O pai de Mário Lúcio Vaz era jornalista e faleceu pouco antes de o filho completar dois anos. Sua mãe, funcionária pública federal, ficou viúva aos 23 anos, grávida e com quatro filhos. Mário Lúcio começou a trabalhar aos nove anos, para ajudar nas despesas de casa. Foi entregador de farmácia, balconista de armazém e, aos 14 anos, conseguiu um emprego como office-boy no antigo Banco Industrial e Comercial de Minas Gerais.
O início na televisão foi curioso. Mário Lúcio estava juntando dinheiro para se casar e um amigo do banco perguntou se ele não queria trabalhar como datilógrafo na TV Itacolomi, em Belo Horizonte. Para aumentar sua renda mensal, ele aceitou e passou a datilografar os scripts da emissora à noite. Interessado no funcionamento da emissora, aproveitava os horários de folga para conhecer a parte operacional, fazendo visitas frequentes aos diretores e operadores da estação. Graças a essas visitas, acabou sendo convidado para assumir o cargo de diretor de imagem do telejornal 'Aerovias Brasil'. Aos poucos, passou a dirigir também os musicais e teleteatros da emissora até tornar-se diretor artístico da TV Itacolomi.
Em 1964, foi trabalhar no canal 8 da TV Triângulo, em Uberlândia, com a função de organizar a programação local. Permaneceu no cargo por oito meses e voltou para a TV Itacolomi de Belo Horizonte. Pouco tempo depois, recebeu novo convite de trabalho, de Walter Clark e José Maria de Castro Neves, diretores da TV Rio, para trabalhar como diretor de imagem na emissora no Rio de Janeiro. Mário Lúcio Vaz permaneceu na TV Rio por muitos anos. Foi responsável pela direção de diversos programas, como 'Moacyr Franco Show', 'Show Sem Limite', de J. Silvestre, e 'Rio Jovem Guarda'.
Ingressou na Globo no final do ano de 1970, convidado de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Sua primeira incumbência foi assumir a função de diretor de imagem do programa de variedades 'Alô Brasil, Aquele Abraço'. Desempenhava também o cargo de produtor da atração. Com Arlete Salles, Lúcio Mauro, Renato Corte Real e José Fernandes, 'Alô Brasil, Aquele Abraço' era realizado ao vivo e foi apresentado até 1972.
O programa, baseado em uma competição entre os estados do Brasil, contava com diversas atrações, como números musicais e circenses. 'Alô Brasil, Aquele Abraço' estimulava a participação dos telespectadores, feita pelo telefone ou através de cartas enviadas à Globo. O público elegia as melhores atrações do programa, que eram premiadas.
Ainda na década de 1970, Mário Lúcio passou a assessorar o diretor Augusto César Vannucci nos programas da linha de shows. Dirigiu 'Show da Girafa', 'Moacyr TV', 'Globo de Ouro', entre outras atrações. Nessa época, assumiu também a direção de 'Chico City', programa estrelado por Chico Anysio, ambientado numa cidade fictícia, onde o humorista interpretava a maioria dos personagens. Mário Lúcio permaneceu à frente do programa até 1976, quando foi substituído por Carlos Manga. “Foram mais de 40 anos acompanhando o Chico Anysio, desde antes da Globo. Uma amizade maravilhosa, uma das coisas mais bonitas que eu tive”, lembrou ele em entrevista ao Memória Globo. Assumiu, em seguida, a direção do humorístico 'Praça da Alegria', criação de Manoel da Nóbrega, outro marco do humor na televisão brasileira.
EXCLUSIVO MEMÓRIA GLOBO
Webdoc humor - Chico Anysio: Programas humorísticos
Na década de 1980, Mário Lúcio Vaz foi convidado por Mauro Borja Lopes, o Borjalo, então diretor da Central Globo de Produções, para ser seu assessor. Mário Lúcio Vaz trabalhou com Borjalo por cerca de dez anos. Em 1983, tornou-se Diretor de Produção. Em seguida, esteve à frente do projeto de criação da área de controle de qualidade, ao lado de Roberto Buzzoni. Em 1991, assumiu o cargo de direção da então Central Globo de Produção, em substituição a Daniel Filho.
Em 1990, Mário Lúcio Vaz foi responsável pela coordenação do programa 'Teletema', programa que tinha como característica a experimentação, mostrando, a cada semana, uma história em capítulos, exibidos de segunda a sexta-feira, antes da novela das 18h. A maior parte dos roteiristas do 'Teletema' eram estreantes em televisão e tinham liberdade de criação, do texto à linguagem narrativa.
Em 1998, durante poucos meses, esteve à frente da Central Globo de Criação, projeto desenvolvido pela então diretora-geral da Globo, Marluce Dias, dedicado ao desenvolvimento de novos programas e talentos. Em seguida, assumiu o cargo de diretor da Central Globo de Controle de Qualidade, cujo objetivo era analisar os produtos criados e exibidos pela emissora. Na função, Mário Lúcio tinha relação próxima com os roteiristas da casa, e acreditava que o sucesso de uma novela estava no fator surpresa:
A Central contava com uma equipe de analistas com formação em diversas áreas – dramaturgia, produção musical, artes cênicas, humor, edição, direção, sociologia e pesquisa de mercado – que avaliavam os programas sob os aspectos de conteúdo, ética e comercial, entre outros. Além da direção da CGCQ, Mário Lúcio também desempenhava a função de diretor geral artístico da Globo, sendo responsável pela supervisão dos núcleos de produção de toda a teledramaturgia da Rede Globo.
Em março de 2008, Mário Lúcio deixou suas funções executivas na Globo e passou a ocupar o cargo de Diretor Associado Artístico, prestando consultoria para a Direção-Geral à área de Entretenimento, que reúne as áreas de criação, produção, recursos artísticos e controle de qualidade, então dirigida por Manoel Martins.
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Mário Lúcio Vaz morreu aos 86 anos, em 21 de julho de 2019.
FONTE:
Depoimento de Mário Lúcio Vaz ao Memória Globo em 9/11/2000. |