Mauro Mendonça

O ator Mauro Mendonça nasceu em Ubá, Minas Gerais, em 2 de abril de 1931. Estreou na Globo em 1973. Fez mais de 40 novelas na emissora.

Por Memória Globo


Mauro Pereira de Mendonça estreou profissionalmente no Teatro Brasileiro de Comédia em 1956, com a peça A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrick, com direção de Maurice Vaneau. O TBC o levou à televisão: seu primeiro trabalho em frente às câmeras foi um auto de Natal, ao lado de colegas de palco como Cacilda Becker, Ziembinski e Walmor Chagas, na TV Record. “Cheguei para gravar e vi uma câmera; fiquei fascinado. Passei a fazer muito teleteatro, foram 15, 20 anos. Fiz teleteatro nas TVs Continental, Rio, Paulista, que depois virou Globo, Difusora, Tupi, TVE, Excelsior”, relembra. A primeira das cerca de 50 telenovelas em que atuou foi Corações em Conflito (1963), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. Começou a trabalhar na Globo em 1973, participando do seriado Shazan, Xerife & Cia.

Depoimento concedido ao Memória Globo por Mauro Mendonça em 22/10/2007.

Início da carreira

Mauro Mendonça tinha acabado de concluir o curso clássico (equivalente hoje ao ensino médio) no Educandário Ruy Barbosa, no Rio de Janeiro, quando, num estalo, resolveu se matricular na escola do Serviço Nacional de Teatro. “Foi um insight maravilhoso, a coisa mais certa que fiz na vida. Eu já cantava em programa de rádio, de auditório. Eu estudava canto, e gostava de cantar, de imitar. Até no programa de Ary Barroso cantei. Mas o meu sonho era fazer cinema, por causa do neorrealismo italiano, do cinema francês do pós-Guerra e do cinema brasileiro”, conta. Em 1955, foi aprovado em teste e entrou para o elenco do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). “O TBC significava para o teatro o que a Globo significa hoje para a televisão. Eu estava entrando na melhor companhia do Brasil”.

Mauro Pereira de Mendonça estreou profissionalmente no TBC em 1956, na peça A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrick, com direção de Maurice Vaneau. O TBC o levou à televisão: seu primeiro trabalho em frente às câmeras foi um auto de Natal, ao lado de colegas de palco como Cacilda Becker, Ziembinski e Walmor Chagas, na TV Record. “Cheguei para gravar e vi uma câmera, e fiquei fascinado. Passei a fazer muito teleteatro, foram 15, 20 anos. Fiz teleteatro nas TVs Continental, Rio, Paulista, que depois virou Globo, Difusora, Tupi, TVE, Excelsior”, relembra. A primeira das cerca de 50 telenovelas em que atuou foi Corações em Conflito (1963), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.

Grande encontro

Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho se conheceram nos palcos em 1959. Casaram-se no mesmo ano e tiveram três filhos: o diretor Mauro Mendonça Filho, o ator Rodrigo Mendonça e o produtor musical João Paulo Mendonça. Os dois atuaram juntos na novela A Muralha (1968), adaptada da obra de Dinah Silveira de Queiroz por Ivani Ribeiro, uma superprodução da Excelsior, emissora que viria a falir em seguida. Rosamaria interpretou Isabel, sobrinha do bandeirante Dom Braz Olinto, personagem do marido. “Dom Braz tinha uns 70 anos, era um velho. Precisei fazer uma caracterização: cabeleira, barba, tudo postiço. Como a televisão era em preto e branco e não tinha muita definição, o personagem ficava mais ou menos crível”, conta o ator. Mais de 30 anos depois, ele voltaria a viver Dom Braz na minissérie da Globo A Muralha (2000), adaptada por Maria Adelaide Amaral. “Mas, então, eu já tinha a idade do personagem”, pondera.

