Filho do jornalista e humorista Lauro Nunes, Max Nunes até tentou não seguir o caminho do pai. Formou-se em medicina e trabalhou como cardiologista durante alguns anos. Mas o gosto pela música e o talento natural para o humor o transformaram em roteirista de programas humorísticos que marcaram época. O “Gargantinha de Veludo”, apelido que ganhou quando foi locutor mirim da Rádio Guanabara, também era compositor de marchinhas de carnaval: Bandeira Branca, escrita em parceria com Laércio Alves para fazer as pazes com a esposa após uma briga, tornou-se conhecida pela voz de Dalva Oliveira.
Max Nunes era adepto, como costumava dizer, do humor satírico e “limpo” – ou “do umbigo para cima”. Ele criou, na Globo, o líder de audiência Balança Mas Não Cai (1968), programa que reeditou um sucesso da Rádio Nacional nos anos 1950, colocando no ar quadros e personagens queridos do público, como Fernandinho e Ofélia, aquela que só abria a boca quando tinha certeza. Com Haroldo Barbosa – “o único sujeito do mundo que andava na chuva sem desviar da poça” -, escreveu Faça Humor, Não Faça Guerra (1970), Satiricom (1973) e Planeta dos Homens (1976). Max Nunes foi padrinho de casamento de Jô Soares e também acompanhou o amigo ao longo da carreira, em diferentes emissoras. De Viva o Gordo (1981) ao Programa do Jô (2000), Max trabalhou com Jô até falecer, em 2014, aos 92 anos de idade.
EXCLUSIVO: Depoimento de Max Nunes ao Memória Globo sobre o início da carreira, em 20/10/2008.
Início da carreira
Max Newton Figueiredo Pereira Nunes nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Desde muito cedo, o ambiente familiar o atraiu para o mundo das artes. Seu pai era jornalista, escrevia esquetes para a Rádio Mayrink Veiga e ficou conhecido no início do século XX como o humorista Terra de Sena, pseudônimo com o qual chegou a assinar livros. O pai, bem como o ácido Aparício Torelly (conhecido pelo pseudônimo Barão de Itararé), foram fontes de inspiração para o jovem Max Nunes, que acreditava ser essencial num humorista “levar a sério o que é sério”, assim como ter um espírito satírico.
EXCLUSIVO: trecho do depoimento de Max Nunes ao Memória Globo, em 20/10/2008.
Sua casa era frequentada por artistas e intelectuais. Além disso, Max Nunes era vizinho de Noel Rosa, com quem se acostumou a andar e por quem foi incentivado a cantar. Quando criança, Max Nunes chegou a participar de programas de rádio e de concursos musicais. Em concurso realizado no Theatro Municipal, deixou em segundo lugar o então desconhecido Paulo Fortes. Nos anos 1950, ficou famoso por suas marchinhas.
Formou-se em 1948 pela Faculdade Nacional de Medicina da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Especializou-se em cardiologia, chegando a exercer a profissão até a década de 1980 e a dirigir a seção de Ipanema do Instituto Brasileiro de Cardiologia. Contudo, nunca deixou de lado a carreira artística. Antes mesmo de entrar para a universidade, estreou como roteirista de Barbosadas, programa apresentado por Barbosa Jr. na Rádio Nacional, e do filme E o Mundo Se Diverte (1948), de Watson Macedo.
Já universitário e à busca de trabalho, conseguiu uma vaga na Rádio Tupi, onde começou a fazer os programas A Queixa do Dia, Ninguém Rasga, Dona Eva e Seu Adão e O Amigo da Onça. No ano em que se formou, foi chamado para integrar a equipe de produtores da Rádio Nacional com objetivo de tornar mais atraente o Programa Manoel Barcelos, para o qual trabalhava a já famosa cantora Marlene.
Na Rádio Nacional, o roteirista foi beneficiado pela ida dos comediantes Lauro Borges e Castro Barbosa para a Rádio Tupi: sem saber o que colocar no ar às 20h30 das sextas-feiras, Vítor Costa, chefe da rádio, convidou Max Nunes para preencher o horário. Foi quando surgiu o programa Balança mas Não Cai, humorístico que marcou a história do gênero e ganhou versões para o cinema, o teatro de revista e a televisão.
