocorre e quais as possíveis soluções para ele, indica-se a postura correta na frente do celular, por exemplo.

Interação com o público

Desde o início do programa, a interação com os telespectadores foi grande. A Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) recebia perguntas para os médicos responderem na hora – e esse contato era estimulado. “Quando entraram as novas mídias, Twitter, Facebook, WhatsApp, Instagram, a gente conseguiu incorporá-las. Como isso funciona? A gente tem uma pessoa no switcher que fica recebendo essas informações. Ela já viu o espelho do programa, então sabe quando haverá demonstrações. Quando recebe a pergunta, já coloca no painel para mim, aí eu falo: ‘A Irene de Belo Horizonte mandou pra gente essa pergunta, vamos ver’. Para o telespectador isso acontece de um jeito quase mágico”, ressalta.

Como prova de que o programa estava próximo do público e tinha de fato utilidade na vida das pessoas, Patricia Carvalho se recorda de uma orientação sobre afogamento, no quadro 'Aprendi no Bem Estar'. Na véspera do carnaval, uma médica explicou que o pulmão tem três litros de capacidade de armazenamento de ar, funcionando praticamente como uma boia. Se a pessoa que se sente em perigo fica apavorada e grita, esvazia os pulmões e afunda mais rápido. Depois, o CAT recebeu uma mensagem de um senhor dizendo que tinha passado exatamente por essa situação, lembrou-se da dica da médica e fez apenas sinais, até que a maré o levou para outro lugar e ele conseguiu ficar de pé.

Os realities também foram muito bem-sucedidos no programa. 'Meu Filho Não Come', 'Meu Filho Não Dorme', 'Expedicionários da Saúde', 'Cintura Fina', 'Bola Pra Frente', 'Meditação', 'Invisíveis', 'Quem Dança Seus Males Espanta' e 'Afina Rocha' utilizaram personagens para mostrar que é possível alcançar objetivos saudáveis. “A gente trabalha com um conceito muito comum hoje nos Estados Unidos, de infotainment. A gente traz informação com rigor na apuração, mas traz também a leveza do entretenimento. Então, você não vai ver uma situação puramente artística, uma licença poética completa no programa, vai ser sempre uma licença poética baseada em alguma informação, algum fato que realmente existe”, garante.

Em abril de 2019, em uma reformulação nas manhãs da Globo, o 'Bem Estar' passou a ser um quadro dentro do 'Encontro com Fátima Bernardes'. Manteve-se também como um selo de produção de conteúdo no portal de notícias G1 e, em agosto de 2019, deu nome também a um podcast semanal.

Patricia está à frente da direção de produção dos programas das Manhãs Globo. Em 2021, também dirigiu, ao lado de Antonia Prado, o especial 'Falas Femininas'. Em formato documental, a equipe acompanhou o dia a dia de cinco mulheres, que representam o país em sua diversidade cultural, social, racial e religiosa. A segunda etapa do projeto foi gravada nos Estúdios Globo, em São Paulo, onde elas se encontraram em um bate-papo mediado por Fabiana Karla.

“Esta homenagem mergulha na rotina de cinco mulheres que representam a brasileira real: batalhadoras que trazem dinheiro para dentro de casa, cuidam dos filhos, da limpeza, da comida. Cuidam muito de todos e pouco de si. O que estas mulheres têm para falar? Com o que elas sonham? Apesar de serem as mais numerosas proporcionalmente na nossa população, são as menos vistas, as menos ouvidas, as menos representadas. Falas Femininas quer ampliar essas vozes, ao mesmo tempo em que serve como um espelho, para que elas enxerguem e reconheçam seu próprio valor. A partir de uma câmera documental, sensível e cúmplice, o especial revela ao público e às próprias protagonistas a força e a beleza de suas histórias. Nem elas se viam assim”, observou Patricia ao site Observatório da TV.

FONTE:

Depoimento de Patricia Carvalho ao Memória Globo em 22/11/2017. https://observatoriodatv.uol.com.br/noticias/globo-destaca-forca-da-mulher-brasileira-no-especial-falas-femininas, acessado em 5/10/2023. Perfil de Patricia Carvalho no LinkedIn.