Início da Globo

Depois de passar pela Record e pela Tupi, começou a trabalhar na Globo em 1973, participando do seriado Shazan, Xerife & Cia. Logo depois, interpretou o Vicente da novela Carinhoso, de Lauro César Muniz. No ano seguinte, atuou em O Espigão (1974), de Dias Gomes, e O Rebu (1974), de Bráulio Pedroso, quando viveu Álvaro Resende. “Em O Espigão tive oportunidade de cantar. Meu personagem, Donatello, era muito engraçado. Ele tinha uma relação com a personagem de Susana Vieira, que queria ir para a cama a toda hora. Donatello estava ficando cansado. Todas as vezes que ia para a cama com a mulher, ele fazia: ‘Ohhhhh’. Eu passava na rua e diziam: ‘Me ensina a dar aquele dó de peito?’ Tive sucesso pessoal nessa novela”, comenta.

Estúpido Cupido

Cena de Espelho Mágico em que Nelson (Mauro Mendonça) dá em cima de Diana (Vera Fischer). Com Bruna Maria (Pepita Rodrigues) e Edgar (Carlos Eduardo Dolabella). A novela marca a estreia de Vera Fischer na Globo.

Em seguida, foi o delegado Armando Siqueira de Estúpido Cupido (1976), de Mário Prata; o Nelson Novaes de Espelho Mágico (1977), de Lauro César Muniz; e o Rogério em Te Contei? (1978), de Cassiano Gabus Mendes. Ainda no fim dos anos 1970, trabalhou em dois grandes sucessos da teledramaturgia brasileira, as novelas Dancin’ Days (1978), de Gilberto Braga, e Feijão Maravilha (1979), de Bráulio Pedroso, na qual interpretou o empresário artístico Mr. Ziegfeld. “Eu falava com sotaque, porque o personagem era americano. Foi uma das primeiras novelas dirigidas por Paulo Ubiratan e a proposta dele era: ‘Vamos brincar de fazer chanchada da Atlântida’. O elenco tinha muitos atores que haviam trabalhado na Atlântida: José Lewgoy, Mara Rúbia, Grande Otelo. E todos assumiram o compromisso de brincar de fazer chanchada na Globo”, diz.

Anos 1980

Na novela Água Viva (1980), de Gilberto Braga, viveu o contrabandista Ewaldo, pai de Janete (Lucélia Santos). “Ele era completamente vigarista, só fazia coisa errada. Não chegava a ser vilão, porque seus golpes nunca davam muito certo. O personagem terminava a novela fantasiado de vigário numa favela onde havia ido fazer uma obra de caridade”, conta. Ainda nos anos 1980, trabalhou em mais duas novelas do autor, Brilhante (1982) e Louco Amor (1983). “Eu fui muito feliz quando fiz textos dele. Gosto muito de Gilberto Braga. Em Dancin’ Days, por exemplo, eu faria apenas uma participação de 20 capítulos, e acabei ficando três meses.”

Champagne (1983), de Cassiano Gabus Mendes, trouxe o ator no papel de Jurandir, um dos suspeitos de matar a empregada Zaíra (Suzane Carvalho). No fim da novela, o personagem confessava o crime e, em seguida, suicidava-se. Mas a censura interveio e a cena do suicídio foi vetada. “Cassiano me telefonou e disse: ‘Mauro, vou lhe fazer uma proposta. Aceitando ou não, quero que mantenha segredo. Você se importaria de interpretar um assassino?’ Eu mantive o segredo até o fim. Acho que nem para Rosamaria, minha mulher, eu contei”, relembra.

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Em 1986, atuou na primeira versão de Sinhá Moça, adaptação de Benedito Ruy Barbosa da obra de Maria Dezonne Pacheco Fernandes. “Eu fazia o Dr. Fontes, um advogado abolicionista. Os filhos dele, interpretados por Marcos Paulo e Daniel Dantas, também eram a favor da abolição da escravatura e da proclamação da República. Do outro lado, estava o Barão de Araruna [Rubens de Falco], um escravagista”. Depois de fazer uma participação especial em Mandala (1987), de Dias Gomes e Marcílio Moraes, trabalhou em outra novela de época de Benedito Ruy Barbosa, Vida Nova (1988). “Eu interpretava Antenor, um fazendeiro que tinha uma filha encalhada [Iara Jamra] e a empurrava para cima de um portuguesinho interpretado por Lauro Corona [1957-1989]. Foi a última novela de Lauro, infelizmente”, conta.