No teatro, sua participação foi consequência do trabalho na Rádio Nacional. Sem jamais largar o rádio, criou em meados de 1950 peças como Nonô Vai na Raça e Aperta o Cinto. Em toda sua carreira, escreveu 36 peças para o teatro de revista. Em 1952, Max Nunes foi convidado a trabalhar novamente na Rádio Tupi. Com um salário maior e apenas o programa Uma Pulga na Camisola para escrever – em vez dos seis pelos quais era responsável na concorrente –, ganhou mais tempo para se dedicar a outras atividades e, inclusive, para produzir colunas na Tribuna da Imprensa (de 1954 a 1955) e no Diário da Noite (de 1954 a 1960).
Max Nunes escreveu pela primeira vez para a televisão em 1962, quando criou os programas My Fair Show e Times Square para a TV Excelsior. Em 1965, foi para a Globo, onde passou a roteirizar e dirigir, ao lado de Haroldo Barbosa, o humorístico Bairro Feliz, pelo qual passaram figuras como Paulo Monte, Grande Otelo e Berta Loran. O comediante Mussum, com seu conjunto Originais do Samba, também participou do programa.
No ano seguinte, dando sequencia à parceria com Haroldo Barbosa, estreou Riso Sinal Aberto e Canal 0, que a partir de 1967 se transformou no TV0-TV1. Apresentado por Paulo Silvino e Agildo Ribeiro nas noites de quinta-feira, o programa explorava a paródia da produção televisiva, recurso que influenciaria, muitos anos depois, humorísticos como TV Pirata (1983) e Casseta & Planeta, Urgente! (1992).
Início na Globo
O programa Balança mas Não Cai foi adaptado para a televisão, pela primeira vez, na Globo em 1968. Em 1972, também teve uma versão produzida pela TV Tupi. Dez anos depois, voltou à grade de programação da Globo, com novos personagens e cenários. Foi um grande sucesso de audiência no Rio de Janeiro, em parte por trazer do rádio personagens conhecidos do grande público, como o Primo Pobre (Brandão Filho) e o Primo Rico (Paulo Gracindo). Balança mas Não Cai também eternizou expressões populares, como a do personagem Peladinho – “Mengo, tu é o maior!” –, que deu origem ao apelido do Clube de Regatas Flamengo.
Quadro “Primo Pobre e Primo Rico”, com Brandão Filho e Paulo Gracindo.
Em 1972, Max Nunes integrou a equipe de redação do Faça Humor, Não Faça Guerra, do qual também fez parte outro grande parceiro de trabalho: Jô Soares. O humorístico, inicialmente transmitido ao vivo, foi um dos primeiros a utilizar o videoteipe (VT) – introduzido no Brasil em 1957 – e revolucionou o gênero na televisão, criando um humor mais moderno característico de programas como Satiricom (1973), Planeta dos Homens (1976) e Viva o Gordo (1981), todos com a colaboração de Max Nunes.
São também do mesmo período Uau, a Companhia (1972), do qual participaram nomes como Agildo Ribeiro, Chico Anysio, Ziraldo e Millôr Fernandes, e A Grande Família (1972), primeira comédia de costumes da Globo, que se inspirava na norte-americana All in the Family. Já na década de 1980, escreveu ao lado de Afonso Brandão, Hilton Marques e José Mauro o primeiro programa comandado exclusivamente por Jô Soares: Viva o Gordo (1981), sob a direção de Cecil Thiré.
Com Jô Soares, foi em 1988 para o SBT, onde lançou Veja o Gordo e Jô Soares Onze e Meia. Em 2000, ambos voltaram à Globo para estrear o Programa do Jô, reeditando o mesmo formato de talk show produzido nos 12 anos anteriores. Gravado em São Paulo, o programa era acompanhado por Max Nunes, que ainda produzia textos e participava das gravações.
O humorista e diretor morreu no dia 11 de junho de 2014, no Rio, devido a complicações de saúde após uma queda.
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