Na minissérie República, de 1989, interpretou um personagem histórico, o positivista Benjamin Constant. “Quando vi a fotografia dele e a caracterização que me fizeram, pensei: ‘Eu sou Benjamin Constant’. E trabalhei nessa base, acreditando ser ele”, conta.

Pai e filho

Foi dirigido pela primeira vez por seu filho, Mauro Mendonça Filho, em outra minissérie A, E, I, O… Urca. (1990), escrita por Antonio Calmon e Doc Comparato. “Foi tranquilíssimo, uma cena só. Eu interpretava o ministro Damasceno. Tive uma participação pequena e minha cena mais importante foi a que meu filho dirigiu”, diz. Em 1995, viveu o ex-governador de Minas Gerais Benedito Valadares na minissérie Engraçadinha… Seus Amores e seus Pecados, adaptada da obra de Nelson Rodrigues por Leopoldo Serran e Carlos Gerbase.

Cena de Anjo Mau em que Olavinho (Gabriel Braga Nunes) toma posse em Brasília e Paula (Alessandra Negrini) comemora ao lado do marido. Enquanto isso, o corrupto Rui (Mauro Mendonça) está preso, mas com muitas regalias.

Dois anos depois, ganhou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo personagem Rui Novaes, do remake da novela Anjo Mau, escrito por Maria Adelaide Amaral a partir do texto original de Cassiano Gabus Mendes. “Rui Novaes era um tremendo 171. Ele tinha uma frase que o definia: ‘Você já viu ‘171’ antipático?’”, lembra. Em 2004, trabalhou em outro remake, Cabocla, escrito por Edmara e Edilene Barbosa, filhas do autor Benedito Ruy Barbosa, que assinou a primeira versão da novela, exibida em 1979. Mauro Mendonça interpretou o coronel Justino, um dos chefes políticos da fictícia região de Vila da Mata e rival do coronel Boanerges (Tony Ramos). “Começamos com bastante rivalidade. No início da novela, houve a famosa aposta nos cavalos. Quem perdesse teria que raspar o bigode. Ali ficava marcada a rivalidade entre os dois. Boanerges era mais popular, e mais populista, enquanto Justino era meio aristocrata”, conta.

A Favorita

Cena em que Flora (Patrícia Pillar) provoca a morte de Gonçalo (Mauro Mendonça) em A Favorita.

Com Glória Menezes, formou o casal Gonçalo e Irene Fontini em A Favorita, (2008) de João Emanuel Carneiro. Em 2010, participou do elenco da 2ª versão da novela Ti-Ti-Ti, outro remake escrito por Maria Adelaide Amaral a partir da obra de Cassiano Gabus Mendes. Na trama, interpretou o self made man Giancarllo Villa. Em 2012, viveu um velho fazendeiro de cacau, o coronel Manoel das Onças, no remake de Gabriela, escrito por Walcyr Carrasco a partir da obra de Jorge Amado. Em 2016, fez uma participação especial em Êta Mundo Bom!, de Walcyr Carrasco, como o gerente de banco Inácio.

Além do trabalho na televisão, Mauro Mendonça também possui vasta carreira no teatro. Participou de peças como Um Bonde Chamado Desejo (1962), de Tennessee Williams; Evita (1983), de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber; Caixa 2 (2001), de Juca de Oliveira; A Ópera do Malandro (2005), de Chico Buarque; e Um Barco para o Sonho (2007), de Alexei Arbuzov. Por sua atuação em Intensa Magia (1995), de Maria Adelaide Amaral, ganhou dois prêmios Shell de Melhor Ator, um pela montagem da peça no Rio de Janeiro e outro pela montagem em São Paulo. No cinema, atuou em filmes importantes como Rio 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, e deu vida a personagens de sucesso, como o Teodoro Madureira em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto, papel que lhe rendeu o Prêmio Air France de Melhor Ator.

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